CENA 01. APARTAMENTO DE JULIANA.
SALA. INTERIOR. NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO
ANTERIOR.
JULIANA ATORDOADA OLHA JAMIL E CARMINHA, IGUALMENTE
CHOCADOS COM A SITUAÇÃO. O POLICIAL SEGURA OS SACOS DE COCAÍNA.
JULIANA – Eu juro que não é meu isso aí!
(Chora) Eu juro por tudo que é mais sagrado!
CARMINHA – Deve estar havendo algum
engano.
POLICIAL 01 – Agora a senhora vai me dizer
que ao invés de cocaína, isso aqui também é um engano? Seria o que? Farinha?
JAMIL – Vamos conversar com calma, por
favor.
CABO NELSON – Não tem o que conversar aqui,
cidadão. (À Juliana) Nós vamos conversar na delegacia.
O CABO NELSON OLHA JULIANA CHORANDO. TIRA AS
ALGEMAS DA CINTURA.
CABO NELSON – A senhora está presa, dona
Juliana.
JULIANA OLHA ATORDOADA PARA OS POLICIAIS E PARA O
PAR DE ALGEMAS. OLHAR DESESPERADO. CLOSES ALTERNADOS.
CORTA PARA:
CENA 02. HÍPICA. SALÃO. INTERIOR.
NOITE
FESTA ROLANDO. CELINA E FRANKLIN FALANDO COM ALGUNS
AMIGOS. CADÚ E MARIA LÚCIA EM UMA MESA. ELA FALA SEM PARAR EM OFF, ENQUANTO
ROLA UMA MÚSICA VINDA DA ORQUESTRA. CADÚ NOTAVELMENTE IMPACIENTE. OLHA O
RELÓGIO DE PULSO.
MARIA LÚCIA – Você não acha, Cadú?
CADÚ DESPERTA OLHA PARA MARIA LÚCIA.
CADÚ – Acho?
MARIA LÚCIA – Isso. Você não acha que o
Brasil deveria ter um plano socioeconômico visando a comparação com o sistema
norte-americano?
CADÚ – (Chateado) Ah, claro. Acho
sim. Ótima idéia.
CADÚ SE LEVANTA.
CADÚ – Agora se me der uma
licencinha, eu vou pegar uma bebida.
MARIA LÚCIA – Claro. Toda.
CADÚ SE LEVANTA E SAI, BUFANDO. CELINA PERCEBE E SE
APROXIMA DE MARIA LÚCIA.
CELINA – Então, minha querida, vi de
longe que o papo estava fluindo, hein.
MARIA LÚCIA – Na verdade, não muito, Celina.
O Cadú não parece ter gostando tanto de mim.
CELINA – Calma, minha querida. O Cadú
chegou hoje de viagem, ainda está com o fuso-horário alterado. Logo, ele vai
lhe dar a devida atenção que você merece. Meu filho é um gentleman!
MARIA LÚCIA SORRI AMARELO. CORTA PARA CADÚ, PRÓXIMO
AO BAR, AVISTA UM AMIGO. ESTATURA MEDIANA, CABELOS LOUROS, NÃO MUITO BONITO. SE
APROXIMA.
CADÚ – Alberto?
ALBERTO SE VIRA. JÁ CUMPRIMENTANDO.
ALBERTO – Cadú! Quanto tempo cara!
CADÚ – Desde Machu Pichu! Cara, você
não mudou nada. (Olha em volta) E a Gisele?
ALBERTO – Então, irmão. Nós nos
separamos. Sabe como é... Ela não me dava atenção. Preciso de uma mulher que
fale comigo.
CADÚ COMEÇA A RIR.
ALBERTO – (Não entende) Falei algo
engraçado?
CADÚ – Não. É porque eu acho que
tenho a mulher perfeita pra você, meu amigo.
ALBERTO – (Animado) Sério?
CORTA PARA CADÚ E ALBERTO DIANTE DE MARIA
LÚCIA.
CADÚ – Maria Lúcia, quero te
apresentar um grande amigo, esse é Alberto Parreira. Alberto, essa é Maria
Lúcia Magalhães Mota.
ALBERTO CUMPRIMENTA MARIA LÚCIA COM UM BEIJO NO
ROSTO.
ALBERTO – Encantado.
OS DOIS TROCAM OLHARES. CADÚ SORRI, SATISFEITO.
CELINA EM SEGUNDO PLANO PERCEBEU O TRUQUE, OLHA EM REPROVAÇÃO. CADÚ SE VIRA
PARA A MÃE E SORRI, DEBOCHADO. CELINA NEGA COM A CABEÇA. EM CADÚ.
