domingo, 11 de outubro de 2015

Capítulo 18: Escrúpulos



Marlon continuou com aquela duvida na cabeça. Não entendia. Aquele rosto era familiar. Solange continuou conversando e ele apenas afirmava com a cabeça.
- Você está bem, paixão?
Marlon estava voando nos pensamentos.
- O que?
- Perguntei se você está bem.
- Ah! Estou... estou sim.
Olhou para a janela. Nesse momento eles iam atravessando a rua Lobos. Não conseguia relaxar. Já Solange falava e falava. O motorista olhava para Marlon, para Solange e principalmente para a bolsa que estava entre as pernas dela. Solange continuava a conversar.
- Paixão, quando nós chegarmos em casa, quero que você leia a reportagem que escrevi. Paixão?
Marlon respondeu atordoado:
- Oi?
- O que é que está acontecendo, Marlon?
- Nada. Estava pensando nos negócios. – disse olhando fixamente para o motorista. – o que você disse mesmo?
- estava dizendo que quando chegarmos em casa, quero que você leia a reportagem que escrevi.
- É sobre o que?
- Sobre o taxista assaltante.
Quando aquelas palavras foram proferidas, caíra suor do rosto do taxista. Ninguém percebera. Marlon continuou o diálogo:
- Leio com maior prazer, amor.
Aquelas ideias voltaram para sua mente. Ficou por minutos olhando o rosto do motorista. Agora, depois de tanto tempo encarando-o, tinha certeza. Era, realmente, ele.
- Como está, Túlio?
Por uns segundo, o silêncio reinara naquele carro.
- Não me ouviu?
Depois de mais alguns instantes, ele respondeu:
- É comigo que está falando?
- É sim. Não vejo outro homem além de mim.
Ele não tinha mudado nada, exceto as rugas.
Não sabia o que responder. O suor corria-lhe pela face como uma cachoeira. Depois de curtos minutos, para ele, respondeu:
- Eu não sou, esse tão de Túlio.
- Não sabia que você mudou de nome.
- Não faço ideia quem é esse homem.
- Ah! Sei. Você não mudou nada. Continua aquele medroso de antes. Com certeza deve ser mandado, como no tempo de colégio.
- Não sei do que o senhor está falando.
- Parece que você e os seus colegas, estão todos esquecidos. Foi eu quem apanhei e foram vocês que tiveram amnésia?
Solange não entendia nada do que Marlon estava falando. E falou meio intrigada:
-  Você deve está enganado, paixão. Deixa o moço em paz. – disse com uma voz trêmula.
Depois que falara isso, ela sussurrou em seu ouvido:
- Do que é que você está falando?
- Depois eu ti conto.
Marlon continuou com o interrogatório.
- Como eu rezei que naquele dia, você fosse um policial. Os seus colegas se cagaram de medo. – disse mostrando seus dentes brancos.
- Você só pode está doido.
- Já estou me cansando de ouvir essa frase. VOCÊ ESTÁ DOIDO.
- Calma, paixão.
- Não esqueço do seu sorriso podre, me vendo quase afogando.
Ele continuava fazendo-se de desentendido:
- Você deve está me confundindo com outra pessoa.
Ele não poderia esperar mais. Tinha que começar o jogo. Aquela conversa já estava lhe fazendo suar. Então ele pegou um revólver que estava entre suas pernas e ameaçou. Uma mão estava no volante e a outra estava com a arma em punho.
- Passa todo o dinheiro.
- Você é o taxista assaltante? – perguntou Solange aos prantos.
- Em pessoa. Passa essa bolsa.
- Calma. Vamos conversar, Túlio. – Marlon olhava para a arma e pensava em um plano. Ele percebia que o motorista de vez em quanto, olhava para a estrada. – Vamos ti dar tudo.
Ele começou a tirar o dinheiro da carteira.
- Agora quero a bolsa.
Marlon já estava com tudo na cabeça.
- Não pensei que você tivesse mudado tanto assim.
- Passa logo a droga dessa bolsa.
- Aqui está, moço. – disse ela, quase sem voz.
Solange colocou a bolsa no banco da frente. Túlio olhou para a bolsa. Foi nesse instante que Marlon tentou pegar o revolver. A luta começou. Solange não parava de gritar e chorar. Agora o motorista usava as duas mãos para tentar não deixar que o outro ficasse com a arma. Solange fechou os olhos e escutou um tiro. Assim que o tirou foi disparado, o carro perdeu o controle. Eles desceram um barranco.
Aquele barranco já presenciou muitos acidentes. Ele ficava na rua Valdez, no fim da cidade. Marlon tinha escolhido um péssimo dia para fazer uma surpresa: o pneu do seu carro furou, pegaram o táxi do assaltante e tinha escolhido o restaurante que ficava um pouco afastado da cidade.
O carro capotou quatro vezes e mergulhou num açude. Agora o povo ia consumir a água, com um sabor diferente: ia ter gosto das ferrugens do carro e o sabor de sangue misturado com defunto.
O impacto foi grande. Dois carros que iam, provavelmente para o mesmo restaurante, viu aquela horrível cena. Como todo e bom humano, ele pararam o carro para assistirem a cena e depois contar para os seus amigos. Ninguém teve a coragem e a boa vontade de ajuda-los. Claro, quem é que iria molhar ou sujar a roupa, com um estranho, que nem conhecia e nem sabia se estavam vivos?
Depois de alguns segundos, um homem que estava observado de cima, gritou:
- Olhem! Duas pessoas estavam saindo da água.
- É mesmo. – disse um velho, colocando seus óculos e ajeitando a sua velha dentadura.

Agora eles conseguiam ver as silhuetas das pessoas. Era um homem e uma mulher. O homem ia nadando, em direção à terra, com uma das mãos e a outra estava ocupada com uma mulher em seu peito. Quando chegou em terra firme, o homem deixou a mulher no chão e saiu correndo. Correu poucos metros e caiu desmaiado.

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