segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Capítulo 5: Magia Sensata

Escondendo-se por várias estantes do pequeno mercado, Sofia chama atenção de outros clientes. Carmen e Max soltam da mota. A amante de Max Mattos pergunta a um homem se viu Sofia, mostrando uma foto da jovem.
– Acho que ela entrou no mercado.
– Tem certeza?
– Quase absoluta.
– Obrigada.
Max pergunta a uma senhora se ela também viu Sofia.
– Você viu essa moça por aqui, senhora? – pergunta Max, mostrando a foto da namorada.
– Vi sim.
– Onde?
– Ela entrou no mercadinho.
– Obrigado.
Max e Carmen então entram no mercado. Sofia vê a entrada dos dois e foge por uma porta lateral de emergência. Após fugir, ela sai correndo em direção à pensão.

***
Sofia chega à pensão desesperada. A moça respira rápido e bufa. Hanna e Cléo estão sentadas na sala, assistindo à televisão. Ao ver o estado de Sofia, Hanna a pergunta:
– O que aconteceu, Hanna?
– O Max, meu namorado, e Carmen, a amante dele, estão aqui. – responde Sofia, com certa dificuldade.
– Conte para nós sobre o motivo da sua saída de Bulires, Sofia. Podemos te ajudar. – aconselha Cléo.
– Eu sai de lá por que fiquei sabendo que o Max me traía com uma mulherzinha.
– Mas você fugiu por causa de uma traição?
– Não. Ele é um bandido.
– O que ele fez?
– Ele é um golpista. Eu ouvi o Max falando para essa amante que ele se aproxima de moças, finge que está apaixonado, namora com elas, até casa e depois usa delas como escravas sexuais, para ele e para os outros.
– Ele queria te prostituir?
– Sim. Era o plano dele, e acredito que ainda seja.
– Agora sim entendo, Sofia. – diz Hanna.
– O Álvaro sabe disso? – pergunta Cléo.
– Não sabia até agora. – responde Álvaro, que aparece na sala.
– Você ouviu tudo, Álvaro? – questiona Sofia, preocupada e chorando.
– Sim. Por que não me falou disso antes, Sofia? Eu quero te ajudar a acabar com esse tal de Max, e com a amante dele também. – fala Álvaro, desapontado com a amada.
– Acho melhor irmos, Cléo. ­– sugere Hanna, saindo da sala junto com a prima.
– Sofia, você não confia em mim?
– Eu queria te poupar de tudo isso, Álvaro, e nem te conheço direito.
– Você só me deixou mais preocupado. Não precisa me poupar. Eu quero te ajudar.
– Eu vou fugir daqui, Álvaro.
– Por quê?
– O Max está atrás de mim. Não posso ficar aqui.
– Você não pode sair por aí como uma fugitiva, uma bandida. Ele e a amante são os bandidos. Os dois precisam ser presos.
– Eu só quero distância deles.
– Sofia, eu não vou deixar você sair daqui por causa desses dois. Iremos juntos mandar esse casal para a cadeia.
Sofia dá um abraço e beija Álvaro.

***
No pequeno mercado em que começou a confusão envolvendo Max, Carmen e Sofia, a dupla de golpistas invade o mercado e joga vários objetos e estantes no chão, achando que Sofia está escondida lá. Muitos clientes ficam assustados e com medo, e correm da loja. Um vendedor fica irritado com a atitude dos dois e pergunta:
– O que os senhores estão fazendo?
– Não está vendo, querido? – debocha Carmen.
– Parem já com essa bagunça! – ordena o gerente.
– Estamos atrás de uma bandida. – conta Max.
– Parem de mentiras.  – fala o gerente.
Os vendedores do mercado seguram Carmen e Max, que tentam escapar, porém não conseguem. O gerente da loja liga para a polícia.

***
No calor de Pitenópolis, dois homens caminham pelas ruas da cidade, após saírem de um ônibus. Os dois são os irmãos Marcos e Fabrício Reis. Fabrício é o mais velho, veste uma jaqueta escura, uma blusa azul, e uma calça preta, já Marcos usa uma camisa branca e uma calça cinza. Os irmãos são muito parecidos fisicamente, já que possuem cabelo bem curto e barba, e carregam malas e outros pertences pessoais. Caminhando pela cidade, eles conversam:
– Qual é o nome da pensão que temos que procurar, Fabrício? – pergunta Marcos.
– É a pensão de Hanna Curie. – responde Fabrício.
Os irmãos direcionam-se à pensão de Hanna Curie, seguindo algumas placas existentes na cidade, pregadas em postes. Enquanto caminham, eles presenciam Carmen e Max sendo levados pelos policiais para a delegacia.
– Olha aí, Fabrício! A polícia daqui está bem ativa.
– Está querendo insinuar algo, Marcos? Fala direto!
– Não, não.

