Numa manhã comum de fevereiro, Juliana está indo para
sua nova escola, depois de um conturbado ano em seu antigo colégio. Ao
chegar na nova escola ela vai para a coordenação saber em que turma está.
- Bom dia. - diz Juliana. - Eu sou nova aqui e
queria saber qual é
minha turma.
- Qual o seu nome? - Pergunta a coordenadora.
- Juliana. Juliana Mourão. 3° ano
do ensino médio
- Certo! Deixe-me procurar. Aqui Juliana Mourão turma
3004. É
no terceiro andar.
- Obrigada.
Juliana sai da coordenação e vai
para a sala. Chegando lá ela vê várias pessoas de sua idade, sentadas em grupos,
ela se sente deslocada e procura uma cadeira vazia e distante para se sentar.
Ela acha.
Juliana se senta e coloca seus fones no ouvido,
logo em seguida ela abaixa a cabeça e enfia seu rosto entre os braços para
esperar a chegada da professora.
Depois de uns dois minutos com a cabeça baixa,
Juliana sente que alguém está cutucando ela, é Júnior.
- Aluna nova? Prazer, Júnior
Ferreira - ele estende sua mão para Juliana apertar, ela aperta. - E essa é minha
amiga Carlany Rodrigues. - Diz ele apontando para Carlany.
- Prazer, Juliana.
- Bom Juliana, tenho uma péssima notícia para
te dar...
- Qual?
- Então, essa turma é a mesma desde o primeiro ano, então se você não andar
com a gente, provavelmente não vai fazer amigos nenhum aqui na sala com
esse bando de nojentos...
Juliana Ri.
- Gostei de vocês, vou andar com vocês, podem
deixar.
Júnior e Carlany pegam duas cadeiras e se sentam
ao lado de Juliana.
Carol, a professora de educação física entra
na sala.
- Bom dia turma, para quem não me
conhece eu sou Carol a professora de educação física de vocês... - Carol é interrompida por dois alunos que estão parados
na porta esperando permissão para entrarem. - Bom dia, vocês são dessa
turma? Podem entrar...
René e Patrícia entram na sala. Juliana estranha os dois,
estão
vestindo preto, tem uma feição fechada.
- Devem ser góticos. - Solta Júnior.
- Ai nada a ver cara. - Responde Carlany dando
um tapa em sua cabeça.
- Bom, vamos as apresentações, eu dei
aula para vocês
ano passado mas pelo que estou vendo aqui temos alunos novos, não é? Então vamos as
apresentações,
você
primeiro. - Carol aponta para Juliana.
- Bom, meu nome é Juliana, tenho 17 anos e quero ser atriz ou
cantora, ou os dois.
- Hm.… bom, bom, mudou de escola porquê?
- É.… problemas aí...
- Certo... você! - Aponta para Patrícia.
- Meu nome é Patrícia Siqueira, tenho 17 anos, não sei o que quero ser
ainda - diz Patrícia
com uma feição
séria.
- Mudou de escola porquê?
- Mudança...
- E você era de onde?
- É... - René cutuca Patrícia com o ombro. - França! Vim da
França...
- E fala um português fluente.
- Minha mãe, minha mãe é brasileira e me ensinou o português.
- Certo, certo. E você. - Carol
olha para René
que está
sentado ao lado de Patrícia.
- Meu nome é René Siqueira, sou irmão da Patrícia, tenho
17 anos também...
- Ué, vocês são gêmeos?
- Sim.
- Tá, continue falando.
- Não sei o que quero ser ainda. Acho que só.
- E mudaram de escola porquê?
Patrícia e René ficam em silêncio.
- Hein, respondam! - Diz Carol.
- Que eu saiba. - Fala René. - Nós
viemos para o colégio
e não
para uma coletiva de imprensa!
Carol engole a seco e se vira para o quadro e
começa
a copiar um texto.
Júnior vira para Juliana e Carlany e diz.
- Adoro esses alunos que desafiam os
professores, dão
um gás
na aula.
- Verdade... - diz Juliana.
Durante o intervalo Júnior e
Carlany vão
para a cantina e Juliana sobe correndo na sala para pegar dinheiro. Antes de
entrar ela ouve uma conversa de René com Patrícia.
- Você deu mole, quase contou de onde a gente veio
para a professora, está maluca!? - Pergunta René.
- Eu não ia contar, só estava pensando numa boa resposta.
- E França foi a melhor coisa que você pensou?
Você
sabe que se descobrirem algo nunca seremos aceitos aqui!
- Eu sei desculpa.
Juliana entra na sala e René sai
bufando.
Ela pega o dinheiro olhando para Patrícia que
está
mexendo no celular, ela ainda acha aquela garota muito estranha.
Juliana sai da sala e desce as escadas
correndo, no último
degrau ela esbarra em René.
Umas imagens surgem na cabeça de
Juliana quando ela encosta nele. Ruas destruídas, carros pegando fogo. Ela volta para si e
fica olhando assustada para René que também muda sua expressão.
Juliana corre para a cantina e René sobe as
escadas correndo.
Juliana chega correndo e esbaforida na
cantina.
- O que houve garota? - Pergunta Carlany.
- Sa... - Juliana está sem fôlego. -
Sabe aquelas cenas de filme, que a mocinha toca no mocinho e eles veem o
futuro?
- Sei...
- Então, acabou de acontecer comigo!
- Oi? Conta isso direito.
- Então, estava descendo a escada voando e esbarrei
naquele menino estranho da nossa sala, o René, aí veio umas imagens na minha cabeça...
- De vocês dois juntos, se beijando na beira do mar?
