Marlon
parou com seus questionamento e foi pegando logo na maçaneta. Quando ele abriu
a porta, viu Solange chorando muito no sofá. Marlon ficou tocado quando viu
aquela cena. Ele já chorou muito na vida, mas não suportava ver uma mulher
chorar. Ele fechou a porta e foi em direção a Solange.
-
Solange. – disse ele com voz fúnebre.
-
Marlon, desculpe-me por não ir trabalhar hoje, e que... – ela não conseguiu
terminar a frase. O choro foi mais forte.
-
Calma Solange, diga-me o que aconteceu.
-
Júlio... ele se matou...- ao terminar de dizer a palavra que abalara, novamente
caiu no choro.
Assim
que ela deu a notícia, Marlon ficou pálido. Não podia acreditar no que acabara
de ouvir. Ele estava chorando por dentro, só de pensar que foi o culpado dessa
tragédia. Ele pegou um chavena e colocou um chá, para que ela pudesse se
acalmar. Antes que ela desse o primeiro gole, falou:
-
Ele era o amor da minha vida, Marlon. Foi oito anos de convivência. Oito anos
se dedicando, amando, dando carinho. Sonha em casar com ele. A noite, na minha
cama antes de dormir, imaginava eu entrando toda de branca, feliz...chorando na
hora do sim... queria morrer do lado dele... agora o que será de mim, meu Deus.
Só quem já perdeu um grande amor, é que sabe o que estou sentindo.
Depois
que Solange proferiu aquela última frase, Marlon pensou no seu passado. Ele não
sabia o que era perder um amor, afinal ele se apaixonou inúmeras vezes por
várias garotas e nenhuma correspondeu ao sentimento puro e ingênuo. Depois que
tomou o chá, ela voltou a expor seus sentimentos:
-
Acho que nunca mais vou gostar de alguém...
Nesse
momento, Marlon olhou para o chão e pensou na frase que Solange tinha
proferido: “ Será que novamente levarei um pé na bunda?”
-
Não acredito...Não acreditoo...
Solange
levantou-se e foi para a cozinha e pegou uma faca. Marlon foi correndo atrás
dela.
-
Não quero mais viver. Pra quê? Quero morrer com você, meu amor.
-
Não faça isso...vou ti ajudar...quero ti ajudar...talvez foi o destino que quis
separar vocês dois...aceite o destino com resignação... pare com isso...quero
ti dar meu ombro amigo...me dê essa faca!
Solange
ficou parada por segundos. E aos poucos foi soltando a faca. Quando a faca
caiu, ela também caiu junto. Marlon correu para levantá-la.
-
Venha...vamos sentar no sofá.
Marlon
ajudou Solange a sentar-se. Depois que ela deitou no seu ombro, ela adormeceu.
Quando sua vizinha chegou, Marlon colocou-a na cama e foi para casa.
Quando
Marlon abriu a porta, ele se deitou no sofá e pensou no que tinha acontecido
nas últimas vinte e quatro horas.
-
Como a vida muda de uma hora pra outra. Quem diria que Solange estaria
sofrendo.
Marlon
olhou a hora no seu relógio. O ponteiro apontava para as oito horas.
-
Vou dormir. Se é que vou conseguir. Amanhã vai ser um dia muito puxado.
Marlon
dirigiu-se a seu quarto. Tomou banho e caiu na cama. Novamente viu a madrugada
passar. Não parava de pensar como Solange estava.
Ele
não estava triste pela morte de Júlio, mas sim pelo fato de Solange está mal.
Sei que Marlon será taxado de desumano, insensível e cruel. Mas aqui já está
outro escrúpulo da sociedade. Porquê devo chorar por uma pessoa que não
conheço? É como disse o personagem de
Camilo Castelo Branco, o João da Cruz: “morrer por morrer, morra meu pai, que é
mais velho”. Esse é um ditado enigmático. Veja ele como uma grande filosofia de
vida. Sinto pela morte do meu próximo, de quem conheço, mas não de um estranho.
