sábado, 6 de agosto de 2016

Capítulo 5: Um dia de cada vez



Capítulo 05 

CENA 1.  COLÉGIO RIO BRANCO.  SALA DE AULA. INTERIOR. DIA.
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. GÉSSICA ENFRENTA JUSTEM SOB OS OLHARES DOS OUTROS ALUNOS. 

GÉSSICA — (ENFRENTANDO) Então. Eu estou esperando. O que você vai fazer agora Ângela?

JUSTEM — (COM RAIVA) Saia agora dessa sala!

GÉSSICA — (DECIDIDA) Não saio!

JUSTEM — (FIRME) Saia!

GÉSSICA — (ENFRENTA) Se quiser que eu saia, vai ter que me tirar daqui à força.

JUSTEM FICA APREENSIVA, COLOCA A CADEIRA QUE EMPURROU NO LUGAR QUE ESTAVA E SE SENTA.

JUSTEM — (NERVOSA) Abram o livro na página 97, façam a atividade em casa e respondam de caneta.

ELA PEGA AS SUAS COISAS E SAI DA SALA AS PRESSAS. OS ALUNOS FICAM SEM ENTENDER NADA E O BURBURINHO COMEÇA.

BEATRIZ — (SE APROXIMA DE GÉSSICA) Você ficou louca? Como você enfrenta assim a professora?

GUILHERME — (TAMBÉM SE APROXIMA) Cara, você arrebentou!

GÉSSICA — (SATISFEITA) Eu não aguentava mais as aulas chatas dessa mulher louca. Alguém tinha que tomar uma iniciativa nessa sala.

CORTE PARA MÁRCIO, ANDRESSA E PAULA.

PAULA — (PERPLEXA) Meu Deus, Géssica é louca! É completamente louca meu Deus. Duas loucas brigando aqui na sala seria capaz de dar merda com certeza!

MÁRCIO — (ANIMADO) Eu amei esse barraco!

ANDRESSA — (TAMBÉM SE ANIMA) E eu bi?! Já estava pegando a pipoca pra poder assistir essa briga!

OS TRÊS CONTINUAM CONVERSANDO.

CENA 2. COLÉGIO RIO BRANCO. CORREDOR. INTERIOR. DIA.
JUSTEM VAI ATÉ O BEBEDOURO, ARFANDO.  ELA BEBE A ÁGUA AVIDAMENTE.

JUSTEM — (BEBENDO ÁGUA) Eles vão me pagar! Eles não sabem com quem estão mexendo! Não sabem!

CLOSE NELA.

CENA 3. BARRA. PLANOS GERAIS. EXTERIOR. DIA.
PLANOS GERAIS DO BAIRRO PELA MANHÃ.

CENA 4. AV. CENTENÁRIO. EXTERIOR. DIA.
VITOR ESTACIONA SEU CARRO EM FRENTE AO SHOPPING BARRA, DO OUTRO LADO DA RUA.  ELE DESCE DO CARRO E CAMINHA CARREGANDO SUA MALETA. CAM PEGA LORENA TAMBÉM CAMINHANDO ALI PERTOE CARREGANDO VÁRIAS SACOLAS DE COMPRAS E SUA BOLSA. ELA VEM NA MESMA DIREÇÃO QUE VITOR E ELES ACABAM SE ESBARRANDO UM NO OUTRO, DEIXANDO SUAS COISAS CAIREM.

VITOR — (SE ABAIXA PRA PEGAR AS SACOLAS DE LORENA) Mil perdões moça. Eu não tinha lhe visto.

LORENA — (TAMBÉM AJUDA A PEGAR SUAS COISAS) Eu é quem lhe peço desculpas! Eu estava distraída!

LORENA TERMINA DE PEGAR SUAS COISAS COM A AJUDA DE VITOR, ATÉ QUE ELES SE RECOMPÕEM, FINALMENTE SE OLHAM E SE RECONHECEM.

VITOR — (SURPRESO) Lorena?

LORENA — (SURPRESA) Vitor?!

VITOR — (PERPLEXO) É você mesmo?

LORENA — (SURPRESA) Eu não acredito que é você! Meu Deus, quanto tempo!

VITOR — Pois é!  Você não mudou nada! Continua linda, igual a época em que nós/...

LORENA — (CORTA) Por favor, não continue! Não quero mais lembrar dessa época!

VITOR — (SENTIDO) Por quê? Foi uma época tão linda!

