segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Capítulo 3: Um dia de cada vez

CENA 1/ RESTAURANTE/ ESTACIONAMENTO/ EXT/ NOITE.
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. LIDIANE SE APRESENTA PARA GILBERTO QUE FICA TOTALMENTE IMPACTADO AO VER A EX MULHER NA SUA FRENTE.

GILBERTO — (PENSAMENTO) É ela. É a minha Lidiane. Ela está viva.

LIDIANE CONTINUA COM A MÃO ESTENDIDA, ESPERANDO QUE GILBERTO A CUMPRIMENTE, MAS ELE CONTINUA A OLHAR PRA ELA, PARALISADO.

RAFAELA      — Não vai cumprimentar Lidiane painho?

GILBERTO — (VOLTA A SI) Me desculpe! (CUMPRIMENTA LIDIANE) Muito prazer!

LIDIANE      — O prazer é todo meu! Vocês estavam indo jantar?

GILBERTO — Sim sim. Rafaela adora esse restaurante.

LIDIANE      — Que coincidência. Eu também adoro esse restaurante. Na minha opinião é um dos melhores de Salvador.

RAFAELA      — Eu também acho o mesmo diretora.

LIA      — Eu não queria interromper, mas não é melhor conversarmos lá dentro?

LIDIANE      — Oh sim. Claro! (PARA GILBERTO E RAFAELA) Por que vocês não jantam com a gente?

RAFAELA      — (ANIMADA) Claro! Vamos!

ELES ENTRAM TODOS JUNTOS NO RESTAURANTE.

CENA 2/ RESTAURANTE/ INTERIOR/ NOITE.
LIDIANE, LIA, RAFAELA E GILBERTO JANTAM. LIA NÃO PARA DE ENCARAR GILBERTO, QUE PERCEBE E FICA SEM JEITO.

GILBERTO     —Que lugar mais agradável não?

LIDIANE      — Por isso que eu amo esse restaurante. A música é boa, os pratos são maravilhosos, as companhias são agradáveis.

RAFAELA      — Obrigada! Eu sigo a mesma opinião que você. Tudo aqui é de muito bom gosto.

LIA CONTINUA A OLHAR PARA GILBERTO. LIDIANE PERCEBE.

LIDIANE      — Lia, não vai comer?

LIA          — Vou sim!

LIDIANE      — Então por que estava olhando pro Gilberto e não comendo?

LIA FICA SEM GRAÇA.

LIA          — Ora, eu não estava olhando pra ele.

LIDIANE      — Estava sim.

LIA          — Tudo bem! Eu confesso que estava sim. (PARA GILBERTO) Mas é por que eu já te vi em algum lugar Gilberto! Não sei de onde, mas eu juro que eu te conheço de algum lugar.

GILBERTO COMEÇA A FICAR NERVOSO.

LIDIANE      — Como assim você conhece ele mulher? Tá maluca? Conhecemos ele hoje!

GILBERTO     — (SEM JEITO) Você deve estar me confundindo com outra pessoa. Com algum conhecido seu por exemplo.

LIA          — Só pode ser mesmo.

GILBERTO     — Bom, se me dão licença, eu vou no banheiro.

GILBERTO SE RETIRA E SAI EM DIREÇÃO AO BANHEIRO. RAFAELA, LIDIANE E LIA SE ENTREOLHAM.

CENA 3/ RESTAURANTE/ BANHEIRO MASC./ INTERIOR/ NOITE.
O BANHEIRO MASCULINO SE ENCONTRA VAZIO. GILBERTO ADENTRA E SEGUE ATÉ A PIA, AONDE MOLHA SEU ROSTO. ELE SE VOLTA AO ESPELHO E FICA SE OLHANDO, PENSATIVO. ELE PEGA UNS PAPÉIS TOALHA E ENXUGA O ROSTO E AS MÃOS E SAI DO BANHEIRO.

CENA 4/ RESTAURANTE/ INTERIOR/ NOITE.
GILBERTO VOLTA PRA MESA.

GILBERTO     — Desculpem a minha saída tão de repente da mesa. Eu tive um mal estar.

RAFAELA      — Você tá se sentindo bem pai? Se não estiver bem a gente pode voltar pra casa.

GILBERTO     — Não precisa se preocupar minha filha, eu tou bem!

LIDIANE      — Nada disso. Se não está se sentindo bem é melhor ir pra casa mesmo.

RAFAELA      — Lidiane tem razão pai! É melhor a gente ir! Vamos!

GILBERTO     — Mas a gente nem jantou direito.

