segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Capítulo 5: Dancin Days

CENA 01. APARTAMENTO DE JULIANA. SALA. INTERIOR. NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
JULIANA ATORDOADA OLHA JAMIL E CARMINHA, IGUALMENTE CHOCADOS COM A SITUAÇÃO. O POLICIAL SEGURA OS SACOS DE COCAÍNA.
JULIANA – Eu juro que não é meu isso aí! (Chora) Eu juro por tudo que é mais sagrado!
CARMINHA – Deve estar havendo algum engano.
POLICIAL 01 – Agora a senhora vai me dizer que ao invés de cocaína, isso aqui também é um engano? Seria o que? Farinha?
JAMIL – Vamos conversar com calma, por favor.
CABO NELSON – Não tem o que conversar aqui, cidadão. (À Juliana) Nós vamos conversar na delegacia.
O CABO NELSON OLHA JULIANA CHORANDO. TIRA AS ALGEMAS DA CINTURA.
CABO NELSON – A senhora está presa, dona Juliana.
JULIANA OLHA ATORDOADA PARA OS POLICIAIS E PARA O PAR DE ALGEMAS. OLHAR DESESPERADO. CLOSES ALTERNADOS.
CORTA PARA:

CENA 02. HÍPICA. SALÃO. INTERIOR. NOITE
FESTA ROLANDO. CELINA E FRANKLIN FALANDO COM ALGUNS AMIGOS. CADÚ E MARIA LÚCIA EM UMA MESA. ELA FALA SEM PARAR EM OFF, ENQUANTO ROLA UMA MÚSICA VINDA DA ORQUESTRA. CADÚ NOTAVELMENTE IMPACIENTE. OLHA O RELÓGIO DE PULSO.
MARIA LÚCIA – Você não acha, Cadú?
CADÚ DESPERTA OLHA PARA MARIA LÚCIA.
CADÚ – Acho?
MARIA LÚCIA – Isso. Você não acha que o Brasil deveria ter um plano socioeconômico visando a comparação com o sistema norte-americano?
CADÚ – (Chateado) Ah, claro. Acho sim. Ótima idéia.
CADÚ SE LEVANTA.
CADÚ – Agora se me der uma licencinha, eu vou pegar uma bebida.
MARIA LÚCIA – Claro. Toda.
CADÚ SE LEVANTA E SAI, BUFANDO. CELINA PERCEBE E SE APROXIMA DE MARIA LÚCIA.
CELINA – Então, minha querida, vi de longe que o papo estava fluindo, hein.
MARIA LÚCIA – Na verdade, não muito, Celina. O Cadú não parece ter gostando tanto de mim.
CELINA – Calma, minha querida. O Cadú chegou hoje de viagem, ainda está com o fuso-horário alterado. Logo, ele vai lhe dar a devida atenção que você merece. Meu filho é um gentleman!
MARIA LÚCIA SORRI AMARELO. CORTA PARA CADÚ, PRÓXIMO AO BAR, AVISTA UM AMIGO. ESTATURA MEDIANA, CABELOS LOUROS, NÃO MUITO BONITO. SE APROXIMA.
CADÚ – Alberto?
ALBERTO SE VIRA. JÁ CUMPRIMENTANDO.
ALBERTO – Cadú! Quanto tempo cara!
CADÚ – Desde Machu Pichu! Cara, você não mudou nada. (Olha em volta) E a Gisele?
ALBERTO – Então, irmão. Nós nos separamos. Sabe como é... Ela não me dava atenção. Preciso de uma mulher que fale comigo.
CADÚ COMEÇA A RIR.
ALBERTO – (Não entende) Falei algo engraçado?
CADÚ – Não. É porque eu acho que tenho a mulher perfeita pra você, meu amigo.
ALBERTO – (Animado) Sério?
CORTA PARA CADÚ E ALBERTO DIANTE DE MARIA LÚCIA.
CADÚ – Maria Lúcia, quero te apresentar um grande amigo, esse é Alberto Parreira. Alberto, essa é Maria Lúcia Magalhães Mota.
ALBERTO CUMPRIMENTA MARIA LÚCIA COM UM BEIJO NO ROSTO.
ALBERTO – Encantado.
OS DOIS TROCAM OLHARES. CADÚ SORRI, SATISFEITO. CELINA EM SEGUNDO PLANO PERCEBEU O TRUQUE, OLHA EM REPROVAÇÃO. CADÚ SE VIRA PARA A MÃE E SORRI, DEBOCHADO. CELINA NEGA COM A CABEÇA. EM CADÚ.
CORTA PARA:

CENA 03. APARTAMENTO DE JULIANA. SALA. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 01/ Cap. 05.
JULIANA NEGA COM A CABEÇA. JAMIL TOMA À FRENTE.
JAMIL – Eu confesso. Essa droga... (Titubeia) Ela é minha.
CARMINHA – (Chocada) O quê?
CARMINHA E JULIANA OLHAM PARA JAMIL, QUE CONFIRMA.
JAMIL – É minha sim. (Para Juliana) Não precisa esconder, Jú. Tá tudo bem. (P/ o policial) Essa droga é minha, eu peguei hoje à tarde e pedi pra Juliana guardar pra mim. Ela não tem nada a ver com isso. Ela nem queria. É minha!
CARMINHA – É mentira isso!
JULIANA – Jamil.
JAMIL – (Tom alto) É minha! Eu já confessei, não confessei?
JAMIL OFERECE OS BRAÇOS PARA O CABO NELSON.
JAMIL – Vai, pode me prender. Só deixa a Juliana fora disso, porque esse negócio aí é meu.
JULIANA – Jamil, por favor.
CABO NELSON – (Á Juliana) A senhora confirma a versão do seu amigo? O senhor...
JAMIL – Jamil Alvarenga.
CABO NELSON – (Completa) Jamil Alvarenga como dono da substância encontrada no seu apartamento?
JULIANA – (Nervosa) Eu...
JAMIL – (Corta/ Insiste) Ela tá nervosa. Mas pode confessar, Juliana. É sim, essa droga é minha. O senhor vai demorar muito pra me prender ou vou ter que desacatar pra ir mais rápido?
POLICIAL 01 – Muito bem, se essa droga é sua, então o senhor está preso.
O CABO ALGEMA JAMIL, SOB OS OLHARES CHOCADOS DE CARMINHA.
CARMINHA – (Nervosa) Amor...
JAMIL OLHA CARMINHA, OS DOIS PENALIZADOS. EM JULIANA COMPLETAMENTE PERDIDA. JAMIL ALGEMADO.
CORTA PARA:

CENA 04. PRÉDIO DE JULIANA. PORTARIA. INTERIOR. NOITE
MOVIMENTAÇÃO. ALGUNS MORADORES DO PRÉDIO ALI PRESENTES. VIATURA NA PORTA. OS DOIS POLICIAIS VEM TRAZENDO JAMIL À FRENTE, COM AS MÃOS ALGEMADAS. MAIS ATRÁS ESTÃO CARMINHA E JULIANA, À PASSOS LARGOS. TODOS OLHANDO O QUE ACONTECE. O PORTEIRO DO CAPÍTULO ANTERIOR TAMBÉM POR ALI. JAMIL BAIXA A CABEÇA, ENVERGONHADO. É ESCOLTADO ATÉ A VIATURA. FICAM CARMINHA E JULIANA.
CARMINHA – Isso é mentira! O Jamil nunca fez uma coisa dessas!
JULIANA – (Confirma) Claro que é mentira. Ele fez isso pra me proteger.
CARMINHA ENCARA FORTEMENTE JULIANA.
CARMINHA – Aquela droga era sua?
JULIANA – Olha, Carminha, aquela droga não é minha. Eu nunca vi aquilo na minha vida. Eu juro! Juro pela minha filha!
CARMINHA NÃO MUITO CONVENCIDA, ASSENTE. CLIMA DE DESCONFIAÇA. CÂM VOLTA PARA A VIATURA. JAMIL JÁ DENTRO DO CAMBURÃO. CARRO PARTE, REFLEXO DE JAMIL NO VIDRO. PV DE CARMINHA: JAMIL BAIXA A CABEÇA. CARMINHA CHORA.
CORTA PARA:

CENA 05. RIO DE JANEIRO. DELEGACIA DE COPACABANA. SALA DO DELEGADO. INTERIOR. NOITE
JAMIL DE FRENTE PARA UM HOMEM GORDO, BAIXINHO E COM BARBA POR FAZER. ESCRIVÃO TOMA NOTA.
DELEGADO – Então aquela droga encontrada no apartamento em posse da dona Juliana, é sua?
JAMIL – É minha sim, delegado.
DELEGADO – E o senhor se considera traficante?
JAMIL – Não! Nunca fui traficante. Era pra uso pessoal mesmo.
O DELEGADO SE ENTREOLHA COM O ESCRIVÃO.
DELEGADO – Então se fizermos um exame toxicológico no senhor, isso confirma que o senhor é viciado nesse entorpecente?
JAMIL FICA NERVOSO, DESVIA O OLHAR.
JAMIL – Já disse que aquela droga era minha. (Pausa) Eu vou ser preso?
O DELEGADO OLHA DESCONFIADO PARA JAMIL.
DELEGADO – Seu Jamil, o senhor por um acaso não estaria mentindo para acobertar a verdadeira identidade do portador dessa cocaína, estaria?
JAMIL FICA RETICENTE, MAS ENCARA.
JAMIL – Não senhor.
INSTANTES. O DELEGADO BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE.
DELEGADO – Muito bem então. Aqui diz que o senhor não tem passagens pela polícia, é réu primário, tem endereço fixo, emprego... O senhor não vai ser detido não. A quantidade encontrada caracteriza tráfico, mas com os seus antecedentes, nós vamos deixar passar...
JAMIL RESPIRA ALIVIADO.
DELEGADO – (Completa) Desta vez!
JAMIL ASSENTE. ESCRIVÃO CONTINUA DIGITANDO.
JAMIL – Ótimo. Eu vou ser liberado então?
DELEGADO – Sim. O senhor está liberado, mas terá ainda que prestar outro depoimento ainda nesta semana.
JAMIL CONCORDA. O DELEGADO FAZ SINAL. O POLICIAL NA PORTA ABRE A MESMA E JAMIL SORRI, ALIVIADO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 06. DELEGACIA. INTERIOR. NOITE
JAMIL VEM CAMINHANDO POR ALI. CARMINHA E JULIANA SENTADAS, CADA UMA EM UM CANTO DA SALA DE ESPERA. MOVIMENTAÇÃO NO LOCAL. CARMINHA AO VER JAMIL, CORRE ATÉ ELE E O ABRAÇA, PULANDO EM CIMA. JAMIL RI.
CARMINHA – Ai, meu Deus! Que bom te ver! Que bom, meu amor!
E CARMINHA O BEIJA, ABRAÇA FORTE.
JAMIL – Eu fui liberado.
JULIANA – (Se aproximando) O que o delegado falou, Jamil?
JAMIL – Eu não tenho antecedentes criminais e isso me ajudou muito. Eu não vou ser preso, apesar da quantidade caracterizar tráfico de drogas.
CARMINHA – Meu Deus! Que pesadelo mais horrível eu passei nessas últimas horas!
JAMIL – Calma, meu amor. Já passou.
JULIANA – Jamil... Aquela droga. Ela não era sua.
JAMIL E JULIANA SE ENCARAM.
JAMIL – Não quero falar sobre isso aqui dentro. Vamos pra casa?
CARMINHA CONCORDA. EM JAMIL.
CORTA PARA:

CENA 07. DELEGACIA. FRENTE. EXTERIOR. NOITE
JAMIL SAI DE BRAÇOS DADOS COM CARMINHA. JULIANA AO LADO.
CARMINHA – Amor, porque você mentiu daquele jeito pra polícia? Você poderia ter sido preso!
JAMIL – Eu não poderia deixar que acusassem a Juliana injustamente.
CARMINHA – Injustamente...
JULIANA – Carminha, eu juro, aquela droga no meu apartamento... Ela não era minha. Plantaram lá. De alguma forma, armaram pra mim. Armaram pra que eu fosse presa de novo.
JAMIL – Eu sei que aquela droga não era sua, Jú.
CARMINHA AINDA NÃO MUITO CONVENCIDA, QUIETA.
JULIANA – Eu não sei por que colocaram aquilo no meu apartamento.
JAMIL – Jú... Será que./
JULIANA PENSATIVA. ENCARA JAMIL.
JULIANA – Você acha que é a mesma pessoa que eu penso que é?
JAMIL ASSENTE QUE SIM. JULIANA PENSATIVA.
CORTA PARA:

CENA 08. AVENIDA ATLÂNTICA. EXTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA: “MIL ACASOS” – SKANK.
AVENIDA ATLÂNTICA EM SUA EXTENSÃO. ÂNGULO SUPERIOR. CLOSE NO CARRO DE HENRIQUE. ELE AO VOLANTE. AO SEU LADO ESTÁ BIBI. ELA ALTERADA, CURTE A MÚSICA, QUE TOCA NO RÁDIO DO CARRO.
BIBI – (Grita) Uhul que hoje eu to animada!
HENRIQUE – (Ri) Você tá é bêbada, Bibi!
BIBI – Que seja, gato!
BIBI COLOCA A CABEÇA PARA FORA DO CARRO E GRITA, ANIMADA.
HENRIQUE – (Ri) Bota a cabeça já pra dentro desse carro! Sua doida!
BIBI COLOCA A CABEÇA PARA DENTRO DO CARRO E JÁ ATACA HENRIQUE. SONOPLASTIA OFF.
BIBI – Sabia que eu sempre te achei uma delícia, Henrique?
HENRIQUE – Ah é?
BIBI – Nossa. Você é um homem de verdade, sabe! Macho com pegada! Categoria classe A!
HENRIQUE RI. BIBI TAMBÉM. ELA VAI PASSANDO A MÃO PELA PERNA DE HENRIQUE. CÂM DETALHA.
HENRIQUE – Calma aí. Vai devagar com essa mão, girl!
BIBI – (Ri) Por quê? Vai me denunciar por assédio sexual?
HENRIQUE – Quem sabe...
BIBI – Poderia ser melhor...
BIBI CHEGA PERTO DO OUVIDO DE HENRIQUE. FREEZE NOS LÁBIOS DELA.
BIBI – Poderia me denunciar então por estupro.
HENRIQUE SORRI, A OLHA. BIBI PASSA A LÍNGUA PELOS LÁBIOS. ELE RI.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 09. APARTAMENTO DE HENRIQUE. SALA/ SUÍTE. INTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA: “LEAN ON” – MAJOR LAZER FT. DJ SNAKE.
HENRIQUE JÁ ABRE A PORTA DO APARTAMENTO, COM BIBI AOS BEIJOS, AGARRADA EM SEU PESCOÇO. AMBIENTE MODERNO, APARTAMENTO TÍPICO DE HOMEM SOLTEIRO. COM MÓVEIS E ELETRÔNICOS DISPOSTOS ALI. HENRIQUE FECHA A PORTA COM O PÉ E BIBI SE JOGA EM SEU SOFÁ.
BIBI – Vem cá, vem!
HENRIQUE VAI TIRANDO A CAMISA. SE JOGA POR CIMA DE BIBI. OS DOIS NO MAIOR TESÃO, VÃO SE AGARRANDO.
HENRIQUE – Vamos pro quarto. Mais aconchegante.
BIBI CONCORDA E GRUDA NO PESCOÇO DELE. HENRIQUE VAI ARRASTANDO BIBI, ENQUANTO A BEIJA.
CORTA PARA A SUÍTE, HENRIQUE ENTRA ABRUPTO E JÁ JOGA BIBI SOBRE A CAMA.
BIBI – Uau! Não errei quando falei da pegada!
HENRIQUE – Pegada você vai ver agora, sua cachorra!
E HENRIQUE ARRANCA A ALÇA DA BLUSA DE BIBI, RASGANDO. ELA RI. TAMBÉM ARRANCA A CALÇA DELE. CORTES DESCONTÍNUOS. BIBI E HENRIQUE COMEÇAM NAS PRELIMINARES. ELE BEIJA SUA BARRIGA, ELA AINDA DE SUTIÃ. OS DOIS AOS BEIJOS. CLIMA QUENTE. ÂNGULO SUPERIOR. CÂM DESFOCA ATÉ FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 10. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
FADE-IN. AMANHECE NO RIO DE JANEIRO. BONDINHOS NO PÃO DE AÇÚCAR CIRCULANDO, PESSOAS EM SEU COTIDIANO. TRÂNSITO GANHANDO AS RUAS. PRAIAS GANHANDO PESSOAS EM SUAS AREIAS. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA:

CENA 11. PRÉDIO DE JULIANA. PORTARIA. INTERIOR. DIA
JULIANA DESCE AS ESCADAS. PASSA POR DUAS SENHORAS QUE CONVERSAM NA ESCADARIA, AO VEREM JULIANA PASSAR, A OLHAM DE MANEIRA ESTRANHA. JULIANA PERCEBE E SEGUE. AVISTA O PORTEIRO.
JULIANA – Seu Zé. (Alcança) Posso dar uma palavrinha com o senhor?
PORTEIRO – Juliana me desculpa por ontem. Eu não sabia o que dizer à polícia.
JULIANA – Tudo bem. O senhor fez o seu papel. Não podia simplesmente mentir... Bem, não é isso. Eu quero sabe se além das duas pessoas que estiveram comigo aqui, ontem. Teve mais alguém que tenha vindo ao meu apartamento?
CLOSES ALTERNADOS. O PORTEIRO LÍVIDO. EM JULIANA QUESTIONANDO.
CORTA PARA:

CENA 12. AEROPORTO DO GALEÃO. ÁREA DE DESEMBARQUE/ SAGUÃO. INTERIOR. DIA
PLANO ABERTO DA ÁREA DE DESEMBARQUE. ENTRE AS PESSOAS, VEM EMPURRANDO UM CARRINHO COM BAGAGENS: UM HOMEM ALTO, CABELO RASPADO, LOURO, OLHOS AZUIS E MUITO FORTE. AO SEU LADO, UMA BELA MOÇA, MAGRA, CORPO ESBELTO E CABELOS ONDULADOS, À ALTURA DO OMBRO. AMBOS DE ÓCULOS ESCUROS. CÂM DESVIA PARA A ÁREA DA FRENTE, ONDE HÁ UMA SEGUNDA MULHER: LOURA, ALTA, MAGRA. ELA SEGURA UM CARTAZ COM OS DIZERES: ‘’RAULZINHO E INÊS SEJAM BEM-VINDOS’’.
OS DOIS JOVENS AVISTAM. A MULHER BAIXA O CARTAZ. SORRIDENTE. ELES VÊM SE APROXIMANDO, MAIS RÁPIDOS.
RAULZINHO – (Abre os braços) Mãe! Saudade!
MULHER 02 – (Beija no rosto) Vocês quase me mataram nesse último mês! Custava ligar?
INÊS – Ligar mais ainda, minha sogra? Só se parássemos em cada padaria de Lisboa para ligar para o Brasil.
AS DUAS SE CUMPRIMENTAM COM UM ABRAÇO. FELIZES.
MULHER 02 – Eu não quero saber. Vocês me largaram de mão aqui no Brasil.
RAULZINHO – Dona Emília sempre exagerada. Tinha esquecido esse seu talento para cenas de novela mexicana, mãe.
EMÍLIAYa mucha honra.
OS TRÊS RIEM.
EMÍLIA – Vamos? Preparei um almoço especial pra vocês lá no bistrô. Com direito à tudo o que tem direito.
INÊS – Tendo a boa e velha comida brasileira tá ótima. Não agüento mais comer bacalhau e pastel de Belém (Ri).
OS TRÊS SAEM, CONVERSANDO EM OFF. DIVERTIDOS.
CORTA PARA:

CENA 13. COPACABANA. BISTRÔ CASTRO MAISON. FRENTE. EXTERIOR. DIA
PLANO ABERTO MOSTRANDO O BISTRÔ FINO DE EMÍLIA. FACHADA REQUINTADA, EM CORES CLARAS, GRANDE JANELÃO DE VIDRO, ONDE VEMOS AS MESAS DISPOSTAS.
CORTA PARA:

CENA 14. BISTRÔ CASTRO MAISON. INTERIOR. DIA
ARQUITETURA REFINADA. MÚSICA AMBIENTE. PAREDES BRANCAS, COM PAPEL DE PAREDE EM LEVE FLORAL, COM ORQUÍDEAS DISPOSTAS EM ARRANJOS BONITOS. MESAS ORGANIZADAS COM ESPAÇO ENTRE ELAS. EM UMA DAS MESAS ESTÁ RAULZINHO, INÊS E EMÍLIA. ALMOÇAM. CONVERSA À MEIO.
EMÍLIA – Mas deu tempo de se divertirem pelo menos em Portugal?
INÊS – Tirando os constantes seminários que o Raulzinho tinha que ir para concluir o curso, a viagem foi magnífica. Cada coisa linda, Emília.
RAULZINHO – A Inês que exagera. Bateu perna naquelas vielas durante todos os dias.
INÊS – (Discreta) E todo dia tinha uma briga nova por ciúmes.
RAULZINHO – Os portugueses são atirados! (À Emília) Se a senhora acha que os cariocas são cara-de-pau, porque ainda não conheceu os lusitanos.
EMÍLIA – Ai, meu filho. Criou confusão com alguém lá?
RAULZINHO – Claro que não.
INÊS – (Corrige) Claro que sim! (Encara Raulzinho) Essa viagem só provou que o meu noivo tem ciúme até da própria sombra. Como se eu já não soubesse.
RAULZINHO – Mas você gosta que eu saiba...
E RAULZINHO AGARRA INÊS, LHE DANDO UM BEIJO. EMÍLIA RI. CÂM DESVIA PARA OUTRA MESA ESTÃO SENTADOS: UM HOMEM, ESTATURA ALTA, SEM BARBA, CABELOS PRETOS. À SUA FRENTE ESTÃO UMA BELA LOURA, CABELOS LISOS E LONGOS, FRANJÃO CAINDO NA TESTA. ALMOÇAM, ENQUANTO CONVERSAM.
LOURA – Exagero seu, Urbano. Você não é desinteressante!
URBANO – Por favor, Solange! Só você mesmo pra achar isso. As mulheres não me enxergam! Parece que sou invisível aos olhos femininos.
SOLANGE RI.
SOLANGE – Aposto que você faz sucesso com elas. O seu problema é a timidez. Você se retrai meu amigo. Não pode ser assim. As mulheres gostam de atitude. Saia na rua e pergunte à pelo menos dez mulheres, onze irão dizer que não é a beleza e nem o dinheiro o que elas mais prestam atenção em um cara hoje, e sim, a atitude dele. E isso, me desculpe, mas você tem zero.
URBANO – (Acusa) Como se você soubesse saber muito sobre os homens. Se soubesse não estaria aí, sozinha. Matando cachorro à grito.
SOLANGE – Eu não estou matando cachorro à grito! É verdade que tive umas desilusões sérias com os homens, mas nem por isso, eu não sei controlar um quando eu vejo.
URBANO – Aham sei...
SOLANGE – O que tá em jogo aqui não sou eu, não é a minha vida amorosa. E sim a sua, que tá um fracasso retumbante. Parece filme de quinta no Framboesa de Ouro.
URBANO SE CHATEIA. DÁ UMA GARFADA. SOLANGE SUAVIZA.
SOLANGE – Se você quiser eu posso te ajudar a melhorar isso.
URBANO – Não... Não sei se eu quero.
SOLANGE – Viu! É isso! (Bufa) Você vai passar a vida reclamando se não der uma chance a você mesmo. Você nem acredita que tem potencial para mudar esse jeito.
URBANO FICA PENSATIVO. SOLANGE RI DO AMIGO. VOLTA PARA O ALMOÇO. CÂM EM PLANO ABERTO.
CORTA PARA:

CENA 15. PRÉDIO DE JULIANA. PORTARIA. INTERIOR. DIA
Continuação cena 11/ Cap. 05.
JULIANA AINDA ENCARA O PORTEIRO.
PORTEIRO – (Reticente) Dona Juliana...
JULIANA – Por favor, seu Zé. Um homem foi preso ontem por algo que ele não fez. Ele foi levado para a delegacia e mesmo eu sabendo que não era dele o que foi encontrado no meu apartamento, não pude provar o contrário. (Pausa) Por favor, me fala o que eu preciso saber... Apesar de desconfiar que a resposta para essa pergunta seja um sim.
O PORTEIRO FICA DESCONFORTÁVEL. ENCARA DE VEZ.
PORTEIRO – Ontem à noite, quando a senhora saiu, antes de acontecer aquele fuzuê todo... Teve uma mulher aqui sim.
JULIANA – Uma mulher?
PORTEIRO – Ela falava engraçado, tinha sotaque mineiro.
JULIANA DESCONFIADA.
JULIANA – E como era essa mulher?
PORTEIRO – (Sorri) Ah, era bonita. Negra, assim como à senhora, era alta... Disse que era amiga da senhora e que queria te entregar um presente.
JULIANA VAI CAINDO NA REAL.
JULIANA – Ai meu Deus. E o senhor viu que tipo de presente era esse? Ela subiu no meu apartamento? Como se só eu tenho as chaves? Ou não tenho?!
O PORTEIRO VIRA DE COSTAS, VAI SAIR. JULIANA O SEGUE, EM SEGUNDO PLANO.
JULIANA – Pode parando aí! (Tom) Vai me contar essa história até o final, se não eu chamo a polícia e faço o senhor confessar na frente deles o que sabe.
O PORTEIRO SE VIRA ASSUSTADO.
PORTEIRO – Não, por favor. Polícia não! (Pausa) Eu falo tudo o que eu sei. Eu não vi o que era o tal presente, ela disse que era uma surpresa pra você. Que vocês não se viam há muito tempo. E me desculpa, mas eu abri o seu apartamento pra ela entregar. Mas eu fiquei na porta o tempo inteiro!
JULIANA COLOCA A MÃO NA CABEÇA. DESNORTEADA.
JULIANA – Eu sabia! O senhor não deveria ter deixado essa mulher entrar na minha casa! O senhor não podia nem ter uma cópia da chave do meu apartamento! É crime! Invasão de domicilio!
PORTEIRO – Me desculpa Juliana. Me desculpa, eu juro que fiz na melhor das intenções.
JULIANA – De boas intenções, o presídio tá cheio.
PORTEIRO – Eu fiquei na porta o tempo inteiro. Ela foi ao quarto e não demorou muito. Nunca pensei que aquela moça, tão fina, tão educada, fosse capaz de armar uma coisa dessas tão ruim.
JULIANA – O Diabo não se mostra feio, seu Zé. O Diabo se mostra um anjo lindo, para atrair e depois levar para o Inferno.
O PORTEIRO FAZ O SINAL DA CRUZ, COM MEDO.
PORTEIRO – Disconjuro!
JULIANA ANDA POR ALI, PENSATIVA.
JULIANA – Amanda... Dessa vez, você foi longe demais!
PORTEIRO – (Não entende) Amanda?!
JULIANA SOBE AS ESCADAS RAPIDAMENTE. SEU ZÉ FICA ALI, COM MEDO.
PORTEIRO – Ah, meu Pai Eterno! Será que ainda vai sobrar pra mim? Eu e a minha boca maldita!
ELE FICA ALI SE CULPANDO.
CORTA PARA:

CENA 16. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
PASSAGEM DAS HORAS DO DIA. SONOPLASTIA: “RATO QUE É RATO” – FÁBIO BELEZA. TAKES DA CIDADE MARAVILHOSA NUBLANDO AOS POUCOS. NO CÉU, O CLIMA VAI FECHANDO E AS NUVENS COMEÇAM A FICAR ESCURAS. TAKE FINAL DA FACHADA DO ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA DE FRANKLIN.
CORTA PARA:

CENA 17. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA LINHARES. SALAS. INTERIOR. DIA
FRANKLIN E CADÚ ANDAM PELOS CORREDORES DO ESCRITÓRIO. AMBIENTE SISUDO, COM ADVOGADOS EM SUAS SALAS. TUDO MUITO ORGANIZADO, LIMPO. FRANKLIN VAI MOSTRANDO A EXTENSÃO DO LOCAL PARA O FILHO. VÃO CONVERSANDO EM OFF. FRANKLIN MOSTRA UMA SALA EM ESPECÍFICO PARA CADÚ. O RAPAZ NÃO PARECE MUITO ANIMADO, MAS DISFARÇA, SORRISO AMARELO. FRANKLIN ABRAÇA O FILHO. SONOPLASTIA OFF.
FRANKLIN – Então, meu filho. Gostou da sua sala?
CADÚ – Claro pai. A vista é bonita.
FRANKLIN – Que os outros não me ouçam, mas é a que tem a melhor vista para a praia.
FRANKLIN RI E LOGO PERCEBE O DESÂNIMO DE CADÚ.
FRANKLIN – Filho... Eu sei do seu desinteresse nesse momento por isso aqui tudo. Eu já tive a sua idade e já tive também os meus questionamentos. A minha fase de achar que não era esse o caminho ideal a seguir, que não era essa a profissão dos meus sonhos e que eu poderia ser mais feliz fazendo outra coisa, que não fosse enfiada em pilhas de processos e metido em problemas alheios, mas as coisas mudam Cadú.
CADÚ – E como as coisas mudaram para o senhor?
FRANKLIN – Quando eu casei com a sua mãe. Quando ela engravidou de você. Eu vi que tinha que crescer e deixar os sonhos de garoto idealista de lado e encarar uma família de verdade, filhos, responsabilidade! Cadú sabe que eu penso que a sua mãe não está tão errada?
CADÚ – Vai dizer que o senhor também acha que eu devo me casar com uma mulher que ela escolher pra mim? (Ri).
FRANKLIN – Não. Não uma mulher que ela escolher. Mas uma mulher que você escolher! O que falta pra você é se apaixonar. É ser responsável por uma outra vida.
CADÚ FICA PENSATIVO.
FRANKLIN – Pensa nisso. Aposto que um amor na sua vida poderia ajudar você a pensar mais nas suas responsabilidades com a sua carreira.
CADÚ CONCORDA, AINDA RETICENTE. CLOSES ALTERNADOS.
CORTA PARA:

CENA 18. APOLLO SPORTING. CANTINA. INTERIOR. DIA
PLANO GERAL DA CANTINA DA ACADEMIA. MESAS DISPOSTAS, MOVIMENTO MÉDIO. DA GRANDE JANELA DE VIDRO, VÊ-SE A CHUVA CAIR LÁ FORA. NAS MESAS DISPOSTAS, EM UMA ESTÃO CARMINHA E JAMIL. CONVERSAM.
CARMINHA – Eu ainda não sei se acredito na inocência da Juliana. Ela já foi presa muito tempo.
JAMIL – Por favor, meu amor. Preconceito com ex-presidiário agora?
CARMINHA – Não é isso, Jamil. Mas nós não conhecemos ela. Tá, você foi criado junto com ela, na infância, adolescência, mas mais de quinze anos se passaram, nós não sabemos o quanto ela mudou.
JAMIL – Pelo amor de Deus, Carmem. A Juliana não mudou em nada. Ela errou muito no passado, mas eu sei que agora é diferente. Ela saiu disposta a recomeçar a vida. Ela não iria se sujar tão rápido assim.
CARMINHA – Ela precisa de dinheiro para sobreviver, Jamil. Quem tá apertado é capaz de fazer coisas ruins.
JAMIL – Não a Juliana. Ela é integra, tem caráter.
CARMINHA – (Enciumada) Você a defende tanto. Vou começar a pensar que você e ela...
JAMIL – (Corta brusco) Pode parar por aí! A Juliana e eu nunca tivemos nada. Nós sempre fomos amigos e nunca teremos nada, além disso. Eu sei que ela não é desse tipo de gente que faz de tudo por dinheiro.
CARMINHA AINDA NÃO CONVENCIDA.
CARMINHA – O pior é que eu tinha gostado dela. Agora não sei. A minha família não pode ser exposta desse jeito. Já pensou se acontece uma situação parecida dessas lá em casa? O papai morre!
JAMIL – Não muda de idéia em relação a ela ir morar na sua casa. Ela precisa muito, ainda mais agora que foi visada por alguém, que eu já até desconfio quem seja...
CARMINHA – Quem você desconfia?
EM JAMIL.
CORTA PARA:

CENA 19. BARONESA GLAM. INTERIOR. DIA
BOATE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO NO HORÁRIO. AMANDA POR ALI, REPASSA O SOM COM O DJ. ALGUNS POUCOS FUNCIONÁRIOS.
JAMIL – (Off) Da irmã dela. A Amanda. Tenho certeza que ela faria tudo só pra prejudicar a Juliana e a ver longe da vida dela outra vez.
UM SEGURANÇA VEM VINDO POR ALI, JULIANA LOGO ATRÁS.
SEGURANÇA – (Tom) Dona Amanda, tem uma moça querendo falar com a senhora. Ela insistiu./
AMANDA VOLTA SUA ATENÇÃO.
AMANDA – Quem é?!
JULIANA TOMA A FRENTE DO SEGURANÇA. AMANDA SE SURPREENDE. ELAS TROCAM OLHARES. JULIANA COM CARA DE POUCOS AMIGOS.
AMANDA – O que você tá fazendo aqui?
JULIANA – Surpresa em me ver, Amanda? Por quê? Achou que eu estivesse em outro lugar no momento? Na cadeia, quem sabe?
AMANDA – (Nervosa) Do que você tá falando, criatura? Tá drogada, como nos velhos tempos?
JULIANA SORRI IRÔNICA. APROXIMA-SE DELA. AS PESSOAS EM VOLTA COMEÇAM A PERCEBER A CONVERSA.
JULIANA – Eu não acredito que você teve a coragem de jogar baixo de novo! Você plantou aquelas drogas dentro do meu apartamento só pra me incriminar. Só pra me ver atrás das grades outra vez.
AMANDA SORRI IRÔNICA.
JULIANA – Você não presta. Não vale nada! (Tom forte) Você é uma vagabunda. Mas a sua máscara vai cair.
AMANDA – (Sorri) É a sua palavra contra a minha. Só que felizmente, eu acho que ninguém vai acreditar na palavra de uma ex-presidiária. Nos delírios de uma viciada. (Silábica) Dro-ga-da!
E NO IMPULSO, JULIANA ENCARA FORTE E DESFERE UM FORTE TAPA NA CARA DE AMANDA. SLOW-MOTION: AMANDA VIRA O ROSTO COM A FORÇA DO TAPA DADO POR JULIANA. ELA COLOCA A MÃO NO ROSTO. TODOS EM VOLTA NUM ‘’OH’’ COLETIVO. COCHICHAM BAIXO. AS DUAS SE ENCARAM. CLOSES ALTERNADOS. ÚLTIMO CLOSE EM AMANDA, COM RAIVA.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

FIM DO CAPÍTULO 05

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