LORENA — (CONFORMADA) Nos afastamos um do outro Vitor!  Eu deixei de te amar!

VITOR — (INCONFORMADO) Mas a culpa não foi sua! Você sabe muito bem disso Lorena!

LORENA — Claro que eu sei! Mas não quero falar sobre esse assunto que tá morto e enterrado! Eu preciso ir!

ELA VAI SAINDO, MAS VITOR SEGURA SEU BRAÇO.

VITOR — Eu quero lhe ver mais vezes Lorena!

LORENA — (VOLTA) Acho que não Vitor! Nossa história ficou lá no passado! Não dá pra reacender o que já se apagou! Agora me deixe ir!

VITOR — (IMPLORA) Por favor, me dê uma chance! Por favor!

LORENA FICA PENSATIVA POR UM TEMPO, ATÉ QUE DECIDE FALAR.

LORENA — Tá bom!  (PEGA UM BLOCO DE NOTAS EM SUA BOLSA E ANOTA SEU TELEFONE) Quando você tiver uma hora livre é só me ligar e marcar um encontro comigo!

ELA ENTREGA O TELEFONE A ELE QUE PEGA E BEIJA.

LORENA — Agora eu preciso ir!

LORENA SE AFASTA, AVISTA UM TÁXI. COLOCA A MÃO, FAZENDO-O PARAR. O TÁXI PARA E ELA ENTRA, SOB OS OLHARES DE VITOR QUE FICA ALI PENSATIVO.

CENA 5. PRAIA DA BARRA. PLANOS GERAIS. EXT. DIA.
PLANOS GERAIS DA PRAIA.

CENA 6. PRÉDIO LORENA. EXTERIOR. DIA.
PLANO DE LOCALIZAÇÃO.

CENA 7. AP LORENA. SALA. INT. DIA.
LORENA ESTÁ SENTADA NO SOFÁ, PENSATIVA E AFLITA. DE REPENTE PAULA ENTRA.

PAULA — Cheguei!

PAULA PERCEBE QUE LORENA ESTÁ AFLITA.

PAULA — O que aconteceu mãe? Por que você tá com essa cara de melão verde?

LORENA — (PENSATIVA) Não é nada minha filha! Eu apenas estou pensando na vida! Como foi no colégio hoje? Você chegou cedo!

PAULA — Houve um problema no colégio hoje e a aula terminou mais cedo. Eu aproveitei pra vir correndo pra casa e ir à praia. Tudo bem?

LORENA — (SEM DAR MUITA ATENÇÃO) Tudo bem! Pode ir!

PAULA — Vou só trocar de roupa e ir!

PAULA VAI PRO QUARTO.  LORENA CONTINUA PENSATIVA, LEMBRANDO-SE DO SEU ENCONTRO COM VITOR.

CENA 8. QUARTO PAULA. INTERIOR. DIA.
PAULA ADENTRA SEU QUARTO.

PAULA — (PARA SI) Eu hein! Ela tá muito estranha! Nunca vi minha mãe assim! Tem caroço debaixo desse angu. Disso não tenho dúvidas.

PAULA COMEÇA A TROCAR DE ROUPA. CORTA.

CENA 9. PRÉDIO GILBERTO. FRENTE. EXTERIOR. DIA.
RAFAELA CHEGA ACOMPANHADA DE BRUNO. ELES PARAM EM FRENTE AO PRÉDIO.

RAFAELA — (DOCE) Valeu por ter me acompanhado até aqui Bruno!

BRUNO — (SORRI) Que nada! Foi um prazer!

RAFAELA — Você tem sido um amigo em tanto!

BRUNO — Eu fiquei preocupado com você! Não queria deixar você vir sozinha pra casa com esse risco que você tá correndo de sofrer alguma armação de Beatriz.

RAFAELA — Muito obrigada mesmo! Eu nem sei como retribuir.

BRUNO — (DOCE) A única forma de você me retribuir é sendo você mesma! (TOCA NO ROSTO DELA) Eu tenho um carinho enorme por você Rafaela! Não quero que nada lhe aconteça.

ELES SE ENTREOLHAM PROFUNDAMENTE.
CORTA PRO OUTRO LADO DA RUA. GUILHERME E CAIO VEM ANDANDO E VÊEM BRUNO E RAFAELA JUNTOS.

GUILHERME — Olha lá! Bruno com aquela feiosa!

CAIO — (PERPLEXO) Eles estão mesmo tendo um lance!

GUILHERME — (ABRINDO A MOCHILA) Eu preciso gravar isso!

GUILHERME PEGA SEU CELULAR DENTRO DA MOCHILA E COMEÇA A GRAVAR.  DO PONTO DE VISTA DELES, RAFAELA E BRUNO SE BEIJAM.

CAIO — (SURPRESO) Meu Deus, ele beijou ela!

GUILHERME — (SUSSURRA) Cala essa boca sua anta! Sua voz vai acabar saindo no vídeo!

CAIO — (SUSSURRA) Foi mal!

GUILHERME CONTINUA GRAVANDO. BRUNO E RAFAELA PARAM DE SE BEIJAR. GUILHERME PARA DE GRAVAR E FICA OLHANDO O VÍDEO NO CELULAR, JUNTO COM CAIO.

GUILHERME — Eu vou postar esse vídeo no grupo do colégio. Vai ser a maior zuera do ano!
CAIO — Tá bem senhor zuera! Agora guarda esse celular que estamos correndo risco de assalto aqui!

GUILHERME COLOCA O CELULAR DE VOLTA NA MOCHILA E VAI EMBORA COM CAIO.  CENA VOLTA PARA RAFAELA E BRUNO.

RAFAELA — (SORRI) Agora preciso ir! Até amanhã!

ELA CAMINHA ATÉ O PORTÃO E ANTES DE ABRIR DÁ UMA ÚLTIMA OLHADA PRA BRUNO QUE SOLTA UM BEIJO PRA ELA. RAFAELA SORRI E ENTRA NO PRÉDIO. BRUNO VAI EMBORA.

CENA 10. AP GILBERTO. SALA. INTERIOR. DIA.
ARTHUR ESTÁ PASSANDO ESPANADOR EM CIMA DOS VASOS QUE ESTÃO SOBRE A BANCADA. RAFAELA ENTRA SORRIDENTE E ARTHUR PERCEBE.

ARTHUR — Posso saber o motivo desse sorriso Colgate?

RAFAELA — (NAS NUVENS) Nossa Arthur... Há tempos que meus dias nunca foram tão maravilhosos no colégio.

ARTHUR — (SURPRESO) Seu dia na escola foi bom? Que maravilha! O que teve de tão maravilhoso assim? Não vai me dizer que foi a companhia daquele garoto que te deixou assim.

RAFAELA — Garoto?! Que garoto? Do que você está falando?

ARTHUR — Ora, daquele menino que você tava conversando lá em baixo.

RAFAELA — Você estava me espionando?

ARTHUR — Fui passar pano na janela e não pude deixar de ver.

RAFAELA — Já que você falou, foi por causa dele sim! Bruno é um cara maravilhoso! Além de lindo, gato, atencioso, não liga para aparências. (NAS NUVENS) Se todos os garotos do mundo fossem assim...

ARTHUR — Tá apaixonada por ele é?

RAFAELA — Eu não sei... Acho que estou! Depois daquele beijo não consigo mais tirar ele da minha cabeça!

ARTHUR SORRI. RAFAELA FICA NAS NUVENS, PENSANDO NO BEIJO QUE BRUNO LHE DEU.

CENA 11. AP BRUNO. SALA. INTERIOR. DIA.
BRUNO ENTRA EM CASA. VANESSA ESTÁ SENTADA, FOLHEANDO UMA REVISTA.

VANESSA — Chegou cedo meu filho?!

BRUNO — A aula terminou mais cedo hoje! Eu tou com uma fome!!

VANESSA — Eu já imaginava! Vou mandar Nilza lhe preparar uma coisa pra comer!

BRUNO — Não precisa mãe! A coitada da mulher deve estar cheia de coisa pra fazer. Não quero incomodá-la.

VANESSA — E desde quando patrão incomoda empregado? Faço questão de eu mesmo mandar ela preparar um lanche pra você.

BRUNO — Já eu faço questão de eu mesmo preparar meu lanche e deixar Nilza fazendo outras atividades domésticas.

BRUNO VAI EM DIREÇÃO A COZINHA.

VANESSA — Esse menino tá muito ousado! Muito ousado!

ELA FICA PENSATIVA.

CENA 12. AP BRUNO. COZINHA. INTERIOR. DIA.
BRUNO PREPARANDO SEU SANDUICHE, SORRI. ESTÁ NAS NUVENS, PENSANDO EM RAFAELA.