CORTA PARA:
CENA 03. APARTAMENTO DE JULIANA.
SALA. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 01/ Cap. 05.
JULIANA NEGA COM A CABEÇA. JAMIL TOMA À FRENTE.
JAMIL – Eu confesso. Essa droga...
(Titubeia) Ela é minha.
CARMINHA – (Chocada) O quê?
CARMINHA E JULIANA OLHAM PARA JAMIL, QUE CONFIRMA.
JAMIL – É minha sim. (Para Juliana)
Não precisa esconder, Jú. Tá tudo bem. (P/ o policial) Essa droga é minha, eu
peguei hoje à tarde e pedi pra Juliana guardar pra mim. Ela não tem nada a ver
com isso. Ela nem queria. É minha!
CARMINHA – É mentira isso!
JULIANA – Jamil.
JAMIL – (Tom alto) É minha! Eu já
confessei, não confessei?
JAMIL OFERECE OS BRAÇOS PARA O CABO NELSON.
JAMIL – Vai, pode me prender. Só deixa
a Juliana fora disso, porque esse negócio aí é meu.
JULIANA – Jamil, por favor.
CABO NELSON – (Á Juliana) A senhora confirma
a versão do seu amigo? O senhor...
JAMIL – Jamil Alvarenga.
CABO NELSON – (Completa) Jamil Alvarenga
como dono da substância encontrada no seu apartamento?
JULIANA – (Nervosa) Eu...
JAMIL – (Corta/ Insiste) Ela tá
nervosa. Mas pode confessar, Juliana. É sim, essa droga é minha. O senhor vai
demorar muito pra me prender ou vou ter que desacatar pra ir mais rápido?
POLICIAL 01 – Muito bem, se essa droga é
sua, então o senhor está preso.
O CABO ALGEMA JAMIL, SOB OS OLHARES CHOCADOS DE
CARMINHA.
CARMINHA – (Nervosa) Amor...
JAMIL OLHA CARMINHA, OS DOIS PENALIZADOS. EM
JULIANA COMPLETAMENTE PERDIDA. JAMIL ALGEMADO.
CORTA PARA:
CENA 04. PRÉDIO DE JULIANA.
PORTARIA. INTERIOR. NOITE
MOVIMENTAÇÃO. ALGUNS MORADORES DO PRÉDIO ALI
PRESENTES. VIATURA NA PORTA. OS DOIS POLICIAIS VEM TRAZENDO JAMIL À FRENTE, COM
AS MÃOS ALGEMADAS. MAIS ATRÁS ESTÃO CARMINHA E JULIANA, À PASSOS LARGOS. TODOS
OLHANDO O QUE ACONTECE. O PORTEIRO DO CAPÍTULO ANTERIOR TAMBÉM POR ALI. JAMIL
BAIXA A CABEÇA, ENVERGONHADO. É ESCOLTADO ATÉ A VIATURA. FICAM CARMINHA E
JULIANA.
CARMINHA – Isso é mentira! O Jamil nunca
fez uma coisa dessas!
JULIANA – (Confirma) Claro que é
mentira. Ele fez isso pra me proteger.
CARMINHA ENCARA FORTEMENTE JULIANA.
CARMINHA – Aquela droga era sua?
JULIANA – Olha, Carminha, aquela droga
não é minha. Eu nunca vi aquilo na minha vida. Eu juro! Juro pela minha filha!
CARMINHA NÃO MUITO CONVENCIDA, ASSENTE. CLIMA DE
DESCONFIAÇA. CÂM VOLTA PARA A VIATURA. JAMIL JÁ DENTRO DO CAMBURÃO. CARRO
PARTE, REFLEXO DE JAMIL NO VIDRO. PV DE CARMINHA: JAMIL BAIXA A CABEÇA.
CARMINHA CHORA.
CORTA PARA:
CENA 05. RIO DE JANEIRO. DELEGACIA
DE COPACABANA. SALA DO DELEGADO. INTERIOR. NOITE
JAMIL DE FRENTE PARA UM HOMEM GORDO, BAIXINHO E COM
BARBA POR FAZER. ESCRIVÃO TOMA NOTA.
DELEGADO – Então aquela droga encontrada
no apartamento em posse da dona Juliana, é sua?
JAMIL – É minha sim, delegado.
DELEGADO – E o senhor se considera
traficante?
JAMIL – Não! Nunca fui traficante. Era
pra uso pessoal mesmo.
O DELEGADO SE ENTREOLHA COM O ESCRIVÃO.
DELEGADO – Então se fizermos um exame
toxicológico no senhor, isso confirma que o senhor é viciado nesse
entorpecente?
