segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Capítulo 6: Dancin Days

CENA 01. BARONESA GLAM. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
AMANDA ENFURECIDA. JULIANA SACODE A MÃO NO AR, RI. AS PESSOAS EM VOLTA, CHOCADAS.
JULIANA – Nossa! (Ri) Foi bom!
AMANDA – (Enfurecida) Já acabou, Jéssica?
JULIANA DEBOCHADA. AMANDA OLHA EM VOLTA.
AMANDA – (Tom) Essa mulher tá louca! Tá drogada! Alguém chama a polícia pra levar essa maluca!
JULIANA – (Tom mais alto) Maluca eu fiquei quando eu pensei que podia confiar numa vagabunda igual você. Mas pode ter certeza que desse mal eu já to vacinada. (De dedo) E da próxima vez que você ousar fazer mais alguma coisa contra mim, ou tocar essa sua mãozinha suja na maçaneta da minha casa, você vai se arrepender do dia que você nasceu!
TODOS COCHICHAM. AMANDA COM ÓDIO, LÁGRIMAS NOS OLHOS.
AMANDA – (Tom baixo) Desgraçada!
JULIANA VAI SAIR, MAS VOLTA.
JULIANA – Ah só mais uma coisa...
JULIANA SE APROXIMA E DÁ OUTRO TAPA EM AMANDA. AMANDA DESEQUILIBRA E CAI NO CHÃO. AS PESSOAS COMENTAM MAIS.
AMANDA – (Grita) Sua desgraçada!
JULIANA SORRI DEBOCHADA E SAI DO AMBIENTE. TODOS CHOCADOS. AMANDA COM ÓDIO, NO CHÃO, SENTADA.
AMANDA – Vagabunda! Piranha!
AMANDA OLHA EM VOLTA.
AMANDA – (Berra) Tão olhando o que? Bando de idiotas!
AMANDA LEVANTA.
AMANDA – Ela vai se arrepender.
E AMANDA SAI DALI, SUBINDO AS ESCADAS PARA O ESCRITÓRIO. TODOS COMENTANDO A CENA.
CORTA PARA:

CENA 02. BARONESA GLAM. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
AMANDA ENTRA ENFURECIDA, BATE A PORTA. ELA VAI ATÉ SUA MESA, BATE COM FORÇA. CHORA DE RAIVA.
AMANDA – Maldita! Desgraçada! Mas você me paga! Vai me pagar caro, sua favelada!
AMANDA ARREMESA UM PORTA-RETRATOS NA PAREDE, ESTILHAÇA. TROVÕES SÃO OUVIDOS NO CÉU. AMANDA COM ÓDIO. CLOSE EM SEU OLHAR.
CORTA PARA:

CENA 03. PRÉDIO DE ALBERICO. FRENTE. EXTERIOR. DIA
UM CAMINHÃO DE MUDANÇAS ESTACIONADO EM FRENTE AO PRÉDIO DE ALBERICO. DOIS ENTREGADORES VÃO DESCENDO ALGUNS MÓVEIS. ENTRE OS DOIS, UM HOMEM, ALTO, BONITO, CABELOS PRETOS E CACHEADOS. ELE DESCE UM VIOLÃO. ANIMADO. DO OUTRO LADO DA RUA, VEM SE APROXIMANDO, FÁTIMA E PAULINA, COM SACOLAS DE MERCADO NAS MÃOS. ELAS OLHAM PARA A MOVIMENTAÇÃO, CURIOSAS.
PAULINA – Ó lá, dona Fátima. Chegou gente nova na área.
FÁTIMA – É mesmo. Quem será?
PAULINA – Bora chegar junto e descobrir.
FÁTIMA – Que jeito, Paulina! Ir bisbilhotar a vida dos outros é feio.
PAULINA – Feio é ser o último, a saber, das novidades. (Puxa o braço) Vem.
PAULINA VEM PUXANDO FÁTIMA. O CARA DO VIOLÃO PERCEBE AS DUAS.
PAULINA – Bom dia. Morador novo?
HOMEM – Sim. (Estende a mão) Conrado. Me mudei pro 301.
FÁTIMA – Olha, que coincidência. Moramos no 302. Vizinhos!
ELES SE CUMPRIMENTAM.
FÁTIMA – (Cumprimenta) Eu sou a Fátima, e essa é Paulina.
CONRADO – Ótimo. Duas vizinhas simpáticas. (Olha Fátima) E muito bonitas.
FÁTIMA SE CONSTRANGE. PAULINA FICA CHOCADA COM O ATREVIMENTO, RI.
CONRADO – Espero que a nossa convivência seja a melhor.
PAULINA – Ah, mas isso, com certeza.
FÁTIMA CUTUCA PAULINA QUE RI. CONRADO TAMBÉM.
CORTA PARA:

CENA 04. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA
PAULINA E FÁTIMA CHEGAM DA RUA. NINGUÉM NO AMBIENTE.
FÁTIMA – Você ainda vai me matar de vergonha, garota!
PAULINA – Mas a senhora não viu? Boy magia! (Se abana) Meu Deus, manda água que aqui tá quente. Fervo!
PAULINA GARGALHA. FÁTIMA TAMBÉM RI. TROVÕES ECOAM NO CÉU.
FÁTIMA – Ih, parece que São Pedro ouviu suas preces.
ELA VAI ATÉ A JANELA E DO SEU PV: O CAMINHÃO DE MUDANÇAS.
FÁTIMA – Coitado. Vai molhar as coisas do Conrado.
PAULINA – Porque a senhora não desce e dá uma mão? Parece que ele gostou muito da senhora.
FÁTIMA – (Constrangida) Me respeita, sua assanhada. Eu sou casada, tenho respeito pelo Alberico.
PAULINA – Com um cara desses, a última coisa que nós pensamos é o respeito.
FÁTIMA NEGA COM A CABEÇA, DIVERTIDA. PAULINA RI. EM FÁTIMA.
CORTA PARA:

CENA 05. APOLLO SPORTING. INTERIOR. DIA
MÚSICA ELETRÔNICA AMBIENTE. ACADEMIA CHEIA. PESSOAL JOVEM NOS APARELHOS TREINANDO. ALGUNS CARAS DE VENDO NO ESPELHO. CÂM DETALHA OS MÚSCULOS TORNEADOS. MULHERES SARADAS CORREM NAS ESTEIRAS OU FAZEM BIKE.
CÂM DESVIA PARA BRUNO LEVANTA UM PESO, ACIMA DO PEITO. VITÓRIA SE APROXIMA DISCRETA. EM OUTRA PONTA, LEILA E MARIANA CORREM NA ESTEIRA, A VISÃO DELAS DÁ PARA A ÁREA ONDE BRUNO ESTÁ TREINANDO. DO PV DE MARIANA: VITÓRIA, PRÓXIMA DE BRUNO. CÂM RETORNA AOS DOIS.
VITÓRIA – Bruno?
BRUNO SE VIRA. BAIXA A BARRA DE FERRO. SORRI, EDUCADO.
BRUNO – Vick! Oi.
VITÓRIA – Trouxe um isotônico pra você.
BRUNO – (Pega a bebida) Poxa, valeu.
BRUNO AGRADECE PISCANDO O OLHO. VITÓRIA SORRI. FREEZE NA REAÇÃO DE MARIANA. ELA DESLIGA A ESTEIRA.
LEILA – Ih, qual foi, Mari? Não vai fazer besteira. Já foi expulsa da academia naquele dia, com muito custo, o Urbano te aceitou de novo. Agora não vai fazer a mesma coisa...
MARIANA – Relaxa queridinha. Sei muito bem o que estou fazendo... Ou o que vou fazer.
LEILA – Ah, meu Deus!
E MARIANA SAI RUMO AO ENCONTRO DE BRUNO E VITÓRIA. LEILA DESLIGA O APARELHO E VAI ATRÁS DA AMIGA.
MARIANA – (Se aproximando) Bruno.
BRUNO SE VIRA. SORRI AMARELO. VITÓRIA FAZ CARA DE POUCOS AMIGOS.
MARIANA – Não sabia que agora você ficava de papo durante o treino. Vai desconcentrar, hein!
VITÓRIA – Eu só vim trazer um isotônico, já to de saída.
MARIANA – (Debocha) Como ela é boazinha!
BRUNO – Mari, não começa.
MARIANA – Não falei nada.
LEILA – Vem, amiga. Não vamos nos desconcentrar do nosso treino também.
MARIANA – Primeiro uma coisinha. Vitória, amor, ninguém te falou que essa pose de falsa sonsa não agrada mais? Isso pode até colar em novela, mas na vida real, o ritmo toca um pouco diferente.
VITÓRIA – Eu juro que não estou te entendendo, Mariana. Só vim trazer uma bebida pro garoto, o que tem de mais nisso?
BRUNO – Não tem nada demais mesmo. Agora vamos parar com isso? Tá ficando chato.
MARIANA E VITÓRIA SORRIEM FALSAMENTE UMA PARA A OUTRA E CADA UMA SEGUE PARA UM LADO. LEILA FICA ALI COM BRUNO.
LEILA – (Ri debochada) Arrasando corações, hein, Mr. Juan!
BRUNO – (Ri) Fazer o que né. Gato, gostoso, rico e cheiroso até quando transpira...
LEILA – Menos, man! A Gabriela que se cuide lá na Europa. Daqui a pouco o chifre atinge a Torre Eiffel.
BRUNO – O namoro com a Gabriela já subiu no telhado. Tô livre, leve e solto!
LEILA – Ah, é?!
LEILA RI, IRÔNICA. SAI. BRUNO SORRI, CAFAJESTE.
CORTA PARA:

CENA 06. APARTAMENTO DE BIBI. SALA. INTERIOR. DIA
PRIMEIRA VEZ QUE O AMBIENTE É MOSTRADO. SALA EM CORES QUENTES NAS PAREDES. MÓVEIS LUXUOSOS, MAS COM TOQUE EXAGERADO. LUSTRE NO MEIO DA SALA. BIBI, ANDA DE UM LADO AO OUTRO, COM O CELULAR EM MÃOS.
HENRIQUE – (OFF) Aqui é o Henrique. Não posso te atender agora, mas deixe seu recado que eu retorno assim que puder... Ou não.
BIBI DESLIGA, FRUSTRADA.
BIBI – Ele não me atende... Que saco!
NELA, ENTRISTECIDA.
CORTA PARA:

CENA 07. CLUBE DE TÊNIS. INTERIOR. DIA
AMBIENTE ABERTO E COBERTO. DANTE E HENRIQUE JOGAM UMA PARTIDA DE TÊNIS, COM ROUPAS AO ESTILO. CÂM EM FREEZE NO IPHONE DE HENRIQUE, COM DEZENAS DE CHAMADAS DE BIBI REGISTRADAS. CÂM VOLTA AO JOGO, HENRIQUE SACA E DANTE PERDE A JOGADA. HENRIQUE RI, ERGUE OS BRAÇOS.
HENRIQUE – (Tom alto) Deu! Chega!
DANTE – Ué, desistiu?
HENRIQUE – Cansei de ganhar de você. Tá sem graça!
HENRIQUE RI DEBOCHADO. DANTE JOGA A RAQUETE POR ALI. AMBOS VÃO TOMAR UMA ÁGUA. HENRIQUE PEGA O CELULAR, VÊ NA TELA AS CHAMADAS E BUFA.
HENRIQUE – Que merda!
DANTE – (Percebe) Que foi?
HENRIQUE – Uma mulherzinha pegajosa aí. Peguei e não larga mais. Um pé no saco!
DANTE – Ih, se ferrou! Quem é a vítima do Opala Preto da vez? (Ri).
HENRIQUE – Você conhece, a Bibi.
DANTE COMEÇA A RIR MUITO. HENRIQUE TAMBÉM RI.
HENRIQUE – Pode parando! Eu já sabia que a mulher era uma chave-de-cadeia, mas fazer o que?! A carne é fraca, pô!
DANTE – Arrumou encrenca pra no mínimo até a próxima Copa do Mundo.
HENRIQUE – Sem essa! Vou fazer ela me largar rapidinho!
DANTE – Posso saber como?
HENRIQUE – Rapaz, nem eu sei, mas vou saber... Aguarde os próximos capítulos!
HENRIQUE SAFO, RI. DANTE DESACREDITADO.
CORTA PARA:

CENA 08. APARTAMENTO DE ÁUREA. SALA. INTERIOR. DIA
ÁUREA SENTADA NO SOFÁ COM INÊS, BEM PRÓXIMA Á ELA. RAULZINHO E EDGAR TAMBÉM ALI.
ÁUREA – Eu quero meus presentes lá de Portugal, nem pensa que você vai escapar da tradição!
INÊS – Calma mãe. Nem abri as malas ainda. Relaxa que eu trouxe bastante coisa pra você sim. (P/ Edgar) Pra você também, papai!
EDGAR – Nem precisava se incomodar, minha filha.
RAULZINHO – Trouxe um vinho do Porto, magnífico sogrão!
EDGAR – Hum, fantástico!
RAULZINHO – Vou guardar pra uma ocasião especial... Quem sabe essa ocasião não possa ser hoje?
ÁUREA – Hoje? Porque hoje?
RAULZINHO – Só depende da sua filha, dona Áurea. Basta a Inês decidir finalmente a data do nosso casamento e parar de me enrolar. Tá feio já!
INÊS IMPACIENTE REVIRA OS OLHOS.
INÊS – Mal chegamos ao Rio de Janeiro e o Raul já quer ir pra catedral mais próxima falar com o padre sobre casamento. (Tenta ser leve) Meu amor, casamento hoje em dia tá tão em declínio. Parece índice de Governo, só cai nas pesquisas!
RAULZINHO – Mas pra mim não! Sou um homem das cavernas! Eu quero um casamento tradicional, na igreja, com tudo o que tem direito.
ÁUREA – Eu concordo! Minha filha, o seu noivo tem razão. Já está mais que na hora desse casamento sair. Foram anos de namoro, um tempo de noivado, viagem internacional pra ver como seria o relacionamento de vocês./
INÊS – (Corta/ Por cima) E pelo visto, se o casamento for igual à viagem, tirando os pontos turísticos, vai ser quebra-pau todo dia!
RAULZINHO – (Repreende) Inês!
EDGAR SE LEVANTA.
EDGAR – Tô vendo que se for depender da tal ocasião especial para abrir o legítimo vinho do Porto, ele vai virar vinagre, Raul!
EDGAR SAI DO AMBIENTE. TODOS SE ENTREOLHAM. RAULZINHO CONSTRANGIDO COM A SITUAÇÃO.
CORTA PARA:

CENA 09. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
UMA CHUVA TORRENCIAL CAI NA CIDADE. SONOPLASTIA: “CASTLE IN THE SNOW” – KADEBOSTANY. RAIOS CRUZAM O CÉU. AVENIDAS PARADAS EM MEIO À UM TRÂNSITO MAIS LENTO. PRAIAS DESERTAS E O CALÇADÃO DE COPACABANA QUASE VAZIO. PASSAGEM DE HORAS. ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DO PRÉDIO DE JULIANA. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA:

CENA 10. APARTAMENTO DE JULIANA. COZINHA. INTERIOR. DIA
JAMIL SENTADO À MESA. BOLO SOBRE A MESA. JAMIL COME. JULIANA PASSANDO CAFÉ.
JAMIL – Nossa Jú. Tá delicioso isso aqui. Fazia tempo que não comia esse seu famoso bolo de Fubá!
JULIANA – (Ri) Receita de família.
JAMIL – Conheço. Lembro do bolo da dona Edite, e você herdou o mesmo talento da sua mãe. Tá ótimo esse bolo.
JULIANA SERVE O CAFÉ E ENTREGA PARA JAMIL. SENTA-SE. AR TRISTE.
JAMIL – Tá bolada né?
JULIANA – Nem poderia ser diferente né, meu amigo. Eu saio pelo prédio e as pessoas começam a me olhar de jeito diferente, não consigo emprego... Pra variar, briguei com a Amanda hoje.
JAMIL – Você não deveria ter procurado ela, Jú. Fez mal em ter batido nela.
JULIANA – É eu sei. Ela poderia até me denunciar por isso. Como to na condicional, não devia ter facilitado. Pra quê fui dar na cara dela?
INSTANTES. JULIANA COMEÇA A GARGALHAR. JAMIL RI TAMBÉM.
JULIANA – Mas que foi bom, foi!
JAMIL – (Ri) Eu imagino. Queria ser uma mosca pra ver a cena.
JULIANA – Mas ao mesmo tempo, foi deprimente. Duas irmãs chegarem á esse ponto. Eu não queria, Jamil. Sério, cara! Me controlei até quando eu pude, mas a Amanda tem o dom de me tirar do eixo. Ela me tira completamente fora do meu astral e me traz pro nível dela.
JAMIL – Tenso. Mas daqui pra frente, o que pretende fazer?
JULIANA – (Pensativa) Eu não sei... Acho que o acordo com a Carminha acabou né? Depois de ontem, ela deve estar cheia de interrogações na cabeça.
JAMIL – Calma. Eu vou falar com ela.
JULIANA – Não. Se isso for te complicar com ela, não precisa. Tudo o que eu não preciso agora é servir de pivô pra qualquer desgraça em relacionamento alheio.
JAMIL – Você não é nenhuma desgraça, Jú. Vai ser bom ter você no apartamento do seu Alberico e vai ser bom pra ela te conhecer melhor. Conhecer tanto quanto eu sei desse seu coração de ouro. Eu sei que você não tem culpa pelo que vem acontecendo. É uma série de desastres. Mas calma, tudo vai se arrumar. Confia!
JULIANA SORRI. PEGA NA MÃO DE JAMIL.
JULIANA – Obrigada por tudo, meu amigo. Meu irmão!
JAMIL – Eu vou estar sempre aqui, mana. Pro que precisar. Você sabe disso!
JULIANA SE APROXIMA E ABRAÇA JAMIL. OS DOIS SE OLHAM CÚMPLICES.
JULIANA – (Emocionada) Não saberia como seria sem o seu apoio.
JAMIL – Agora vamos parar porque se não o café vai ficar amargo com o tanto de lágrima que tá brotando nesses olhos.
OS DOIS RIEM. JULIANA ENXUGA AS LÁGRIMAS. SORRI. NELA.
CORTA PARA:

CENA 11. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. FRENTE. EXTERIOR. DIA
A CHUVA CAI EM MENOR INTENSIDADE. CLOSE NA FRENTE DA MANSÃO PRATINI.
AMANDA – (OFF/ Grita) Vaca!
DANTE – (OFF/ Tom) Para com isso, Amanda!
UM ESTILHAÇO É OUVIDO. TROVÕES NO CÉU.
CORTA PARA:

CENA 12. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE AMANDA. INTERIOR. DIA
LIGAR NO ÁUDIO. AMANDA, TENSA, ACABA DE QUEBRAR O ESPELHO DO QUARTO. DANTE EM SEGUNDO PLANO ASSISTE PERPLEXO.
AMANDA – (Anda de um lado ao outro) Mas se ela acha que ela vai conseguir me desestabilizar, ela tá muito enganada! Ela não vai me enlouquecer! (Ri sozinha) Ah não, ela não vai!
DANTE – Do que você tá falando criatura? Ela quem?
AMANDA ENCARA DANTE. MUITO NERVOSA.
DANTE – De quem você tá sentindo tanto ódio assim?
AMANDA – Da pessoa que mais consegue me irritar nessa vida. Do carma que eu vou ter que carregar pendurado nas minhas costas pela eternidade.
DANTE CONTINUA SEM ENTENDER. AMANDA IMPACIENTE.
AMANDA – Juliana!
DANTE – Juliana? (Pensa, instantes) Juliana...
AMANDA – (Grita) A minha irmã, cacete!
DANTE PERPLEXO CAI SENTADO NA CAMA.
DANTE – Ela voltou?!
AMANDA – (Nervosa/ Quase em surto) Voltou! Aquela maldita cadela favelada voltou do Inferno pra me atormentar. Ela voltou para me desafiar, mas se ela pensa que vai conseguir, eu acabo com ela primeiro. Vamos ver quem tem mais poder de fogo.
AMANDA ANDA PELO QUARTO. DANTE AINDA CHOCADO.
CORTA PARA:

CENA 13. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. CORREDOR. INTERIOR. DIA
MARIANA VEM VINDO POR ALI QUANDO ESCUTA A DISCUSSÃO VINDA DA SUÍTE DE AMANDA. APROXIMA-SE PÉ ANTE PÉ, ATÉ PARAR ATRÁS DA PORTA, ATENTA.
DANTE – (OFF) Mais alguém sabe disso? Alguém que tenha contato com a sua irmã?
AMANDA – (OFF) Não. Não sei, Dante! Como vou saber das amizades delinqüentes da Juliana? Eu não sei! Ela me procurou e queria saber da Mariana. Eu não posso deixar que as duas se encontrem. Minha vida vai virar um Inferno!
MARIANA CHOCADA PÕE A MÃO NA BOCA.
CORTA PARA:

CENA 14. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE AMANDA. INTERIOR. DIA
DANTE LEVANTA-SE E SE APROXIMA DE AMANDA, TOCANDO EM SEU OMBRO.
DANTE – Calma. Ela não vai fazer uma coisa dessas na condição que ela tá agora. Deve estar destruída emocionalmente depois de todos esses anos.
AMANDA – Ah, meu querido, se ela tá destruída emocionalmente, eu vou destruir ela fisicamente. Ela pensa que é quem pra voltar depois de quinze anos reivindicando alguma coisa? Ela que se prepare, porque ela acha que eu vou permitir um absurdo desses, ela tá enganada.
DANTE – E pensa em fazer o que a respeito?
AMANDA – Por enquanto nada. Vou jogar xadrez com ela e esperar o próximo passo da vagabunda. Quero saber direitinho com quem eu to lidando depois de todos esses anos.
DANTE CONCORDA. AMANDA BUFA, FURIOSA.
CORTA PARA:

CENA 15. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
MARIANA ENTRA ALI, BATENDO A PORTA. AINDA CHOCADA COM TUDO O QUE OUVIU. ELA SENTA-SE NA CAMA. MISTO DE EMOÇÕES.
MARIANA – Eu não acredito... A minha mãe. Ela voltou! (Sorri) A minha mãe voltou!
EM MARIANA. FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 16. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE
FADE-IN. CHUVA JÁ CESSADA NA CAPITAL. TAKES BONITOS DA NOITE CARIOCA.
SONOPLASTIA: “PRIMA DONNA” – CHRISTINA AGUILERA.
TAKES DO BAIRRO DE COPACABANA. POR FIM, NA FACHADA DO PRÉDIO DE ALBERICO. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA:

CENA 17. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE
TODOS JANTAM. MESA POSTA.
CARMINHA – Papai, o senhor ainda não disse onde arrumou esse dinheiro!
ALBERICO – Um velho amigo me emprestou, Carminha. Já disse isso.
FÁTIMA – Que amigo Alberico? Não foi nenhum agiota né? Se nos encrencarmos com agiota, eu juro que saio dessa casa e você não me vê mais!
ALBERICO – Parem com isso, por favor. Até parece que sou uma criança, a quem vocês precisam ficar regulando todo o tempo para não aprontar.
JAMIL – Quase isso, seu Alberico (Ri).
ALBERICO – Pois saibam vocês que esse amigo que emprestou um dinheiro, me disse que era pra eu investir no meu sonho. Se o meu projeto é audacioso, é brilhante e até mesmo inovador, foi graças ao meu talento e meu faro (levanta o nariz) meu faro certo para os negócios.
ÁUREA – Por favor, papai. Não seja ridículo. Quem tem faro é cachorro e o Rodrigo.
ALBERICO – Não entendi.
EDGAR – O que a Áurea quis dizer, meu sogro, é que o senhor é um fracasso em tudo o que o senhor coloca a mão. Efeito Rei Midas só que ao contrário, entendeu?
ALBERICO CHATEADO ENCARA A FAMÍLIA E LEVANTA-SE, JOGANDO O GUARDANAPO NA MESA.
ALBERICO – Vocês ainda vão se surpreender com o meu sucesso. E quando eu estiver lá no topo da cadeia alimentar, não venham me bajular e querer um pouco da fatia do meu sucesso. (Sentido) Vocês não sabem me valorizar!
TODOS SE ENTREOLHAM. ALBERICO SAI, FAZENDO DRAMA.
CARMINHA – (Vai levantar) Papai, volta aqui.
PAULINA – Deixa dona Carminha. É tipo do seu Alberico! Não conhece? Logo reconhece que o tal projeto inovador é um fracasso e vai ficar aqui pedindo penico pra gente, relaxa a marimba aí, monamú!
FÁTIMA – Ás vezes eu não entendo o que essa garota fala.
VITÓRIA – Efeitos dos virais da Internet, tia. Deixa pra lá.
FÁTIMA – Enfim... Eu tenho dó do seu pai, Carminha. Alberico nunca foi um homem prático e a coisa só piora com o tempo.
JAMIL – Até porque é com o tempo que chegam as contas de energia, de gás, de água e a coisa nesse país só piora.
CARMINHA – O papai precisa levar um choque de realidade para acordar, mas como?
ÁUREA – O que ele precisa é ficar sem dinheiro. Mas sempre tem um idiota para colocar grana na mão do papai.
EDGAR – Perda de tempo e dinheiro mal empregado. Ah eu com esse dinheiro...
PAULINA – (Provoca) Ia fazer o que, seu Edgar? Fechar uma zona na Lapa e mandar descer as preparadas?
PAULINA RI. VITÓRIA RI, MAS DISFARÇA. ÁUREA COM CARA FECHADA.
ÁUREA – Meu Deus, quem resolveu dar voz para essa criatura?! Ô queridinha, aqui não é novela do Manoel Carlos onde empregada tem história própria.
PAULINA – Aqui não é nem novela, acorda, filhota.
CARMINHA – Hei! Vão começar as duas? Chega, gente. Não vamos conseguir fazer uma refeição em paz nessa casa?
FÁTIMA PENSATIVA, PREOCUPADA. CLOSES ALTERNADOS. CARMINHA SUSPIRA TAMBÉM PREOCUPADA.
CORTA PARA:

CENA 18. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE
À CABECEIRA, FRANKLIN. ALI, CELINA, CADÚ E BRUNO.
CELINA – E como foi o dia hoje no escritório, Cadú?
CADÚ – (Desinteressado) Estimulante...
BRUNO – Mais divertido que o Tomara que Caia. Depois dessa demonstração de empolgação, quero fazer tour todo dia no escritório.
BRUNO RI. CELINA NÃO ACHA GRAÇA.
FRANKLIN – O Cadú foi apenas conhecer como funciona as coisas e ver a nova sala dele. Foi conhecer o terreno.
CELINA – Que bom. Fico feliz que o Cadú vai ter uma sala só dele.
FRANKLIN – É claro que teria uma sala só dele. Eu sou o dono do escritório, não iria colocar o Carlos Eduardo pra dividir sala com estagiário.
CADÚ ENFADADO COM O ASSUNTO, APENAS COME EM SILÊNCIO.
CELINA – Ah, mas eu tenho certeza que o Cadú naquele escritório vai ser um arraso Vai pegar as causas mais importantes, não é filho?
CADÚ – (Concorda) Claro.
CELINA – Cadú, fala alguma coisa, meu amor. Tá quietinho. A comida não tá boa? Eu sabia que aquela comida de boteco da./
CADÚ LEVANTA-SE, EXPLODE.
CADÚ – (Explode/ Tom agressivo) Para, pelo amor de Deus! Eu não agüento mais ouvir vocês reclamando da comida!
FRANKLIN – Cadú, isso não são modos./
CADÚ – (Por cima) Ah, é? E que modos que eu tenho que seguir então? Os seus? Da mamãe enchendo o saco de todo mundo nessa casa, manipulando como ela quer como se nós fossemos os fantoches do teatrinho da família Dó-Ré-Mi? Ou o seu papai, que finge que é feliz naquele escritório medíocre? Vocês são ridículos! Essa família, essa casa, essa mentira que vocês vivem. Isso tudo é uma farsa!
CELINA – (Tom) Carlos Eduardo, cala a boca!
CADÚ – Não, mamãe. Chega! Deu dessa historinha pra mim. Eu não vou ficar aqui compactuando e balançando a cabeça igual figurante de novela. Acabou brincar de ir ao escritório, me afundar em problemas que não me interessam! Que não são meus! Eu já tenho problemas suficientes dentro dessa casa com vocês dois!
BRUNO – Eita, Giovana!
CADÚ – O Bruno é que tá certo.
FRANKLIN – (Tom alto) O seu irmão é um vagabundo!
BRUNO – Já acabou, Jéssica?!
CADÚ – Ele pelo menos não fica fingindo uma coisa que ele não é! O Bruno sabe viver e vive muito bem. Sendo rotulado de vagabundo ou não, ele pelo menos deixa claro o que é e não fica se escondendo atrás dessas mascaras perfeitas só pra mostrar pra sociedade que é um Fraga Linhares. Vocês não percebem o quanto isso é ridículo?
CELINA – Ridículo são esses seus ideais comunistas. Seu subversivo!
CADÚ COMEÇA A RIR. PASSA A MÃO PELO ROSTO.
CADÚ – Eu não vou ficar aqui discutindo essa idiotice com você. Não com você, Celina!
CELINA – (Chocada) Celina?!
CADÚ VAI SAINDO. CELINA E FRANKLIN SE LEVANTAM.
FRANKLIN – (Grita) Volta aqui, moleque!
CELINA – Meu Deus! Onde o Cadú aprendeu essas coisas? Alguém virou a cabeça desse garoto no exterior. Foi isso!
BRUNO – No exterior da sua barriga. Mãe, acorda, o Cadú já nasceu e não vive mais dentro de você. Para de querer manipular a vida dele.
FRANKLIN – O que é isso você também? Virou motim isso aqui?
CELINA – Os meus filhos se voltando contra mim!
CELINA DRAMÁTICA SAI DALI. FRANKLIN SENTA EM SEU LUGAR. PENSATIVO. BRUNO TAMBÉM LEVANTA.
BRUNO – Bom, vou vazar também.
FRANKLIN – Vai pra onde? Ainda não terminou o jantar.
BRUNO – Ah, vai ter Vale a Pena ver de Novo? Pensei que ia ser exibição única do espetáculo. (Ri) Fui!
E BRUNO SAI. FRANKLIN BUFA.
CORTA PARA:

