Escondendo-se por várias estantes do pequeno mercado, Sofia chama
atenção de outros clientes. Carmen e Max soltam da mota. A amante de Max Mattos
pergunta a um homem se viu Sofia, mostrando uma foto da jovem.
–
Acho que ela entrou no mercado.
–
Tem certeza?
–
Quase absoluta.
–
Obrigada.
Max
pergunta a uma senhora se ela também viu Sofia.
–
Você viu essa moça por aqui, senhora? – pergunta Max, mostrando a foto da
namorada.
–
Vi sim.
– Onde?
–
Ela entrou no mercadinho.
–
Obrigado.
Max
e Carmen então entram no mercado. Sofia vê a entrada dos dois e foge por uma
porta lateral de emergência. Após fugir, ela sai correndo em direção à pensão.
***
Sofia chega à pensão desesperada. A moça respira rápido e bufa.
Hanna e Cléo estão sentadas na sala, assistindo à televisão. Ao ver o estado de
Sofia, Hanna a pergunta:
– O
que aconteceu, Hanna?
– O
Max, meu namorado, e Carmen, a amante dele, estão aqui. – responde Sofia, com
certa dificuldade.
–
Conte para nós sobre o motivo da sua saída de Bulires, Sofia. Podemos te
ajudar. – aconselha Cléo.
–
Eu sai de lá por que fiquei sabendo que o Max me traía com uma mulherzinha.
–
Mas você fugiu por causa de uma traição?
–
Não. Ele é um bandido.
– O
que ele fez?
–
Ele é um golpista. Eu ouvi o Max falando para essa amante que ele se aproxima
de moças, finge que está apaixonado, namora com elas, até casa e depois usa
delas como escravas sexuais, para ele e para os outros.
–
Ele queria te prostituir?
–
Sim. Era o plano dele, e acredito que ainda seja.
–
Agora sim entendo, Sofia. – diz Hanna.
– O
Álvaro sabe disso? – pergunta Cléo.
–
Não sabia até agora. – responde Álvaro, que aparece na sala.
–
Você ouviu tudo, Álvaro? – questiona Sofia, preocupada e chorando.
– Sim.
Por que não me falou disso antes, Sofia? Eu quero te ajudar a acabar com esse
tal de Max, e com a amante dele também. – fala Álvaro, desapontado com a amada.
–
Acho melhor irmos, Cléo. – sugere Hanna, saindo da sala junto com a prima.
– Sofia,
você não confia em mim?
–
Eu queria te poupar de tudo isso, Álvaro, e nem te conheço direito.
–
Você só me deixou mais preocupado. Não precisa me poupar. Eu quero te ajudar.
– Eu
vou fugir daqui, Álvaro.
–
Por quê?
– O
Max está atrás de mim. Não posso ficar aqui.
–
Você não pode sair por aí como uma fugitiva, uma bandida. Ele e a amante são os
bandidos. Os dois precisam ser presos.
–
Eu só quero distância deles.
–
Sofia, eu não vou deixar você sair daqui por causa desses dois. Iremos juntos
mandar esse casal para a cadeia.
Sofia
dá um abraço e beija Álvaro.
***
No
pequeno mercado em que começou a confusão envolvendo Max, Carmen e Sofia, a
dupla de golpistas invade o mercado e joga vários objetos e estantes no chão,
achando que Sofia está escondida lá. Muitos clientes ficam assustados e com
medo, e correm da loja. Um vendedor fica irritado com a atitude dos dois e
pergunta:
– O
que os senhores estão fazendo?
–
Não está vendo, querido? – debocha Carmen.
–
Parem já com essa bagunça! – ordena o gerente.
– Estamos
atrás de uma bandida. – conta Max.
–
Parem de mentiras. – fala o gerente.
Os
vendedores do mercado seguram Carmen e Max, que tentam escapar, porém não
conseguem. O gerente da loja liga para a polícia.
***
No
calor de Pitenópolis, dois homens caminham pelas ruas da cidade, após saírem de
um ônibus. Os dois são os irmãos Marcos e Fabrício Reis. Fabrício é o mais
velho, veste uma jaqueta escura, uma blusa azul, e uma calça preta, já Marcos
usa uma camisa branca e uma calça cinza. Os irmãos são muito parecidos fisicamente,
já que possuem cabelo bem curto e barba, e carregam malas e outros pertences
pessoais. Caminhando pela cidade, eles conversam:
–
Qual é o nome da pensão que temos que procurar, Fabrício? – pergunta Marcos.
– É
a pensão de Hanna Curie. – responde Fabrício.
Os
irmãos direcionam-se à pensão de Hanna Curie, seguindo algumas placas
existentes na cidade, pregadas em postes. Enquanto caminham, eles presenciam
Carmen e Max sendo levados pelos policiais para a delegacia.
–
Olha aí, Fabrício! A polícia daqui está bem ativa.
–
Está querendo insinuar algo, Marcos? Fala direto!
–
Não, não.
***
Chegando
à delegacia, Carmen e Max são levados à sala do delegado.
–
Bom dia, senhores. O que vocês estavam fazendo lá no mercado? – pergunta o
delegado.
