segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Capítulo 05: Castelo de Cartas


CENA 1/ EXT./ BOATE/ FRENTE/ DIA
 Continuação imediata do capítulo anterior.
WALKIRIA – Cê tá bem louco, né? Pelo amor de Deus, eu tô atrasada/
HOMEM – Tu ainda não entendeu que tu não vai sair daqui, delícia? Quer dizer, se eu tiver piedade tu sai, mas tem que ficar pianinho.
WALKIRIA – Que isso, cara? Ficou doido? Não sou instrumento musical não, pianinho, cavaquinho, não entendo nada/
HOMEM – Quanto mais burra for, mais gostosa é. E eu adoro uma novinha assim, na marra, na força.
WALKIRIA – Não! Pelo amor da Santíssima Trindade, sai de perto! Eu tenho malária!
HOMEM – E eu tenho tesão masculino, tu já ouviu falar? E agora é muito, mas muito tesão, gostosa!
 Ele parte pra cima dela e rasga a blusa da moça. Chega Társis com um pedaço de pau, bate nas pernas do atacante, que cai. Walkiria vai para o lado de Társis.
HOMEM – Que neurose é essa, mano? Ficou doidão?
WALKIRIA – Cê tá bem louco, né Társis? Ele é perigoso, amor!
TÁRSIS – Perigoso sou eu, se ele não der o pinote daqui agora eu arrebento os miolos dele com essa ripa. Vaza mané!
 O atacante levanta e sai correndo. Walkiria começa a chorar e soluçar, abraça Társis.
TÁRSIS – Cama, Walkiria. Vai ficar tudo bem.
WALKIRIA – Graças a tu, meu amor! Não fosse você aparecer com seu pau que faz magia, eu ia virar uma meretriz pra esse marmanjo.
TARSIS – Nem pensa nisso. Relaxa. Tá tranquilo agora.

 (Sonoplastia: Pretty Girls – Britney Spears). Os dois ficam se fitando, em silêncio, aproximam-se um do outro, devagar, e dão um beijo demorado, caliente e romântico. Ela ainda com a rouba rasgada.

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CENA 2/ STOCK-SHOTS/ DIA-NOITE

 Anoitece no Rio de Janeiro.

 

CENA 3/ INT./ CASA DE GREG/ QUARTO/ NOITE

Em um quarto totalmente desorganizado, muita roupa em cima da cama, copos em cima de uma mesa de computador. Greg utilizando o aparelho.

GREG – (Off, pensamento) RoroGatinha!? Hum... Deixa ver... Essa é boa. Bonitona, inteirona, loirona, do jeito que o Greguinho gosta. Mas será que ela vai curtir o Greguinho aqui? Tô mesmo meio barrigudo... Já sei. Vou mandar foto fake... Não precisa ser muito bonito. Um cara sarado, loirão, bem parecido com o deus grego aqui. Isso! Arrasa, Greg, arrasa o coração das novinhas!

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CENA 4/ INT./ CASA DE ROSICLER/ QUARTO/ NOITE

Rosicler sentada a mesa do computador digitando.

ROSICLER – Gente... Que deus grego! E quer marcar um encontro comigo... Mas essa foto minha nem é real, será que ele não vai encrencar? Ai, Rosicler, desencana mulher de Jeová, tu tá com tudo em cima. Vou marcar. Pelo menos dessa seca eu saio!

 Ela clica em uma tecla e fica toda sorridente.

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CENA 5/ CASA DE DANILO/ CÔMODO ÚNICO/ NOITE

 Abre em um barraco de madeira, coisa muito simplória e mal arrumada. Trilha sonora triste. Entra Danilo.

DANILO – Nada, mãe. Ninguém quer ajudar.

FRANCISCA – (Fraca) Difícil. Mas fica calmo, filho... Tudo vai ficar bem.

DANILO – Não vai ficar, mãe. Não tem como! Olha pra senhora, faz dias que a gente não come/

FRANCISCA – Cê comeu, não comeu? Tô feliz assim. Não preciso de nada.

DANILO – Não pode ser assim, mãe! Você tá mal, a gente tem que procurar ajuda/

FRANCISCA – Fome, meu filho... Nunca mais passe fome.

DANILO – Mãe?