RAFAELA      — Sem problemas pai! A gente janta em casa! Vamos!

GILBERTO VAI SE LEVANTAR, MAS TEM UMA TONTURA E QUASE CAI, MAS É AMAPARADO POR RAFAELA E LIDIANE QUE O AJUDAM. LIA CHAMA O GARÇOM E TRATA DE FAZER O PAGAMENTO. O GARÇOM APARECE.

LIA          — Por favor, aqui está o pagamento dessa mesa e pode ficar com o troco. Obrigada!

ELA SAI DO RESTAURANTE.

CENA 5/ RESTAURANTE/ ESTACIONAMENTO/ EXT/ NOITE.
GILBERTO SAI, AMPARADO POR LIDIANE E RAFAELA. LIA SAI EM SEGUIDA. ELES CAMINHAM ATÉ O ESTACIONAMENTO. GILBERTO VAI ABRIR A PORTA DO CARRO.

GILBERTO     — Deixa que eu dirijo!

LIDIANE      — Nada disso! Você não está em condições de dirigir.

RAFAELA      — Lidiane tem razão pai!

LIDIANE      — Deixa que eu dirijo pra você. Deixo vocês dois em casa e depois eu pego um táxi. Lia vai levar meu carro pra minha casa e tá tudo certo.

GILBERTO     — Não precisa!

RAFAELA      — Deixe de teimosia pai! Deixe Lidiane ajudar a gente. Você não está com condições!

LIA          — Ouve sua filha Gilberto!

GILBERTO     — Tudo bem!

RAFAELA AJUDA GILBERTO. ELE ENTRA NO CARRO E SENTA NO BANCO DO CARONA. RAFAELA ENTRA NO CARRO. LIDIANE FALA COM LIA.

LIDIANE      — Leve o carro pra minha casa e me espere lá.

LIA          — Tudo bem!

LIDIANE ENTRA NO CARRO E PARTE. LIA FAZ O MESMO.

CENA 6/ PRÉDIO GILBERTO/ LOCALIZAÇÃO/ EXT/ NOITE.
PLANO DE LOCALIZAÇÃO.

CENA 7/ AP GILBERTO/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
RAFAELA AJUDA GILBERTO, LIDIANE ENTRA EM SEGUIDA. RAFAELA PÕE GILBERTO NO SOFÁ.

LIDIANE      — Você tá se sentindo melhor Gilberto?

GILBERTO     — Eu estou sim! Muito obrigado Lidiane! Desculpe se estraguei sua noite e da sua amiga.

LIDIANE      — Ah, que nada! Não estragou coisa nenhuma! O que importa é que agora você está bem! (T) Bom, eu já vou indo!

LIDIANE DÁ UM BEIJO NO ROSTO DE GILBERTO.

LIDIANE  — Foi um prazer!

GILBERTO — O prazer foi todo meu!

LIDIANE SE VOLTA PARA RAFAELA.

RAFAELA      — Eu nem sei como te agradecer Lidiane! Muito obrigada por tudo!

LIDIANE      — Você pode me agradecer mandando notícias do seu pai!

LIDIANE DÁ UM BEIJO NO ROSTO DELA E VAI EMBORA. RAFAELA SORRI. CLOSE NELA.

CENA 8/ TÁXI/ INTERIOR/ NOITE.
LIDIANE OLHA PELA JANELA PENSATIVA.

LIDIANE      — (OFF) Que homem!...

CENA 9/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO LIDIANE/ INTERIOR/ NOITE.
LIDIANE E LIA CONVERSAM.

LIDIANE      — (CONT)...Educado, lindo, atencioso.

LIA          — Gostou dele foi? Horas atrás tava dizendo que não queria mais saber de homem.

LIDIANE      — E quem disse pra você que eu tou gostando dele criatura? Eu conheci o cara hoje!

LIA          — Mas eu sei que ele mexeu com você. Amor a primeira vista!

LIDIANE      — Ah, pelo amor de Deus, Lia! Põe um pé na realidade. Não existe essa história de amor a primeira vista. Amor não é algo que a gente acha fácil assim, como uma escova de dente usada numa prateleira. Amor a gente conquista.

LIA          — Tá bom! Não tá mais aqui quem falou. (T) Mas uma coisa que não consigo tirar da minha cabeça é que eu conheço esse Gilberto de algum lugar. Ele me lembra alguém. Mas não sei quem.

LIDIANE      — Desde quando tu conhece algum homem? É encalhada por vida!

LIA          — Já para né queridinha! Eu posso ser solteirona, mas encalhada não! Deixe de esculhambação! Bom, eu já vou!

