Música: Dia
Especial – Cidadão Quem.
– Mas por que isso agora, Guilherme? Estávamos tão bem,
construímos uma família... – Diz Bruna, com os olhos marejados.
– Eu sei de tudo isso, Bruna. E acredite. Não está sendo fácil
pra mim! Mas entre você e o Arthur... Eu prefiro o meu filho.
– Então é verdade? Você vai me abandonar por causa de um crime
que você nem eu cometemos! Qual o sentido disso? Me fazer sofrer? – Parou por
um instante. Ambos se fitaram em silêncio. – Era esse seu plano, né? Me
abandonar grávida como se nada tivesse acontecido! Passar uma borracha.
Guilherme, nervoso, dera um tapa no rosto de Bruna, que colocara
sua mão sobre a área agredida, observando Guilherme.
– Perdão. Eu não quis...
– Eu podia te dar voz de prisão! – Interrompera Guilherme. –
Bruto!
– Não distorça as coisas para se fizer de vítima, Bruna. Só
preciso de um tempo!
– Quanto tempo? Um ano?
– O suficiente para finalizar o inquérito e o julgamento dos
responsáveis.
– A gente pode resolver essa situação de outra maneira. Não
precisa agir no extremo!
– É melhor assim, Bruna. – Pegara em sua mão e a beijara. – Não
vai demorar, eu prometo! – Se entreolharam. Ambos se beijaram. Após alguns
minutos, Guilherme saíra, batendo a porta, deixando Bruna chorando, aos
prantos.
***
Noah, trajando seu jaleco branco caminha em um corredor,
simpatizando com outros pacientes que aguardam atendimento. Ele para em um
bebedouro, pega um copo plástico e enche o mesmo com a água. Ao tomar, percebe
uma movimentação na entrada. Dois médicos movem uma maca com Giulia deitada,
desacordada.
– O que houve – Pergunta, jogando o copo no lixo e observando a
menina. – Cadê a mãe da criança?
– Foi um atropelamento. A menina foi socorrida ainda consciente,
mas apontou para um homem. Os pedestres que viram disseram que foi uma
tentativa de estupro. – O outro médico olhara para a menina, preocupado e saira
levando a maca consigo.
– Essa menina é a mesma
que eu tirei do carro daquela vez! Será que aquele homem teve coragem de...
Não. Ele não seria capaz! Mas e a mãe dela? Por que não está aqui? Há uma hora
dessas... Será que eu tenho o número dela? – Disse, pegando seu celular e
procurando pelo número de contato. – Achei!
– Rafaela? – Pergunta Noah, apressado.
– Noah? Eu estou no carro, não posso atender agora! Vou buscar a
Giulia e depois você...
– Presta atenção, Rafaela. A sua filha está aqui no hospital
municipal. Não sei o que aconteceu, mas o quadro dela é grave. – Desliga. Na
outra linha, Rafaela continua com o celular no ouvido, parada.
***
Maria Paula, trajando um belo vestido vermelho e utilizando
óculos escuros abaixa o vidro do táxi. Observa algumas crianças venderem bala e
artesanatos, quando enxerga Arthur descalço e sem camisa caminhar pela rua com
um pacote de balas.
– Arthur? – Indaga a si mesma. – Moço, dê a volta e pare ali nas
barracas, por favor.
– Como quiser. – O motorista aguarda o sinal abrir e dá a volta.
– Espere aqui, por favor. – Diz, saindo do carro.
Ela observa Arthur conversar com um homem e outras crianças.
Espera Arthur se aproximar e agacha-se a sua altura.
– Arthur? O que está fazendo aqui? Tão sujo...
– Me tira daqui tia! Por favor! – Olha para o homem. Ele o
encara. – Eu te imploro!
– Vem, vamos para o táxi... – Abre a porta. Arthur adentra
assustado e Maria Paula vê o homem se aproximar do veículo. – Vamos! Rápido!
Dentro do táxi, Arthur passa a mão na janela. Maria Paula o
observa, sem entender.
– Arthur. O que aconteceu? Cadê o seu pai?
– Não sei. Só lembro que fiquei um tempo trancado no sótão da
sua casa... Um homem que ficava comigo. Tia, eu não quero voltar para lá não.
– Ela ainda teve coragem de fazer isso. – Se referia a Rachel. –
Vou deixar você com uma pessoa e eu prometo resolver tudo, ok?