JAMIL FICA NERVOSO, DESVIA O OLHAR.
JAMIL – Já disse que aquela droga era
minha. (Pausa) Eu vou ser preso?
O DELEGADO OLHA DESCONFIADO PARA JAMIL.
DELEGADO – Seu Jamil, o senhor por um
acaso não estaria mentindo para acobertar a verdadeira identidade do portador
dessa cocaína, estaria?
JAMIL FICA RETICENTE, MAS ENCARA.
JAMIL – Não senhor.
INSTANTES. O DELEGADO BALANÇA A CABEÇA
POSITIVAMENTE.
DELEGADO – Muito bem então. Aqui diz que
o senhor não tem passagens pela polícia, é réu primário, tem endereço fixo,
emprego... O senhor não vai ser detido não. A quantidade encontrada caracteriza
tráfico, mas com os seus antecedentes, nós vamos deixar passar...
JAMIL RESPIRA ALIVIADO.
DELEGADO – (Completa) Desta vez!
JAMIL ASSENTE. ESCRIVÃO CONTINUA DIGITANDO.
JAMIL – Ótimo. Eu vou ser liberado
então?
DELEGADO – Sim. O senhor está liberado,
mas terá ainda que prestar outro depoimento ainda nesta semana.
JAMIL CONCORDA. O DELEGADO FAZ SINAL. O POLICIAL NA
PORTA ABRE A MESMA E JAMIL SORRI, ALIVIADO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 06. DELEGACIA. INTERIOR.
NOITE
JAMIL VEM CAMINHANDO POR ALI. CARMINHA E JULIANA
SENTADAS, CADA UMA EM UM CANTO DA SALA DE ESPERA. MOVIMENTAÇÃO NO LOCAL.
CARMINHA AO VER JAMIL, CORRE ATÉ ELE E O ABRAÇA, PULANDO EM CIMA. JAMIL RI.
CARMINHA – Ai, meu Deus! Que bom te ver!
Que bom, meu amor!
E CARMINHA O BEIJA, ABRAÇA FORTE.
JAMIL – Eu fui liberado.
JULIANA – (Se aproximando) O que o
delegado falou, Jamil?
JAMIL – Eu não tenho antecedentes
criminais e isso me ajudou muito. Eu não vou ser preso, apesar da quantidade
caracterizar tráfico de drogas.
CARMINHA – Meu Deus! Que pesadelo mais
horrível eu passei nessas últimas horas!
JAMIL – Calma, meu amor. Já passou.
JULIANA – Jamil... Aquela droga. Ela não
era sua.
JAMIL E JULIANA SE ENCARAM.
JAMIL – Não quero falar sobre isso
aqui dentro. Vamos pra casa?
CARMINHA CONCORDA. EM JAMIL.
CORTA PARA:
CENA 07. DELEGACIA. FRENTE.
EXTERIOR. NOITE
JAMIL SAI DE BRAÇOS DADOS COM CARMINHA. JULIANA AO
LADO.
CARMINHA – Amor, porque você mentiu
daquele jeito pra polícia? Você poderia ter sido preso!
JAMIL – Eu não poderia deixar que
acusassem a Juliana injustamente.
CARMINHA – Injustamente...
JULIANA – Carminha, eu juro, aquela
droga no meu apartamento... Ela não era minha. Plantaram lá. De alguma forma,
armaram pra mim. Armaram pra que eu fosse presa de novo.
JAMIL – Eu sei que aquela droga não
era sua, Jú.
CARMINHA AINDA NÃO MUITO CONVENCIDA, QUIETA.
JULIANA – Eu não sei por que colocaram
aquilo no meu apartamento.
JAMIL – Jú... Será que./
JULIANA PENSATIVA. ENCARA JAMIL.
JULIANA – Você acha que é a mesma pessoa
que eu penso que é?
JAMIL ASSENTE QUE SIM. JULIANA PENSATIVA.
CORTA PARA:
CENA 08. AVENIDA ATLÂNTICA.
EXTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA: “MIL
ACASOS” – SKANK.
AVENIDA ATLÂNTICA EM SUA EXTENSÃO. ÂNGULO SUPERIOR.
CLOSE NO CARRO DE HENRIQUE. ELE AO VOLANTE. AO SEU LADO ESTÁ BIBI. ELA
ALTERADA, CURTE A MÚSICA, QUE TOCA NO RÁDIO DO CARRO.
BIBI – (Grita) Uhul que hoje eu to
animada!
HENRIQUE – (Ri) Você tá é bêbada, Bibi!
BIBI – Que seja, gato!
BIBI COLOCA A CABEÇA PARA FORA DO CARRO E GRITA,
ANIMADA.