LIDIANE E LIA SE CUMPRIMENTAM DANDO BEIJINHO NO ROSTO.

LIA          — Até amanhã!
LIDIANE      — Até!

LIA VAI EMBORA. LIDIANE FICA PENSATIVA.

CENA 10/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO BEATRIZ/ INTERIOR/ NOITE.
BEATRIZ ESTÁ DEITADA NA CAMA, EMBURRADA.

BEATRIZ          — Mas que droga! Minha mãe não tinha nada que tomar meu celular. E minha vida social, como fica agora? (t) Tudo culpa da vaca da Rafaela. Mas ela me paga. Eu vou me vingar dessa maria mijona custe o que custar.

CLOSE EM BEATRIZ, DECIDIDA.

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 11/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO BEATRIZ/ INT/ NOITE.
CONTINUAÇÃO DA CENA ANTERIOR. BEATRIZ LEVANTA DA CAMA E COMEÇA A VASCULHAR SUA MOCHILA ATÉ PEGAR UM CELULAR QUE FAZ APENAS LIGAÇÕES.

BEATRIZ      — Dona Lidiane se acha muito esperta. Acha que tomar o meu celular vai fazer dela uma mulher poderosa. Se enganou. Ela deve ter esquecido que pra quem mora em Salvador tem que ter dois celulares, o seu e o do ladrão. E já que ela tomou o meu, fiquei com o do ladrão.

ELA RI DEBOCHADA ENQUANTO DIGITA NO CELULAR. ELA LIGA PRA ALGUÉM.

BEATRIZ      — (CEL) Alô Gessica?! Eu preciso falar com você sobre aquilo que tu me disse mais cedo, sobre se vingar da maria mijona. Quero dizer que eu estou topando me vingar dela! Vou fazer ela pagar por tudo o que eu tou passando. Ela vai me pagar!!!

CLOSE EM BEATRIZ.

CENA 12/ AP GILBERTO/ QUARTO DELE/ INTERIOR/ NOITE.
GILBERTO ESTÁ SENTADO NA CAMA, CONVERSA COM ARTHUR.

GILBERTO     — Eu não acredito que eu reencontrei a minha Lidiane!

ARTHUR       — Lidiane? Aquela mulher que morreu anos atrás?

GILBERTO     —Ela não morreu naquele parto coisa nenhuma! Ela está viva! O destino fez com que ela voltasse pra mim! Eu preciso me reaproximar dela! Eu preciso voltar a viver o amor que eu sentia por ela anos atrás.  

ARTHUR       — Se eu fosse o senhor tomava cuidado viu!

GILBERTO     — Cuidado? Cuidado com o quê? Do que você está falando?

ARTHUR       — Pensa comigo. O senhor pensou que a Lidiane morreu naquele parto. Mas ela não morreu, está viva. O senhor ao pensar que ela morreu, trouxe a Rafaela com você pra Salvador e a criou aqui. Mas e a Lidiane depois que recobrou a consciência? O que deve ter pensado ao não encontrar nem o senhor nem a filha dela?

GILBERTO     — Você acha mesmo que...

ARTHUR       — Acho! Acho sim que a Lidiane deve ter pensado que você sequestrou a filha dela, que levou embora, sei lá. EU se fosse o senhor tomava muito cuidado com isso. Por que Rafaela já está estudando no colégio aonde essa mulher é a dona e a diretora e mais cedo ou mais tarde Lidiane pode descobrir que Rafaela é a filhinha raptada dela.

GILBERTO     — Raptada não! Eu não raptei ninguém! Eu pensei que a Lidiane estava morta! Por isso trouxe minha filha comigo! Mas não tem problema. Eu vou contar a Lidiane toda a verdade.

ARTHUR       — Se você contar a verdade ela vai ficar sabendo que você não tem culpa no sumiço da Rafaela. Mas vai saber que o senhor era um golpista, estelionatário e vai te denunciar a polícia. Então todo cuidado é pouco. Agora eu vou me deitar. Se precisar de algo é só me chamar. Boa noite.

ARTHUR SAI DO QUARTO. GILBERTO FICA PENSATIVO.

CENA 13/ SALVADOR/ CAJAZEIRAS/ PLANOS GERAIS/ EXT/ NOITE.
PLANOS GERAIS DO BAIRRO DE CAJAZEIRAS.

CENA 14/ CASA GESSICA/ LOCALIZAÇÃO/ EXT/ NOITE.
GESSICA ESTÁ TECLANDO NO CELULAR. A TEVÊ ESTÁ LIGADA. DE REPENTE UMA MULHER APARECE NA SALA. É HELENA, MÃE DE GÉSSICA.