***
Bruna, ainda vermelha por conta do choro adentra na sala de
espera de uma clínica psiquiatra. Aguarda a recepcionista terminar a ligação,
movimentando-se pelo local.
– O que deseja, senhora? – Pergunta a recepcionista, com um belo
sorriso.
– O doutor Félix me chamou para conversar sobre uma paciente.
– Sei quem é! Aguarda um instante, por favor. – Dissera, levando
uma prancheta a sala do médico.
– Bruna Muniz? – Félix abrira a porta. – Entre, por gentileza.
– E então? Estranhei a sua ligação. A Carla foi dada como morta
naquele acidente.
– Sim. Mas não é sobre isso que lhe chamei. Foi por outra coisa.
– Diga, então.
– Maíra Gouveia, como foi identificada no local do acidente,
ficou em coma durante meses. Quando acordou, no entanto, falava nomes de
pessoas específicas: Lana, Guilherme, Iolanda e Maria Paula. Depois, falou em
uma data: 25 de maio de 2015. Mais tarde, seus desenhos indicavam uma faca
grande, que poderia matar uma pessoa. E a resposta dela para todas nossas
perguntas são “eu sei quem matou”. Por fim, um local: Estrada 34. Então
pesquisei esse local e descobri que a data que ela diz coincide com o crime que
tirou a vida de Lana Albuquerque, primeiro nome que ela disse após acordar.
– Você acha que ela seria capaz de prestar um depoimento? Antes
do acidente, ela era uma suspeita. Agora, uma testemunha...
– Não, Bruna. Não quero que você aposte todas as fichas nessa
mulher. Até porque, ela não fala lé com cré. Mas como médico, eu me assustei e
pensei em chamar a polícia... Se tivesse feito isso provavelmente estaria
impedindo a polícia de encontrar o assassino.
– Entendi. Será que posso conversar com ela?
– Claro! Só evite fazer perguntas demais, não é saudável para a
paciente.
Bruna e Félix caminham pelo jardim na clínica e avistam Carla
sentada, com uma flor em mãos, sorrindo. Bruna se aproxima.
– Carla? – Sorri. – Está me reconhecendo? Sou eu, Bruna. A
delegada...
– Sim, reconheço. Você é linda, sabia?
– Obrigada! Mas eu preciso que me diga quem matou a Lana.
– Eu sei! – Começa a passar mal e em seguida, desmaia.
– É melhor você ir, Bruna. Outra hora conversa com a paciente. –
Dissera Félix, pegando Carla no colo e a levando para o seu quarto.
***
Maria Paula está sentada em uma poltrona, na casa de uma
vizinha. Ela disca oito dígitos e põe o celular no ouvido.
– Guilherme? – Pergunta, aliviada. – Sou eu, Maria Paula.
– O que você quer?
– Eu encontrei o Arthur. Ele está na casa ao lado da minha.
– E como ele está?
– A princípio bem, mas parece que foi sequestrado pela Rachel. –
Ouvira a resposta de Guilherme. – A polícia já está a caminho, não se preocupe.
***
Fausto, trajando o uniforme de presidiário adentra em uma sala,
com os pulsos algemados. Dora o aguarda de costas, com os braços cruzados. Ele
senta-se na cadeira e Dora percebe, vira-se para o filho e o encara.
– De volta nesse buraco, seu imprestável?
– Como eu ia adivinhar que a menina ia ser esperta?
– Não quero saber. E pode esquecer que virei te visitar como
fazia antes. Eu quero esquecer você. Esquecer aquela menina e a mãe dela. QUERO
ESQUECER QUE UM DIA AMEI VOCÊ!
– É fácil criticar quando você não faz nada. Só pediu para
fazer...
– Eu pedi sim. Participei sim. Mas eu não tenho nada a ver a
forma como abordou a garota, o acidente dela, enfim. – Diz. Em seguida, fita o
filho e aproxima-se da porta e começa a bater. – Ou! Abre essa porta!
– Mãe... – Fausto vira-se para Dora, que sai do local e sorri
para o filho. – Adeus.
***
Noah observa Giulia, desacordada, por um vidro. Rafaela adentra
no hospital e ao avistar Noah, corre até o médico.
– O que aconteceu com a minha filha?
– Foi um atropelamento. O motorista está ali, sentado,
aguardando notícia. Disse que queria falar com você. – Rafaela fitara o
motorista.
– E como ela está?
– Em coma leve. Como ela perdeu muito sangue, necessita de uma
transfusão o mais rápido possível.
– E o que estão esperando? Eu posso doar!
– Você é jovem, é saudável, é mãe da paciente... Mas não é
compatível.
– Não me diga que...
– Acredito que o pai tenha o tipo sanguíneo da menina.
– NÃO! NÃO PODE SER! Aquele marginal coloca a minha filha nesse
estado e depois ela depende apenas dele?
– Se ela não receber a transfusão em quarenta e oito horas, o
risco de morte se agrava. – Vira as horas em seu relógio. – Tenho uma consulta
marcada. Mais tarde retorno. Com licença.
– Droga! – Diz Rafaela, observando a filha.
***
Guilherme e Maria Paula observam Bruna e outro policial levarem
Rachel e Douglas algemados respectivamente até o carro da polícia. Bruna abre a
porta de outro veículo da polícia e percebe a aproximação de Guilherme.
– Acho que a gente podia conversar. Esclarecer melhor as coisas,
não?
– Não Guilherme. Você foi muito claro quando disse que
poderíamos voltar depois do fim do julgamento. E pelo que vejo, não terminei
nada. Passar bem. – Adentra no veículo e se retira.
***
Rafaela aguarda Fausto na sala de visita. O homem é levado
algemado e observa a bela mulher.
– Você aqui?
– Eu vou ser rápida e clara: você precisa concertar a burrada
que fez.
– E o que eu fiz?
– Colocou a MINHA filha entre a vida e a morte. E adivinha? Só
você pode salvá-la.
– Me esquece, Rafaela. Eu...
– Como eu queria. Por mim, nunca teria saído daqui. Mas faça
isso por mim, eu te imploro! A Giulia é a única coisa que eu tenho na vida!
– Eu faço isso, mas depois não me procura mais, e JAMAIS fale
algo sobre mim para a menina. – Sorriu com os lábios. – Mas como vou fazer
isso, não é comigo.
– Isso não é problema. – Beijara a bochecha de Fausto. –
Obrigada.
***
No dia seguinte, Fausto é levado por dois policiais ao hospital
e é levado para uma sala, onde retira parte de seu sangue.
Ao término, Rafaela e Fausto se entreolham, mas antes de
qualquer resposta, o homem é levado pelos policiais.
Bruna está sentada em uma cadeira, massageando sua barriga.
Rafaela a observa e senta-se ao lado da irmã.
– Achei que eu conseguiria resolver um problema 14sem sua ajuda.
Mas eu falhei. Coloquei a vida da minha filha em risco por uma teimosia.
– Como você ia imaginar que isso ia acontecer, hein? Não se
condene!
– Mas é a verdade. Se eu tivesse te dito...
– O importante é que ela está bem. O Fausto já doou o sangue e
agora é esperar a reação da Giulia. Ela vai ficar bem, eu tenho certeza. –
Ambas se abraçam.
***
MESES
DEPOIS
Bruna está de pé, trajando uma blusa larga, massageando sua
barriga de nove meses, olhando para o mural. Ao seu lado está o investigador.
– Já estamos há bastante tempo sem nenhuma pista...
– Por um lado... – Bruna é interrompida por uma mulher, que
adentra na sala. – Oi!
– Bom dia. Sou Sara de Souza, diretora da clínica, em que a
paciente Maíra Gouveia está internada. Soube que ela seria uma peça nesse
quebra-cabeça.
– Sim... Mas porque veio aqui? Nós ainda iremos recolher o
depoimento da paciente.
– Infelizmente, ela foi diagnosticada com esquizofrenia ainda
essa semana. Sinto muito, mas acreditar na palavra dela seria um tiro no
próprio pé.
– Entendo. – Dissera Bruna, sem entender. – De qualquer forma,
muito obrigada.
– Estarei à disposição sempre!
A mulher se retira da sala e na porta da delegacia, pega seu
celular e disca alguns números.
– Pronto. A delegada acreditou em cada palavra que eu disse. Lhe
garanto que ela não vai acreditar na Maira. Por enquanto, você está salva. –
Desliga e sai do local.
***
Guilherme está parado na porta, fitando Bruna segurando a
barriga e olhando para a janela. O investigador passa por Guilherme, fazendo
com que Bruna perceba a presença do homem.
– Bruna. Posso falar com você?
– Não. – Virou-se para ele. – Estou trabalhando, não está vendo?
– Sim. Mas eu pensei que...