 A mulher senta-se com a mão no abdômen e feição de desespero. Danilo vai ao seu amparo.

DANILO – Mãe? Mãe? O que a senhora tem?

FRANCISCA – Eu tô com fome meu filho... Mas fica calmo. Vai ficar tudo bem.

 Ela deita no colo dele.

FRANCISCA – Eu tô lembrando aqui... Quando cê era bebê, eu cantava pra você nanar. Lembra?

DANILO – Sim.

FRANCISCA – Canta pra mim... Eu quero ouvir sua voz.

DANILO – (Chorando, canta) Mãezinha do céu, eu não sei rezar. Eu só sei dizer quero te amar. Azul é seu manto, branco é seu véu. Mãezinha eu quero te ver lá no céu. Mãezinha do céu, mãe do puro amor. Jesus é seu filho. Eu também sou. Mãezinha do céu, vou te consagrar. A minha inocência, guarda-a sem cessar/

 Close nas lágrimas da mulher e nas de Danilo, que fica alguns instantes em silêncio. Ela fecha os olhos.

DANILO – Mãe? Mãezinha? Fala comigo, mãe... Eu... Mãe, por favor. Mãe? Você está aí?

 Ela reabre os olhos, porém com menos intensidade, esboça um sorriso e fecha novamente. Close em uma estátua de Nossa Senhora de Aparecida, escorre uma lágrima dos olhos dela. Danilo ampara Francisca, desacordada, ele muito desesperado, chorando muito.

DANILO – Mãe, pelo amor de Deus, mãe, pelo amor de tudo que é mais sagrado... Eu cantei pra senhora, não cantei? Igual a senhora cantava quando eu tinha medo... Mãe, por favor, não faz isso comigo... Mãe!

 Close em Danilo chorando, com a cabeça no colo do corpo da mãe.

 Intercala com:

 

CENA 6/ EXT./ TERRENO BALDIO/ NOITE

 Começa a tocar Blues da Piedade (Cazuza). Danilo carrega Francisca no colo, coloca no chão e começa a cavar uma cova improvisada. Quando termina, coloca a mãe lá dentro, chorando muito, volta a colocar terra no buraco e se deita sob ele, chorando.

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CENA 7/ STOCK-SHOTS/ NOITE-DIA

Imagens Do amanhecer.

 

CENA 8/ INT./ MANSÃO TRINDADE/ SALA/ DIA

 Close em Ingrid tentando descer as escadas, meio curvada. Otávio vem por trás e pega ela pelo braço, começam a descer juntos.

OTÁVIO – Tô pensando em mandar colocar um elevador aqui. Que tal?

INGRID – Elevador? Eu não preciso. Posso muito bem descer essas escadas sozinha.

OTÁVIO – E quando não puder?

 Maria Fernanda surge por trás e passa na frente, indo até o sofá da sala de estar, onde se deita.

MARIA FERNANDA – Quando não der mais a gente amarra uma corda no pescoço e joga da sacada. Do chão não passa. (t) Brincadeirinha! Que velhinhos mais sem humor vocês.

 Ingrid e Otávio vão até o sofá e se sentam.

OTÁVIO – Seu humor é bem peculiar.

MARIA FERNANDA – Obrigado, papai. Mas e aí, como foi a noite hoje? Treparam bastante?

INGRID – Respeito é bom, Maria Fernanda!

MARIA FERNANDA – Transar idem. E tem que aproveitar enquanto o velho ainda dá no coro, porque depois... Depois, mamãe, tem que torcer pro dedo dar conta.

INGRID – Maria Fernanda!

OTÁVIO – Deixa, meu amor, deixa. Se ela quer saber vamos responder: Transamos muito. Foi visceral.

INGRID – Otávio!

OTÁVIO – Que é, meu amor? Esse interesse todo da Maria Fernanda pela nossa vida sexual deve ser, como os jovens dizer hoje em dia, deve ser recalque. Afinal, faz tempo que eu não vejo você com um homem, filha. Tá transando muito?

MARIA FERNANDA – Papai!

INGRID – Se vocês me dão licença eu vou falar com a nova cozinheira pra ela fazer uma lasanha... Acordei com vontade hoje.