HELENA       — Filha, ou você assiste a tevê ou fica no celular.

GÉSSICA      — Me deixa mãe!

HELENA       — Você viu seu pai ai?

GÉSSICA      — Aquele bêbado tresloucado deve tar no bar enchendo a cara.

HELENA       — Isso é jeito de falar do seu pai?

GÉSSICA     — E a senhora hein? Vai continuar defendendo esse homem com quem se casou?

HELENA       — Esse homem que eu me casei é o seu pai! Ele é autoridade nessa casa e você tem que respeitar ele.

GÉSSICA      — (RI DEBOCHADA) Autoridade?Esse homem não passa de um pobre diabo, se destruindo no álcool. E eu vou respeitar ele? Ele não respeita a si próprio e eu vou respeitar? Ah, socorro né? A minha paciência tem limites.

DE REPENTE ERIBERTO ENTRA EM CASA, CAINDO DE BÊBADO. GESSICA COMEÇA A DEBOCHAR DELE.

GÉSSICA      — Chegou o velho acabado! Sabia que a gente estava falando de você agora?

ERIBERTO     — (FALHANDO) O quê... tavam falando de mim... mas que privilégio... (CAI PRO LADO)... eu não sabia que vocês gostavam tanto de mim assim.

GÉSSICA      — Eu não gosto de você! Seu bêbado miserável!

HELENA       — (GRITA) Para de falar assim com seu pai!

ERIBERTO     — (SE APROXIMA DE GÉSSICA) O que é isso filha? Vai falar assim com seu pai?

GÉSSICA      — (GRITA) Sai daqui! Não chega perto de mim seu cachaceiro!

ERIBERTO RI, ATÉ QUE SE DESEQUILIBRA E DESMAIA NO SOFÁ. HELENA CHORA.

GÉSSICA      — Velho acabado! Eu ainda vou enriquecer! E quando isso acontecer a primeira coisa que eu vou fazer vai ser te internar. (PARA HELENA) E você para de chorar! Foi você quem escolheu essa vida quando se casou com esse homem! Eu vou pro meu quarto!

GESSICA SOBE PRO SEU QUARTO. HELENA CONTINUA A CHORAR. ERIBERTO FICA JOGADO NO SOFÁ. DE REPENTE VAGNER ENTRA EM CASA.

VAGNER       — Mas o que é isso? O que tá acontecendo aqui nessa casa?
HELENA       — (CHORANDO) Seu pai. Ele bebeu de novo.

VAGNER ABRAÇA HELENA.

HELENA       — (CHORANDO) Eu não aguento mais essa vida meu filho! Eu não aguento mais!

VAGNER CONFORTA A MÃE. CLOSE NELES.

CENA 15/ QUARTO GÉSSICA/ INTERIOR/ NOITE.
GÉSSICA ENTRA NO SEU QUARTO FURIOSA. ELA SE JOGA NA CAMA.

GÉSSICA      — Eu não aguento mais essa vidinha miserável. Eu preciso me casar com um homem rico logo. Eu preciso sair dessa vida, desse fim de mundo. Eu preciso sair daqui o mais depressa possível.

ELA FICA PENSATIVA.

CENA 16/ SALVADOR/ PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ DIA.
PLANOS GERAIS DA CIDADE AO AMANHECER.

CENA 17/ COLÉGIO RIO BRANCO/ EXT/ DIA.
PLANO DE LOCALIZAÇÃO.

CENA 18/ COLÉGIO RIO BRANCO/ CORREDORES/ INT/ DIA.
BEATRIZ, GÉSSICA E PAULA CONVERSAM.

PAULA        — E aí, sua mãe já devolveu seu celular?

BEATRIZ      — Ainda não. Mas como eu sou mais esperta que ela, fiz o plano B. Eu agora estou usando o celular do ladrão. Podem me chamar no whatsapp, é aquele outro número que eu tenho.

GÉSSICA      — E você Paula... Foi na tal agência de modelos com sua mãe?

PAULA        — Claro que não! A última coisa que eu quero ser é modelo. Ser modelo é um saco. Não pode comer isso, não pode comer aquilo. É uma tortura. Eu gosto de comer muito brigadeiro e o que eu quero ser mesmo é surfista. Aliás ontem eu conheci um surfista gato!

BEATRIZ      — Sério? Já me conta!

GÉSSICA      — (CORTA) Depois ela conta. Agora precisamos resolver algo importante, não é Beatriz?

GÉSSICA FAZ UM SINAL DISCRETO PRA BEATRIZ.

BEATRIZ      — É sim! Precisamos resolver algo muito importante.
PAULA        — Ah então é assim? Vai me deixar de fora disso?
GÉSSICA      — É assim, sim! As coisas são assim!
BEATRIZ      — (PARA PAULA) Desculpa amiga! Depois eu falo com você! Me encontra naquele mesmo local de sempre!
PAULA        — (ENCARA GÉSSICA) Tudo bem!

PAULA VAI EMBORA.

BEATRIZ      — Também não precisava ter falado daquele jeito com ela né?!
GÉSSICA     — A Paula é uma mosca morta!
BEATRIZ      — A Paula é minha amiga de infância. Você nunca mais fala assim dela tá me ouvindo? Nunca mais!
GÉSSICA      — Tá bom! Vamos ao que interessa. Você vai fingir ser amiga da Rafaela. Vai convidar ela pra um passeio no clube e depois jogar ela na piscina. Daí você entra e afoga ela!
BEATRIZ      — Não! Ficou maluca? Eu não vou afogar a Rafaela na piscina do clube!
GÉSSICA      — Você quer se vingar dela ou não?
BEATRIZ      — Eu quero me vingar. Mas não matar a garota!
GÉSSICA      — Pois aprende uma coisa comigo: Vingança é um prato que se come frio. Ou dá ou desce.
BEATRIZ      — Tudo bem! Mas eu não vou matar a Rafaela não! Por que eu posso ser vingativa, mas não sou assassina!

BEATRIZ SAI DEIXANDO GÉSSICA ALI PLANTADA E FURIOSA.

CENA 19/ COLÉGIO RIO BRANCO/ PÁTIO/ INTERIOR/ DIA.
RAÍSSA E RAFAELA CAMINHAM PELO PÁTIO ATÉ CHEGAREM NUM BANCO DE CIMENTO, AONDE SENTAM.

RAÍSSA       — E então amiga. Tá gostando do colégio?
RAFAELA      — Agora eu tou né. Ninguém mais veio me perturbar.

BRUNO JOGA BOLA NA QUADRA. RAÍSSA VÊ ELE.

RAÍSSA       — Olha lá. O gato de ontem que veio falar com a gente.
RAFAELA      — (VÊ BRUNO) Bruno?
RAÍSSA       — Sim.

ELAS CONTINUAM A OLHAR PRA ELE. DE REPENTE BRUNO PARA DE JOGAR VAI SE SENTAR NO BANCO DE CIMENTO.

RAÍSSA       — Olha, ele vem vindo pra cá. (CHAMA) Bruno!

BRUNO VÊ AS DUAS E CAMINHAM EM DIREÇÃO A ELAS.

BRUNO    — E aí meninas!

ELE CUMPRIMENTA RAÍSSA DANDO UM BEIJO NO ROSTO DELA. LOGO DEPOIS ELE CUMPRIMENTA RAFAELA FAZENDO O MESMO.

BRUNO        — E aí? Tão fazendo o quê?
RAÍSSA       — Nada demais! Bom, eu vou beber água. (PARA RAFAELA) Você me espera aqui.

RAÍSSA SAI. RAFAELA QUEBRA A TIMIDEZ E INICIA UMA CONVERSA COM BRUNO.

RAFAELA      — Você gosta muito de jogar bola né?
BRUNO        — É o que mais gosto de fazer quando não tou estudando. E você?
RAFAELA      — Eu o quê?
BRUNO        — O que você gosta de fazer?
RAFAELA      — Eu? Eu não faço nada! Eu fico em casa o dia todo.
BRUNO        — Sério? Nossa!
RAFAELA      — Posso fazer uma pergunta?
BRUNO        — Claro!
RAFAELA      — Por que você tá conversando comigo?
BRUNO        — Por que eu quero! Não posso?
RAFAELA      — Não é isso! É que você tem amizade com tanta gente aqui. É popular. Não tem medo das pessoas falarem mal de você ou te zoarem por estar conversando comigo?
BRUNO        — Claro que não! Eu não ligo pro que as pessoas falam ou deixam de falar! E se eu quiser ser seu amigo, qual o problema?
RAFAELA      — Amigo?
BRUNO        — É! Amigo!
RAFAELA      — Nossa... mas você é um garoto tão bonito, não acha feio ter amizade com uma menina como eu que nem sabe se vestir direito?
BRUNO        — Não acho feio. Por que pra mim o que vale é o caráter das pessoas e não a aparência. Você é uma menina meiga, legal, inteligente. E além de tudo: Tem caráter. E é isso que importa pra mim.