HENRIQUE – (Ri) Bota a cabeça já pra
dentro desse carro! Sua doida!
BIBI COLOCA A CABEÇA PARA DENTRO DO CARRO E JÁ
ATACA HENRIQUE. SONOPLASTIA OFF.
BIBI – Sabia que eu sempre te achei
uma delícia, Henrique?
HENRIQUE – Ah é?
BIBI – Nossa. Você é um homem de
verdade, sabe! Macho com pegada! Categoria classe A!
HENRIQUE RI. BIBI TAMBÉM. ELA VAI PASSANDO A MÃO
PELA PERNA DE HENRIQUE. CÂM DETALHA.
HENRIQUE – Calma aí. Vai devagar com essa
mão, girl!
BIBI – (Ri) Por quê? Vai me denunciar
por assédio sexual?
HENRIQUE – Quem sabe...
BIBI – Poderia ser melhor...
BIBI CHEGA PERTO DO OUVIDO DE HENRIQUE. FREEZE NOS
LÁBIOS DELA.
BIBI – Poderia me denunciar então por
estupro.
HENRIQUE SORRI, A OLHA. BIBI PASSA A LÍNGUA PELOS
LÁBIOS. ELE RI.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 09. APARTAMENTO DE HENRIQUE.
SALA/ SUÍTE. INTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA: “LEAN ON” – MAJOR LAZER FT.
DJ SNAKE.
HENRIQUE JÁ ABRE A PORTA DO APARTAMENTO, COM BIBI
AOS BEIJOS, AGARRADA EM SEU PESCOÇO. AMBIENTE MODERNO, APARTAMENTO TÍPICO DE
HOMEM SOLTEIRO. COM MÓVEIS E ELETRÔNICOS DISPOSTOS ALI. HENRIQUE FECHA A PORTA
COM O PÉ E BIBI SE JOGA EM SEU SOFÁ.
BIBI – Vem cá, vem!
HENRIQUE VAI TIRANDO A CAMISA. SE JOGA POR CIMA DE
BIBI. OS DOIS NO MAIOR TESÃO, VÃO SE AGARRANDO.
HENRIQUE – Vamos pro quarto. Mais
aconchegante.
BIBI CONCORDA E GRUDA NO PESCOÇO DELE. HENRIQUE VAI
ARRASTANDO BIBI, ENQUANTO A BEIJA.
CORTA PARA A SUÍTE, HENRIQUE ENTRA ABRUPTO E JÁ
JOGA BIBI SOBRE A CAMA.
BIBI – Uau! Não errei quando falei da
pegada!
HENRIQUE – Pegada você vai ver agora, sua
cachorra!
E HENRIQUE ARRANCA A ALÇA DA BLUSA DE BIBI, RASGANDO.
ELA RI. TAMBÉM ARRANCA A CALÇA DELE. CORTES DESCONTÍNUOS. BIBI E HENRIQUE
COMEÇAM NAS PRELIMINARES. ELE BEIJA SUA BARRIGA, ELA AINDA DE SUTIÃ. OS DOIS
AOS BEIJOS. CLIMA QUENTE. ÂNGULO SUPERIOR. CÂM DESFOCA ATÉ FADE-OUT.
CORTA PARA:
CENA 10. RIO DE JANEIRO.
EXTERIOR. DIA
FADE-IN. AMANHECE NO RIO DE JANEIRO. BONDINHOS NO PÃO DE
AÇÚCAR CIRCULANDO, PESSOAS EM SEU COTIDIANO. TRÂNSITO GANHANDO AS RUAS. PRAIAS
GANHANDO PESSOAS EM SUAS AREIAS. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA:
CENA 11. PRÉDIO DE JULIANA. PORTARIA.
INTERIOR. DIA
JULIANA DESCE AS ESCADAS. PASSA POR DUAS SENHORAS
QUE CONVERSAM NA ESCADARIA, AO VEREM JULIANA PASSAR, A OLHAM DE MANEIRA
ESTRANHA. JULIANA PERCEBE E SEGUE. AVISTA O PORTEIRO.
JULIANA – Seu Zé. (Alcança) Posso dar
uma palavrinha com o senhor?
PORTEIRO – Juliana me desculpa por ontem.
Eu não sabia o que dizer à polícia.
JULIANA – Tudo bem. O senhor fez o seu
papel. Não podia simplesmente mentir... Bem, não é isso. Eu quero sabe se além
das duas pessoas que estiveram comigo aqui, ontem. Teve mais alguém que tenha
vindo ao meu apartamento?
CLOSES ALTERNADOS. O PORTEIRO LÍVIDO. EM JULIANA
QUESTIONANDO.
