Aquela dor não
passava. Eram segundos, minutos, horas, dias e ela continuava ali, cravada no
coração. Aos poucos, Marlon foi saindo da fossa. Depois de três dias
trancafiado, resolveu voltar ao trabalho. Ele foi motivo de chacota por toda a cidade.
- Tu ficou
sabendo da espera do dono do Jornal? – disse uma velha.
- A espera do
altar? Todo mundo sabe. – disse a jovem petulante.
- Dizem por
aí, que já fazem dois dias que ele não vai trabalhar. Não sei se ele vai hoje.
– disse toda empolgada.
- Se fosse eu,
tinha era vergonha. Ficar na igreja com um babaca e a mulher na delegacia. –
riram. – Tu sabe porque ela foi presa?
- Dizem por aí
que foi porque ela estava roubando o noivinho dela. – riu com deboche.
- Que roubou
nada. Pra mim, disseram que foi acusada de matar alguém. Eu tenho certeza que
foi isso. A Godóia foi quem me contou. Ela estava no casamento.
- Então é
verdade. Mas como é que ela foi parar lá? Ela foi convidada?
- Que mané
convidada. Ela ficou na porta lateral da igreja pra contar as fofocas que iam
rolar no casamento.
- Não sai nada
nos jornais, nem nos rádios. – disse a velha varrendo a calçada.
- Claro que
não. Ele deve ter comprados todos. Não queria que ninguém soubesse. Que pena
que não adiantou. – disse sorrindo. – Ainda bem que tem pessoas como nós, para
informar esse povo.
- É mesmo.
Marlon passou
pela recepção e só acenou para Fabrício e Mônica. Subiu. Fez o mesmo gesto para
Gilda. Entrou na sala e ficou olhando para o vazio. Gilda entrava. Saia. Ele
não falava nada com ela.
- Aqui estão
os papéis pro senhor assinar. – disse Gilda entrando. - Senhor? – disse ao vê
que não estava olhando para ela.- Tenho que chamar o Fabrício. Já não sei mais
o que fazer.
Gilda correu e
foi chama-lo. Ela estava muito preocupada com o estado que o chefe
encontrava-se.
- Ele está
ali, Fabrício. – apontou Gilda. – entrei aqui umas quatro vezes e ele não fala
e nem se mexe. Não sei o que fazer.
Fabrício
aproximou-se e falou com Gilda:
- Pode ir,
Gilda. Eu fico aqui com ele.
Gilda saiu.
Fabrício pegou o copo de água que estava em cima da mesa e colocou na boca do
patrão.
- Beba um
pouco, Marlon.
Levemente
Marlon abriu a boca.
- Eu sei que o
impacto da notícia foi grande. Você tem que apagar esse ocorrido.
Marlon
finalmente reagiu.
- Eu não
posso. Nunca esquecerei o que ela fez. As pretensões que ela tinha comigo no
início.
- Não sei o
que ela falou pra você. Nem quero saber. Mas como amigo, te digo uma coisa. As
coisas simplesmente acontecem. Não podemos dominar os outros, nem o momento,
nem o tempo. Nada. O que ela fez foi errado. Mas irá pagar tudo, diante da
justiça dos homens.
Marlon
levantou-se da cadeira e foi caminhando em direção da janela.
- Você não
sabe o que ela me disse, Fabrício. Foi horrível. – fez uma pausa. - Ela disse
que quando me conheceu, queria o meu dinheiro e não o meu amor.- novamente
pausou. – Ela teve a cara de pau de disser que agora tinha se envolvido comigo,
que não queria meu dinheiro. Hipócrita! – gritou jogando os papeis que tinham
na mesa, no chão.
Marlon chorava
muito.
- Fiz o
esforço de vim para cá. Percebi que não valia a pena ficar trancafiado na minha
casa. Não quero mais saber dela. Espero que apodreça na cadeia. Desgraçada. –
disse fechando a mão com força.
- Marlon,
tenho que ir agora. Se precisar de qualquer coisa, mande me chamar.
- Está bem,
Fabrício.
Fabrício ia
saindo, quando Marlon falou:
- Obrigado
pela força, meu amigo.
- Amigos são
pra isso. – disse olhando para Marlon.
- Ele está
melhor? – indagou Gilda.
- Está sim. Só
queria desabafar.
Finalmente a
noite chegou e Marlon poderia ir para casa. Ele passou pelo portão e Fabrício
chamou-o.
- Marlon!
–gritou. Marlon veio caminhando em sua direção. – Sei que não é o momento mais
apropriado, mas quero convidar para o meu casamento com a Mônica. Queremos que
você e a Gilda sejam nossos padrinhos.
- Aceito com
maior prazer. – disse com um sorriso no canto da boca.
- Quando será?
- Amanhã.
- Amanhã? Já?
- Já sim.
- Que horas?
- Ás sete
horas da noite. Quero logo casar com ela. Ela é a mulher da minha vida. O
casamento é simples.
- O importante
é o amor que une vocês dois.
- É sim. Ela é
meu tudo.
- Cuide bem
dela.
- Pode deixar.
- Até amanhã.
- Até amanhã.
O casamento
chegou. Os noivos estavam muito felizes. Marlon não parava de vê a cena do seu
casamento em sua mente.
- Quando vou
parar de ficar pensando nisso? – murmurou.
Assim que
acabou o casamento, disse para Fabrício:
- Tenho que
ir.
- Tá cedo. Não
vá agora.
- Não estou me
sentindo bem.
- O melhor
para o seu mal é a diversão. Só assim você esquecerá dos problemas.
- Eu vou.
Quero descansar.
- Está bem.
- Cuide bem
dela. Se você fizer alguma coisa, você vai vê.
Os dois riram
e cumprimentaram-se. Marlon pegou seu carro e foi para casa. A lua estava
cheia, como o coração de Marlon, que está cheio de mágoas. Chegou. Desceu e foi
abrir a porta. Entrou.
- Não quero
mais viver. Nada vale mais a pena. Perdi o grande amor da minha vida. Era
melhor nem ter achado. Cachorra! Vadia! – falava aos gritos quebrando pratos,
copos, quadros e jarros. A morte me espera. Não quero mais viver nesse mundo
cheio de vermes. – Marlon pegou um fraco de veneno de rato que tinha guardado
na despensa.
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