O SINAL COMEÇA A TOCAR.

BRUNO        — (BRINCA) A hora do lanchinho acabou! Vamos pra sala?
RAFAELA      — Vamos!

ELES SEGUEM JUNTOS PRA SALA. CAM VAI PEGAR BEATRIZ QUE DE LONGE VÊ TUDO, COM RAIVA.

CENA 20/ SALVADOR/ PLANOS GERAIS/ EXT/ DIA.
PLANOS GERAIS DA CIDADE.

CENA 21/ COLÉGIO RIO BRANCO/ FRENTE/ EXT/ DIA.
OS ALUNOS VÃO SAINDO DO COLÉGIO. UNS SEGUEM O CAMINHO PRA CASA, OUTROS AINDA FICAM REUNIDOS, CONVERSANDO... UMA ALUNA VAI SAINDO JUNTO COM PAULA E BEATRIZ, CONVERSANDO. É RENATA.

BEATRIZ      — Vai ser muito massa!
PAULA        — Pois é... A galera vai tar toda lá.
BEATRIZ      — Você poderia chamar aquele surfista que você conheceu.
PAULA        — Não né! Tá louca? Nem conheço ele direito!
BEATRIZ      — Você vai Renata?
RENATA       — Acho que não gente!
PAULA        — Por quê?
RENATA       — Por que eu vou viajar no sábado. Não vai dar pra eu ir.
BEATRIZ      — Tudo bem. A gente marca outro dia então.
RENATA       — Agora eu tenho que ir. Tchau gente!
BEATRIZ      — Tchau!
PAULA        — Tchau!

RENATA VAI EMBORA.

PAULA        — Bem fechada ela né?
BEATRIZ      — Ela é uma das meninas mais ricas do colégio. Deve ter uma vida social bem intensa. Deve ser por isso que ela vai viajar no sábado.

ELAS SEGUEM CONVERSANDO.

CENA 22/ ÔNIBUS/ INTERIOR/ DIA.
RENATA ENTRA NO ÔNIBUS, PAGA SUA PASSAGEM E SE SENTA NUM DOS BANCOS. ELA FICA PENSATIVA.

CENA 23/ CASA RENATA/ INTERIOR/ DIA.
É UMA CASA SIMPLES. RENATA ENTRA.

RENATA       — Mãe! Cheguei!

UMA MULHER CADEIRANTE ADENTRA A SALA. É JULIANA.

JULIANA      — E ai minha filha. Como foi na escola?
RENATA       — Foi bem mãe! E a senhora? Ficou bem sozinha aqui a manhã toda?
JULIANA      — Estou bem meu amor!
RENATA       — Eu vou esquentar a comida.

RENATA VAI A COZINHA E ESQUENTA A COMIDA NUM FOGÃO VELHO. CORTA PARA ELA E JULIANA QUE ACABAM DE ALMOÇAR.RENATA PEGA SEU PRATO E DA SUA MÃE E COLOCA NA PIA. ELA PEGA SUA BOLSA E SE PREPARA PRA SAIR.

RENATA       — Agora eu vou pro trabalho. Não quer que eu peça pra vizinha ficar com a senhora?
JULIANA      — Não precisa meu amor. Eu fico bem sozinha. Se seu pai estivesse aqui iria se orgulhar de ver você assim. Uma menina batalhadora, que trabalha, estuda. Agora pode ir meu bem.

RENATA DÁ UM BEIJO NO ROSTO DA MÃE E SAI. JULIANA FICA PENSATIVA.

CENA 24/ SALÃO DE BELEZA/ EXTERIOR/ DIA.
RENATA ATRAVESSA A RUA E CAMINHA ATÉ UM SALÃO DE BELEZA AONDE ENTRA. OUVE-SE O ÁUDIO DA CENA SEGUINTE.

PAULA    — (OFF) Eu acho essa garota muito estranha.

CENA 25/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO BEATRIZ/ INT/ DIA.
PAULA E BEATRIZ CONVERSAM.