MARIA FERNANDA – Toma cuidado pra não estar grávida... Na sua idade é um perigo. Vai lá! Pede também uma saladinha de repolho, quem sabe assim os gases do papai voltam e vocês não fazem barulheira essa noite.

OTÁVIO – Vem cá, Fernanda, para de falar bobagem e me diz uma coisa: E o Danilo?

MARIA FERNANDA – Quem?

OTÁVIO – O Danilo, Maria Fernanda, o Danilo.

MARIA FERNANDA – E quem diabos é Danilo?

OTÁVIO – Aquele garoto gente boa que estava na frente da empresa esses dias atrás e que você fez questão de afugentar.

MARIA FERNANDA – Ah, sim. O faveladinho. Pulverizei, papai, pulverizei.

OTÁVIO – Como?

MARIA FERNANDA – Mandei ir procurar conversa com a gente dele. Papai, essa raça suburbana não se manca. Acredita que o infeliz voltou lá com o currículo? Eu tive vontade de rir, mas pensei: Vai que é doença? Apenas botei pra correr.

 Otávio se levanta, sem o sorriso.

OTÁVIO – O que você fez, Maria Fernanda?

MARIA FERNANDA – Coloquei ele em seu devido lugar, nada demais. Eu até quis fazer mais, dar um susto, sei lá, mas ia pegar pro meu lado/

 Otávio pega Maria Fernanda pelo braço e a levanta.

OTÁVIO – Diz isso olhando pros meus olhos!

MARIA FERNANDA – (Nervosa) Isso olhando pros meus olhos, pronto. Tá atacado?

 Ele dá um tapa na cara dela.

OTÁVIO – Isso é pra você aprender. E é pouco. Eu não acredito que você possa ter feito isso/

MARIA FERNANDA – Aceita que dói menos, querido pai. Eu não sou obrigada a ver o senhor proteger um pretinho favelado como se fosse a melhor coisa do mundo. Ouviu?

 Ingrid volta.

INGRID – O que é que tá acontecendo aqui?

MARIA FERNANDA – O papai endoidou de vez, mãe. Ficou maluco. Deve ser a velhice/

 Otávio dá outro tapa, mais forte, em Maria Fernanda, que cai.

OTÁVIO – Já mandei calar a boca! Acontece, Ingrid, que essa degenerada passou dos limites. Onde já se viu, o que ela fez é imperdoável.

INGRID – Calma. Você precisa se acalmar, se não se acalmar não adianta nada. Vamos até a cozinha, a Madalena faz uma vitamina que você adora, e a gente conversa. Que tal?

 Otávio e Ingrid saem, de braços dados. Maria Fernanda com o lábio inferior sangrando, expressão de choque, senta na poltrona.

MARIA FERNANDA – Ordinário! Vai nessa, seu Otávio. Você libertou uma Maria Fernanda que estava presa a muito, mas muito tempo... Vai ter que arcar com as consequências.

 Maria Fernanda pega um copo da mesa de centro e quebra com a própria mão, que começa a sangrar. Sorriso diabólico.

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CENA 9/ INT./ PENSÃO/ CORREDOR/ DIA

 A dona da pensão onde Katia Flávia mora, parada em frente a porta desta, com uma folha em mãos. Bate incisivamente na porta. Katia Flávia abre.

KATIA – Ai, dona Geni. Que foi que aconteceu pra me acordar essa hora da manhã?

GENI – Sua safada! Agora já é quase onze horas.

KATIA – Super madrugada. Mas eu esqueci que gente velha gosta de acordar com os galos.

GENI – Olha o respeito, sua insubordinada! Se bem que você não vai precisar mais me respeitar/

KATIA – Jura? Ai que alegria! Gorda, macaca branca, ursa velha, deformada, pelancuda/

GENI – Basta! Eu não vou deixar você me agredir dentro da minha pensão. Se me atacar, eu vou atacar!

KATIA – Calma, Free Willy do sertão, que quem veio bater na minha porta com a maior cara de barata tonta foi você. O que quer aqui?

GENI – Vim dizer o que estou querendo dizer há muito tempo/

KATIA – Transou?

GENI – Não, sua abusada, o que eu tenho pra dizer é muito melhor. Conhece o Rá? Então. Rá, ré, ri, ró, rua. Fora daqui, sua cretina!

