Passaram-se
quatro estações. Nesse período, Marlon ia freqüentemente a casa de Solange. A
cada dia que passava, Solange ficava mais tranqüila e mais animada. Marlon não
via a hora passar, quando estava ao lado dela. Eles resolveram unir suas
solidões e resolveram namorar. De um lado estava um homem infeliz, muito
solitário e que nunca conhecerá uma amizade verdadeira. De outro estava uma
mulher que nasceu na pobreza, lutou para ser alguém na vida. Na verdade, essas
características são de ambos. Até parece que nasceram com o mesmo destino.
Aprenderam e apanharam muito na vida. Todos esses dias, Marlon passou ansioso.
Queria alguma notícia do detetive Devis.
O
sol havia nascido e hoje era apenas mais um dia em que eles ia trabalhar.
-
Bom dia meu amor! – disse Marlon
-
Bom dia minha paixão! – respondeu a repórter.
Os
dois beijaram-se e foram para a cozinha preparar o café da manhã. Entre
torradas, bolo, melancia, mamão e mel, eles ia conversando.
-
Você sabe que dia é hoje minha paixão? – perguntou Solange.
-
Claro que sei meu amor. Hoje completamos cinco meses de namoro. Nunca
esqueceria. Você foi a pessoa mais especial que apareceu na minha vida
desgraçada.
-
Não diga isso paixão.
-
Mas é verdade. Você é como se fosse uma vela e eu um túnel sozinho e escuro.
Nunca tive amigos. Uns vinham atrás de mim, só por conveniência. Isso é triste,
mas é verdade. Passei anos lutando contra essa dor. As pessoas me dão nojo, com
todos esses escrúpulos e mentiras. Acham que sou anormal. Quando eu era jovem,
todos iam para as festas e eu ficava em casa. Várias pessoas me julgavam por isso. Mas
qual é a graça de ir sozinho? Não queria ir com a turma de ninguém. Demorei
anos para encontrar uma namorada. E quando encontrei, ela só queria usufruir
meu dinheiro. Tenho nojo desse tipo de pessoas. Era amor pra lá, amor pra cá e
a falsidade andando atrás.
-
Também sempre fui sozinha no mundo. Nem na escola, nem na rua...nunca...nunca
tive um amigo de verdade... o meu primeiro namorado foi o Jú...é triste ser
assim.
-
Vamos parar de falar do passado e vamos pensar em hoje a noite.
-
Onde vamos hoje a noite?
-
Vamos no mesmo restaurante, em que nos vimos pela primeira vez. Você se lembra?
-
Claro.
Eles
terminaram de comer e foram para o Jornal.
-
Tu viu Bigode? – disse Mônica.
-
O que, Mônica ? – disse Fabrício.
-
Tu é leroso demais Bigode. O patrãozinho e o songa chegando de mãos dadas.
-
Isso é normal, né Mônica! Eles estão namorando.
-
Na minha opinião, esse casal é chumbrega demais. Nam. O patrãozinho merecia alguém
melhor, tipo...
-
Tipo você?
-
Isso mesmo. Ela é um 14 bis e eu sou um boeing.
Nessa
hora o carteiro chegou com um buquê de flores.
-
É pra mim? Mais que flores bonitas e ...
Nessa
hora, ela cheira as flores.
-
Bom eu dizer cheirosa, mas esquece.
-
Você ta que ta, né Mônica. Quem ti deu?
Mônica
leu o envelope que acompanhou o buquê.
-
Flores para a flor mais preciosa do meu jardim. Assinado o seu admirador mais
que secreto.
-
Arrasando corações, hein Mônica.
-
Isso é o que dá ser gostosa. Bem que o cartão poderia ser mais criativo.
-
Tenho que ir Bigode. Vou trabalhar. Alguém tem que trabalhar nesse Jornal.
Mônica
foi para sua bancada e pegou o telefone.
-
Alô! Não ti conto Marlete... Eu ganhei
um buquê...se é de flores? Não Marlete. São de espinhos. Ô pergunta. Pare com
seu momento pôia e escute. Elas são vermelhas, são tão lindas e cheirosas, tu
nem sabe...calma, deixa eu respirar, me emocionei...tem um cartão tão
romântico...agora tenho que desligar, o Bigode ta vindo...beijos, vá pela
sombra.
Marlon
e Solange tiveram mais um dia exaustivo. Terminado o expediente, eles foram
para casa. Às nove horas, eles foram para o restaurante comemorar os cinco
meses de namoro.
Quando
eles iam entrando no restaurante, um senhor com deficiência mental estava vendendo
balas. Marlon viu-o e pensou em mais um escrúpulos besta pregado pela
sociedade. Essas pessoas que tem deficiência mental, são tratados com “doidos”.
Eles são mais normais do que qualquer um que se julgue normal. Eles dizem a
verdade, fazer o que querem e são livres. Os tidos como “normais”, é que são
malucos, perturbados e doidos. Estão sempre mentindo, fingindo, fazem o que a
sociedade diz que é correto e são acorrentados pelo medo. Eles dão as mesmas
desculpas: “ Não vou ajudar esse doido, porque ele vai gastar o dinheiro em
bebida alcoólica ou então vai rasgar o dinheiro. Desculpa de cedo é pedir
esmola, como diz o ditado. Tenho duas soluções. A primeira é que dê comida no
lugar de dinheiro e a segunda é você das moedas. Garante que ele não conseguirá
resgar.
Marlon
comprou todos os doces e eles entraram no restaurante. Eles foram até a mesa
reservada. Marlon puxou a cadeira para Solange sentar-se e depois sentou-se.
-
Boa noite.
-
Boa noite.
-
O que vocês querem para o jantar?
Eles
olharam o menu e Marlon disse:
-
Queremos terrine de legumes provençais, lulas salteadas à provençal, emulsão de
açafrão e batatinhas crocantes.
-
Para a sobremesa?
-
Queremos pavê de festa com frutas secas e chocolate.
-
É qual bebidas vocês querem para acompanhar o jantar?
-
Um bom champagne.
O
garçom saiu e eles começaram a conversar.
-
Não acredito que estou ao lado da mulher mais maravilhosa desse mundo.
-
Quer que um belisque?
-
Quero, vai.
Solange
entra na brincadeira de Marlon e deu um beliscão no braço. Ele abriu os olhos e
disse:
-
É verdade!
Depois
eles deram um beijo de cinema. Aquele era um dia marcante para Marlon. Nunca
esteve tão feliz como essa noite. Parece que o destino finalmente tinha traçado
o caminho da felicidade na vida dele. Assim que os lábios desgrudaram, o
telefone de Marlon tocou.
-
Alô.
-
Alô, aqui quem fala é Devis.
Marlon
pediu licença a Solange e levantou-se.
-
Alguma novidade, detetive ?
-
Tenho sim. Com todas as informações que você me deu, tenho quase certeza que é
o seu amigo.
-
Não sabe como essa notícia me deixa contente.
-
Amanhã irei até o Jornal.
-
Esperarei impacientemente.
-
Até amanhã.
-Até
amanhã.
Assim
que Marlon desligou o celular, caminhou até sua mesa.
-
Quem era paixão?
-
Era meu amigo Devis.
-
Não conheço.
-
Depois apresento você a ele.
O
garçom chegou com o champagne. Marlon levantou a taça e disse:
-
Vamos fazer um brinde.
Solange
levantou a taça.
-
Um brinde a nossa felicidade.
Para
Marlon, aquele brinde não era só a felicidade dos cinco meses de namoro, mas
também um brinde ao início da sua saborosa vingança.
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