CENA 13. PRAIA DA BARRA. EXTERIOR. DIA.
PAULA CHEGA À PRAIA. ELA SE SENTA NA AREIA. DO NADA MARCELO QUE ESTÁ COM O BRAÇO NA TIPÓIA APARECE E SE SENTA JUNTO A ELA.

MARCELO — E aí?!
PAULA — (SURPRESA) Você! (TENTA SE LEMBRAR) Esqueci seu nome!

MARCELO — Marcelo! Do seu nome eu me lembro muito bem! Paula não é?

PAULA — Isso mesmo! E você, como tá? Não tive notícias suas desde aquele dia.

MARCELO — Eu estou bem, fisicamente! Mas psicologicamente estou me sentindo péssimo! Com o braço nessa tipóia vou ficar sem surfar por um tempo. (PENSATIVO) Eu tenho uma paixão inexplicável por surf.

PAULA — Sabe que eu também? Mas eu não sei surfar bem!

MARCELO — Se você quiser podemos marcar uma aula! Eu te ensino tudo o que eu sei! Mas quando eu melhorar, claro!

PAULA — Eu aceito!

ELES SORRIEM UM PRO OUTRO.

CENA 14. AP OTÁVIO. SALA. INTERIOR. DIA.
GUILHERME E CAIO ENTRAM. OTÁVIO VEM DA COZINHA.

GUILHERME — E aí Pai!

CAIO — Tudo bem tio?

OTÁVIO — Tudo ótimo! (OLHA NO RELÓGIO) Mas vocês já chegaram?

GUILHERME — Sim! Tem o quê pra comer?

OTÁVIO — Estava preparando o almoço. Se quiser posso preparar um lanche pra vocês.

GUILHERME — Pode ser pai! Valeu!

CAIO — Valeu tio!

GUILHERME — Nós estaremos no quarto estudando!

OTÁVIO — (PARA GUILHERME) E seus irmãos? Não vieram com vocês?

GUILHERME — A bi/... Digo, Márcio tá vindo aí e Raíssa foi ao shopping.

OTÁVIO — Tá bem!

OTÁVIO VOLTA PRA COZINHA. GUILHERME E CAIO VÃO PRO QUARTO.

CENA 15. QUARTO GUILHERME. INTERIOR. DIA.
GUILHERME E CAIO ENTRAM. CAIO JOGA SUA MOCHILA NA CAMA. GUILHERME FAZ O MESMO E SE SENTA EM FRENTE AO COMPUTADOR. CAIO DEITA NA CAMA.

GUILHERME — (ENTRANDO NA REDE SOCIAL) Não vejo a hora de postar esse vídeo no grupo da escola!

CAIO — Eu continuo achando que essa história ainda vai dar merda! Se eu fosse você pensava duas vezes antes de fazer isso!

GUILHERME — Eu já pensei uma, duas, três vezes.

CAIO — Você não acha muita sacanagem fazer isso não? Logo com Bruno que é nosso amigo?

GUILHERME — Isso é só uma brincadeira leve sua anta! Nada demais!

CAIO — Fique brincando! Quando você receber sua galinha pulando não reclame!

GUILHERME — Eu não tou nem aí! Até por que estou tomando todas as medidas de segurança possíveis!

CAIO — Como assim?

GUILHERME — Estou criando um perfil fake! Como o grupo do colégio é público vai ser fácil pra eu entrar. Pronto, o fake foi criado. Agora só preciso ir até o grupo e postar o vídeo.

GUILHERME PEGA SUA MOCHILA, RETIRA SEU CELULAR DE DENTRO DELA. ELE PEGA UM CABO USB E CONECTA AO COMPUTADOR. MUITO RITMO!!!

GUILHERME — (MEXENDO NO COMPUTADOR) Agora é só esperar o vídeo carregar e...  Vídeo carregado! Vou postar!

CAIO — Não faz isso cara!

GUILHERME CLICA O BOTÃO ENTER DO TECLADO.

GUILHERME — Agora é tarde demais!

CAIO JOGA UMA ALMOFADA CONTRA O PRÓPRIO ROSTO.  CLOSE EM GUILHERME.

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 16. MANSÃO LIDIANE. EXTERIOR. DIA.
PLANO DE LOCALIZAÇÃO.

CENA 17. MANSÃO LIDIANE. QUARTO BEATRIZ. INT. DIA.
BEATRIZ ENTRA NO QUARTO. DE REPENTE SEU CELULAR PRA EMERGÊNCIA TOCA. ELA ATENDE.

BEATRIZ — (CEL) Alô?! Géssica?

EDIÇÃO: ALTERNAR CENA ENTRE AS DUAS.

GÉSSICA — (CEL) Você nem vai acreditar!

BEATRIZ — (CEL) O que foi que houve dessa vez?

GÉSSICA — (CEL) Olha o grupo do colégio!

BEATRIZ — (CEL) Peraí.

BEATRIZ SENTA NA CAMA E ABRE SEU NOTEBOOK. ELA COMEÇA A MEXER NELE. CAM DETALHA O VÍDEO DE BRUNO E RAFAELA SE BEIJANDO SENDO EXECUTADO NO NOTEBOOK.

BEATRIZ — (CEL/REVOLTADA) eu não acredito no que estou vendo! Bruno e aquela ridícula se beijando!

GÉSSICA — (CEL) Pois é. Temos que tomar medidas drásticas em relação a isso e com urgência!

BEATRIZ — (CEL/DECIDIDA) Eu não vou deixar ela tomar meu boy de mim! Não vou mesmo!

CLOSE NELA REVOLTADA.

CENA 18. AP OTÁVIO. SALA. INTERIOR. DIA.
MÁRCIO ENTRA EM CASA SEGUIDO DE ANDRESSA.

MÁRCIO — Eu só vou pegar deixar minha mochila aqui e já volto.

ANDRESSA — Olha bixa, você não vai demorar não hein?!

MÁRCIO — Claro que não vaca! Já disse que só vou deixar minha mochila e que eu volto. Espera ai.

MÁRCIO VAI PRO QUARTO, QUANDO OTÁVIO APARECE FAZENDO ELE VOLTAR.

OTÁVIO — Chegou filho?

MÁRCIO — (MUDA A VOZ) Claro painho.

ANDRESSA FICA BOQUIABERTA COM A MUDANÇA DE VOZ DE MÁRCIO.

OTÁVIO — (FALANDO DE ANDRESSA) Quem é essa?

MÁRCIO — Ela é Andressa, minha... Namorada!

OTÁVIO — Namorada? Mas você não me contou que estava namorando!

MÁRCIO — Estou falando agora!

OTÁVIO — (ALEGRE) Mas que coisa boa! (CUMPRIMENTA ANDRESSA) Prazer menina!

ANDRESSA — (MEIO SEM ENTENDER) Prazer!...

OTÁVIO — (PARA MÁRCIO) Que coisa boa meu filho! Você trouxe ela pra almoçar com a gente?

MÁRCIO — Não, não! Eu só vim deixar minhas coisas e vamos direto pra casa dela! Marcamos de estudar lá!

ANDRESSA — (SEM JEITO) É... marcamos de estudar lá em casa.

MÁRCIO — Agora deixe eu colocar minha mochila no quarto!

MÁRCIO VAI PRO QUARTO. OTÁVIO OLHA ALEGREMENTE PARA ANDRESSA QUE FICA SEM JEITO.
ENTRA AQUI O DIÁLOGO DA CENA SEGUINTE.

ANDRESSA — (OFF) Você ficou louco?

CENA 19. AP ANDRESSA. SALA. INTERIOR. DIA.
DIÁLOGO ENTRE MÁRCIO E ANDRESSA. MUITO RITMO!!!

MÁRCIO — (CONT.) Eu não tive outro jeito criatura! Tive que dizer a painho que você era minha namorada!

ANDRESSA — Mas por que você tinha que dizer isso?

MÁRCIO — Sei lá... Eu tive medo!

ANDRESSA — Medo de quê?

MÁRCIO — Meu pai nunca aprovou minhas amizades com meninas. (T) Trauma de infância!

ANDRESSA — E você tinha que me envolver logo nisso?... Perai... Não vai me dizer que...

MÁRCIO — Meu pai não sabe que sou gay!

ANDRESSA FICA SURPRESA.

MÁRCIO — (AFLITO) E eu preciso da sua ajuda amiga! Eu preciso que você finja ser minha namorada quando estivermos com ele.

ANDRESSA — (REAGE) Mas eu não posso fazer isso de jeito nenhum! Vai burlar todos os meus esquemas!

MÁRCIO — Por favor! É só isso que eu te peço!

ANDRESSA — Mas isso é um absurdo bi!!! (T) Ele é seu pai! Vai amar você do jeito que você é!

MÁRCIO — Você não tá entendendo! Se ele descobre que eu sou gay ele me mata!