Na sua mente, caro leitor, você deve está sentindo repulsa do personagem. Mas é
como diz a psicologia, hoje choro pela sua morte, mas no meu inconsciente,
grita esse ditado.
O
dia amanheceu chorando. Talvez os céus estejam chorando pela morte de mais um
ou pela felicidade de Marlon. Ele levantou-se e foi vestir-se. Depois correu
direto para a casa da mãe do defunto. A casa estava lotada. Não pense que
quando você morrer, irão lhe visitar só os seus amigos. A sua residência estará
lotada...de curiosos, é claro. Vários estarão bisbilhotando seu corpo, sua casa
e possivelmente seu viúvo ou sua viúva.
-
Por que você se foi meu filho? – disse a mãe em prantos.
No
meio das cabeças, ele conseguiu vê Solange. No caminho que separava eles,
Marlon viu pessoas sorrindo, fofocando e beatas rezando pela alma do morto.
Assim que ela o viu, caiu no choro. Marlon não falou nada. Levou-a para sentar
num sofá e ofereceu seu ombro amigo. Depois de algumas horas, eles foram
caminhando para o cemitério. Uns iam chorando, outros sorrindo e outros
pensando na noite prazerosa que teriam.
Muitos
acham que o cemitério e um lugar frio e repugnante. Esse é apenas um sentimento
estúpido. O triste não é ser mortal, mas sim seria viver eternamente, entre
sofrimento e preocupações, como dizia o escritor português José Saramago. Se
pensássemos bem, passamos a vida toda estudando, trabalhando. Com a reserva do
dinheiro, compramos uma casa. Talvez essa conquista se torne realidade na nossa
velhice. Aí te pergunto, caro leitor, o que adiantou? O melhor investimento,
seria um túmulo. Ele será a nossa moradia eterna. Não tenha medo de morre, mas
sim de sofrer.
A
parte mais triste de um enterro, visão esta da sociedade, estava acontecendo. O
coveiro estava começando a jogar a terra no caixão. É nesse momento que as
mulheres começam a gritar, chorar e até desmaiar.
Depois
que tudo havia acabado, Marlon levou Solange para casa. Ele passou o resto do
dia ao lado dela. Ele dormiu lá, num quarto de hóspede. Quando ele acordou, foi
preparar o café da manhã e assim que ficou pronto, foi levar na cama dela.
-
Vamos acordar Solange. Olha o que eu preparei pra você.
Solange
olha e dá seu primeiro sorriso desde o acontecimento trágico.
-
Obrigada, mas...estou sem fome.
-
Coma. Nem que seja um pouco...por mim, vai.
-
Ta bom.
Solange
provou o iogurte e disse:
-
Que bom que tenho um chefe e um amigo. Obrigada pelo seu apoio.
-
Imagina. Não tem nada que agradecer. Fico feliz em ser seu amigo.
Depois
de pesar no seu passado, ele disse:
-
Nunca tive um amigo. Num sai de casa. Sempre fiquei estudei. Hoje em dia é
fácil ter colegas, agora amigos... fico triste em ser assim...amargurado. Mas
foram as pessoas que tornaram-me assim... vamos deixar os assuntos do meu
passado para lá e vamos comer. De verdade, fico muito feliz em ter conquistado
sua amizade.
Os
olharam-se nos olhos e sorriram. Marlon tinha acabado de começar a começar e a
campainha tocou. Eram policiais.
-
Bom dia.
-
Bom dia.
-
A senhorita Solange está?
-
Está, mas encontra-se indisposta, sou o chefe dela, eu dou o recado.
-
Diga a ela que as investigações da morte de Júlio Pereira começaram.
-
Obrigado. Vou avisá-la.
-
Tenha um bom dia.
-
Os senhores também.
Marlon
foi até o quarto de Solange transmitir o recado.
-
Quem era Marlon?
-
Uns policiais.
-
O que eles queriam?
-
Vieram avisar que as investigações foram iniciadas.
-
Alô! Tacituria
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