CORTA PARA:
CENA 12. AEROPORTO DO GALEÃO.
ÁREA DE DESEMBARQUE/ SAGUÃO. INTERIOR. DIA
PLANO ABERTO DA ÁREA DE DESEMBARQUE. ENTRE AS PESSOAS,
VEM EMPURRANDO UM CARRINHO COM BAGAGENS: UM HOMEM ALTO, CABELO RASPADO, LOURO,
OLHOS AZUIS E MUITO FORTE. AO SEU LADO, UMA BELA MOÇA, MAGRA, CORPO ESBELTO E
CABELOS ONDULADOS, À ALTURA DO OMBRO. AMBOS DE ÓCULOS ESCUROS. CÂM DESVIA PARA
A ÁREA DA FRENTE, ONDE HÁ UMA SEGUNDA MULHER: LOURA, ALTA, MAGRA. ELA SEGURA UM
CARTAZ COM OS DIZERES: ‘’RAULZINHO E INÊS
SEJAM BEM-VINDOS’’.
OS DOIS JOVENS AVISTAM. A MULHER BAIXA O CARTAZ.
SORRIDENTE. ELES VÊM SE APROXIMANDO, MAIS RÁPIDOS.
RAULZINHO – (Abre os braços) Mãe! Saudade!
MULHER 02 – (Beija no rosto) Vocês quase
me mataram nesse último mês! Custava ligar?
INÊS – Ligar mais ainda, minha sogra?
Só se parássemos em cada padaria de Lisboa para ligar para o Brasil.
AS DUAS SE CUMPRIMENTAM COM UM ABRAÇO. FELIZES.
MULHER 02 – Eu não quero saber. Vocês me
largaram de mão aqui no Brasil.
RAULZINHO – Dona Emília sempre exagerada.
Tinha esquecido esse seu talento para cenas de novela mexicana, mãe.
EMÍLIA – Ya mucha honra.
OS TRÊS RIEM.
EMÍLIA – Vamos? Preparei um almoço
especial pra vocês lá no bistrô. Com direito à tudo o que tem direito.
INÊS – Tendo a boa e velha comida
brasileira tá ótima. Não agüento mais comer bacalhau e pastel de Belém (Ri).
OS TRÊS SAEM, CONVERSANDO EM OFF. DIVERTIDOS.
CORTA PARA:
CENA 13. COPACABANA. BISTRÔ
CASTRO MAISON. FRENTE. EXTERIOR. DIA
PLANO ABERTO MOSTRANDO O BISTRÔ FINO DE EMÍLIA.
FACHADA REQUINTADA, EM CORES CLARAS, GRANDE JANELÃO DE VIDRO, ONDE VEMOS AS
MESAS DISPOSTAS.
CORTA PARA:
CENA 14. BISTRÔ CASTRO MAISON. INTERIOR.
DIA
ARQUITETURA REFINADA. MÚSICA AMBIENTE. PAREDES
BRANCAS, COM PAPEL DE PAREDE EM LEVE FLORAL, COM ORQUÍDEAS DISPOSTAS EM
ARRANJOS BONITOS. MESAS ORGANIZADAS COM ESPAÇO ENTRE ELAS. EM UMA DAS MESAS ESTÁ
RAULZINHO, INÊS E EMÍLIA. ALMOÇAM. CONVERSA À MEIO.
EMÍLIA – Mas deu tempo de se divertirem
pelo menos em Portugal?
INÊS – Tirando os constantes
seminários que o Raulzinho tinha que ir para concluir o curso, a viagem foi
magnífica. Cada coisa linda, Emília.
RAULZINHO – A Inês que exagera. Bateu perna
naquelas vielas durante todos os dias.
INÊS – (Discreta) E todo dia tinha
uma briga nova por ciúmes.
RAULZINHO – Os portugueses são atirados!
(À Emília) Se a senhora acha que os cariocas são cara-de-pau, porque ainda não
conheceu os lusitanos.
EMÍLIA – Ai, meu filho. Criou confusão
com alguém lá?
RAULZINHO – Claro que não.
INÊS – (Corrige) Claro que sim!
(Encara Raulzinho) Essa viagem só provou que o meu noivo tem ciúme até da
própria sombra. Como se eu já não soubesse.
RAULZINHO – Mas você gosta que eu saiba...
E RAULZINHO AGARRA INÊS, LHE DANDO UM BEIJO. EMÍLIA
RI. CÂM DESVIA PARA OUTRA MESA ESTÃO SENTADOS: UM HOMEM, ESTATURA ALTA, SEM
BARBA, CABELOS PRETOS. À SUA FRENTE ESTÃO UMA BELA LOURA, CABELOS LISOS E
LONGOS, FRANJÃO CAINDO NA TESTA. ALMOÇAM, ENQUANTO CONVERSAM.