CENA 19. MANSÃO FRAGA LINHARES. SUÍTE DE CADÚ. INTERIOR. NOITE
AMBIENTE MASCULINO. PAPEL DE PAREDE EM TONS AZUIS. CAMA KING, CLOSET, GRANDE ESPELHO. PRATELEIRAS COM LIVROS, E ALGUNS ELEMENTOS DA INFÂNCIA DE CADÚ, COMO CARRINHOS E UMA BOLA DE FUTEBOL ANTIGA. RETRATOS ALI. CADÚ VEM DO CLOSET, TROCANDO A CAMISA. CELINA ENTRA NO QUARTO, INTEMPESTIVA.
CADÚ – Agora não bate mais na porta também?
CELINA – Bater na porta da minha casa? Acho que não!
CADÚ – Vai jogar na cara agora que essa casa é sua? Posso sair se você quiser.
CELINA – Quem tá te influenciando, Carlos Eduardo?
CADÚ – A vida, dona Celina. A vida tá me influenciando a não engolir mais certas coisas.
CELINA – Você não vai largar a sua carreira. O seu futuro!
CADÚ – (Ri) E quem vai me impedir de fazer isso? Você? Posso saber como?
CELINA – Não me testa Cadú!
CADÚ – Quer me ameaçar? Ameaça em off, porque eu já fui!
CELINA – Você não vai sair!
CADÚ – Só se você me amarrar! Acho que não. Espera o remake dessa cena, vai que tem final alternativo!
CADÚ EMPURRA A MÃE E SAI. CELINA SENTA-SE NA CAMA DE CADÚ, COM RAIVA, ESMURRA O COLCHÃO.
CORTA PARA:

CENA 20. COPACABANA. PRAIA. EXTERIOR. NOITE
PLANO GERAL DO CALÇADÃO.
SONOPLASTIA: “POWERFUL” – MAJOR LAZER FT. ELLIE GOULDING & TARRUS RILEY.
JULIANA CAMINHA POR ALI, TOMANDO UMA ÁGUA DE COCO. CORTA PARA A AVENIDA ATLÂNTICA. CADÚ ANDA EM ALTA VELOCIDADE. FLASHES DE SUA DISCUSSÃO COM CELINA. O RAPAZ BEM ESTRESSADO DIRIGE. CORTES DESCONTÍNUOS DE JULIANA VIRADA DE COSTAS PARA O MAR E DE FRENTE PARA A AVENIDA.
UM CACHORRO CRUZA A ESTRADA E CADÚ FAZ UM CRUZAMENTO A TODA, INDO PARA CIMA DO ANIMAL. JULIANA ASSISTE A CENA E TENTA CORRER PARA SALVAR O CACHORRO. MAS É TARDE. CADÚ ATROPELA O ANIMAL. FREIA BRUSCAMENTE. JULIANA JOGA A ÁGUA DE COCO NA RUA E CORRE ATÉ ELE.
JULIANA – (Grita) Seu imbecil! Você atropelou ele!
CADÚ DESCE DO CARRO, COM A MÃO NA CABEÇA, MUITO PREOCUPADO. JULIANA TENTA ACUDIR O CACHORRO, COM A RESPIRAÇÃO FRACA, FERIDO.
CADÚ – Desculpa, eu... Nossa!
JULIANA LEVANTA-SE E ENCARA CADÚ. ESMURRA CONTRA O SEU PEITO.
JULIANA – Seu desgraçado!
JULIANA COMEÇA A CHORAR, ESMURRANDO CADÚ, QUE SEGURA OS SEUS PULSOS. OS DOIS SE OLHAM COM INTENSIDADE. MÚSICA EXPLODINDO NA TELA. SLOW-MOTION, OS DOIS SE ENCARANDO. CLOSES ALTERNADOS. ÂNGULO LATERAL MOSTRA O PRIMEIRO ENCONTRO DE CADÚ E JULIANA.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

FIM DO CAPÍTULO 06

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