– Safadeza
que não era. – debocha Carmen.
– A
senhora quer ser presa por desacato?
– Claro
que não.
–
Então fique pianinho. – fala o delegado.
–
Ah, prefiro cavaquinho. – brinca Carmen, rindo.
–
Sossega, Carmen. – aconselha Max.
–
Olha, não conheço os senhores muito bem, então vou liberá-los, mas terão que
pagar uma multa para o mercado pelo prejuízo.
–
Ok, seu delegado. – responde Carmen.
–
São oitocentos reais.
–
Como assim? É muita grana. – reclama Carmen.
– É
isso ou os senhores serão presos.
–
Que lei é essa? – pergunta Max.
–
Em Pitenópolis, não é bem assim não. Se forem morar aqui, podem ir se
acostumando. – avisa o delegado.
Max
tira sua carteira do bolso e entrega a quantia ao delegado.
–
Agora os senhores podem ir. – libera o delegado.
Max
e Carmen logo saem da sala do delegado.
***
Enquanto
isso, Fabrício e Marcos finalmente chegam à pensão de Hanna Curie. Os irmãos
carregam suas malas e estão com aparência de cansaço. Os
dois veem Hanna Curie, a dona da pensão, e conversam entre si:
–
Acho que essa que é a tal de Hanna. – fala Marcos.
–
Deve ser. Vamos falar com ela. – concorda Fabrício.
Hanna
aproxima-se dos jovens, e se apresenta:
–
Bom dia. Novos aqui? Procurando algum lugar?
– Sim. Acabamos de chegar. Queremos um quarto.
– diz Marcos.
–
Dois. Um para cada um. – completa Fabrício.
–
Infelizmente só estamos com um quarto disponível, porém são duas camas de
solteiro.
–
Tudo bem. – responde Marcos.
Os
irmãos pagam uma quantia em dinheiro para adiantar o pagamento. Depois, eles e
Hanna vão à sala da pensão, onde estão Álvaro, Sofia e Cléo.
–
Gente, esses são Fabrício e Marcos, novos hóspedes. – apresenta Hanna.
–
Bem vindos. – falam Sofia, Cléo e Álvaro.
–
Obrigado. Já cheguei assustado na cidade. – comenta Marcos.
–
Como assim? – pergunta Sofia.
–
Eu vi um casal sendo levado para a delegacia. Eles estavam gritando. Parece que
tinham quebrado um mercado, ou algo do tipo.
–
Ai, graças a Deus esses bandidos foram pra delegacia. – alivia Sofia.
–
Você os conhece? – pergunta Marcos.
–
Sim. Eles quebraram o mercado atrás de mim. Eles estão querendo me prostituir.
É um esquema.
–
Poxa! Por que você não conta isso para a polícia?
– É
isso o que eu e Sofia faremos mais tarde. – responde Álvaro.
–
Ah, Hanna, se os dois vieram aqui pedir um quarto, por favor não aceite esses
bandidos.
–
Você tem alguma foto dele?
–
Sim, e consegui dela numa rede social dele. – diz Sofia, que logo mostra as
fotos para Hanna.
–
Ok. Agora irei levar os rapazes ao quarto deles. Vamos, Fabrício e Marcos?
–
Claro. – responde Marcos, que logo sai da sala, com Fabrício e Hanna.
– Eu vou trabalhar, Sofia. Mais tarde ligo para
você para marcarmos a hora de irmos à delegacia.
–
Tudo bem. Tchau.
Álvaro
sai da pensão e vai ao seu trabalho, como advogado no escritório da Vinhos
Albuquerque. Sofia fica na pensão e ajuda Cléo nas tarefas.
***
Na
praça central de Pitenópolis, Mary e Jenny estão dispostas a cumprirem mais uma
etapa do ritual.
–
Por que vamos realizar isso, Mary?
– É
o que as vozes estão me dizendo. E além disso, podemos ganhar uma graninha com
essa apresentação aqui em público.
–
Ah, Mary, você só pensa em dinheiro. Eu prefiro muito mais a felicidade.
–
Você fica aí falando que dinheiro não traz felicidade, mas não vê ninguém feliz
andando no ônibus apertado com outra pessoa esfregando o suor em você.
–
Mary, pare de ficar enchendo minha paciência e vamos fazer logo isso.
Mary
tira o porco de uma caixa e segura-o com as mãos levantando-o.
–
Tá parecendo uma cena daquele filme O Rei Tigrão.
– É
O Rei Leão, seu jegue. As pessoas podem até ter o direito de serem burras, mas
você, maninha, extrapolou, né?
–
Pare de fazer piadinha comigo. Eu falo o que eu quiser, eu que escolho se é
tigre, leão, jumento,...
–
Vamos continuar então.
–
Calma, Mary. Falando em jumento, aquele ali não é o caipira da fazenda Leite de
Porca, junto com a mulher dele, aquela lá dos Sete Palmos? – pergunta Jenny, ao
avistar Eufrásio, andando pela rua, junto com sua esposa Rumina.
