Marlon não
conseguiu segurá-lo. Foi questão de uma piscada. Enquanto Maurício corria,
vinha em sua mente um flash back. Ia correndo desesperadamente. Pulou por cima
de carros. Derrubou pessoas na rua.
- Sai da
frente. – disse empurrando uma velhinha.
Marlon logo
correu atrás dele. As pessoas olhavam abismados para eles. As mulheres ficavam
com medo. Pensaram que a sirene tocara e o ladrão saíra da loja
desesperadamente. As crianças ficavam com os olhos brilhando de admiração:
- Olha,
mamãe! Parece cena daquele filme.
E as mães
apreensivas, diziam entrando na primeira loja que viam:
- É sim, meu
filho. Vamos entrar aqui.
A perseguição
continuara. Várias ruas iam passando-se e pessoas iam sendo arremessadas no
chão. Uns achavam que eram dois dementes brincando de pega-pega, outros achavam
que eram policial e ladrão.
Estavam na
rua dos Morros, foram para a rua Agrei e a perseguição acabou na rua da
Chavena. Dava a ligeira impressão que o fugitivo estava perdendo o fôlego.
Derrubou velhas, pulos bancos e atravessou ruas movimentadas. Marlon voava como
um falcão peregrino. O sabor da vingança era sua motivação.
A sorte
estava ao lado do humilhado. Com todo o medo do que viria pela frente, por
causa das ações do passado, o guepardo tropeçou numa pedra, na praça dos
Libertos.
- Não adianta
correr, seu verme. – disse Marlon puxando o cabelo do derrotado. – agora você
tem o mesmo medo que eu tive anos atrás. – disse soltando a cabeça com força,
contra o chão.
A vingança já
começara e as primeiras gotas de sangue, já escorria pelo nariz.
- O que foi
que eu ti fiz? – disse com cinismo.
- Não sei.
Talvez é porque você sempre foi meu amigo e agora quero ti presentear com uma
cor vermelha nessa sua cara pálida.
- Você ainda
continua um idiota.
Marlon deu
soco no queixo.
- Posso
continuar um idiota, mas tenho dinheiro. E melhor ser um idiota rico, do que um
que se acha espertalhão e não tem onde cair morto.- Marlon uniu toda a sua
saliva e escarrou na cara do imobilizado.
Todos ficaram
olhando aquela cena. Muitos ficaram com pena do que estava estirado no chão.
Ninguém que estava naquele circula, imaginava que anos passados, o humilhado de
hoje, era arrogante de ontem. Já dizia o ditado: “ Quem ti humilha hoje, amanhã
será humilhado.”.
Marlon pegou
o enfermo e arrastou até a calçada. Pegou um táxi.
- Vamos para
a rua da Neblina.
Aquela era a
rua, onde ficara o galpão de Marlon. O taxista, olhava frequentemente para
Maurício. Teve uma que sua curiosidade saltou com uma voz:
- O que
aconteceu com ele?
- Ele sofreu
um pequeno acidente, nada grave. – disse batendo na bochecha de Maurício.
Passados
alguns minutos, eles chegaram no destino final. Novamente o taxista perguntou,
antes que Marlon abrisse a porta:
- Não quer
que eu leve vocês até o hospital?
- Não
precisa. Eu cuidarei muito bem dele aqui. – disse apontando para o galpão.
Marlon desceu
e pegou Maurício. Ainda atordoado das pancadas, ele teve que sair do táxi com a
ajuda de Marlon.
Ele abriu as
portas. Acendeu as luzes e jogou o homem como um trapo velho no chão. Pegou uma
corrente. Vendo que o outro tentava levantar, Marlon deu um soco na boca do
estômago. Ele caiu como uma árvore cai numa forte tempestade. Marlon arrastou-o
e prendeu-o numa coluna de ferro. E disse bem alto:
- Acorde.
Parece uma mulherzinha!
- Para
com...isso.
- Vou parar
sim... mas quando eu terminar.
Marlon subiu
num caixote e disse alto:
- Aqui temos
a nossa próxima atração. Eu serei o atirador de pedras.
Maurício
arregalou os olhos e veio em sua memória, a brincadeira naquele beco. Naquela
noite ele era o artista e Marlon era o cobaia. Hoje o jogo estava invertido.
- Não
acredito que você vai fazer isso?
- Isso e
muito mais. – disse entre os dentes.
Marlon socou
novamente o estômago. O acorrentado caíra de dor. Marlon abriu o cadeado.
Marlon ergueu os noventa quilos e deixou ele em pé, que novamente foi
acorrentado.
- Agora sim,
cara plateia, o show vai começar.
Ele pegou um
saco cheio de pedras, que já estava lá desde o dia que comprara o imóvel.
- Será que eu
terei uma boa mira, minha plateia?
- Não faça
isso...
Marlon pegou
a primeira pedra e lançou, propositalmente, ao lado da cabeça do alvo. Nesse
momento, Maurício fechara os olhos.
- Quase. –
disse o atirador aos risos.
- Por favor,
não faça isso. Deus já me castigou. Não tenho nada na vida.
- Deus fez o
trabalho dele. Esse é meu serviço.
Com ódio nos
olhos, Marlon começou a apedrejar o alvo. . Ele acertou a barriga, a boca, o
nariz, o pé e a mão de Maurício. Depois do fim da atração, Maurício estava com
Marlon tinha ficado, com dois dentes e o nariz quebrado, mãos e pés dormentes e
sem ar, por conta da pedrada no estômago.
- Aposto que a
plateia do nosso circo está adorando esta cena.- disse com um sorriso de orelha
a orelha.
Com um
sussurro quase inaudível, ele retrucou:
- Você
ainda... vai... me pagar.
Marlon foi
andando em direção dele. Agachou e falou no ouvido:
- Apenas dei o
troco. Agora a nossa conta está no zero.
Marlon abriu as portas. Maurício saiu
cambaleando em direção da luz. Quando ele chegou perto da porta, Marlon falou:
- Não tente
fazer nada contra mim. Dessa você saiu vivo, mas se ousar fazer alguma coisa
contra mim, os sete palmos de terra será a sua casa. Está me ouvindo?
Maurício
tentou sair correndo, mas caíra no chão. Desesperado, foi arrastando-se em
direção à rua.
Menos um de
sua lista, agora faltam quatro.
Marlon fechou as portas. Ficara no escuro, refletindo
em tudo que acabara de fazer. Sabia que não era humana a sua atitude. Não
segurou as lágrimas. Tudo veio a tona, o passado e o presente. Aquela lágrima
não era de alegria, nem de dor. Era de um trauma que talvez nunca saia de sua
vida. Talvez todas aquelas cenas fosse a sombra do seu viver e da sua essência
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