domingo, 8 de novembro de 2015

Capítulo 31: Escrúpulos (PENÚLTIMO)

Aquela dor não passava. Eram segundos, minutos, horas, dias e ela continuava ali, cravada no coração. Aos poucos, Marlon foi saindo da fossa. Depois de três dias trancafiado, resolveu voltar ao trabalho. Ele foi motivo de chacota por toda a cidade.
- Tu ficou sabendo da espera do dono do Jornal? – disse uma velha.
- A espera do altar? Todo mundo sabe. – disse a jovem petulante.
- Dizem por aí, que já fazem dois dias que ele não vai trabalhar. Não sei se ele vai hoje. – disse toda empolgada.
- Se fosse eu, tinha era vergonha. Ficar na igreja com um babaca e a mulher na delegacia. – riram. – Tu sabe porque ela foi presa?
- Dizem por aí que foi porque ela estava roubando o noivinho dela. – riu com deboche.
- Que roubou nada. Pra mim, disseram que foi acusada de matar alguém. Eu tenho certeza que foi isso. A Godóia foi quem me contou. Ela estava no casamento.
- Então é verdade. Mas como é que ela foi parar lá? Ela foi convidada?
- Que mané convidada. Ela ficou na porta lateral da igreja pra contar as fofocas que iam rolar no casamento.
- Não sai nada nos jornais, nem nos rádios. – disse a velha varrendo a calçada.
- Claro que não. Ele deve ter comprados todos. Não queria que ninguém soubesse. Que pena que não adiantou. – disse sorrindo. – Ainda bem que tem pessoas como nós, para informar esse povo.
- É mesmo.
Marlon passou pela recepção e só acenou para Fabrício e Mônica. Subiu. Fez o mesmo gesto para Gilda. Entrou na sala e ficou olhando para o vazio. Gilda entrava. Saia. Ele não falava nada com ela.
- Aqui estão os papéis pro senhor assinar. – disse Gilda entrando. - Senhor? – disse ao vê que não estava olhando para ela.- Tenho que chamar o Fabrício. Já não sei mais o que fazer.
Gilda correu e foi chama-lo. Ela estava muito preocupada com o estado que o chefe encontrava-se.
- Ele está ali, Fabrício. – apontou Gilda. – entrei aqui umas quatro vezes e ele não fala e nem se mexe. Não sei o que fazer.
Fabrício aproximou-se e falou com Gilda:
- Pode ir, Gilda. Eu fico aqui com ele.
Gilda saiu. Fabrício pegou o copo de água que estava em cima da mesa e colocou na boca do patrão.
- Beba um pouco, Marlon.
Levemente Marlon abriu a boca.
- Eu sei que o impacto da notícia foi grande. Você tem que apagar esse ocorrido.
Marlon finalmente reagiu.
- Eu não posso. Nunca esquecerei o que ela fez. As pretensões que ela tinha comigo no início.
- Não sei o que ela falou pra você. Nem quero saber. Mas como amigo, te digo uma coisa. As coisas simplesmente acontecem. Não podemos dominar os outros, nem o momento, nem o tempo. Nada. O que ela fez foi errado. Mas irá pagar tudo, diante da justiça dos homens.
Marlon levantou-se da cadeira e foi caminhando em direção da janela.
- Você não sabe o que ela me disse, Fabrício. Foi horrível. – fez uma pausa. - Ela disse que quando me conheceu, queria o meu dinheiro e não o meu amor.- novamente pausou. – Ela teve a cara de pau de disser que agora tinha se envolvido comigo, que não queria meu dinheiro. Hipócrita! – gritou jogando os papeis que tinham na mesa, no chão.
Marlon chorava muito.
- Fiz o esforço de vim para cá. Percebi que não valia a pena ficar trancafiado na minha casa. Não quero mais saber dela. Espero que apodreça na cadeia. Desgraçada. – disse fechando a mão com força.
- Marlon, tenho que ir agora. Se precisar de qualquer coisa, mande me chamar.
- Está bem, Fabrício.
Fabrício ia saindo, quando Marlon falou:
- Obrigado pela força, meu amigo.
- Amigos são pra isso. – disse olhando para Marlon.
- Ele está melhor? – indagou Gilda.
- Está sim. Só queria desabafar.
Finalmente a noite chegou e Marlon poderia ir para casa. Ele passou pelo portão e Fabrício chamou-o.
- Marlon! –gritou. Marlon veio caminhando em sua direção. – Sei que não é o momento mais apropriado, mas quero convidar para o meu casamento com a Mônica. Queremos que você e a Gilda sejam nossos padrinhos.
- Aceito com maior prazer. – disse com um sorriso no canto da boca.
- Quando será?
- Amanhã.
- Amanhã? Já?
- Já sim.
- Que horas?
- Ás sete horas da noite. Quero logo casar com ela. Ela é a mulher da minha vida. O casamento é simples.
- O importante é o amor que une vocês dois.
- É sim. Ela é meu tudo.
- Cuide bem dela.
- Pode deixar.
- Até amanhã.
- Até amanhã.
O casamento chegou. Os noivos estavam muito felizes. Marlon não parava de vê a cena do seu casamento em sua mente.
- Quando vou parar de ficar pensando nisso? – murmurou.
Assim que acabou o casamento, disse para Fabrício:
- Tenho que ir.
- Tá cedo. Não vá agora.
- Não estou me sentindo bem.
- O melhor para o seu mal é a diversão. Só assim você esquecerá dos problemas.
- Eu vou. Quero descansar.
- Está bem.
- Cuide bem dela. Se você fizer alguma coisa, você vai vê.
Os dois riram e cumprimentaram-se. Marlon pegou seu carro e foi para casa. A lua estava cheia, como o coração de Marlon, que está cheio de mágoas. Chegou. Desceu e foi abrir a porta. Entrou.
- Não quero mais viver. Nada vale mais a pena. Perdi o grande amor da minha vida. Era melhor nem ter achado. Cachorra! Vadia! – falava aos gritos quebrando pratos, copos, quadros e jarros. A morte me espera. Não quero mais viver nesse mundo cheio de vermes. – Marlon pegou um fraco de veneno de rato que tinha guardado na despensa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário