Guilherme,
dirigindo seu carro, observa Rafaela discutir com a diretora e o zelador do
colégio. Ele estaciona a frente da instituição e sai para ajudá-la.
–
A minha filha, Guilherme... Levaram! E eles não assumem o erro!
–
Essa história está muito confusa, Rafaela. – Disse a diretora.
–
Pergunte ao seu funcionário. Ele sabe mais do que ninguém que a Giulia só sai
desse colégio comigo ou com a Bruna, que você conhece muito bem.
–
Rafaela. Vamos! Se eles saíram agora, talvez a gente alcance eles! – Guilherme
pegou no pulso de Rafaela e a levara para o carro.
***
As
pessoas cercam o carro de Bruna e comentam entre si. Uma moça, de
aproximadamente vinte anos, abre a porta do veículo e observa Bruna.
–
Moça? Moça? Moça... Será que ela morreu? Chamem a ambulância!
–
Já estou chamando, mocinha.
O
homem que seguia Bruna ri e sai em disparada do local.
***
Vivian
adentra no avião e senta-se na primeira classe. A aeromoça lhe oferece
champanhe. Ouve-se a voz de outra mulher, no microfone e por fim, o avião
decola.
–
Bye, bye Brasil...
***
Carla,
identificada como Maíra, internada em um hospital do centro do Rio de Janeiro
em coma, abre lentamente os olhos e olha para o teto.
–
Lana... Lana... – diz, com dificuldades.
***
Fausto
sai do veículo e bate na lataria do mesmo, fitando Giulia e o outro homem.
–
O que pensa que está fazendo? – Indaga o homem, segurando Giulia.
–
Não lhe devo satisfações! Agora coloca a menina dentro do carro que eu não
tenho tempo!
–
Não... Não... – Giulia fala, escondendo-se atrás do homem.
–
Sai daqui! Senão eu chamo a polícia!
Fausto
bufa e entra no carro, saindo no sinal vermelho e dirigindo em alta velocidade,
enquanto o homem levara Giulia a um restaurante próximo dali.
***
Rafaela,
sentada no banco carona, faz uma ligação. Guilherme percebe a tensão da jovem,
mas continua a dirigir normalmente, olhando para os lados, em busca de Giulia.
–
Fausto?! – Pergunta desesperada. – Onde está a minha filha?
–
Dessa vez você teve sorte, Rafaela. Mas da próxima... Você se arrependerá! –
Diz Fausto, no outro lado da linha e desliga em seguida.
–
Ele disse alguma coisa? – Indaga Guilherme.
–
Não. Mas disse que eu tive sorte. O que ele quis dizer com isso?
***
Giulia
fita o homem que lhe ajudara. O garçom chega a mesa e lhe dá o seu prato e em
seguida, a serve com um copo de água.
–
Não precisa ter medo de mim, garotinha. Mas eu preciso que você me dê o número
de sua mãe. Ela deve estar preocupada.
–
Ela não gosta que eu converse com estranhos.
–
Sim, e ela tem razão. Se você não me der o número dela, não terei como
ajuda-la.
–
Tudo bem! É 98... – a voz diminui aos poucos.
***
Conrado
está sentado em uma mesa, mexendo no celular. Olha para a porta e observa Antônia
e Liz aproximarem da mesa. A segunda veste uniforme do colégio e ambas se
sentam.
–
Eu chamei vocês aqui para uma boa notícia.
–
Eu e a minha mãe vamos sair daquele fim de mundo?! – Indaga Liz, feliz.
–
Perdoe a minha filha, Conrado. Ela não...
–
Não existe perdão a quem diz a verdade! Em poucos meses vocês se mudarão para
um apartamento de frente ao mar. E lá será nosso novo lar. – Liz sorri e
observa Antônia e Conrado se beijarem.
***
Guilherme
e Rafaela conversam, ainda preocupados. Ela faz uma nova ligação, mas desliga
em seguida. Encosta a cabeça na janela e limpa as lágrimas que escorrem por seu
rosto.
–
Já tentou conversar com a Bruna? Talvez ela possa ajudar. – Pergunta, olhando para
a moça.
