Marlon
passou a noite acordado. Tomou café, leite e comeu biscoito. Pensava em como
era está frente a frente com sua primeira vítima. Durante todo esse tempo, ele
sonhava freqüentemente com o ocorrido. Acordava com ódio. Mas quando lembrava
da sua doce vingança, seus olhos enchiam de gosto pela vida.
Marlon
levantou cedinho, passou pelo chuveiro e não forrou o estômago. O trânsito
estava horrível. Quando estamos com pressa, aí é que os carros não andam, se
arrastam. Com a demora de meia hora, ele consegue chegar no Jornal.
Lá
todos estão na maior correria. Até a Mônica estava trabalhando e fofocando no
telefone. Quando ela morrer, a funerária vai lucrar muito. Vai ser um caixão
para o corpo e dois para a língua.
-
Tu sabe o que houve com a Berenice? Ela se separou. Lucivaldo não quis saber
dela e saiu correndo. Agora eu não sou a única encalhada da paróquia. E a
Carlota? Foi demitida da loja. Ela disse que saiu porque ganhava mal, mas tenho
quase certeza que ela roubou ou então
não sabia trabalhar direito. Aquela ali é preguiçosa... O meu chefinho? Ele
saiu ontem com a mais nova repórter. Eu acho que ali tem algo a mais, viu.
Eita, ele chegou tenho que desligar. Adeus Marlete, e vá pela sombra.
-
Trabalhe mais e converse menos no telefone. Pode ser?
-
Claro senhor Marlon.
Mônica
saiu da bancada e foi falar com Fabrício.
-
Ta vendo Bigode? Ele me deu bola, falou com tanto carinho.
-
Sei o carinho que ele falou.
-
Deixa de ciúmes Bigode.
-
Você só dá valor a quem não merece. Se você abrisse as portas do seu coração,
você deixava de ser encalhada.
-
Quem disse que sou encalhada?
-
Eu ouvi você se declarar encalhada no telefone para sua amiga.
-
Mais tu é fofoqueiro. Você ouviu mal.
Mônica
saiu furiosa:
-
Imagina, eu encalhada.
-
Sei que você ainda vai ser minha.- murmurou.
Marlon
chegou na porta de sua sala e viu sua secretária. Perguntou a Gilda se o
detetive Devis havia ligado. Não recebera nenhum telefonema essa manhã. Marlon
entrou no seu escritório. Sentou-se na sua poltrona e começou a imaginar a
vingança. Aquelas cenas estavam instaladas em sua memória à anos. A cafeteria
esvaziou três vezes. A lixeira estava cheia de papéis rabiscados.
Era
oito horas. Deu dez. Acabava de dar doze e nada. Foi almoçar num restaurante
perto do Jornal. Quando ele tinha pegago o garfo e havia dado a primeira
garfada, o celular toca. Era o detetive.
-
Alô.
-
Alô. Senhor Marlon.
-
Sou eu mesmo detetive Devis.
-
Quero pedir desculpa pelo meu atraso, tive um assunto muito urgente pra tratar.
-
E que atraso! Mas desculpo-o.
-
Estou aqui no seu escritório. O senhor está aonde?
-
Estou no restaurante Talharine, mas já acabei o meu almoço. Por favor me espere
aí sentado. Estou muito ansioso.
-
Pronto. Te espero aqui. Até logo.
-
Até daqui a pouco.
Marlon
nem terminou de dar a sua primeira garfada e já chamou o garçom. A sua
ansiedade não deixava o estômago ter fome. Pagou a conta e correu para o
Jornal. Chegando lá, Marlon foi logo questionando:
-
Qual é a informação?
-
Bom. Encontrei o seu amigo chamado Maurício.
-
Uh! Encontrou o Maurício? Estou com tantas saudades dele.
-
Mas não sei se realmente é ele mesmo. As características que o senhor me disse
eram de doze anos atrás. Ele pode ter mudado.
-
É mesmo. – disse Marlon pensativo.
-
Mais isso é só o começo.
-
Não posso desistir. Então cadê o endereço?
-
Eu vou com você.
-
Então vamos.
-
Ele está só no beco, às nove horas.
-
Num beco? Às nove horas?
-
Isso mesmo. Seu amigo é traficante. Desculpe por trazer essa péssima novidade
do seu amigo. Esse é o horário que ele chega no beco da farinha.
-
Ah! Entendi. Então o senhor pode vim às oito horas?
-
Não. Me carro quebrou e estou de táxi. Quero saber se posso ficar até às oito e
meia. Aí você me leva.
-
Claro. Pode ficar.
-
Obrigado.
Durante
alguns segundos, o silêncio reinava na sala. O detetive inventou uma tosse e
percebendo, Marlon disse:
-
O senhor que logo o dinheiro, né?
-
Pode ser.
-
Vou ti dar apenas uma parcela.
Marlon
tirou um envelope da gaveta e entregou para o detetive.
Os
ponteiros do relógio parecem que estavam presos. A ansiedade de Marlon estava
subindo pelas paredes. O detetive comeu, bebeu, assistiu TV e dormiu.
Finalmente
deu oito e meia e lá foram eles foram ao beco da farinha. Ambos ficaram
esperando dentro do carro, que estava estacionado um pouco atrás do beco. Os ponteiros
novamente paralisaram.
Depois
de dez minutos de espera, um carro estacionou no beco. O coração de Marlon
estava quase saindo pela boca. Dois caras desceram, mas nenhum era o agressor
de Marlon.
Às
nove e dez, parou uma moto. O cara estava de capacete. Quando ele tirou, o
detetive deu um grito:
-
É ele!
Marlon
analisou o rosto do traficante, mas a fisionomia não lembrava Maurício. É
verdade que mais de doze anos se passaram, mas o rosto e os trejeitos de uma
pessoa dificilmente mudam e se mudam, é pouca coisa.
Com
a voz decepcionada, com os dentes cerrados de ódio, ele disse:
-
Não é ele.
-
Tem certeza?
-
Tenho. Esse daí tem cabelos castanhos, mas são caracolados. Isso já descarta a
possibilidade. E para confirmar, eles não tem os gestos e as expressões do meu
A-MI-GO.
-
Desculpe-me pelo equívoco. Quero que você me dê todos os detalhes que lembra de
seus seis amigos.
Marlon
descreveu tudo o que lembrava. Disse altura, cor dos cabelos, dos olhos, estilo
do cabelo, os gestos, descreveu todos os mínimos detalhes. Depois que acabou,
ele disse ligando o carro e diz:
-
Vamos para sua casa.
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