LOURA – Exagero seu, Urbano. Você não
é desinteressante!
URBANO – Por favor, Solange! Só você
mesmo pra achar isso. As mulheres não me enxergam! Parece que sou invisível aos
olhos femininos.
SOLANGE RI.
SOLANGE – Aposto que você faz sucesso
com elas. O seu problema é a timidez. Você se retrai meu amigo. Não pode ser
assim. As mulheres gostam de atitude. Saia na rua e pergunte à pelo menos dez
mulheres, onze irão dizer que não é a beleza e nem o dinheiro o que elas mais
prestam atenção em um cara hoje, e sim, a atitude dele. E isso, me desculpe,
mas você tem zero.
URBANO – (Acusa) Como se você soubesse
saber muito sobre os homens. Se soubesse não estaria aí, sozinha. Matando
cachorro à grito.
SOLANGE – Eu não estou matando cachorro
à grito! É verdade que tive umas desilusões sérias com os homens, mas nem por
isso, eu não sei controlar um quando eu vejo.
URBANO – Aham sei...
SOLANGE – O que tá em jogo aqui não sou
eu, não é a minha vida amorosa. E sim a sua, que tá um fracasso retumbante.
Parece filme de quinta no Framboesa de Ouro.
URBANO SE CHATEIA. DÁ UMA GARFADA. SOLANGE SUAVIZA.
SOLANGE – Se você quiser eu posso te
ajudar a melhorar isso.
URBANO – Não... Não sei se eu quero.
SOLANGE – Viu! É isso! (Bufa) Você vai
passar a vida reclamando se não der uma chance a você mesmo. Você nem acredita
que tem potencial para mudar esse jeito.
URBANO FICA PENSATIVO. SOLANGE RI DO AMIGO. VOLTA
PARA O ALMOÇO. CÂM EM PLANO ABERTO.
CORTA PARA:
CENA 15. PRÉDIO DE JULIANA.
PORTARIA. INTERIOR. DIA
Continuação cena 11/ Cap. 05.
JULIANA AINDA ENCARA O PORTEIRO.
PORTEIRO – (Reticente) Dona Juliana...
JULIANA – Por favor, seu Zé. Um homem
foi preso ontem por algo que ele não fez. Ele foi levado para a delegacia e
mesmo eu sabendo que não era dele o que foi encontrado no meu apartamento, não
pude provar o contrário. (Pausa) Por favor, me fala o que eu preciso saber...
Apesar de desconfiar que a resposta para essa pergunta seja um sim.
O PORTEIRO FICA DESCONFORTÁVEL. ENCARA DE VEZ.
PORTEIRO – Ontem à noite, quando a
senhora saiu, antes de acontecer aquele fuzuê todo... Teve uma mulher aqui sim.
JULIANA – Uma mulher?
PORTEIRO – Ela falava engraçado, tinha
sotaque mineiro.
JULIANA DESCONFIADA.
JULIANA – E como era essa mulher?
PORTEIRO – (Sorri) Ah, era bonita. Negra,
assim como à senhora, era alta... Disse que era amiga da senhora e que queria
te entregar um presente.
JULIANA VAI CAINDO NA REAL.
JULIANA – Ai meu Deus. E o senhor viu
que tipo de presente era esse? Ela subiu no meu apartamento? Como se só eu
tenho as chaves? Ou não tenho?!
O PORTEIRO VIRA DE COSTAS, VAI SAIR. JULIANA O
SEGUE, EM SEGUNDO PLANO.
JULIANA – Pode parando aí! (Tom) Vai me
contar essa história até o final, se não eu chamo a polícia e faço o senhor
confessar na frente deles o que sabe.
O PORTEIRO SE VIRA ASSUSTADO.
PORTEIRO – Não, por favor. Polícia não!
(Pausa) Eu falo tudo o que eu sei. Eu não vi o que era o tal presente, ela
disse que era uma surpresa pra você. Que vocês não se viam há muito tempo. E me
desculpa, mas eu abri o seu apartamento pra ela entregar. Mas eu fiquei na
porta o tempo inteiro!
JULIANA COLOCA A MÃO NA CABEÇA. DESNORTEADA.
JULIANA – Eu sabia! O senhor não deveria
ter deixado essa mulher entrar na minha casa! O senhor não podia nem ter uma
cópia da chave do meu apartamento! É crime! Invasão de domicilio!