–
Se ao menos atendesse as minhas ligações... – Guilherme freia bruscamente. – O
que houve?
–
Não sei! Parece um acidente. – Ambos ouvem o som da sirene de uma ambulância e
olham pelo retrovisor.
–
Dá passagem, Guilherme. – Diz Rafaela, e em seguida Guilherme dirige o carro
para o acostamento.
Guilherme
abaixa o vidro e aborda um pedestre.
–
Amigo, o que aconteceu? Por que estão todos parados?
–
Ih, vai demorar. Um carro invadiu a pista contrária e bateu num poste. Coitada
da moça. Loirinha, bonitinha... Parece que trabalha como delegada na cidade. –
O pedestre se retira.
–
Só pode ser a Bruna! – Diz, abrindo a porta do veículo e correndo para o local
do acidente.
Rafaela,
sem esboçar nenhuma reação, abre a porta, mas é interrompida por uma ligação de
número desconhecido. Ela atende.
–
Boa tarde. Eu estou com a sua filha no restaurante que há na perto do colégio
dela... – Rafaela desliga, pula para o banco de motorista e segue por um
atalho.
***
Fausto
adentra no apartamento, põe as chaves em uma cômoda e se joga em um sofá, e
coloca uma almofada na cara que abafa o grito que dá.
Dora
desce as escadas e senta-se em uma poltrona ao lado do filho.
–
Você é muito burro, hein...
–
Como sabe que deu errado?
–
Não ia babar minha almofada se não fosse por raiva, né? Toma mais cuidado da
próxima vez que você está em condicional. E a Giulia é sobrinha da mesma mulher
que te colocou na cadeia dez anos atrás. E dessa vez ela não é uma simples
policial. E sim delegada.
–
Merda! – Dora observa o filho gritar de raiva enquanto ri.
***
Rafaela
adentra em um restaurante e procura pela filha. Observa um homem pondo a mão no
rosto da criança e enfurecida, aproxima-se da mesa.
–
Tira a mão da minha filha! Então foi você? O que você quer com a minha filha? É
dinheiro? FALA!
–
Estava esperando você terminar de me xingar gratuitamente... – Sorri e fita
Rafaela, ainda com raiva. – Vamos começar de novo? A sua filha estava sendo
molestada por este homem. – Entrega seu celular, onde há um vídeo. – Fui eu que
liguei para você. Afinal, devia estar muito preocupada.
–
Claro que estaria. Mas quem é você? Por que tirou a minha filha do carro? Ou
melhor... Por que salvou a minha filha?
–
Lido com crianças dia e noite. Desde as acidentadas, adoentadas e até mesmo as
violentadas. A menina estava soluçando de tanto chorar, sem entender o que
estava acontecendo.
–
Entendi. – Observara Giulia comer. – Vamos, filha?
–
Espera...
–
Por que não comemos nós três?
–
Ótima ideia. – Pôs a mão na testa. – Perdão. Nem me apresentei. Meu nome é
Rafaela.
–
Noah. – Os dois se entreolharam.
***
Guilherme
aguarda na sala de espera do hospital. Anda de um lado para o outro. Mostra-se
nervoso. Enche um copo de água e ingere o líquido em uma só vez
–
Guilherme? – Um médico o aborda.
–
Sim, doutor. Tem notícias da Bruna?
–
Ela passa bem. Tudo não passou de um susto. Agora ela está sedada e terá que
ficar internada por alguns dias, para certificarmos de que ela não fraturou
nada. Com licença. – Guilherme sorri, enquanto procura pelo quarto de Bruna.
Ao
encontra-lo, seu celular toca e aparece um número privado. Ele fica receoso,
mas atende.
–
Sim? – Pergunta, temeroso.
–
Seu filho tá aqui comigo. E se não me der dez milhões de reais furo a cabeça
dele todinha. E aí?
–
Vocês estão com o Arthur? – Pergunta, emocionado. – Como é que ele está?
–
Ele está bem, mas pode ficar pior. Então?
–
Eu dou o dinheiro... Eu dou! E o meu filho? – Indaga. Em seguida, a ligação
cai. – DROGA!
***
UMA SEMANA DEPOIS
Guilherme
estaciona seu carro em uma rua. Olha para os lados e não vê movimentação
nenhuma. Retira do porta-malas uma mala, com cerca de dez milhões de reais. Ele
trava o carro, põe a mala em cima de uma rocha e se esconde atrás de alguns
arbustos.
Pouco
tempo depois, ele observa um carro preto, de vidros escuros aproximar-se. Um
homem sai do veículo, pega a mala, olha para os lados, retorna ao carro e dá
meia volta.
–
DROGA! O meu filho... Arthur... Onde está você? – Indaga, observando o carro se
afastar. Ele retorna ao veículo tomado de raiva.
***
No
sótão, Arthur dorme. Ao acordar, percebe que não há ninguém no local. Ele para
na janela e observa um carro sair da garagem. Vai até a porta e consegue abri-la
com um pouco de força.
Ele
desce pela escada que há no local. Caminha por um corredor e desce outro lance
de escadas e por fim, chega a porta que está trancada. Ouve o barulho de um
carro e se esconde atrás de um sofá.
Douglas
adentra, deixando a porta aberta. Arthur aproveita sua distração e sai correndo.
***
QUATRO MESES DEPOIS
Guilherme
está sentado em uma cadeira, de frente para um delegado, que gira sua cadeira,
segurando a imagem de Arthur. Ele analisa alguns documentos, e balança a cabeça
de um lado para o outro. Guilherme, ao perceber, fica inquieto.
–
E então? – Pergunta.
–
Infelizmente, não temos nenhuma notícia. Crianças desaparecidas por muito tempo
continuam em cárcere pelos sequestradores ou...
–
Ou o quê?
–
Elas tenham simplesmente fugido de casa. E você ter sido vítima de um golpe.
–
Golpe? Eu recebi telefonema dos sequestradores!
–
Eles podem muito bem ser ladrões de galinhas. O menino já esteve com a cara
estampada no jornal, anúncio, recompensa... Quem te deu golpe pode muito bem
saber da inexistência. Vamos acreditar que ele está perdido na cidade.
–
Mas fazem quatro meses que o meu filho está desaparecido! Nenhuma criança fica
tão tempo longe de casa. Ainda mais o meu filho!
–
Senhor, se acalme. Nós estamos cuidando do caso, fique tranquilo.
–
Como eu posso ficar tranquilo? Eu sou a única pessoa que ele tem na vida! E
ainda desaparece?
–
Uma hora ele vai aparecer. – Levantou-se. – Agora preciso trabalhar. Se souber
de alguma coisa, irei lhe comunicar.
–
Obrigado. – Diz, saindo do local entristecido.
***
Bruna
está sentada em uma cadeira estofada, de frente a um homem de estatura média e
corpo atlético. Ela observa o envelope que segura e em seguida, entrega para o
médico.
–
Eu fiz todos os exames que o senhor me pediu, doutor.
–
Muito bem. – Olhara o exame de sangue. – Você não sentiu nada de diferente em
seu corpo?
–
Não... Eu trabalho muito, não tenho tempo nem de sentar quem dirá sentir algo
no meu corpo... Mas o que o senhor quer dizer com isso?
–
Ué. Não é isso que dizem? Todas as mulheres sentem quando estão grávidas.
–
Eu não senti. – Pausa. – O que o senhor disse? Eu estou grávida? É isso?
–
De aproximadamente quatro meses. Também não deve ter percebido que sua barriga
aumentou, não é mesmo?
–
Pois é. – Ri.
–
Você retorna nas próximas semanas, ok? – O médico levanta-se e abre a porta. –
Tenha um ótimo dia.
***
Arthur,
com as roupas sujas e com chinelo velho anda em meio aos carros, oferecendo aos
motoristas, balas de goma. Um homem, fumando cigarro observa ele e outras
crianças.
–
Compra um, moço. Por favor.
–
Quanto é?
–
Essa é dois e a outra é quatro.
