domingo, 8 de novembro de 2015

Capítulo 30: Escrúpulos (ANTEPENÚLTIMO)

Mônica não parava de soluçar.
- Diga logo, Mônica!
Mônica limpou as lágrimas e disse:
- Ela está presa.
Marlon não aguentou a notícia. Sentou-se no batente. Chorava demais.
- Por que? Por que, Mônica? O que ela fez? – aos prantos.
- Bom. Não sei direito. A campainha tocou. Fui atender. Eram uns policiais. Perguntaram se ela estava em casa. Eu disse que sim. Eles entraram e fui chamar ela. Quando ela apareceu na sala, ele prenderam. Eles disseram que ela era tinha matado um tal de... – não lembrava o nome. – Ah! Um tal de Júlio Nogueira.
Aquilo caiu como uma bomba.
- Não pode ser ela! Ela não é capaz de fazer uma coisa dessa.
Todos ficaram pasmados. Não acreditavam que ela era uma assassina.
- Meus pressentimentos estavam certos, mas não imaginava que seria por causa de um assassinato. Tomara que apodreça na prisão. – murmurou Marlete.
- Quem é esse tal de Júlio, Marlon?
- Depois te explico. – disse ao levantar-se. – Aonde ela está, Mônica?
- Acho que na delegacia.
- Vou até lá.
- Eu vou com você. – convidou-se Fabrício.
- Não. Vou sozinho. Tenho que conversar seriamente com ela. Obrigado.
Marlon saiu correndo da igreja. Chegou na delegacia, muito cansado. Aflito perguntou a recepcionista:
- Solange está detida aqui?
- Sim senhor. Chegou a poucos minutos.
- Quero vê-la.
- Pode entrar.
Marlon correu para as selas. Não foi difícil achá-la. Entre panos velhos, vasos sanitários sujos, ratos e baratas trafegando pela cela, encontrava-se Solange. Ela estava de cabeça baixa, chorando.
- Meu amor! – gritou Marlon desesperado.
Solange logo levantou-se. Entre lágrimas, soluços, as palavras quase não saiam de sua boca carnuda:
- Paixão. – disse aos pratos.
- O que aconteceu com você?
Ela não parava de chorar. Estava com tamanha vergonha, que nem olhava na face do homem que estava do outro lado das grades.
- Diga que é mentira! Diga que você não matou ele! Fala Solange. Por favor, fala! – disse aos gritos.
Ela continuava imóvel. Apenas o que mexia, eram as suas lágrimas que escorriam pela sua face macia.
- Fala!
- É verdade!
- Não posso acreditar! – gritou. – sempre confiei em você. Jamais pensei que você fosse capaz de fazer isso, Solange. Estou muito decepcionado com você.
- Isso não muda em nada o que eu sinto por você, Marlon.
- Mais pra mim, muda.
Solange não se segurou. As lágrimas novamente escorriam, e dessa vez eram mais fortes.
- Quem sabe se amanhã você não me mataria, se estivesse em liberdade.
- Eu nunca faria isso com você, Marlon.
- Você deve ter dito o mesmo pra ele. E como é que ele está hoje? Morto.
- Ele era diferente. Eu te amo, como nunca amei ninguém.
- Queria acredita, mais não posso.
Eles ficaram em silêncio. Imóveis. Os únicos que se mexiam eram os ratos e as baratas.
- Por que você matou ele? – disse após segundos imóveis.
- Tive meus motivos.
- Quero saber quais foram. Devem ser muito fortes.
Solange, depois de uns segundo refletindo, falou:
- Eu era uma menina pobre, que sempre morou no sítio. Nunca tive uma oportunidade. Vim para cá e as coisas ficaram complicadas. Não conseguia emprego, por que eu era uma CAIPIRA. Aí conheci o Júlio. Éramos apenas amigos. Ele me apresentou o caminho do roubo. Não tive outra saída. Ou roubava, ou morria de fome. Aquilo passou a ser um vício. Depois eu fiz uma faculdade de jornalismo. Quis sair daquele mundo e sempre ele me ameaçava. Assim que me formei, fui procurar emprego e nada. Depois arrumei um. Ele sempre ficava com ciúmes. Sai várias vezes dos empregos. Li a notícia do seu Jornal e fui tentar a sorte. Eu estava decidida a deixar essa vida, mas ele queria me matar. Sempre dizia que eu iria contar para a polícia sobre os roubos. Não tive outra saída. Tive que mata-lo.
- Por que você não me disse?
- Tive medo. Se eu dissesse, você não iria querer mais nada comigo.
- Não adianta esconder nada. Um dia a verdade aparece. Pode tardar, mas sempre aparece.
- O que mais você esconde?
Solange fechou os olhos e esforçando-se disse:
- Como você disse, não adianta mentir. Vou falar uma verdade, que você talvez nunca olhe mais na minha cara.
- Diga qual é!. – disse Marlon com olhos fechados.
- No início, estava com você por interesse. Como já te disse, eu não tinha nada. Ele não me deixava trabalhar. Aí vi que você se interessou por mim. Não resisti. A necessidade falou mais alto do que os meus escrúpulos.
- Como você pôde...
- Mas depois eu me envolvi. – disse interrompendo-o. – você é uma pessoa muito especial. Nunca conheci um homem como você. Não quero me separar. Agora o dinheiro não importa. O que vale a pena é o seu amor. Esse não tem preço.
- Não quero mais escutar nada. – colocou as mãos na cabeça e chorou. – desde o começo você só estava de olho no meu dinheiro. Eu te trato como uma rainha...
- Eu sei. Eu te amo. Nada importa mais que o seu amor. Me sinto um nojo quando pensou que no início envolvi você por causa de dinheiro. Mais agora eu te amo. Não me deixe. Eu te amo.
Marlon saiu da cela. E vendo que ele ia afastando-se, gritou:
- Eu te amo. Não me deixa.
Marlon saiu chorando. Pegou o seu carro e foi para casa. Quando chegou, trancou-se no quarto. Jogou travesseiro, porta-retrato e um vaso com flores amarela no chão.

- Não acredito. – berrou. – como pude ser tão otário. Sempre esteve em minha cama, uma interesseira. – sentou-se na cama. – Duvido que ela me ame. Uma interesseira nunca vê o amor, mas sim o dinheiro. Não posso mais acreditar nela. Traíra. – caiu no chão. Ficou sentado no pé da cama. – nunca tive sorte na vida. Quando resolvo finalmente me apaixonar, acontece isso. Sou um desgraçado, um otário, um estúpido... – voltou a chorar.

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