Chegando à parte
exterior da fazenda, Rumina Sete Palmos encontra Eufrásio ao lado do carro
velho que possui, e pergunta ao esposo:
– Esse barulho
todo foi por causa dessa lata velha?
– Sim, muié,
estourou alguma peça aqui. Tenho que descobrir.
– Para de ser mão
de vaca e leva isso logo num mecânico.
– Só tem mecânico
que presta lá em Bulires.
– Vai empurrando
ué. Aproveita e perde essa barriga de chope.
– Fica na tua,
Rumina. Eu mesmo vou mexer nesse carro.
– Você que sabe,
só não fica explodindo ele todo.
– Cê tá chata,
hein, Rumina!
– Deixa eu fazer
o café da manhã, porque mais tarde darei uma saída. – fala a caipira.
– Vai aonde?
– Não é da tua
conta, cabra. – responde Rumina, voltando à cozinha.
***
Na casa de Pietro
e Olga Leite, Regina e Ângela sentam-se na mesa para o café da manhã, já que
Gustavo e seu pai já estão se alimentando.
– Dormiram bem? –
pergunta Gustavo.
– Sim. O quarto é
muito confortável. Obrigada, Gustavo. – agradece Ângela.
– Olga e Pietro,
vocês têm certeza de que não estamos incomodando? – questiona Regina.
– Claro que vocês
não incomodam aqui. É muito recebê-las aqui, não se preocupem com isso. –
responde Olga.
– Mas por que
vocês saíram lá da mansão? – pergunta Pietro, indiscretamente.
– Pai, melhor não
falarmos disso. – fala Gustavo, deixando o pai sem respostas.
– Olga, o que
acha de visitar Bulires conosco hoje – convida Regina.
– Acho ótimo.
– Que bom. Estamos
querendo passear e conhecer mais os lugares próximos de nós. – comenta Regina.
– Mãe, não se
esqueça que essa semana eu tenho a prova para eu entrar na faculdade aqui de
Pitenópolis.
– Claro que não
me esquecerei, Ângela.
– Já decidiu o
que vai cursar, Ângela? Medicina? Direito? Administração? – pergunta Pietro.
– Não, nenhuma
dessas.
– Já sei:
engenharia, né? – tenta Olga.
– Também não,
farei Pedagogia.
– Cruzes. Vai ser
professora? – espanta-se Olga.
– Sim, esse é meu
sonho.
– Isso tá mais
para pesadelo. – comenta Pietro, em voz baixa.
– Gente, vamos
parar. Deixem a Ângela. – fala Gustavo, olhando diretamente para seus pais, que
ficam quietos.
– Eu vou
trabalhar. Vem comigo, Gustavo?! – diz o marido de Olga.
– Sim.
Gustavo e Pietro
saem da casa, enquanto Regina, Olga e Ângela continuam comendo.
***
Chegando à loja
da empresa Vinhos Albuquerque, Gustavo depara-se com Leia:
– Chegou cedo,
hein, Leia?! Não conseguiu dormir não?!
– Quase isso.
Ainda estou com um ódio dessa Ângela, que sou capaz de qualquer coisa para
trazer o Augusto de volta.
– Então leva ele
de volta, porque a Ângela já não está mais com ele.
– Como assim?
– Ela discutiu
com o pai e está hospedada lá em casa com a mãe dela.
– Sério?
– Não. Estou
zoando com sua cara e agora vou trazer uma baleia de biquíni dançando. –
ironiza Gustavo
– Pare de
ironias, Gustavo. Rolou algo entre vocês?
– Infelizmente
não, porque com aquela mãe dela grudada nela 24 horas por dia fica até difícil.
– Posso te ajudar.
– Como?
– Ainda não sei.
Estou pensando em algo.
– Ok. Agora vamos
trabalhar porque o Jorge está totalmente irritado comigo, só não fui demitido e
nem serei por causa da dona Regina, que tem a maioria da empresa.
– Bora!
Gustavo e Leia
limpam as mesas e as prateleiras da loja, enquanto algumas pessoas começam a
aparecer.
***
Na vinícola
Albuquerque, o ritmo também é de trabalho, já que todos os funcionários já
estão colocando a mão na massa. Pedro fiscaliza o trabalho de todos, porém
assusta-se ao ver Jonas gritando com Aurora novamente:
– Presta atenção
nas coisas, Aurora! Lugar de mulher é só na cozinha e na cama! – grita Jonas,
em tom rude.
– Jonas, fala
baixo. – pede Aurora, em tom baixíssimo.
Pedro se aproxima
do casal e pergunta:
– O que está acontecendo
aqui, Jonas?
– Nada não,
Pedro.
– Conte-me o que
estava acontecendo, Aurora.
– Nada demais.
– Nada demais
não. Aurora, você não pode aceitar esses machismos.
– Ei, Pedro, pare
de se intrometer na nossa conversa. Nunca ouviu ‘‘em briga de marido e mulher
não se mete a colher’’?
– Jonas, estou
avisando só mais uma vez: da próxima vez que você tratar algum funcionário aqui
da vinícola, independente de ser a Aurora, eu vou ter que conversar com a dona
Regina sobre sua demissão.
