Marlon
continuou com aquela duvida na cabeça. Não entendia. Aquele rosto era familiar.
Solange continuou conversando e ele apenas afirmava com a cabeça.
- Você está
bem, paixão?
Marlon estava
voando nos pensamentos.
- O que?
- Perguntei se
você está bem.
- Ah! Estou...
estou sim.
Olhou para a
janela. Nesse momento eles iam atravessando a rua Lobos. Não conseguia relaxar.
Já Solange falava e falava. O motorista olhava para Marlon, para Solange e
principalmente para a bolsa que estava entre as pernas dela. Solange continuava
a conversar.
- Paixão,
quando nós chegarmos em casa, quero que você leia a reportagem que escrevi.
Paixão?
Marlon
respondeu atordoado:
- Oi?
- O que é que
está acontecendo, Marlon?
- Nada. Estava
pensando nos negócios. – disse olhando fixamente para o motorista. – o que você
disse mesmo?
- estava
dizendo que quando chegarmos em casa, quero que você leia a reportagem que
escrevi.
- É sobre o
que?
- Sobre o
taxista assaltante.
Quando aquelas
palavras foram proferidas, caíra suor do rosto do taxista. Ninguém percebera.
Marlon continuou o diálogo:
- Leio com
maior prazer, amor.
Aquelas ideias
voltaram para sua mente. Ficou por minutos olhando o rosto do motorista. Agora,
depois de tanto tempo encarando-o, tinha certeza. Era, realmente, ele.
- Como está,
Túlio?
Por uns
segundo, o silêncio reinara naquele carro.
- Não me
ouviu?
Depois de mais
alguns instantes, ele respondeu:
- É comigo que
está falando?
- É sim. Não
vejo outro homem além de mim.
Ele não tinha
mudado nada, exceto as rugas.
Não sabia o
que responder. O suor corria-lhe pela face como uma cachoeira. Depois de curtos
minutos, para ele, respondeu:
- Eu não sou,
esse tão de Túlio.
- Não sabia
que você mudou de nome.
- Não faço
ideia quem é esse homem.
- Ah! Sei.
Você não mudou nada. Continua aquele medroso de antes. Com certeza deve ser
mandado, como no tempo de colégio.
- Não sei do
que o senhor está falando.
- Parece que
você e os seus colegas, estão todos esquecidos. Foi eu quem apanhei e foram
vocês que tiveram amnésia?
Solange não
entendia nada do que Marlon estava falando. E falou meio intrigada:
- Você deve está enganado, paixão. Deixa o moço
em paz. – disse com uma voz trêmula.
Depois que
falara isso, ela sussurrou em seu ouvido:
- Do que é que
você está falando?
- Depois eu ti
conto.
Marlon
continuou com o interrogatório.
- Como eu
rezei que naquele dia, você fosse um policial. Os seus colegas se cagaram de
medo. – disse mostrando seus dentes brancos.
- Você só pode
está doido.
- Já estou me
cansando de ouvir essa frase. VOCÊ ESTÁ DOIDO.
- Calma,
paixão.
- Não esqueço
do seu sorriso podre, me vendo quase afogando.
Ele continuava
fazendo-se de desentendido:
- Você deve
está me confundindo com outra pessoa.
Ele não
poderia esperar mais. Tinha que começar o jogo. Aquela conversa já estava lhe
fazendo suar. Então ele pegou um revólver que estava entre suas pernas e
ameaçou. Uma mão estava no volante e a outra estava com a arma em punho.
- Passa todo o
dinheiro.
- Você é o
taxista assaltante? – perguntou Solange aos prantos.
- Em pessoa.
Passa essa bolsa.
- Calma. Vamos
conversar, Túlio. – Marlon olhava para a arma e pensava em um plano. Ele
percebia que o motorista de vez em quanto, olhava para a estrada. – Vamos ti
dar tudo.
Ele começou a
tirar o dinheiro da carteira.
- Agora quero
a bolsa.
Marlon já
estava com tudo na cabeça.
- Não pensei
que você tivesse mudado tanto assim.
- Passa logo a
droga dessa bolsa.
- Aqui está,
moço. – disse ela, quase sem voz.
Solange
colocou a bolsa no banco da frente. Túlio olhou para a bolsa. Foi nesse
instante que Marlon tentou pegar o revolver. A luta começou. Solange não parava
de gritar e chorar. Agora o motorista usava as duas mãos para tentar não deixar
que o outro ficasse com a arma. Solange fechou os olhos e escutou um tiro.
Assim que o tirou foi disparado, o carro perdeu o controle. Eles desceram um
barranco.
Aquele
barranco já presenciou muitos acidentes. Ele ficava na rua Valdez, no fim da
cidade. Marlon tinha escolhido um péssimo dia para fazer uma surpresa: o pneu
do seu carro furou, pegaram o táxi do assaltante e tinha escolhido o
restaurante que ficava um pouco afastado da cidade.
O carro
capotou quatro vezes e mergulhou num açude. Agora o povo ia consumir a água,
com um sabor diferente: ia ter gosto das ferrugens do carro e o sabor de sangue
misturado com defunto.
O impacto foi
grande. Dois carros que iam, provavelmente para o mesmo restaurante, viu aquela
horrível cena. Como todo e bom humano, ele pararam o carro para assistirem a
cena e depois contar para os seus amigos. Ninguém teve a coragem e a boa
vontade de ajuda-los. Claro, quem é que iria molhar ou sujar a roupa, com um
estranho, que nem conhecia e nem sabia se estavam vivos?
Depois de
alguns segundos, um homem que estava observado de cima, gritou:
- Olhem! Duas
pessoas estavam saindo da água.
- É mesmo. –
disse um velho, colocando seus óculos e ajeitando a sua velha dentadura.
Agora eles
conseguiam ver as silhuetas das pessoas. Era um homem e uma mulher. O homem ia
nadando, em direção à terra, com uma das mãos e a outra estava ocupada com uma
mulher em seu peito. Quando chegou em terra firme, o homem deixou a mulher no
chão e saiu correndo. Correu poucos metros e caiu desmaiado.
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