sábado, 5 de setembro de 2015

Capítulo 04: Escrúpulos



Depois da conversa que teve com o detetive, Marlon não parava de pensar na sua doce vingança. Rodava o escritório, bebia dezenas de garrafas de café, perguntava a secretária se Devis não ligara pra ele. Nenhuma novidade, nada.
Quinze dias se passaram e Marlon não aguentando mais de ansiedade, ligou para o detetive:
- Alô, detetive Devis?
- Ele mesmo quem fala.
- Aqui é o Sr. Marlon, dono do Jornal Matinal.
- Ah, Sr. Marlon.
- Você tem alguma novidade? Desculpe-me mais estava tão ansioso que não pude me controlar.
- Entendo, mas... não tenho nenhuma notícia de seus amigos. O senhor sabe como a cidade é grande. É como encontrar seis agulhas num palheiro.
- Compreendo. Então qualquer notícias, a qualquer hora, entre em contato comigo.
- Pode deixar senhor Marlon.
- Obrigado.
-Por nada. Qualquer coisa entro em contato. Tenha um bom dia.
- Obrigado.
Marlon estava muito nervoso. Não bastava a busca dos seus agressores e agora tinha que contratar uma repórter, pois a Dona Conceição abandonara o cargo. A notícia da vaga estava no seu jornal. Muitas foram as candidatas.
Gilda entrou e anunciou a última candidata:
- Pode entrar senhorita Solange.
Assim que Marlon viu a candidata com seus cabelos castanhos longos, seus olhos verdes escondidos por um óculos, seus saia que batia nas suas coxas torneadas e a sua blusa que tinha um decote generoso, ele ficou muito interessado na candidata. Ela era do tipo secretária-amante que um chefe poderia querer.
- Temos aqui a última candidata. – disse ele ao ver a relação. – Você é a Solange, não é isso?
- Isso mesmo senhor Marlon, estou a sua inteira disposição. – disse a futura secretária.
- Você tem muitas experiências como repórter?
- Já tive alguns empregos. – disse a linda moça entregando o seu currículo.
Depois de mais de meia hora conversando, Solange saiu muito contente, com o emprego garantido e um encontro marcado para a noite.
Ao escurecer, Solange já estava se produzindo. Às nove horas, Marlon já estava esperando a sua futura repórter. O encontro estava marcado às oito e vinte e ela só chegou às nove e dez. Ela chegou se desculpando:
- Desculpe-me senhor Marlon, mais é que...
- Não me trate como senhor, me chame de você.
- Está bem. E que fui resolver alguns problemas com meu namorado e perdi a hora.
- Você tem namorado?
- Tenho sim. Namoro com ele a oito anos. E o se... digo, você tem namorada?
- Não. Nunca encontrei uma mulher tão adorável como você na minha vida.
Solange ficou envergonhada com o comentário.
- Desculpe-me se ti deixei tímida.
- Não foi nada.
Entre vinhos e macarronada, a conversa entre os dois foi longa. Falaram sobre trabalho, vida e relacionamento. Não pense que Marlon era um aproveitador. Não! Ele apenas gostava de conhecer seus, ou melhor, suas funcionárias.
Marlon não conseguiu dormiu. Rolou e revirou a cama. Pensava na sua nova repórter. Ele havia se apaixonado sinceramente. Dentre várias que cruzaram o seu caminho, ela era diferente.
O dia amanheceu e Mônica já sabia do encontro entre eles:
- Bigode, tu não sabe da novidade.
- Diz Mônica.
- O patrãozinho saiu com a repórter. Ontem ela foi aceita no trabalho e já saiu com ela. É muito descaramento. Queria tanto ser ela. -  falou Mônica toda sonhadora.
- Só você mesmo.
- O que tem eu , Bigode?
- Nada...tudo...ah num sei não Mônica.
Marlon chegou todo apaixonado. Foi logo para sala. Gilda chegou logo em seguida e perguntou para Fabrício se havia chegado alguma correspondência para o patrão.
- Chegou uma senhorita.
Fabrício entregou a carta.
- Obrigada.
- Por nada.
Gilda foi direto entregar a carta para o patrão. Ele recebeu, viu que não tinha remetente e abriu. Na carta estava escrito:

“ Querido Marlon,
Desculpe por não ter cuidado de você como merecia. Me arrependo amargamente pelo meu comportamento. Hoje vivo na miséria. Você deve está até rindo por receber uma carta, hoje em dia. Não sei mexer e nem tenho um computador. Estou muito doente. Meu marido morreu à anos e nunca tive nenhum filho. Queria te pedir um dinheirinho emprestado.  Preciso de uns remédio, são muito caros. Quero que venha pessoalmente. Hoje  moro numa choupana, aqui está o endereço. Rua: Fernão Dias,     nº 435. Se preferir mandar o dinheiro numa carta, você já sabe o CEP.
Preciso te pedir perdão. Espero que me compreenda. Ah! Fiquei sabendo que você é dono de um jornal daí. Parabéns. Você merece.
Ass.: Wanda, a tia que ti amou de um jeito diferente, mais amou e continua ti amando. Beijos.”

Marlon rasgou a carta. Pegou o isqueiro e queimou. Depois que leu, chorou muito.
- Depois que deixou largado o seu único sobrinho é que vem pedir desculpas? Sei do seu arrependimento, ele se chama interesse. Só porque agora tenho esse Jornal, agora sou o amor da sua vida? Espero que morra. Não sabe o que passei, não sabe o que senti, não sabe o quanto lutei para estar aqui. Agora sou eu que não quero saber de você.
Ele pegou um papel e escreveu a carta, dizendo em voz alta:
- Não quero mais saber de você. Pra mim não passa de uma desconhecida. Aqui está a esmola que dou. Assinado Marlon, o menino que não teve e nunca terá uma tia. Até nunca mais.
Depois que terminou, colocou dentro de um envelope e chamou Gilda.
- Coloque isso no correio.
- Sim senhor. Ah! Ia me esquecendo. O detetive Devis está na linha e quer falar com o senhor.
- Obrigado. Pode se retirar.
Quando a secretária saiu da sala, Marlon atendeu o telefone:
- Senhor Marlon, quem fala é o detetive Devis.
- Olá Devis. Você tem alguma novidade?
- Tenho.
- Me diga. Não agüento mais.
- Não posso dá a informação pelo telefone. Tenho quer ir aí.
- Pode vir agora?
- Não. Pode ser amanhã cedo?
- Pode.
- Então ta combinado.
- Combinado.
- Até amanhã senhor Marlon.

- Até amanhã.

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