KATIA – Mas por que, dona Christina?

GENI – Meu nome é Geni!

KATIA – Taca bosta na Geni. Mentira, é que eu tava aqui lembrando de uma amiga, amiguérrima, que gosta de fazer o que senhora tá fazendo: Destruir corações! Sua insensitiva.

GENI – É insensível.

KATIA – Não, é insensitiva mesmo, por acaso a senhora é cigana?

GENI – Chega! Ponha-se daqui pra fora. Você não paga o aluguel fazem oito meses, sua pobre medíocre. E eu preciso do dinheiro.

KATIA – Bota o rabo na rua amor.

GENI – Que disparate! Vá já embora daqui. As suas roupas eu entrego depois.

KATIA – Já que é assim.... Where am i, piranha.

GENI – Como é?

KATIA – Não sei, nunca falei inglês, mas entenda como uma ofensa.

 Katia Flávia sai, bate a porta com força. Geni sorri, vitoriosa.

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CENA 10/ INT./ CASA DE NENÊ/ SALA/ DIA

 Seu Arturo bebendo uma garrafinha de gasosa, assistindo na TV um show de sertanejo.

ARTURO – Vai, vai, vai no cavalinho, vai, vai... Espera aí, isso requer uma reflexão. Aqueles que não gostam de mim só podem estar mentindo...

 Chega Sandra, da cozinha.

SANDRA – Falando sozinho?

ARTURO – É minha filha. Tô refletindo. Acredita que tem gente que me acha desagradável e sem graça?