PORTEIRO – Me desculpa Juliana. Me
desculpa, eu juro que fiz na melhor das intenções.
JULIANA – De boas intenções, o presídio
tá cheio.
PORTEIRO – Eu fiquei na porta o tempo
inteiro. Ela foi ao quarto e não demorou muito. Nunca pensei que aquela moça,
tão fina, tão educada, fosse capaz de armar uma coisa dessas tão ruim.
JULIANA – O Diabo não se mostra feio,
seu Zé. O Diabo se mostra um anjo lindo, para atrair e depois levar para o
Inferno.
O PORTEIRO FAZ O SINAL DA CRUZ, COM MEDO.
PORTEIRO – Disconjuro!
JULIANA ANDA POR ALI, PENSATIVA.
JULIANA – Amanda... Dessa vez, você foi
longe demais!
PORTEIRO – (Não entende) Amanda?!
JULIANA SOBE AS ESCADAS RAPIDAMENTE. SEU ZÉ FICA
ALI, COM MEDO.
PORTEIRO – Ah, meu Pai Eterno! Será que
ainda vai sobrar pra mim? Eu e a minha boca maldita!
ELE FICA ALI SE CULPANDO.
CORTA PARA:
CENA 16. RIO DE JANEIRO.
EXTERIOR. DIA
PASSAGEM DAS HORAS DO DIA. SONOPLASTIA: “RATO QUE É RATO” – FÁBIO BELEZA. TAKES DA
CIDADE MARAVILHOSA NUBLANDO AOS POUCOS. NO CÉU, O CLIMA VAI FECHANDO E AS
NUVENS COMEÇAM A FICAR ESCURAS. TAKE FINAL DA FACHADA DO ESCRITÓRIO DE
ADVOCACIA DE FRANKLIN.
CORTA PARA:
CENA 17. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA
LINHARES. SALAS. INTERIOR. DIA
FRANKLIN E CADÚ ANDAM PELOS CORREDORES DO
ESCRITÓRIO. AMBIENTE SISUDO, COM ADVOGADOS EM SUAS SALAS. TUDO MUITO
ORGANIZADO, LIMPO. FRANKLIN VAI MOSTRANDO A EXTENSÃO DO LOCAL PARA O FILHO. VÃO
CONVERSANDO EM OFF. FRANKLIN MOSTRA UMA SALA EM ESPECÍFICO PARA CADÚ. O RAPAZ
NÃO PARECE MUITO ANIMADO, MAS DISFARÇA, SORRISO AMARELO. FRANKLIN ABRAÇA O
FILHO. SONOPLASTIA OFF.
FRANKLIN – Então, meu filho. Gostou da
sua sala?
CADÚ – Claro pai. A vista é bonita.
FRANKLIN – Que os outros não me ouçam,
mas é a que tem a melhor vista para a praia.
FRANKLIN RI E LOGO PERCEBE O DESÂNIMO DE CADÚ.
FRANKLIN – Filho... Eu sei do seu
desinteresse nesse momento por isso aqui tudo. Eu já tive a sua idade e já tive
também os meus questionamentos. A minha fase de achar que não era esse o
caminho ideal a seguir, que não era essa a profissão dos meus sonhos e que eu
poderia ser mais feliz fazendo outra coisa, que não fosse enfiada em pilhas de
processos e metido em problemas alheios, mas as coisas mudam Cadú.
CADÚ – E como as coisas mudaram para
o senhor?
FRANKLIN – Quando eu casei com a sua mãe.
Quando ela engravidou de você. Eu vi que tinha que crescer e deixar os sonhos
de garoto idealista de lado e encarar uma família de verdade, filhos,
responsabilidade! Cadú sabe que eu penso que a sua mãe não está tão errada?
CADÚ – Vai dizer que o senhor também
acha que eu devo me casar com uma mulher que ela escolher pra mim? (Ri).
FRANKLIN – Não. Não uma mulher que ela
escolher. Mas uma mulher que você escolher! O que falta pra você é se
apaixonar. É ser responsável por uma outra vida.
CADÚ FICA PENSATIVO.
FRANKLIN – Pensa nisso. Aposto que um
amor na sua vida poderia ajudar você a pensar mais nas suas responsabilidades
com a sua carreira.
CADÚ CONCORDA, AINDA RETICENTE. CLOSES ALTERNADOS.
CORTA PARA:
CENA 18. APOLLO SPORTING.
CANTINA. INTERIOR. DIA
PLANO GERAL DA CANTINA DA ACADEMIA. MESAS
DISPOSTAS, MOVIMENTO MÉDIO. DA GRANDE JANELA DE VIDRO, VÊ-SE A CHUVA CAIR LÁ
FORA. NAS MESAS DISPOSTAS, EM UMA ESTÃO CARMINHA E JAMIL. CONVERSAM.