– A Regina não
tem autoridade pra isso.
– Você está
enganado. Ela é dona de mais da metade daqui, portanto é ela quem decide quem
será demitido ou não. – fala Pedro, deixando Jonas mudo e de cabeça baixa.
Pedro continua
fiscalizando os trabalhos na vinícola e Aurora afasta-se de Jonas,
aproximando-se de Augusto.
– Bom dia
Augusto. Nem havia te visto hoje. Tudo bem? – cumprimenta Aurora.
– Mais ou menos.
– Por quê?
– Ontem aconteceu
uma confusão das boas lá na praça, envolvendo a Leia também.
– Então foi por
isso que ela chegou com uma cara abatida ontem. Mas o que aconteceu?
– Nem eu entendi
muito bem, mas eu estava numa espécie de encontro com a Ângela Albuquerque e a
Leia desmaiou e depois começou a falar que eu e ela éramos namorados e um monte
de outras bobeiras, mas depois confessou que tinha feito aquilo para eu ficar
com ela.
– Não consigo
acreditar nisso. Ela só pode estar maluca.
– Eu até pensei
que poderia ser bebida, mas a Leia nunca foi de beber.
– Pois é. Vou
conversar com ela.
– Só não diga que
fui eu quem disse.
– Tudo bem. Fiquei
sabendo de algo sobre a Ângela que pode te interessar.
– O que?
– Ela saiu de
casa junto com a mãe e as duas estão lá na casa do Gustavo e dos pais dele,
Olga e Pietro Leite.
– Mas por quê?
– Parece que as
duas discutiram com o seu Jorge e o Gustavo as tirou de lá.
– Obrigado por me
contar, Aurora. – agradece Augusto, que logo volta a trabalhar pensando em
Ângela.
***
Aproveitando mais
uma saída comum de Gustavo da loja ‘‘Vinhos Albuquerque’’, que estavam sentados
nos bancos da praça em frente à loja, entram na loja e sentam-se.
– Seu Tito, dona
Josefina, como vão? – pergunta Leia, abraçando os avós de Augusto.
– Não tão bem
como eu queria. – responde Josefina.
– Como assim?
– Fiquei sabendo
de um barraco aqui ontem na praça. O que aconteceu?
– Esse Augusto é
mesmo um fofoqueiro.
– Leia, nós só
queremos o seu bem e queremos saber a sua versão dessa história. – explica
Josefina, encostando no braço da vendedora.
– Bem, eu não
quero falar disso, dona Josefina e seu Tito. Eu sei que o que eu fiz foi
totalmente errado e sem pensar, mas eu quero conversar melhor com o Guto e
pedir desculpas. Não sei o que aconteceu comigo ontem.
– Tudo bem, Leia.
Saiba que pode contar sempre conosco. – fala Tito, abraçando Leia.
Tito e Josefina
despedem-se de Leia e saem da loja.
***
Antes de chegar
ao trabalho, Álvaro passa em frente à casa de Jenny Franc e Mary Leh, e resolve
conversar com elas sobre o plano de espantar Max e Carmen. O advogado bate na
porta da casa das irmãs e logo é atendido por Mary, que usa um vestido
vermelho, longo e com um grande decote frontal.
– Álvaro? O que
quer logo cedo? – pergunta Mary.
– Preciso
conversar com você e Jenny. Posso entrar?
– Claro. –
responde Mary, abrindo a porta para Álvaro, que entra.
– Álvaro! Tudo
bem? – pergunta Jenny, surpresa com a presença do advogado.
– Tudo ótimo,
Jenny. Então, não posso demorar muito, mas queria a ajuda de vocês em algo
muito importante.
– Vá direto ao
ponto! – recomenda Mary.
– A Sofia, que
mora lá na pensão, está sendo perseguida por dois bandidos que querem prendê-la
para ela ser usada como prostituta, e eles estão de tocaia toda hora lá em
frente à pensão. Quase não consegui sair de lá hoje, por isso, preciso que
vocês finjam que estão sendo possuídas por algum espírito para assustar esses
dois.
– Mas por que
isso daria certo? – pergunta Jenny.
– Na verdade, não
sei, é um chute. Não custa nada arriscar.
– Por mim, tudo
bem. Adoro dar uns sustinhos.
– Também.
– Então ótimo.
Pode ser ótimo?
– Sim. –
respondem as irmãs juntas.
– Então eu ligarei
quando der a hora.
– Ótimo, Álvaro. –
diz Mary Leh.
Álvaro sai da
casa das irmãs e segue seu caminho ao escritório da Vinhos Albuquerque.
***
Após sair da
vinícola sem a percepção de Aurora e de Pedro, Jonas chega à mansão
Albuquerque, toca a campainha do portão central, que se abre. O funcionário da
vinícola Vinhos Albuquerque caminha pelo extenso jardim e entra pela porta de
madeira da casa que estava aberta. Ao chegar à sala, encontra Jorge deitado no
chão, cercado de garrafas de bebidas alcoólicas e vasos que quebrou. Jonas pega
uma das garrafas e a arremessa contra a parede, acordando Jorge.