***
Chegando à delegacia, Carmen e Max são levados à sala do delegado.
– Bom dia, senhores. O que vocês estavam fazendo lá no mercado? – pergunta o delegado.
– Safadeza que não era. – debocha Carmen.
– A senhora quer ser presa por desacato?
– Claro que não.
– Então fique pianinho. – fala o delegado.
– Ah, prefiro cavaquinho. – brinca Carmen, rindo.
– Sossega, Carmen. – aconselha Max.
– Olha, não conheço os senhores muito bem, então vou liberá-los, mas terão que pagar uma multa para o mercado pelo prejuízo.
– Ok, seu delegado. – responde Carmen.
– São oitocentos reais.
– Como assim? É muita grana. – reclama Carmen.
– É isso ou os senhores serão presos.
– Que lei é essa? – pergunta Max.
– Em Pitenópolis, não é bem assim não. Se forem morar aqui, podem ir se acostumando. – avisa o delegado.
Max tira sua carteira do bolso e entrega a quantia ao delegado.
– Agora os senhores podem ir. – libera o delegado.
Max e Carmen logo saem da sala do delegado.

***
Enquanto isso, Fabrício e Marcos finalmente chegam à pensão de Hanna Curie. Os irmãos carregam suas malas e estão com aparência de cansaço. Os dois veem Hanna Curie, a dona da pensão, e conversam entre si:
– Acho que essa que é a tal de Hanna. – fala Marcos.
– Deve ser. Vamos falar com ela. – concorda Fabrício.
Hanna aproxima-se dos jovens, e se apresenta:
– Bom dia. Novos aqui? Procurando algum lugar?
–  Sim. Acabamos de chegar. Queremos um quarto. – diz Marcos.
– Dois. Um para cada um. – completa Fabrício.
– Infelizmente só estamos com um quarto disponível, porém são duas camas de solteiro.
– Tudo bem. – responde Marcos.
Os irmãos pagam uma quantia em dinheiro para adiantar o pagamento. Depois, eles e Hanna vão à sala da pensão, onde estão Álvaro, Sofia e Cléo.
– Gente, esses são Fabrício e Marcos, novos hóspedes. – apresenta Hanna.
– Bem vindos. – falam Sofia, Cléo e Álvaro.
– Obrigado. Já cheguei assustado na cidade. – comenta Marcos.
– Como assim? – pergunta Sofia.
– Eu vi um casal sendo levado para a delegacia. Eles estavam gritando. Parece que tinham quebrado um mercado, ou algo do tipo.
– Ai, graças a Deus esses bandidos foram pra delegacia. – alivia Sofia.
– Você os conhece? – pergunta Marcos.
– Sim. Eles quebraram o mercado atrás de mim. Eles estão querendo me prostituir. É um esquema.
– Poxa! Por que você não conta isso para a polícia?
– É isso o que eu e Sofia faremos mais tarde. – responde Álvaro.
– Ah, Hanna, se os dois vieram aqui pedir um quarto, por favor não aceite esses bandidos.
– Você tem alguma foto dele?
– Sim, e consegui dela numa rede social dele. – diz Sofia, que logo mostra as fotos para Hanna.
– Ok. Agora irei levar os rapazes ao quarto deles. Vamos, Fabrício e Marcos?
– Claro. – responde Marcos, que logo sai da sala, com Fabrício e Hanna.
–  Eu vou trabalhar, Sofia. Mais tarde ligo para você para marcarmos a hora de irmos à delegacia.
– Tudo bem. Tchau.
Álvaro sai da pensão e vai ao seu trabalho, como advogado no escritório da Vinhos Albuquerque. Sofia fica na pensão e ajuda Cléo nas tarefas.

***
Na praça central de Pitenópolis, Mary e Jenny estão dispostas a cumprirem mais uma etapa do ritual.
– Por que vamos realizar isso, Mary?
– É o que as vozes estão me dizendo. E além disso, podemos ganhar uma graninha com essa apresentação aqui em público.
– Ah, Mary, você só pensa em dinheiro. Eu prefiro muito mais a felicidade.
– Você fica aí falando que dinheiro não traz felicidade, mas não vê ninguém feliz andando no ônibus apertado com outra pessoa esfregando o suor em você.
– Mary, pare de ficar enchendo minha paciência e vamos fazer logo isso.
Mary tira o porco de uma caixa e segura-o com as mãos levantando-o.
– Tá parecendo uma cena daquele filme O Rei Tigrão.
– É O Rei Leão, seu jegue. As pessoas podem até ter o direito de serem burras, mas você, maninha, extrapolou, né?
– Pare de fazer piadinha comigo. Eu falo o que eu quiser, eu que escolho se é tigre, leão, jumento,...
– Vamos continuar então.
– Calma, Mary. Falando em jumento, aquele ali não é o caipira da fazenda Leite de Porca, junto com a mulher dele, aquela lá dos Sete Palmos? – pergunta Jenny, ao avistar Eufrásio, andando pela rua, junto com sua esposa Rumina.
– Verdade, Jenny. Eles estão atrás de nós. Vamos meter o pé!
Eufrásio e Rumina Sete Palmos reconhecem as irmãs na praça central junto com um dos porcos e o fazendeiro grita:
– Ali, Rumina! As pilantras tão ali!
Jenny e Mary saem correndo, com o porco na mão, e Eufrásio e Rumina correm atrás delas.