BEATRIZ      — Estranha como?
PAULA        — Ela é fechada, na dela. Diz que é rica, mas nunca fez questão de convidar a gente pra ir na casa dela.
BEATRIZ      — É muito estranho mesmo. Mas se ela estiver escondendo alguma coisa, mais cedo ou mais tarde a gente acaba descobrindo.
PAULA        — Pois é... Mas vem cá. O que você e a Géssica estavam conversando?
BEATRIZ      — Sobre o clube no sábado.
PAULA        — Então por quê ela mandou eu me afastar?
BEATRIZ      — Não sabe como é Géssica amiga?! É cheia de segredos! Ela contou um segredo pra mim e não quis que você soubesse.
PAULA        — É só isso mesmo né?
BEATRIZ      — É Paula! É só isso! Mais alguma pergunta?
PAULA        — Não!
BEATRIZ      — Então chega dessa conversa fiada e vamos fazer brigadeiro que eu tou morrendo de vontade de comer desde a terceira aula!
PAULA        — Adoro! Vamos!

ELAS SAEM DO QUARTO.

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 26/ MANSÃO LIDIANE/ COZINHA/ INTERIOR/ DIA.
BEATRIZ E PAULA ADENTRAM A COZINHA. AMANDA ENCONTRA-SE CONVERSANDO COM JUCILENE.

BEATRIZ            — Jucilene, você pode fazer brigadeiro pra gente?
JUCILENE           — Claro patroinha. Vou fazer daquele jeito que tu tanto gosta!
BEATRIZ            — Ótimo.

BEATRIZ VAI FALAR COM AMANDA.

BEATRIZ            — (BAIXO) E aí, conseguiu dobrar ela?
AMANDA             — Ainda não. Eu já estou horas conversando com ela e nada. Ela sempre está desconfiada de mim.
BEATRIZ            — Deixa que eu quebro esse galho pra você! (SE VOLTA PARA JUCILENE) Ô Jucilene.
JUCILENE           — (FAZENDO BRIGADEIRO) Fala!
BEATRIZ            — A minha mãe pediu pra eu te lembrar de tirar o pó do quarto dela e organizar uns papéis que estão por lá. Acho que você deve saber quais são.
JUCILENE           — Ah sim! Eu sei quais são. Depois dou uma passadinha lá.

BEATRIZ SORRI DISCRETAMENTE PARA AMANDA QUE RETRIBUI.

CENA 27/ MANSÃO LIDIANE/ SALA/ INTERIOR/ DIA.
BEATRIZ, PAULA, AMANDA E JUCILENE VEM DA COZINHA. BEATRIZ SE ENCONTRA COM UMA PANELA DE BRIGADEIROS NA MÃO. JUCILENE TRATA DE SUBIR AS ESCADAS.

JUCILENE     — Agora eu vou lá em cima fazer o que sua mãe pediu, antes que ela chegue aqui nos berros. Os meus tímpanos não aguentam.

JUCILENE SOBE.

AMANDA       — Nossa Beatriz, eu nem sei como te agradecer.
BEATRIZ      — Não precisa agradecer não meu bem! Eu amo fazer bondade para com os necessitados. Jucilene vai ficar o resto da tarde arrumando esses papéis. Ela nem vai perceber que você saiu.
PAULA        — Agora vá lá, ponha a cara no sol e vai se encontrar com seu boy magia.
AMANDA       — (ABRAÇA ELA) Nossa muito obrigado. Tchau!
PAULA        — Tchau!
BEATRIZ      — Tchau!

AMANDA SAI.

CENA 28/ FAROL DA BARRA/ FRENTE/ EXTERIOR/ DIA.
GUILHERME ESTÁ A ESPERA DE AMANDA. ELA APARECE PONDO AS MÃOS EM SEUS OLHOS, TAPANDO SUA VISTA. ELE SORRI E TIRA AS MÃOS DELA DOS SEUS OLHOS, ABRAÇANDO-A E EM SEGUIDA DANDO-LHE UM BEIJO.

GUILHERME    — Eu pensei que você não ia aparecer nunca.
AMANDA       — Eu tive que ficar um tempão tentando enrolar minha mãe.
GUILHERME    — Falando nisso eu queria te falar algo muito importante.
AMANDA       — E o que é?
GUILHERME    — Eu queria oficializar nosso romance. Eu queria parar com essa coisa de ficar escondendo de todo mundo que estamos namorando.
AMANDA       — Não podemos fazer isso!
GUILHERME    — E por quê não? Por que seus pais proíbem o nosso romance? Por que somos de classes sociais diferentes?
AMANDA       — É por isso sim. Meus pais são pessoas muito orgulhosas. Eles não aceitam de jeito nenhum, que eu namore com um garoto rico como você. Eles acham que eu só estou namorando com você por causa do seu dinheiro.
GUILHERME    — Mas podemos passar por cima de tudo isso! Nós somos capazes de vencer todas essas barreiras que impedem a gente de viver o nosso amor.
AMANDA       — Chega! Eu não quero mais falar sobre isso. Pra mim está bom assim. Eu quero continuar vivendo dessa forma.
GUILHERME    — Que forma? Agindo por debaixo dos panos? Pois saiba que se você quiser viver um relacionamento dessa forma com alguém, que não seja comigo.
AMANDA       — O que você quer dizer com isso? Tá terminando comigo? É isso?
GUILHERME    — Eu só não quero viver mais com você mentindo pros seus pais toda vez que vem se encontrar comigo!
AMANDA       — Por favor, não termina comigo! A gente dá um jeito! A gente foge/ 
GUILHERME    — (CORTA) Desculpa Amanda, mas se for pra viver dessa forma, assim, desse jeito, eu não quero!