–
Você não tem família? Cadê seus pais?
–
Eu to perdido, tio. Faz tempo. – O homem fita Arthur. – Vai comprar ou não?
–
Vou fazer o seguinte. Te dou dez reais e você finge que eu comprei e depois
fala para o tio que cuida de vocês. Mas esconde dele isso aqui. – Dá nas mãos
de Arthur cinquenta reais. – Esconde isso! – O sinal abre. – Até mais!
***
Bruna
está sentada em sua cadeira, na delegacia, massageando sua barriga. Ela sorri e
cantarola. Guilherme adentra no local, em silêncio, observando Bruna.
–
Foi no médico? – Guilherme interrompera Bruna. – O que ele disse?
–
O que eu suspeitava, mas não acreditava!
–
E o que é?
Bruna
levanta-se, senta-se na mesa e fita Guilherme. Por fim, pega sua mão esquerda e
leva até sua barriga.
–
Eu estou grávida, meu amor.
–
Sério? – Pergunta entusiasmado. Depois, beija Bruna.
***
UMA SEMANA DEPOIS
Fausto,
atrás de uma árvore observa a movimentação da saída dos alunos após o último
sinal. Encontra Giulia, caminhando sozinha. Olha para os lados e não encontra
Rafaela.
Fausto
segue Giulia, até que ela passa em um beco sem saída. O homem empurra a garota
para o beco e a encurrala.
–
Me solta! Socorro! ME SOLTA! – Grita, apavorada.
–
Agora... Ninguém vai poder te ajudar. – O homem beija sua bochecha, vai
descendo para o pescoço, sobe a blusa da menina. – Relaxa.
–
SOCORRO! – Ela grita, enquanto Fausto segura suas mãos.
–
Achou que ia ficar livre de mim, é?
–
O que você quer comigo?
–
Só quero atingir sua mãe, nada mais. – Giulia chuta seu saco. O homem cai no
chão, urrando de dor.
Giulia
pega sua mochila e corre para o outro lado da rua, sem perceber o carro a sua
frente. A menina cai no chão ainda consciente. Um homem aproxima-se dela e faz
uma pergunta.
–
Ele... Foi ele... – Aponta para Fausto, no fim do beco.
Um
grupo de pessoas cerca Fausto, enquanto a polícia e ambulância são chamadas.
***
Guilherme
está na delegacia, de pé, olhando para o delegado, que lê alguns documentos e
mexe no computador. A foto de Arthur aparece na tela.
O
delegado nega com a cabeça.
–
Onde está você, meu filho? – Pergunta, saindo da delegacia e olhando para o
céu.
***
Bruna
está de pé em sua sala, observando o mural, escrevendo algumas observações em
um papel e com um alfinete, pregando no painel.
O
telefone toca. Ela senta-se em sua cadeira, arruma os papéis e por fim, atende.
–
Delegacia de polícia. Pois não? – Indaga.
–
Bom dia, delegada. Sou médico de uma clínica psiquiatra e temos uma paciente
que foi identificada como Maíra. Mas insiste em se chamar Carla.
–
Perdão. Eu não entendi!
–
A nossa paciente diz que sabe quem matou Lana Albuquerque e que é a única
testemunha. – Bruna fica surpresa, e continua a conversa em som inaudível.
***
DIAS DEPOIS
Música: Sol de Paz – Strike.
Bruna
está de pé em sua sala, mexendo em alguns livros. Ela pega três e se senta em
sua cadeira. Enquanto folheia um livro, Guilherme adentra no local.
–
Meu amor, o que houve? Por que está assim?
–
Nós precisamos ter uma conversa séria, Bruna.
–
Não dê rodeios. Diga logo o que você quer!
–
Eu pensei durante muito tempo na nossa relação. Nas coisas que aconteceram
comigo, com você, com o Arthur...
–
E qual conclusão você chegou?
–
Que a melhor coisa a ser feita agora é a gente dar um tempo. Pelo menos até o
inquérito ser finalizado e os responsáveis forem presos. – Diz Guilherme,
deixando Bruna extremamente abalada.
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