***
Após saírem da delegacia e caminharem por algumas ruas da cidade, Carmen e Max chegam à pensão de Hanna. Sofia está na cozinha da pensão e avista, pela janela, o casal. Max, ao entrar, dirige-se logo à Hanna:
– A senhora é a dona da pensão, não é?
– Sim, eu mesma.
– Queremos um quarto, de preferência, com uma cama de casal enorme e uma banheira. – diz Carmen.
– Infelizmente, não será possível. A pensão está completamente lotada.
– Duvido. Essa pensão está mais falida que o Brasil. – suspeita Carmen.
– Senhora, já disse que estamos lotados.
– Então aproveitando: você viu essa garota? – pergunta Max, mostrando uma foto de Sofia.
– Não, nunca a vi.
– Se você ver essa vadiazinha por aí, avisa pra gente. – pede Carmen.
– Vocês a conhecem?
– Sim. Ela nos aplicou um golpe, é uma pilantra.
– Tudo bem. Agora, os senhores já podem ir.
– Sim. Tchau.
Max e Carmen saem da pensão, mesmo insatisfeitos, e no lado de fora, Max comenta com a amante:
– A Sofia pode estar escondida nesse muquifo. Temos que ficar de olho.
– Vamos revezar. Temos que ficar de tocaia.
– Boa ideia. Começamos mais tarde.
O casal afasta-se da pensão.

***
Na loja Vinhos Albuquerque, Gustavo continua o trabalho normalmente, até que Gustavo chega à loja carregando algumas garrafas de vinho e de suco de uva.
– Está fazendo o que aqui, Jonas? – questiona Gustavo.
– Vim fazer essas entregas que o Pedro pediu.
– Esse seu patrãozinho é mesmo um mala.
– Nem me diga. Cadê a Leia?
– Está na hora de almoço.
– Tenho que te contar uma coisa.
– O que?
– O Augusto, aquele que fazia malabarismo aqui na praça, marcou um encontro com a Ângela.
– Com a Ângela Albuquerque? Tem certeza?
– Certeza absoluta, eu vi com meus próprios olhos.
– Vou dar um jeito de acabar com essa tentativa de romance de quinta categoria.
– Quer que eu te ajude?
– Não precisa. Já sei com quem posso contar.
– Quem?
– Na hora certa eu te falo.
– Tudo bem. Tenho que ir. Tchau. – diz Jonas, que logo sai da loja, voltando à vinícola.
Após a saída de Jonas, Leia chega à loja e Gustavo fala para a vendedora:
– Leia, ficou sabendo que o Augusto e a Ângela Albuquerque estão namorando?
– Ah? Augusto e Ângela? Não viaja, Gustavo!
– É verdade, Leia. Parece até que eles vão se encontrar hoje aqui, e depois vão pra casa de Ângela. Acho que eles vão pra casa dela.
– Não posso acreditar nisso, Gustavo.
– Também fiquei surpreso quando soube.
– Por que está me contando isso?
– Eu sei que você ama o Augusto, e eu gosto muito da Ângela, então temos que acabar com esse encontrinho entre eles.
– Por que você ia me ajudar nisso?
– Porque eu estaria ajudando a mim mesmo também.
– Você já tem algum plano?
– Podemos sequestrar os avós deles, aqueles dois velhotes.
– Não, Gustavo, eu tenho um afeto especial pelo seu Tito e a dona Josefina.
– O que você sugere, então?
– Eu posso fingir um desmaio ou algo assim, então o Augusto me ajudaria, aí eu poderia beijá-lo, deixando a Ângela com ciúmes.
– Ótima ideia. E você ainda fala que namora com Augusto há meses. Essa Ângela tem que achar que ele mente pra ela, que ele só quer a grana dela.
Leia e Gustavo fazem um cumprimento com as mãos e voltam a trabalhar.

***

O dia passa rapidamente, em Pitenópolis, e a noite vem chegando. O sol sai lentamente, assim como os trabalhadores que voltam para suas casas. Na vinícola Albuquerque, os funcionários já estão indo embora, e Ângela Albuquerque chega, em seu carro, dirigido pelo motorista, e Augusto entra no veículo. Jonas observa a cena, tira uma foto e manda uma mensagem para Gustavo, que já se prepara para colocar em prática seu plano, junto com Leia. O carro encaminha-se para a praça central de Pitenópolis. Ao chegarem lá, Ângela e Augusto saem do veículo e sentam-se ao lado do chafariz, enquanto conversam. Leia passa em frente aos dois e finge o desmaio, caindo bem em frente ao casal, assustando os dois e outras pessoas que estão na praça.

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