GUILHERME VAI EMBORA. AMANDA FICA ARRASADA.

CENA 29/ SALVADOR/ PLANOS GERAIS/ EXT/ NOITE.
PLANOS GERAIS DA CIDADE DURANTE A NOITE.

CENA 30/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO BEATRIZ/ INT/ NOITE.
BEATRIZ FALA AO CELULAR COM GÉSSICA. ALTERNAR CENAS ENTRE ELAS.

GÉSSICA      — (CEL) E então, tudo certo pra hoje à noite?
BEATRIZ      — (CEL) Tudo conforme o planejado.
GÉSSICA      — (CEL) Ótimo! Quando você chegar em casa me avise!
BEATRIZ      — (CEL) Pode deixar!

BEATRIZ DESLIGA E SAI DO QUARTO.

CENA 31/ MANSÃO LIDIANE/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
LIDIANE ESTÁ SENTADA NO SOFÁ OLHANDO UNS PAPÉIS. JUCILENE VEM DA COZINHA.

JUCILENE     — Eu terminei de arrumar seus papéis lá no seu quarto. Agora vou servir o jantar patroinha.
LIDIANE      — Agora não Jucilene. Tá na hora da novela!
JUCILENE     — Depois da novela então?!
LIDIANE      — Mas é claro né criatura! Eu tô falando japonês por acaso?
JUCILENE     — Magina.

BEATRIZ DESCE AS ESCADAS E SEGUE PRA PORTA SEM FALAR COM LIDIANE E COM JUCILENE.

LIDIANE      — (PARA BEATRIZ) Ei mocinha! Aonde você pensa que vai?
BEATRIZ      — (BAIXO) Ai que saco! (NORMAL) Vou alí mãe!
LIDIANE      — Alí aonde?
BEATRIZ      — Jantar na casa da mãe Jaciara.
LIDIANE      — Como é que é?
BEATRIZ      — Nada não! (T) Eu vou na casa de Paula. Pode não?
LIDIANE      — Claro que pode!

BEATRIZ VAI SAINDO, MAS LIDIANE A CHAMA NOVAMENTE.

LIDIANE      — Espere!
BEATRIZ      — (SEM PACIÊNCIA) O que foi agora mãe?
LIDIANE      — Não vai dar um beijo na mamãe?

BEATRIZ VOLTA E DÁ UM BEIJO EM LIDIANE QUE RETRIBUI.

BEATRIZ  — Agora tchau!

BEATRIZ SAI. LIDIANE FICA A OLHAR PRA PORTA SORRINDO.

CENA 32/ PRÉDIO GILBERTO/ LOCALIZAÇÃO/ EXT/ NOITE.
PLANO DE LOCALIZAÇÃO.

CENA 33/ AP GILBERTO/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
RAFAELA ASSISTE A TEVÊ. A CAMPAINHA TOCA.

RAFAELA      — (CHAMA) Arthur!

A CAMPAINHA CONTINUA A TOCAR E ARTHUR NÃO APARECE.

RAFAELA  — (CHAMA) Arthur, a campainha tá tocando!

RAFAELA VÊ QUE ARTHUR NÃO VAI APARECER E SEGUE PARA A PORTA, EMBURRADA. ELA ABRE. É BEATRIZ.

RAFAELA  — (SURPRESA) Beatriz?!
BEATRIZ  — Eu posso entrar?

BEATRIZ ENTRA. RAFAELA FECHA A PORTA.

RAFAELA      — O que você quer aqui?
BEATRIZ      — Eu vim te pedir perdão por tudo que eu te fiz. Vim dizer que eu quero ser sua amiga! Então, você me perdoa?

BEATRIZ ESPERA UMA RESPOSTA DE RAFAELA QUE FICA SEM REAÇÃO COM A ATITUDE DELA. CAM DÁ UM CLOSE.

FIM








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