–
Verdade, Jenny. Eles estão atrás de nós. Vamos meter o pé!
Eufrásio
e Rumina Sete Palmos reconhecem as irmãs na praça central junto com um dos
porcos e o fazendeiro grita:
–
Ali, Rumina! As pilantras tão ali!
Jenny
e Mary saem correndo, com o porco na mão, e Eufrásio e Rumina correm atrás
delas.
***
Após
saírem da delegacia e caminharem por algumas ruas da cidade, Carmen e Max
chegam à pensão de Hanna. Sofia está na cozinha da pensão e avista, pela
janela, o casal. Max, ao entrar, dirige-se logo à Hanna:
– A
senhora é a dona da pensão, não é?
–
Sim, eu mesma.
–
Queremos um quarto, de preferência, com uma cama de casal enorme e uma
banheira. – diz Carmen.
–
Infelizmente, não será possível. A pensão está completamente lotada.
–
Duvido. Essa pensão está mais falida que o Brasil. – suspeita Carmen.
–
Senhora, já disse que estamos lotados.
–
Então aproveitando: você viu essa garota? – pergunta Max, mostrando uma foto de
Sofia.
–
Não, nunca a vi.
–
Se você ver essa vadiazinha por aí, avisa pra gente. – pede Carmen.
–
Vocês a conhecem?
–
Sim. Ela nos aplicou um golpe, é uma pilantra.
–
Tudo bem. Agora, os senhores já podem ir.
–
Sim. Tchau.
Max
e Carmen saem da pensão, mesmo insatisfeitos, e no lado de fora, Max comenta
com a amante:
– A
Sofia pode estar escondida nesse muquifo. Temos que ficar de olho.
–
Vamos revezar. Temos que ficar de tocaia.
–
Boa ideia. Começamos mais tarde.
O
casal afasta-se da pensão.
***
Na loja Vinhos Albuquerque, Gustavo continua o trabalho
normalmente, até que Gustavo chega à loja carregando algumas garrafas de vinho
e de suco de uva.
– Está fazendo o que aqui, Jonas? – questiona Gustavo.
– Vim fazer essas entregas que o Pedro pediu.
– Esse seu patrãozinho é mesmo um mala.
– Nem me diga. Cadê a Leia?
– Está na hora de almoço.
– Tenho que te contar uma coisa.
– O que?
– O Augusto, aquele que fazia malabarismo aqui na praça,
marcou um encontro com a Ângela.
– Com a Ângela Albuquerque? Tem certeza?
– Certeza absoluta, eu vi com meus próprios olhos.
– Vou dar um jeito de acabar com essa tentativa de romance de
quinta categoria.
– Quer que eu te ajude?
– Não precisa. Já sei com quem posso contar.
– Quem?
– Na hora certa eu te falo.
– Tudo bem. Tenho que ir. Tchau. – diz Jonas, que logo sai da
loja, voltando à vinícola.
Após a saída de Jonas, Leia chega à loja e Gustavo fala para a
vendedora:
– Leia, ficou sabendo que o Augusto e a Ângela Albuquerque
estão namorando?
– Ah? Augusto e Ângela? Não viaja, Gustavo!
– É verdade, Leia. Parece até que eles vão se encontrar hoje
aqui, e depois vão pra casa de Ângela. Acho que eles vão pra casa dela.
– Não posso acreditar nisso, Gustavo.
– Também fiquei surpreso quando soube.
– Por que está me contando isso?
– Eu sei que você ama o Augusto, e eu gosto muito da Ângela,
então temos que acabar com esse encontrinho entre eles.
– Por que você ia me ajudar nisso?
– Porque eu estaria ajudando a mim mesmo também.
– Você já tem algum plano?
– Podemos sequestrar os avós deles, aqueles dois velhotes.
– Não, Gustavo, eu tenho um afeto especial pelo seu Tito e a
dona Josefina.
– O que você sugere, então?
– Eu posso fingir um desmaio ou algo assim, então o Augusto
me ajudaria, aí eu poderia beijá-lo, deixando a Ângela com ciúmes.
– Ótima ideia. E você ainda fala que namora com Augusto há
meses. Essa Ângela tem que achar que ele mente pra ela, que ele só quer a grana
dela.
Leia e Gustavo fazem um cumprimento com as mãos e voltam a
trabalhar.
***
O dia passa rapidamente, em Pitenópolis, e a noite vem chegando. O
sol sai lentamente, assim como os trabalhadores que voltam para suas casas. Na
vinícola Albuquerque, os funcionários já estão indo embora, e Ângela Albuquerque
chega, em seu carro, dirigido pelo motorista, e Augusto entra no veículo. Jonas
observa a cena, tira uma foto e manda uma mensagem para Gustavo, que já se
prepara para colocar em prática seu plano, junto com Leia. O carro encaminha-se
para a praça central de Pitenópolis. Ao chegarem lá, Ângela e Augusto saem do
veículo e sentam-se ao lado do chafariz, enquanto conversam. Leia passa em
frente aos dois e finge o desmaio, caindo bem em frente ao casal, assustando os
dois e outras pessoas que estão na praça.
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