- Não menina, muito pelo contrário, eram
imagens de uma cidade destruída, um cenário de guerra sei lá.
- Ih amiga, lamento te informar, mas você está lendo
distopias demais.
- É sério Carlany!
- Tão sério quanto o Júnior gostando de mulheres...
- Opa ouvi meu nome? - Surge Júnior atrás de
Carlany com dois salgados em uma mão e duas latas de refrigerante em outra. -
Toma aqui seu refri e seu salgado. - Ele entrega um salgado e um refrigerante
para Carlany. - Então, sobre o que vocês estavam
falando?
- Então amigo, a Ju doidinha teve uma visão do
futuro quando tocou no estranho da nossa turma.
- Sério? Que nem aquelas cenas de filmes?
- É Júnior.
- Menina, vai para cima, ele é o homem
da tua vida.
- Não foi nada disso, foi umas imagens de um cenário de
alguma coisa assim.
- Normal vindo daquele garoto...
- Tá, agora me deixem ir para a fila que já tá bem
grandinha. - Juliana entra na fila.
Jéssica surge na cantina com as mãos
levantadas dizendo.
- Gente, gente hoje à noite,
festinha na minha casa, e todos vocês estão convidados hein, TODOS!
Na sala, Patrícia nota que René está inquieto.
- O que houve maninho? - Pergunta ela.
- Uma garota aqui da sala...
- O quê que tem?
- A gente se esbarrou na escada e tivemos uma
visão.
- QUE VISÃO!?
- Sobre aquilo.
- Sério René? É sério isso!?
- Eu já brinquei com esse assunto antes?
- Não...
- Então... O que devo fazer?
- Não sei, mas vamos pensar em algo.
Juliana, Júnior e Carlany estão sentados
à
mesa comendo e conversando.
- Vamos a essa festa da chati... digo Jéssica? -
Pergunta Júnior.
- Sei lá, essa festa seria um ótimo lugar
para eu descobrir as coisas desse René... - responde Juliana. - Mas ele não deve ir.
- Como sabe? - Pergunta Carlany.
- Olha, ele não faz muito o tipo de garotos que curtem
festas, ainda mais numa segunda feira e além do mais ele não ouviu o convite da garota.
- Não ouviu, mas pode ficar sabendo ué. - Diz Júnior se
levantando da cadeira. - Me esperem.
Júnior sobe a escada e dá de cara
com René
e Patrícia
descendo.
- Opa! Era com vocês mesmo
que eu queria falar.
- Conosco? - Pergunta Patrícia.
- Sim, então hoje à noite terá uma festinha na casa da nojenta... digo, Jéssica e
ela convidou todos da turma, aliás todos da escola, então como vocês não ouviram
o convite dela, me senti na obrigação de chamá-los. E aí querem ir?
- Obrigado por convidar, mas nã...
- Todos da escola? Todos mesmo? - Interrompe
René.
- Sim... todos.
- Então nós vamos sim!
- Ótimo! Me passa o número do
seu telefone sei lá,
para dizer o endereço, horário essas coisas.
- Anota aí.
Juliana e Carlany estão saindo
do banheiro quando veem Júnior vindo correndo pelo corredor.
- Então meninas, novidades. Eles vão a
festa!! E eu ainda consegui o número do boy!
- Arrasou bicha! - Diz Carlany.
- Eu sei.
Chega a hora da festa. Júnior e
Carlany estão
esperando Juliana na porta da casa de Jéssica.
- Demorou em cinderela. - Diz Júnior.
- Não conheço muito essa parte do bairro.
- Tudo bem, vamos entrar logo que seu gatinho
já
chegou.
- Mas já? Nossa...
Juliana entra na casa e logo vê René, ele está de calça skinny preta, casaco cinza e uma touca verde
musgo.
- Vou pegar um refri. - Diz Juliana para o
grupo.
- Tudo bem vai lá. - Diz Carlany que parece ter sido a única a
ouvi-la.
Juliana pega um copo de refrigerante e fica
andando olhando por cima das pessoas para ver se acha Carlany ou Júnior, ela
acaba esbarrando em René novamente e derruba seu refrigerante no
casaco dele.
- Ai meu Deus desculpa! Você? Espera.
- Juliana segura o braço de René na esperança de ter outra visão, mas
nada acontece.
- Você sujou o meu casaco.
- Vem, vamos no banheiro resolver isso, eu sei
como tira mancha de refrigerante.
- Não, refrigerante nem mancha, eu vou para casa,
lá
eu lavo o casaco.
- Se esse troço secar aí vai ficar manchado, deixa de ser teimoso
garoto, vem logo!
Juliana puxa René pelo o braço e procura o banheiro mais próximo ela
entra com ele no primeiro que vê.
- Tira o casaco. - Diz Juliana.
- O quê!?
- Anda logo, estou cansada de ver garotos sem
camisa, tira logo esse casaco antes que esse refri seque.
René vira de costas para ela, tira o casaco e a
entrega. Ela vê
uma mancha preta, como se fosse uma tatuagem em sua cintura pelo espelho.
Juliana vira René de frente. Ele tenta esconder a mancha.
- Que tatuagem é essa? - Pergunta ela.
- Não é uma tatuagem, não é nada!
- É sim, deixa eu ver! - Juliana tira a mão de René da
mancha.
- Não! - Ele se afasta dela.
- Sim! - Juliana toca na mancha.
As imagens que ela viu mais cedo voltam a
aparecer em sua mente, ela tira a mão da macha e sente uma pontada de dor na
barriga.
- Ai! - Ela olha para René. - O que é isso?
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