ANDRESSA — Tudo bem! Eu finjo ser sua namorada! (SORRI) Já somos mesmo que nem um casal!

MÁRCIO FICA FELIZ E ABRAÇA ANDRESSA.

MÁRCIO — (FELIZ) Eu te amo!

ANDRESSA — (ABRAÇANDO ELE) Eu te amo também minha bi!

CLOSE NELES.

CENA 20. SALVADOR. PLANOS GERAIS. EXTERIOR. DIA.
PLANOS GERAIS DA CIDADE.

CENA 21. SHOPPING. INTERIOR. DIA.
RAÍSSA CAMINHA PELO SHOPPING, OBSERVANDO AS VITRINES.

RAÍSSA — (OLHA NO RELÓGIO) Xi! Já vai dar onze horas! Preciso ligar pra casa. Painho deve tar preocupado comigo!

ELA PEGA O CELULAR DENTRO DA BOLSA.

RAÍSSA — (OLHA O CELULAR/ FALA PARA SI) Meu Deus, uma notificação. Parece que alguém postou um vídeo no grupo do colégio!

CAM DETALHA O VÍDEO DE RAFAELA E BRUNO SE BEIJANDO SENDO EXECUTADO NO CELULAR. RAÍSSA FICA BOQUIABERTA.

RAÍSSA — (PLERPEXA/ PARA SI) Meu Deus. É a minha amiga aqui nesse vídeo? Mas quem será que fez isso? Preciso avisar Rafaela urgente!

CENA 22. AP GILBERTO. QUARTO RAFAELA. INT. DIA.
RAFAELA JÁ FALANDO COM RAÍSSA NO CELULAR.

RAFAELA — (CEL) Vídeo meu no grupo do colégio? Que história é essa Raíssa? (T) Sim. Já vou ver! (T) Obrigada por avisar! Beijo!

ELA DESLIGA E PRONTAMENTE VAI ATÉ O COMPUTADOR E LIGA-O. RAFAELA MEXE NO COMPUTADOR ATÉ QUE VÊ ELE SENDO EXECUTADO NA REDE SOCIAL.

RAFAELA — (SENTIDA) Não pode ser! Isso foi armação de alguém! Tenho certeza disso! (T) Será que Bruno já sabe disso?

CENA 23. AP BRUNO. QUARTO DELE. INTERIOR. DIA.
BRUNO NO CELULAR JÁ FALANDO COM RAFAELA, DE FRENTE PRO COMPUTADOR. ELE VÊ O VÍDEO NO COMPUTADOR.

BRUNO — (CEL) Sim, eu já estou vendo o vídeo aqui! (T) Não precisa se preocupar ou se sentir mal com as ofensas que fizeram a você na descrição do vídeo! (T) Não se preocupa meu bem! Eu vou descobrir quem fez isso! E quando eu descobrir, a pessoa vai se ver comigo!

CLOSE NELE, FIRME.

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 24. AP BRUNO. QUARTO DELE. INTERIOR. DIA.
BRUNO ESTÁ NO CELULAR, DESSA VEZ FALANDO COM OUTRA PESSOA.

BRUNO — (CEL) Eu te liguei por que tou com um problemão daqueles! (T) Isso! (T) Você também viu? (T) Horrível mesmo! Olha, eu te liguei por que você entende mais de tecnologia que eu e eu queria saber como faço pra sair áudio no vídeo. (T) É que o vídeo está sem áudio e eu queria saber se tem alguma voz, ou algum som que eu possa identificar quem gravou... (T) Ah, tem um aplicativo? E qual que é o nome? (ANOTANDO) Sei... Já vou baixar! Valeu!

ELE DESLIGA. CORTA PRA BRUNO JÁ TERMINANDO O PROCESSO NO APLICATIVO. ELE FINALMENTE CONSEGUE PÔR O AUDIO NO VÍDEO.

BRUNO — Pronto! Agora eu posso ver o vídeo e descobrir quem gravou.

ELE COLOCA OS FONES DE OUVIDO NO CELULAR E COMEÇA A VER O VÍDEO. BRUNO FICA BOQUIABERTO QUANDO OUVE AS VOZES DE GUILHERME E CAIO.

BRUNO — (SURPRESO) Então foi Guilherme que gravou esse vídeo?!

CLOSE NELE SURPRESO.

CENA 25. SALVADOR. PLANOS GERAIS. EXTERIOR. NOITE.
PLANOS GERAIS DA CIDADE AO ANOITECER.

CENA 26. CAJAZEIRAS. RUAS. EXTERIOR. NOITE.
VAGNER CAMINHA PELA RUA E VÊ UMA MULHER (APROXIMADAMENTE 18, 19 ANOS, NEGRA, DE ESTATURA MÉDIA.) SOFRENDO TENTATIVA DE ASSALTO. O LADRÃO A FAZ DE REFÉM COM UMA FACA. 

MULHER — (PRO LADRÃO) Me solte! Eu não tenho nada!

LADRÃO — (COM RAIVA) passa tudo o que você tem aí sua ordinária. Eu sei que você tem alguma coisa ai!

MULHER — (AMEDRONTADA) Eu já disse que não tenho nada! Me deixe em paz! 

VAGNER TOMA CORAGEM E SE APROXIMA DOS DOIS.

VAGNER — Deixa ela em paz cara!

LADRÃO — (APONTA A FACA PRA VAGNER) Sai daqui!

A MULHER APROVEITA A DISTRAÇÃO DO LADRÃO, LHE DÁ UMA COTOVELADA NA BARRIGA E SAI CORRENDO.  ELA FICA ATRÁS DE VAGNER. O LADRÃO APONTA FACA PRA ELE, MAS OUVE O BARULHO DAS SIRENES DE POLÍCIA E SAI CORRENDO.

VAGNER — (PARA A MULHER) Você tá bem?

MULHER — (ALIVIADA) Estou sim!
CENA 27. BAR. INTERIOR. NOITE.
VAGNER E A MULHER SENTADOS NUMA MESA DO BAR. LOGO O GARÇOM CHEGA E SERVE UM COPO COM ÁGUA PARA A MULHER.

MULHER — (TOMANDO ÁGUA) Obrigada por ter me defendido!

VAGNER — Não foi nada! Eu não podia ficar parado sem fazer nada! Aliás, nessa confusão nem tivemos tempo de nos apresentar... Eu me chamo Vagner!

MULHER — Prazer! Meu nome é Natália!

NATÁLIA ESTENDE A MÃO PARA CUMPRIMENTAR VAGNER, MAS AO INVÉS DISSO ELE BEIJA A MÃO DELA. ELA SORRI ENVERGONHADA. ELES SE OLHAM.

CENA 28. AP LORENA. SALA. INTERIOR. NOITE.
LORENA CONVERSA COM SUA AMIGA MARGOT.

LORENA — Você nem vai acreditar quem eu encontrei hoje na rua.

MARGOT — Quem?

LORENA — Vitor!

MARGOT — O quê? Como assim você encontrou Vitor? Ele não tinha ido embora da cidade?

LORENA — Eu também não entendi nada quando vi ele. Pensei que ele tinha me abandonado pra sempre desde aquela época. (T) Que ódio! Tá tudo dando errado na minha vida! Minha filha não me respeita mais e agora esse passado voltando pra me assombrar.

MARGOT — E você contou pra Paula isso?

LORENA — Claro que não! Eu posso ser maluca, mas não sou burra.

MARGOT — É, mas abre teu olho minha querida, por que mais cedo ou mais tarde ela pode ficar sabendo dessa história toda.

LORENA — Mas ela não vai ficar sabendo é nunca! Ela nunca vai saber que Vitor é o pai dela! Nunca!
CLOSE NELA.

CENA 29. AP BRUNO. QUARTO CASAL. INTERIOR. NOITE.
VITOR ESTÁ SE APRONTANDO PARA DORMIR. ELE SENTA NA CAMA PRONTO PARA DEITAR QUANDO VÊ UM BOMBOM DENTRO DE UM POTE DE VIDRO EM CIMA DO CRIADO MUDO. ELE FICA PENSATIVO POR UM TEMPO, OLHANDO PRO BOMBOM. OLHA PRA PORTA PRA VER SE ALGUÉM ESTÁ VENDO E APANHA O BOMBOM.

VITOR — (PARA SI) Eu não sou obrigado a nada!

ELE COME O BOMBOM E VAI DORMIR. CAM VAI PEGAR VANESSA QUE ESTAVA ESCONDIDA OBSERVANDO TUDO. ELA SORRI MALEFICAMENTE.

CENA 30. AP BRUNO. SALA. INTERIOR. NOITE.
VANESSA DÁ DINHEIRO PRA NILZA.

