sábado, 3 de outubro de 2015

Capítulo 15: Escrúpulos



Marlon saiu pensativo da delegacia. Não entendia o motivo que Solange tinha para ter ordenado que as investigações fossem encerradas. Foi com essa e outras, que ele entrou no carro e foi em direção do Jornal.
No seu passeio de carro, Marlon pensou na força que o dinheiro tinha na sociedade. Todos eram capazes de fazer o impossível para ter o pedaço de papel valioso. Os que dizem que não fazem, é porque nunca tiveram uma oportunidade de ter um dinheiro livre, extra. Duvido se chegasse com uma maleta repleta de dinheiro e oferecessem um preço, a pessoa esnobaria essa oportunidade. Os desonestos podem ser desonestos por diversão e prazer, mas muitos também são por necessidades.
Marlon estacionou o carro e entrou no Jornal. Ele apenas fez um movimento de cumprimentos, com a cabeça para Fabrício e depois para Mônica. Vendo o rosto do patrão, Fabrício foi em direção do balcão.
- O patrão deve está com muitos problemas. – disse o porteiro.
- É mesmo, viu Bigode! Ele sempre entra com essa cara de elefante. O que será em, Bigode?
- É o e-mail e tantos outros problemas.
- Mas tu não aprende mesmo, né Bigode? Nunca trás nenhuma novidade. Se não ti contasse o que acontece nesse Jornal, você não saberia de nada. Acho que você nem sabe que o presidente da república é o Lula.
- Depois fala de mim, né Mônica. A presidente é a Dilma. Tu não votou, não?
- Claro que votei. – disse Mônica pensativa. – Mas essas coisas de política eu não entendo muito não, eu gosto é da fofoca da cidade. É bem mais importante.
- Eu tô vendo. Mais tu não toma jeito mesmo, né Mônica.
- Vai pro teu portão, vai Bigode. Você faz mais no sol, do que aqui falando besteiras.
Vendo a secretária, Marlon perguntou:
- Gilda, você sabe se Solange está aqui?
- Acho que não, senhor.
- Obrigado.
Marlon foi conferir na redação. Mas Solange não encontrava-se por lá. Então ele foi para sua sala.
- Quando a Solange chegar, Gilda, diga a ela que quero que venha até a minha sala.
Marlon entrou e sentou-se na sua cadeira. Ficou girando, girando. Pensava em tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Mas como o trabalho não espera, ele tentou ficar concentrado e foi para os papéis.
Por volta das dez horas, Marlon recebeu uma ligação:
- Alô!
- Alô, aqui que fala é o detetive Devis.
- Ah, Detetive! Você tem alguma novidade?
- Tenho sim. Liguei para saber se o senhor está muito ocupado.
- Nunca estou ocupado para esse tipo de assunto.
- Então, estou indo. Até breve!
- Até logo.
Assim que Marlon desligou o telefonema, Solange entrou:
- Você queria falar comigo, paixão?
- Queria sim. Sente-se.
- Do que se trata?
- Eu fui a delegacia...
- Fazer o que?
- Fui saber se o delegado tinha encontrado alguma pista, sobre a morte de Júlio.
- O que ele disse? – disse aflita.
- Que eles têm muitas dúvidas.
Marlon parou de falar e antes de recomeçar a dizer, ele pensou um pouco.
- Eu ordenei que reabrissem as investigações.
- Mas eu dei ordens para encerrá-la.
- Já sei. Mas pensa, amor! Com a investigação, iremos saber que é o culpa pela morte dele. Sei o que ele representou para você.
- Mas o assassino... se é que ele foi assassinado, quando for solto, poderá tentar nos matar. Não! Não quero saber que foi! – disse nervosa.
Abraçando, Marlon falou:
- Eu estarei aqui do seu lado para te proteger. O assassino tem que pagar pelo que fez.
- Você acha que ele foi assassinado. Tira isso da sua cabeça.
- Então para tirar a dúvida, vamos deixar que os policiais investiguem.
- Está certo.
- Vá beber uma água, você está muito nervosa.
- Está bem.
Poucos minutos se passaram e o detetive chegou.
- Que bom que você chegou. Sente-se.
Ele acomodou-se numa cadeira de couro marrom.
- Então, quais as novidades?
- Encontrei mais um de seus amigos.
Os olhos de Marlon brilharam. Por dentro, a alma da vingança estava vibrando. 
- Olhe essas fotos que tirei.
Marlon pegou ferozmente as fotos. Aquele rosto envelhecerá, mas tinha exatamente a mesma feição de anos atrás. Não tinha como negar.
- Esse é o Fabrício. Reconhece?
- Claro. É o Maurício. É Ele mesmo. Apenas com rugas e acabado, mas a feição é a mesma.
- Aqui está o endereço. – disse escrevendo no papel.
- Muito obrigado.
Puxou a gaveta e deu um envelope para o detetive.
- Aqui está a outra parte do pagamento.
- Obrigado.
- Eu te acompanho até a saída. Quero reencontrar o meu A-MI-GO.
Eles saíram. Vendo os dois juntos, Mônica falou:
- O que será que esse homem faz tanto aqui no Jornal, hein Bigode?
- Deixa de ser exagerada. Ele veio aqui só umas três vezes.
- Ah! Tanto faz. O que interessa é o assunto.
- Deixa de ser curiosa.
- Vá para o seu portão. – disse com voz autoritária.
Marlon dirigia cegamente. Aquele endereço ele sabia aonde era. Mas o trânsito não deixava que ele chegasse rapidamente. Era semáforos fechados, buzinas, idosas atravessando a faixa de pedestre, motos querendo passar em passagens que nem um mosquito conseguiria, enormes filas de carros. Mas conseguiu estacionar próximo da casa e esperou o cidadão sair. Ele ficou impaciente. Seu desejo era sair do carro e abrir a porta daquele casebre. Fechou os olhos e imaginou a cena de anos atrás. Ficara com mais ódio. A vontade de vingança aumentara.
Depois de horas esperando, finalmente Maurício saiu. Vendo ele fechando a porta, Marlon não perdeu tempo e foi atrás dele. Ele pegou no ombro de Maurício. Ele olhou para trás e viu Marlon, mas não reconheceu
- Conheço você ?
- Claro.
- Não me lembro.
- Sou o dono do Jornal Matinal.
- Ah.
- Olhe bem para mim.
Maurício olhou. Sabia que o dono do Jornal, mas não ligara ele com o pobre e cheio de escrúpulos de anos atrás.
- Sou Marlon. Aquele que serviu de brinquedo para você e seus amigos.
Maurício pensou e depois de segundos lembrou.
- Ah! – disse surpreso. – Como você mudou. Quem diria que alcançaria esse degrau.- disse sorrindo.
- Pois é.
- Foi bom falar com você.
Marlon pegou no braço do rapaz e disse:
- Não fuja.
- O que você. – disse ele soltando-se.
- Quero acertar as contas.
- Que conta? Você ficou doido?
- Não, estou muito consciente.
Maurício lembrou-se do momento de divertimento de anos atrás, no qual ele e seus amigos usaram Marlon como seu fantoche. Fazia-se de mau entendido, no fundo ele sabia de que conta ele estava falando. O que causara espanto, era na mudança do dono do Jornal. Ele não possuía mais a feição de assustado de tempos atrás. Agora ele tinha o rosto de uma pessoa bem decidida, vencedora e não tinha medo de nada.
Antes que Marlon tivesse qualquer ação, Maurício correu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário