Mônica
não parava de soluçar.
-
Diga logo, Mônica!
Mônica
limpou as lágrimas e disse:
-
Ela está presa.
Marlon
não aguentou a notícia. Sentou-se no batente. Chorava demais.
-
Por que? Por que, Mônica? O que ela fez? – aos prantos.
-
Bom. Não sei direito. A campainha tocou. Fui atender. Eram uns policiais.
Perguntaram se ela estava em casa. Eu disse que sim. Eles entraram e fui chamar
ela. Quando ela apareceu na sala, ele prenderam. Eles disseram que ela era
tinha matado um tal de... – não lembrava o nome. – Ah! Um tal de Júlio
Nogueira.
Aquilo
caiu como uma bomba.
-
Não pode ser ela! Ela não é capaz de fazer uma coisa dessa.
Todos
ficaram pasmados. Não acreditavam que ela era uma assassina.
-
Meus pressentimentos estavam certos, mas não imaginava que seria por causa de
um assassinato. Tomara que apodreça na prisão. – murmurou Marlete.
-
Quem é esse tal de Júlio, Marlon?
-
Depois te explico. – disse ao levantar-se. – Aonde ela está, Mônica?
-
Acho que na delegacia.
-
Vou até lá.
-
Eu vou com você. – convidou-se Fabrício.
-
Não. Vou sozinho. Tenho que conversar seriamente com ela. Obrigado.
Marlon
saiu correndo da igreja. Chegou na delegacia, muito cansado. Aflito perguntou a
recepcionista:
-
Solange está detida aqui?
-
Sim senhor. Chegou a poucos minutos.
-
Quero vê-la.
-
Pode entrar.
Marlon
correu para as selas. Não foi difícil achá-la. Entre panos velhos, vasos
sanitários sujos, ratos e baratas trafegando pela cela, encontrava-se Solange.
Ela estava de cabeça baixa, chorando.
-
Meu amor! – gritou Marlon desesperado.
Solange
logo levantou-se. Entre lágrimas, soluços, as palavras quase não saiam de sua
boca carnuda:
-
Paixão. – disse aos pratos.
-
O que aconteceu com você?
Ela
não parava de chorar. Estava com tamanha vergonha, que nem olhava na face do
homem que estava do outro lado das grades.
-
Diga que é mentira! Diga que você não matou ele! Fala Solange. Por favor, fala!
– disse aos gritos.
Ela
continuava imóvel. Apenas o que mexia, eram as suas lágrimas que escorriam pela
sua face macia.
-
Fala!
-
É verdade!
-
Não posso acreditar! – gritou. – sempre confiei em você. Jamais pensei que você
fosse capaz de fazer isso, Solange. Estou muito decepcionado com você.
-
Isso não muda em nada o que eu sinto por você, Marlon.
-
Mais pra mim, muda.
Solange
não se segurou. As lágrimas novamente escorriam, e dessa vez eram mais fortes.
-
Quem sabe se amanhã você não me mataria, se estivesse em liberdade.
-
Eu nunca faria isso com você, Marlon.
-
Você deve ter dito o mesmo pra ele. E como é que ele está hoje? Morto.
-
Ele era diferente. Eu te amo, como nunca amei ninguém.
-
Queria acredita, mais não posso.
Eles
ficaram em silêncio. Imóveis. Os únicos que se mexiam eram os ratos e as
baratas.
-
Por que você matou ele? – disse após segundos imóveis.
-
Tive meus motivos.
-
Quero saber quais foram. Devem ser muito fortes.
Solange,
depois de uns segundo refletindo, falou:
-
Eu era uma menina pobre, que sempre morou no sítio. Nunca tive uma
oportunidade. Vim para cá e as coisas ficaram complicadas. Não conseguia
emprego, por que eu era uma CAIPIRA. Aí conheci o Júlio. Éramos apenas amigos.
Ele me apresentou o caminho do roubo. Não tive outra saída. Ou roubava, ou
morria de fome. Aquilo passou a ser um vício. Depois eu fiz uma faculdade de
jornalismo. Quis sair daquele mundo e sempre ele me ameaçava. Assim que me
formei, fui procurar emprego e nada. Depois arrumei um. Ele sempre ficava com
ciúmes. Sai várias vezes dos empregos. Li a notícia do seu Jornal e fui tentar
a sorte. Eu estava decidida a deixar essa vida, mas ele queria me matar. Sempre
dizia que eu iria contar para a polícia sobre os roubos. Não tive outra saída.
Tive que mata-lo.
-
Por que você não me disse?
-
Tive medo. Se eu dissesse, você não iria querer mais nada comigo.
-
Não adianta esconder nada. Um dia a verdade aparece. Pode tardar, mas sempre
aparece.
-
O que mais você esconde?
Solange
fechou os olhos e esforçando-se disse:
-
Como você disse, não adianta mentir. Vou falar uma verdade, que você talvez
nunca olhe mais na minha cara.
-
Diga qual é!. – disse Marlon com olhos fechados.
-
No início, estava com você por interesse. Como já te disse, eu não tinha nada.
Ele não me deixava trabalhar. Aí vi que você se interessou por mim. Não
resisti. A necessidade falou mais alto do que os meus escrúpulos.
-
Como você pôde...
-
Mas depois eu me envolvi. – disse interrompendo-o. – você é uma pessoa muito
especial. Nunca conheci um homem como você. Não quero me separar. Agora o
dinheiro não importa. O que vale a pena é o seu amor. Esse não tem preço.
-
Não quero mais escutar nada. – colocou as mãos na cabeça e chorou. – desde o
começo você só estava de olho no meu dinheiro. Eu te trato como uma rainha...
-
Eu sei. Eu te amo. Nada importa mais que o seu amor. Me sinto um nojo quando
pensou que no início envolvi você por causa de dinheiro. Mais agora eu te amo.
Não me deixe. Eu te amo.
Marlon
saiu da cela. E vendo que ele ia afastando-se, gritou:
-
Eu te amo. Não me deixa.
Marlon
saiu chorando. Pegou o seu carro e foi para casa. Quando chegou, trancou-se no
quarto. Jogou travesseiro, porta-retrato e um vaso com flores amarela no chão.
- Não acredito. – berrou. – como pude ser tão otário. Sempre
esteve em minha cama, uma interesseira. – sentou-se na cama. – Duvido que ela
me ame. Uma interesseira nunca vê o amor, mas sim o dinheiro. Não posso mais
acreditar nela. Traíra. – caiu no chão. Ficou sentado no pé da cama. – nunca tive
sorte na vida. Quando resolvo finalmente me apaixonar, acontece isso. Sou um
desgraçado, um otário, um estúpido... – voltou a chorar.
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