SANDRA - Het dier niet lachen, Seu Arturo, jamé, como diria meu finado pai.
ARTURO – Não entendi bosta nenhuma.
 Toca a campainha. Sandra abre, entra Kátia Flávia, sem dizer nada.
KATIA – Oi, oi, vovô.
ARTURO – Não lembro quem é você.
KATIA – Normal, coisa de velho. Mas vem cá: Cadê Nenê, bebê?
 Nenê vem do corredor.
NENÊ – Aqui mesma. Katia Flávia, minha prima! Que bom te ver aqui.
KATIA – Digo o mesmo, Nenê, digo o mesmo. Mas aconteceu uma coisa tenegrosa. Horrível.
SANDRA – Bom, vocês poderiam falar no quarto? Vou limpar aqui.
ARTURO – É isso aí, Sandrinha vai limpar aqui.
KATIA – Quem é essa infeliz, Nenê?
NENÊ – Olha o respeito, Katia. Essa é a cuidadora do papai, ando tão avoada. Vamos até meu quarto, vem.
 As duas saem. Arturo deita no sofá e Sandra começa a limpar a sala.
JÁ NO QUARTO, Katia e Nenê sentadas na cama.
NENÊ – Como assim despejada?
KATIA – Jogada na rua, como uma cachorra sarnenta. Pode? Tô sem onde ficar.
NENÊ – Que barra.
KATIA – Se fosse barra de chocolate eu comia, se fosse de ferro eu dava na cabeça daquela gorda. Mas eu preciso dormir em algum lugar, Nenê, e vim pedir pra você, a prima que eu mais suporto: Posso ficar aqui?
NENÊ – Aqui? Mas não temos espaço.
KATIA – Durmo no sofá.
NENÊ – (Hesita) Tudo bem, mas por pouco tempo. Trate de arrumar um lugar onde ficar.
KATIA – Claro. Mas vem cá: Aquela pistoleira está mesmo cuidando do meu tio avô?
NENÊ – Sim, qual o problema?
KATIA – Não fui com a fuça dela. Não fui!
 Close nas expressões das duas, de dúvida.
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CENA 11/ INT./ CASA DE NENÊ/ QUARTO DE SEU ARTURO/ DIA
 Sandra e seu Arturo entrando no quarto.
SANDRA – O senhor quer mesmo dormir, seu Arturo?
ARTURO – Que mais um velho como eu tem pra fazer? Eu queria escrever pra internet, mas nem sei mexer nessas coisas.
SANDRA – Então tá, né. Se o senhor diz.
 Sandra ajuda Arturo a se deitar, mas ele puxa ela junto e ela acaba caindo em cima do velho.
ARTURO – Sai de cima! Sai de cima! Vai me matar, seu bujão!
SANDRA – Mas foi o senhor que me puxou/
ARTURO – Não sabia que você pesava tanto!
 Os dois acabam rolando e caem da cama, Arturo em cima de Sandra.
ARTURO – Melhorou! E nem precisei fazer força. Agora se renda ao amor, louca douçura, se renda ao amor.
 Sandra consegue se livrar do velho e se levanta. Ajuda a levantar ele, que se senta na cama.
SANDRA – O que foi isso, seu Arturo? Perdeu a noção?
ARTURO – Eu tive uma psicose, me desculpe. Fiquei fora de mim.
SANDRA – Nunca mais faça isso, seu Arturo. Ouviu? Senão eu não trabalho mais aqui, e o senhor vai ter que aturar alguma mulher bem feia cuidando do senhor.
 Close na expressão de culpa de Arturo.
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CENA 12/ INT./ HOSPITAL/ QUARTO/ DIA
 Vitória deitada na cama. Entra uma jornalista.
JORNALISTA – Dona Vitória, a senhora poderia nos dizer tudo o que aconteceu com a senhora?
VITÓRIA (surpresa) – Pra falar a verdade, não sei se posso. O médico liberou a entrada?
JORNALISTA – Sim. E nós iremos começar a exibição ao vivo para o Brasil todo. Por favor, prepare-se.
VITÓRIA – Tudo bem, eu/
JORNALISTA – Interrompemos nossa programação normal para entrevistar a modelo Vitória Vasconcelos, famosa por seus desfiles nacionais e internacionais. A modelo está internada no Hospital Siqueira Rivella e aguarda receber auta. Vitória, poderia nos explicar o que aconteceu?
VITÓRIA – Eu tava andando despreocupada na rua quando veio um carro e me atropelou.
JORNALISTA – E como era esse carro? Você não viu que o sinal tinha aberto?
VITÓRIA – Olha, eu não prestei atenção no carro, mas tenho certeza que o sinal estava vermelho. Errado foi o motorista que me atropelou.
JORNALISTA – O motorista fugiu sem prestar socorro?
VITÓRIA – O motorista não prestou socorro algum, e sim uma mulher que estava com ele. Trata-se de Maria Fernanda Trindade, a herdeira da famosa empresa de joias.
JORNALISTA – Quer dizer que você foi atropelada pela herdeira de uma das mais ricas empresas do Brasil?
VITÓRIA – Não, longe disso. A dona Fernanda é uma ótima pessoa, de bom caráter. Quem me atropelou foi o motorista dela, como ela deixou bem claro.
JORNALISTA – Kiko, aproxima mais a câmera.
 Close em Vitória, cansada dos flashes.
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CENA 13/ STOCK-SHOTS/ RIO DE JANEIRO
 Entardece no Rio de Janeiro.
 
CENA 14/ INT./ HOSPITAL/ QUARTO/ DIA
Volta em Vitória e na jornalista, como se a entrevista já tivesse sido feita.
JORNALISTA – Muito obrigada, Vitória, a entrevista ficou muito boa. Eu desejo que você se recupere logo, a imprensa está muito ansiosa pela confirmação do que a senhora acabou de me dizer.
 Entra um médico, junto com Lucas.
MÉDICO – Pois a imprensa pode começar a a gradecer. Dona Vitória vai ter alta agora mesmo, e o doutor Lucas veio especialmente pra busca-la.
LUCAS – Isso mesmo. Faço questão de te levar até sua casa, Vitória.
CORTA PARA o lado externo do hospital, os dois saindo, Vitória já com outras roupas, mancando um pouco.
VITÓRIA – Muito obrigada, Lucas, do coração. Você tem me ajudado muito.
LUCAS – Eu faço o que tem que ser feito. E você me recompensa, não acha?
VITÓRIA – Como assim?
LUCAS – Você sempre sorri pra mim. Considero isso um prêmio.
VITÓRIA – Você é fofo.
LUCAS – E você é linda.
 Os dois se encaram por alguns instantes e se beijam. 
(Sonoplastia: Agora eu já sei – Ivete Sangalo)
Corta para:
 
CENA 15/ INT./ EMPRESA TRINDADE/ CORREDOR/ DIA
 Abre em um vulto entrando na empresa, toda escura, pela porta dos fundos. Vemos que é Maria Fernanda. Ela está com um martelo em mãos.
MARIA FERNANDA – Câmera? Nunca pensei, amor, nunca pensei em você não.
 Ela começa a destruir uma por uma das câmeras. Entra em um corredor e depois em uma sala.
 
CENA 16/ INT./ EMPRESA TRINDADE/ SALA DE VIGILÂNCIA/ DIA
 Maria Fernanda entra e começa a desligar todos os computadores. Close em suas mãos, com uma luva de acrílico.
INTERCALA com:
Otávio entrando na empresa, acende todas as luzes. Começa a notar o fato de todas as câmeras estarem destruidas.
OTÁVIO – Que diabos?
 Por trás dele vem Fernanda, com um vaso de flores. Quebra na cabeça dele.
MARIA FERNANDA – Chegou a hora, papaizinho. Chegou a hora.
FADE OUT.
 
CENA 17/ INT./ EMPRESA TRINDADE/ SALA DE OTÁVIO/ DIA
FADE IN.
 Luzes todas apagadas, a não ser por uma vela em cima de uma cadeira, em frente a Otávio, amarrado em outra. Ele começa a acordar, meio grogue.
OTÁVIO – Onde é que eu tô?
 Um vulto se aproxima, carrega uma vela nas mãos. Coloca em frente ao seu rosto, vemos Maria Fernanda, agora totalmente de branco. Ela dá um berro, que assusta Otávio. Cena de tensão psicologica.
OTÁVIO – Que diabos está acontecendo, Maria Fernanda? O que é isso?
 Maria Fernanda vira a vela sob a face dele, escorrendo cera derretida. Ele grita. Ela começa a gargalhar.
MARIA FERNANDA – Ai, ai, paizinho. Ai, ai. Por que, hein? Por que o senhor foi tão idiota e medíocre a ponto de me desafiar? Esqueceu de tudo o que eu sou capaz?
OTÁVIO – Para de palhaçada, deixa eu sair/
MARIA FERNANDA – Na hora certa, paizinho, na hora certa o senhor sai. Eu sou uma mulher muito bem humorada, muito leve quando eu quero, mas o senhor despertou um sentimento dentro de mim que... Estava armazenado há décadas. E não podia ter feito isso. Agora me deu vontade de matar. Matar! Havia esquecido como era bom. E como é bom.
 Ela começa a dar voltas em torno dele, e volta com um facão.
OTÁVIO – Larga isso, minha filha, vamos conversar/
MARIA FERNANDA – Sem conversa! Não vai ter conversa nenhuma. Já falou o que tinha que falar, agora cala a boca. É olho por olho, dente por dente, e tapa por mão... Papai.
 Num movimento rápido ela levanta o facão e puxa a mão do homem. Com violência, arranca ela. Espirra muito sangue, ele berra muito, atordoado. O rosto e as roupas dela todo ensanguentado. Ela gargalhando muito.
OTÁVIO – (Fraco) Desgraçada. Você vai pagar caro/
MARIA FERNANDA – Gosto disso, papai! Gosto disso. Ver o senhor sofrer não ter preço. Agradeça por eu não ter cortado seu saco, pois o senhor merece isso. Não lembra? O que o senhor fazia quando eu era garota? Esqueceu, velho maldito, esqueceu? Desgraçado, eu não esqueci! Não esqueci não! Os tapas que eu ganhei hoje, eles foram fichinha perto dos do passado. Mas agora eu paguei na mesma moeda. E agora, se me permite, o grande final...
 Maria Fernanda enfia o facão na barriga de Otávio, que a fulmina com os olhos e começa a sangrar pela boa e pelo nariz. Ele cai da cadeira, agonizando. Ela rindo muito. Ele morre.
MARIA FERNANDA - C'est la vie, papai, e gente velha é assim mesmo: Morre por qualquer coisinha.
 Close em Maria Fernanda gargalhando muito, rosto todo ensanguentado, a câmera começa a subir e foca em Otávio morto e Maria Fernanda passando sangue por sua própria face. A luz da vela apaga.
 CORTA.

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FIM DO CAPÍTULO
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