VANESSA — Você fez um excelente trabalho. Eu quero que você coloque esses bombons todos os dias no criado mudo. Se Vitor passar a comer esses bombons frequentemente eu aumento o seu salário!

NILZA — Pode deixar patroinha!

VANESSA — Agora vá pra cozinha!

NILZA VAI PRA COZINHA NA MESMA HORA QUE BRUNO DESCE.

VANESSA — Aonde você vai tão apressado?

BRUNO — Vou no apartamento aqui em cima resolver umas coisas.

VANESSA — No apartamento de Otávio? Vai resolver o quê lá?

BRUNO — Nada mãe! Coisa minha! Tchau!

BRUNO SAI.

VANESSA — Eu hein!

ELA SENTA NO SOFÁ E LIGA A TV.

CENA 31. CASA GÉSSICA. FRENTE. EXTERIOR. NOITE.
VAGNER PARA NA FRENTE DE CASA, CONVERSANDO COM NATÁLIA.

VAGNER — Eu morria e não sabia que nós éramos vizinhos!

NATÁLIA — É muita coincidência não?

VAGNER — É sim! E aí? Quando a gente pode se ver de novo?

NATÁLIA — Não sei. É só a gente marcar. Eu já te dei meu número. Quando quiser é só falar comigo! Agora eu tenho que ir!

ELES SE CUMPRIMENTAM DANDO BEIJOS NA BOCHECHA. NATÁLIA ATRAVESSA A RUA E ENTRA EM CASA. VAGNER FAZ O MESMO.

CENA 32. CASA GÉSSICA. SALA. INTERIOR. NOITE.
VAGNER ENTRA EM CASA. GÉSSICA APARECE.

GÉSSICA — Chegou bonitão?

VAGNER — Painho e mainha, onde estão?

GÉSSICA —Já foram dormir. O velho estava naqueles dias! E mamãe chorando feito uma boboca como sempre! Nada muda nessa casa! Por isso não vejo a hora de me picar daqui!

VAGNER — Você não vê a hora de ir embora daqui por que não passa de uma ingrata!

GÉSSICA — (IRÔNICA) Claro! Qualquer um se sentiria eternamente grata por ter sido criado por pais desmiolados.

VAGNER — Chega! Não vou ficar aqui discutindo com você!

VAGNER VAI SUBINDO.

GÉSSICA — Peraí!

VAGNER — (VOLTA) O que é?

GÉSSICA — Eu posso saber quem era aquela negrinha com quem você conversava?

CLOSES ALTERNADOS ENTRE ELES.

CENA 33. AP OTÁVIO. SALA. INTERIOR. NOITE.
A CAMPAINHA TOCA. GUILHERME VAI ATENDER. É BRUNO.

GUILHERME — Bruno?

BRUNO ENTRA.

GUILHERME — A que honra eu devo a sua visita? Aconteceu alguma coisa?

BRUNO — Por que você gravou aquele vídeo desmoralizando a mim e Rafaela?

CLOSES ALTERNADOS ENTRE ELES.

CENA 34. MANSÃO LIDIANE. QUARTO LIDIANE. INTERIOR. NOITE.
LIDIANE ESTÁ DEITADA NA CAMA ENQUANTO CONVERSA COM JUCILENE QUE ARRUMA O CLOSET.

LIDIANE — Sabe do que eu tava me lembrando hoje Jucilene?

JUCILENE — De quê?

LIDIANE — Do dia que Beatriz chegou aqui em casa. Era tão pequena, tão frágil.

JUCILENE — Eu me lembro como se fosse ontem!

LIDIANE — De pensar que alguém abandonou um ser tão inocente daquela forma tão cruel.

JUCILENE — Esquece isso dona Lidiane! O importante é que Beatriz foi muito bem cuidada, muito bem criada! E com uma mãezona dessa também né...

LIDIANE — Às vezes eu tenho medo Jucilene. Medo de que o passado volte à tona. Eu tenho medo de que Beatriz descubra que não é minha filha de sangue! (T) Aliás, ela não pode saber disso de jeito nenhum! Em hipóteses alguma Beatriz pode descobrir que é adotada!

DE REPENTE BEATRIZ ENTRA NO QUARTO SURPREENDENDO LIDIANE E JUCILENE.

BEATRIZ — Do que eu não posso saber? (T) O que a senhora está escondendo de mim minha mãe? Do que vocês duas estavam conversando?

CLOSE EM LIDIANE QUE É SURPREENDIDA PELA FILHA.

FIM

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