– Que palhaçada é
essa? – grita Jorge, logo após ser acordado.
– Oi seu Jorge.
– Quem é você? O
ET de Varginha?
– Não. Meu nome é
Jonas, Jonas Melo. Eu trabalho na vinícola.
– O que você veio
fazer aqui?
– Vim prestar uma
queixa contra o Pedro.
– O que ele fez?
– Aquele ali vive
se intrometendo entre as minhas brigas e as de minha esposa, Aurora, que também
trabalha na vinícola.
– Odeio quem fica
se metendo em conversas de casal.
– Também odeio,
por isso que vim falar com o senhor sobre isso.
– No momento eu
estou bem ocupado, mas saiba que estou do seu lado contra essas pessoas que
tentam pregar igualdade de gêneros e feminismo. Essas são as duas coisas mais
idiotas que já criaram.
– Ok, obrigado,
seu Jorge.
– Pode me chamar
só de Jorge mesmo. – diz Jorge, apertando a mão de Jonas, que se retira da
mansão.
***
Algumas horas se
passam e, na casa de Olga e Pietro Leite, Regina conversa com Olga sobre o
passeio a Bulires.
– Podemos pegar
um táxi aqui em Pitenópolis e ele nos deixa em Bulires, aí passeamos por lá.
Também quero comprar algumas geleias que só têm lá. – sugere Regina.
– Ótima ideia.
Ângela irá conosco?
– Verei com ela
agora.
Regina vai ao
quarto onde Ângela está e pergunta para a filha:
– Minha filha,
você vai passear em Bulires comigo e com a Olga? Vamos comprar algumas
coisinhas por lá também. Que tal?!
– Eu preciso
estudar, mãe. Passei tanto tempo afastada dos estudos que agora estou colocando
tudo em dia.
– Que pena que
não pode ir, mas que bom que está focada em passar nessa universidade.
– Traz uma geleia
de amora para mim, mãe, por favor.
– Claro, meu
amor. – fala Regina, que dá um beijo no rosto da filha e sai do quarto.
Voltando à sala,
Regina fala com Olga que Ângela ficará estudando e as duas saem da casa.
***
Na pensão de
Hanna Curie, ela e sua prima Cléo iniciam suas previsões amorosas. Depois de
cartazes espalhados pela cidade com frases como ‘‘trazemos a pessoa amada mais
rápido que fofoca no Whats App’’, as primas arrumam uma sala especial para os
atendimentos. Com tudo pronto, entra a primeira pessoa a ser atendida: Rumina
Sete Palmos.
– Boa tarde.
Entre, senhora. – diz Hanna Curie.
– Oi. Anda rápido
que tenho que cozinhar pro meu marido. – fala Rumina, impaciente.
– Então, senhora,
estou vendo aqui as cartas astrais e consigo perceber que você vai encontrar um
homem jovem e que te tratará da forma como você merece. Eu vejo um homem alto,
bonito, barbudo, forte, e ele entrará na sua vida o mais rápido que você
imagina, você nem vai se tocar.
– Ah, brigada,
Senhor. Tô de saco cheio de cozinhar pro Eufrásio. Aquele ali só quer as coisas
prontas.
– Já que a
senhora quis algo bem rápido, é tudo por hoje.
– Só isso?
– Sim. Se quiser
mais, é só pagar um extra.
– Depois eu volto
então. Tenho que ir. – fala Rumina, saindo da sala.
Cléo e Hanna
comemoram o primeiro atendimento falso:
– Caramba, Hanna,
se atendermos uns 10 trouxas por dia, vamos ficar ricas.
– Pois é, Cléo! –
comemora Hanna, abraçando a prima.
***
Na casa de Mary e
Jenny, as duas terminam finalmente o ritual com o segundo e último porco e o
corvo. Mary narra os passos em voz alta, enquanto Jenny vai realizando os
comandos:
– Pegue o corvo e
o porco. Agora se sente em cima do porco e segure o corvo pela cabeça.
Levante-se e pegue uma faca, e utilize-a para esfaquear o porco.
– Tadinho do
porco. Não vou fazer isso, Mary.
– Vai sim, Jenny.
Mary segura na
mão da irmã com a faca e as duas esfaqueiam o porco juntas. O animal faz sons
de sofrimento, porém Mary continua narrando as etapas:
– Agora, deixe o
corvo se alimentar do corpo, porém coloque-os ao ar livre e liberte o corvo.
As irmãs seguem
os dois passos sem reclamações, porém depois Jenny questiona:
– Qual a lógica
desses rituais? Nós tivemos que pegar esse corvo para libertar o maldito?!
– Não reclame,
Jenny. – aconselha Mary.
As irmãs resolvem
dormir um pouco após o ritual, para descansarem para um falso ritual,
‘‘encomendado’’ por Álvaro.
***
Aproveitando sua
hora de almoço, Augusto vai à casa de Gustavo e entra já que a porta está
aberta, porém, ao entrar, depara-se com Ângela sentada no sofá e Gustavo
enrolado numa toalha.
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