CARMINHA – Eu ainda não sei se acredito
na inocência da Juliana. Ela já foi presa muito tempo.
JAMIL – Por favor, meu amor.
Preconceito com ex-presidiário agora?
CARMINHA – Não é isso, Jamil. Mas nós não
conhecemos ela. Tá, você foi criado junto com ela, na infância, adolescência,
mas mais de quinze anos se passaram, nós não sabemos o quanto ela mudou.
JAMIL – Pelo amor de Deus, Carmem. A
Juliana não mudou em nada. Ela errou muito no passado, mas eu sei que agora é
diferente. Ela saiu disposta a recomeçar a vida. Ela não iria se sujar tão
rápido assim.
CARMINHA – Ela precisa de dinheiro para
sobreviver, Jamil. Quem tá apertado é capaz de fazer coisas ruins.
JAMIL – Não a Juliana. Ela é integra,
tem caráter.
CARMINHA – (Enciumada) Você a defende
tanto. Vou começar a pensar que você e ela...
JAMIL – (Corta brusco) Pode parar por
aí! A Juliana e eu nunca tivemos nada. Nós sempre fomos amigos e nunca teremos
nada, além disso. Eu sei que ela não é desse tipo de gente que faz de tudo por
dinheiro.
CARMINHA AINDA NÃO CONVENCIDA.
CARMINHA – O pior é que eu tinha gostado
dela. Agora não sei. A minha família não pode ser exposta desse jeito. Já
pensou se acontece uma situação parecida dessas lá em casa? O papai morre!
JAMIL – Não muda de idéia em relação a
ela ir morar na sua casa. Ela precisa muito, ainda mais agora que foi visada
por alguém, que eu já até desconfio quem seja...
CARMINHA – Quem você desconfia?
EM JAMIL.
CORTA PARA:
CENA 19. BARONESA GLAM. INTERIOR.
DIA
BOATE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO NO HORÁRIO. AMANDA POR
ALI, REPASSA O SOM COM O DJ. ALGUNS POUCOS FUNCIONÁRIOS.
JAMIL – (Off)
Da irmã dela. A Amanda. Tenho certeza que ela faria tudo só pra prejudicar a
Juliana e a ver longe da vida dela outra vez.
UM SEGURANÇA VEM VINDO POR ALI, JULIANA LOGO ATRÁS.
SEGURANÇA – (Tom) Dona Amanda, tem uma
moça querendo falar com a senhora. Ela insistiu./
AMANDA VOLTA SUA ATENÇÃO.
AMANDA – Quem é?!
JULIANA TOMA A FRENTE DO SEGURANÇA. AMANDA SE
SURPREENDE. ELAS TROCAM OLHARES. JULIANA COM CARA DE POUCOS AMIGOS.
AMANDA – O que você tá fazendo aqui?
JULIANA – Surpresa em me ver, Amanda? Por
quê? Achou que eu estivesse em outro lugar no momento? Na cadeia, quem sabe?
AMANDA – (Nervosa) Do que você tá
falando, criatura? Tá drogada, como nos velhos tempos?
JULIANA SORRI IRÔNICA. APROXIMA-SE DELA. AS PESSOAS
EM VOLTA COMEÇAM A PERCEBER A CONVERSA.
JULIANA – Eu não acredito que você teve
a coragem de jogar baixo de novo! Você plantou aquelas drogas dentro do meu
apartamento só pra me incriminar. Só pra me ver atrás das grades outra vez.
AMANDA SORRI IRÔNICA.
JULIANA – Você não presta. Não vale
nada! (Tom forte) Você é uma vagabunda. Mas a sua máscara vai cair.
AMANDA – (Sorri) É a sua palavra contra
a minha. Só que felizmente, eu acho que ninguém vai acreditar na palavra de uma
ex-presidiária. Nos delírios de uma viciada. (Silábica) Dro-ga-da!
E NO IMPULSO, JULIANA ENCARA FORTE E DESFERE UM
FORTE TAPA NA CARA DE AMANDA. SLOW-MOTION:
AMANDA VIRA O ROSTO COM A FORÇA DO TAPA DADO POR JULIANA. ELA COLOCA A MÃO NO
ROSTO. TODOS EM VOLTA NUM ‘’OH’’ COLETIVO. COCHICHAM BAIXO. AS DUAS SE ENCARAM.
CLOSES ALTERNADOS. ÚLTIMO CLOSE EM AMANDA, COM RAIVA.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.
FIM DO CAPÍTULO 05
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