segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Capítulo 23: Escrúpulos

Madalena ficou apavorada. Saiu correndo. Todos viraram, vendo a moça partir. Depois que não avistara mais, todos olharam para Marlon. Finalmente, Marlon conseguiu falar algo:
- Vamos para casa, Solange.
- Primeiro você vai me explicar o que aconteceu entre você e ela! – disse com raiva, batendo o pé no chão.
- Depois eu te explico. – arrastou-a pela braço e pegou um táxi.
Durante todo o trajeto, o silêncio habitara o carro.
Os funcionários que ainda estavam presentes no Jornal, cogitaram o que poderia ter acontecido.
- Vocês viram? – disse Mônica, toda excitada.
- Vimos. O negócio deve ter sido sério. – comentou Douglas.
- Estranho. – opinou Gilda.
- Agora vamos para nossas casas, que tenho que fechar as portas. – ordenou Fabrício.
Todos saíram e Mônica não parava de cochichar.
O táxi estacionou. E os dois desceram. Marlon abriu a porta e Solange foi logo perguntando:
- Me diga o que foi que aconteceu?
- Agora não. Não enche o meu saco, agora.
- Estou cansada! – berrou. – tudo é no seu tempo.
Marlon sentou-se no sofá. Colocou os cotovelos nas coxas e as mãos contra a face. Solange veio e sentou-se ao seu lado.
- Me conta. Marlon!
Marlon ficou imóvel. Pensava no que ia ter que dizer. Não poderia dizer a verdade. Aquele assunto era pessoal demais para compartilhar. Ninguém entenderia. Ninguém sabe o que passa-se num coração, numa alma ferida, humilhada. Só quem passa por determinada situação e que compreende. Não sabia o que iria inventar.
- Vamos, Marlon. Fale!
- Está bem. Vou te contar tudo o que ocorreu na minha sala.
Marlon levantou-se e ficou a pensar, andando em toda a sala.
- Fala!
- Bom. Eu pedi para que a Gilda dissesse para a Madalena, que no fim do expediente, me procurasse...
- Pra que?
- Na entrevista ela disse que estava passando por necessidades. Então ia adiantar o salário. – Marlon fez uma pausa.
- Continue.
- Quando foi no final do expediente, ela veio até a minha sala. Pedi que ela esperasse, porque eu iria pegar um café pra mim. Quando eu voltei, ela estava mexendo na minha gaveta, atrás de dinheiro.
- E lá tinha?
- Tinha. Então eu a expulsei, mas como estava passando por necessidades, deixei que levasse o dinheiro. Afinal, o pouco que ela pegou, não iria fazer falta.
- Não acredito que você a deixou ficar com o dinheiro. Se fosse eu, levaria ela para a delegacia.
- Não, não quero envolver num escândalo.
A noite caíra. Mônica já estava arrumando-se para o encontro. Passou perfume e batom. Pegou a sua bolsa e saiu. Na calçada, esperou um táxi. Chegou no restaurante. Entrou. Olhou para todas as mesas. Todas estavam sendo ocupadas por casais. Sentou-se em uma vazia. De repente, alguém colocou as mãos em seus olhos:
- Que bom que você veio.- encostou o nariz perto do pescoço. - Como você está cheirosa.
Mônica colocou as mãos no rosto do homem e disse:
- Não acredito que é você. – reconheceu a voz. – Bigode?
Fabrício tirou as mãos da face da moça e sentou-se.
- Sou eu mesmo.
- Que brincadeira de mal é essa?
- Não é brincadeira eu estou...
- Como que não é. Eu li a carta pra você e veio até aqui pra estragar o meu encontro com meu príncipe. Agora sai daqui. Se ele me vê com você, vai acabar o que nem começou.
- Deixa eu falar, Mônica.
Mônica levantou-se e puxou o braço dele.
- Sai, Bigode.
E como um raio, aquela frase foi proferida:
- Eu sou o seu admirador secreto.
Mônica caiu na cadeira vaga, admirada.
- Então você é meu admirador.  Disse toda tristonha.
- Sou eu sim, Mônica. Faz tempo que eu sinto esse amor inexplicável por você. Todas as noites sonho com você. Não consigo viver sem ti. Cada vez que saio do trabalho e não tenho você o meu alcance, meu dia se entristece . Quero que você seja minha namorada. Aceita?
Diante daquelas palavras, estava surpresa. Não sabia o que dizer. Depois de duas lágrimas limparem seu rosto, ela falou:
- Nunca contei isso pra ninguém. Também gosto de você. No começo achei que era uma amizade, mas depois foi crescendo. Não tive coragem de falar o que eu sento por você. Inventei uma paixão louca, por chefinho, para vê se você sentiria ciúmes de mim. Mas você nunca demostrou...
- Cada vez que você fala o nome dele com carinho ou acompanhava-o com seu olhar, meu coração apertava, e a raiva invadia minha cabeça. Depois tive a ideia de pedir conselho pra você. E deu certo. – Marlon pegou as mãos de Solange. – Você quer namorar comigo?
- Quero. – depois de um longo beijo e que a emoção amenizou, Mônica falou. – até que fim que você chegou em mim, né meu Bigodinho?
Deram um outro beijo romântico.
No dia seguinte, a cidade toda já sabia do ocorrido. A repercussão foi enorme. Todos comentavam. Nos quatro cantos da cidade, a dúvida era: “ O que tinha ocorrido de fato?”. Várias hipóteses foram sendo levantadas. Boatos foram especulados. No jornal Correspondências, a notícia foi publicada.

“ Hoje, houve um episódio lamentável aqui em nossa cidade. Marlon, o dono do Jornal Matinal, agrediu uma funcionária. Madalena. Pouco se sabe o que tenha acontecido em sua sala, mas testemunhas viram a senhora Madalena sai correndo do local. Isso é inadmissível. Não há argumentos que justifiquem essa atitude...”

Assim que Marlon chegou no Jornal, Mônica entregou o jornal da oposição e contou o que estava acontecendo. Marlon ficou indignado com o que acabara de ler. Pegou um táxi e foi para a rádio Top Music, esclarecer esse assunto. O taxi parou e antes de entrar na rádio, murmurou:
- Não vou deixar que esse cretino, seja lá quem for, estragar tudo o que conquistei até hoje. 












  








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