– Pensou errado! Agora sai daqui e depois nos falamos. –
Encarou-o. – ANDA!
Guilherme baixa a cabeça e se retira. Bruna o observa
entristecido e lembra dos momentos que estiveram juntos.
De repente, ela sente uma dor e senta-se em sua cadeira,
respirando fundo. Percebe um líquido descendo por suas pernas.
– A bolsa... – Diz, sorrindo.
***
Giulia está deitada em sua cama, assistindo televisão. Rafaela
leva uma bandeja com frutas para a filha, que come lentamente. A campainha toca
e Rafaela atende.
– Noah?
– Eu trouxe um presente para aquela menina ali. – Aponta para
Giulia.
– Só você mesmo! – Ri. – Filha, o Noah trouxe um presente pra
você.
– Obrigada. – Giulia caminha até a porta, abraça Noah e abre o
pacote. – Adorei!
Noah e Rafaela se entreolharam e o médico aproxima-se de seus
lábios e a beija. Ela corresponde.
***
Nos Estados Unidos, Vivian está sentada em uma poltrona de um
hotel e troca o canal simultaneamente, quando percebe sua foto em um deles.
Aumenta o volume e descobre que a criança que atropelara morrera há poucas
horas.
– E agora? Se eles descobrirem...
***
Bruna está no carro, contorcendo-se de dor, ao lado do
investigador. Ela liga para Guilherme, que não atende.
– Droga! – Massageia a barriga. – Não vai ter jeito. Vai nascer
sem o pai...
***
No hospital, Bruna está com a roupa do hospital e uma touca na
cabeça. Uma enfermeira limpa seu suor enquanto segura na mão de outra
enfermeira.
– Vamos, Bruna! Só mais um pouquinho!
Bruna grita. Ouve o choro da criança e deita na maca, aliviada.
– É um menino lindo! – Diz uma enfermeira, colocando a criança
em seus braços.
***
Rafaela está no hospital, ao lado de Giulia e Noah. Ela liga
para Guilherme pela terceira vez, até que ele atende.
– Rafaela, se for para falar sobre a Bruna...
– A criança nasceu, Guilherme... – Antes de terminar, Guilherme
desliga. – Grosso!
***
Bruna está deitada na cama, segurando a criança, que mama em seu
peito. Guilherme adentra no local nervoso. A enfermeira pede silêncio e sai do
quarto, deixando os dois a sós.
– O que significa isso? Você não me avisou! Me prometeu que
avisaria quando a criança nascesse!
– Terminou? – Encara Guilherme, que assente com a cabeça. – Se
você não percebeu, liguei duas vezes para você e as duas você me ignorou. A
Rafaela te ligou três vezes e só na última tentativa atendeu! Seu filho não
poderia esperar mais tempo para você se dar conta de que era algo mais sério,
não é?
– E o nome? Já escolheu?
– Não. Ao contrário de você, me importo com os outros. Mas eu
queria homenagear os dois homens mais importantes da minha vida. João, meu pai,
era uma pessoa maravilhosa, não fazia mal a uma mosca. E você, o pai dele.
Apesar de tudo, é um homem bom, responsável e amável. Então, eu pensei em
juntar os dois nomes e ficar João Guilherme.
– Lindo nome!
***
MESES
DEPOIS
Nos Estados Unidos, uma imensidão de pessoas cerca um prédio de
aproximadamente trinta andares. Eles olham para cima, onde Vivian se encontra
trajando uma camisola. Ela escreve uma carta e chora.
– Eu morro, mas não vou presa! Não vou! – Diz, olhando para
baixo.
***
Bruna está
na delegacia, balançando e cantando uma música de ninar para o filho. Assim que
ele dorme, põe ele em um berço móvel e senta-se em sua cadeira, analisando as
gravações do dia do assassinato.
– Esse
material é novo? Não lembro dele!
– Fizeram
uma limpa nas câmeras e vieram novas gravações. Algumas são deletadas, outras
somem... A princípio é para tudo estar aí... Inclusive o assassino. – Diz o
investigador.
Bruna
escreve algumas coisas em algum papel quando vê a cena do crime. Ela
aproxima-se do investigador, que está ao lado do mural e tira a foto de duas
mulheres, sobrando apenas uma.
– Devíamos
ter esse material desde o início! Descobrimos! O mistério acabou! – Diz Bruna,
rasgando as outras duas imagens e colocando no lixo.
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