segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Capítulo 6: Magia Sensata

Ao ver Leia desmaiada, Augusto logo afasta-se de Ângela e aproxima-se de Leia, encostando na amiga. Augusto chama o nome de Leia diversas vezes, porém ela não se mexe. Então, Leia, fingindo o desmaio, beija Augusto. Ângela fica em estado de choque e vai se afastando aos poucos de Augusto. Leia ainda completa o plano e fala em tom de voz alto, e até Ângela a ouve:
– Augusto, que susto! Estava fazendo o que com a Ângela? Já estamos namorando há meses.
– Como assim, Leia? Você está bem? – pergunta Augusto, sem entender a situação.
– Claro, meu amor. Hoje completamos 3 meses de namoro, não é?
– Leia, você está bêbada ou drogada?
– Claro que não.
– Pois está parecendo.
– Acho melhor eu ir embora. – fala Ângela.
– Ângela, fique aqui. A Leia não está falando nada com nada.
– Gutinho, vamos lá pro seu quarto! – diz Leia.
– Leia, por favor, vá para a casa da Aurora. Amanhã eu te visito. Você precisa descansar, você não está bem.
– Augusto, eu vou para casa. – avisa Ângela, afastando-se de Augusto e Leia.
– Ângela, eu vou com você então.
– Não, depois conversamos.
Ângela vai em direção a sua casa, deixando Leia e Augusto na praça. Gustavo observa tudo de longe, rindo e tirando fotos.

***
Ângela chega a sua casa. Jorge está na sala de estar lendo um jornal, enquanto Regina ajuda a empregada no preparo do jantar, na cozinha.
– Ângela, onde você estava? – pergunta Jorge, em tom arrogante.
– No bordel que não era. – ironiza Ângela.
– Fala direito com seu pai, Ângela. – fala Jorge.
– Não é da sua conta, pai.
– Claro que é. Eu sou o seu pai, sua abusada.
– Eu já tenho mais que 18 anos.
– E daí? Você não se sustenta!
– Então eu sou um problema, um encosto nessa casa? Saio daqui hoje mesmo.
– Pretende ir aonde?
– Isso não lhe interessa.
– Olha, garota, você anda muito abusada. Vou pegar meu cinto e você vai ver quem é que manda aqui.
– Vai pegar o cinto só se for para enfiar lá, né?
– Me respeita, Ângela. – grita Jorge.
– Cadê minha mãe?
– Na cozinha, ajudando essa empregada lerda e inútil. Lugar de mulher é na cozinha ou cuidando dos negócios da família.
– Você é insuportável, seu Jorge.
– Olha bem como você fala comigo, Ângela.
– Você não consegue enxergar que as mulheres não são dos maridos. Somos independentes.
– Ângela, saia da minha casa agora! – grita Jorge.
Regina, na cozinha, escuta o grito do marido e corre até a sala, falando:
– Jorge, não faça isso, podemos conversar. Os ânimos estão exaltados.
– Cala a boca, Regina.
– Para de falar assim com a minha mãe, Jorge.
– Jorge, se é assim, então eu vou embora com a Ângela. – fala Regina, levando uma bofetada de Jorge no rosto.
– Seu monstro, criminoso. – grita Ângela.
Ângela dá a mão a Regina, que se levanta.

***
Mary e Jenny continuam correndo desesperadamente já que Rumina e Eufrásio estão atrás das irmãs. Mary e Jenny começam a se cansar, porém entram rapidamente em casa. Rumina e Eufrásio batem na porta diversas vezes.
– Meninas abusadas, abram essa porta já! Cês são duas bandidinhas mesmo! Vou chamar a polícia. – grita Rumina.
– Se chamar a polícia, vou falar que vocês praticam tráfico ilegal de animais, seus roceiros. – fala Mary, deixando Rumina sem palavras.
– Abra logo essa porcaria, Mary. – grita Eufrásio.
As irmãs conversam e pensam numa forma de retirar o casal caipira da frente da casa delas. Jenny sugere:
– Por que não jogamos um balde de água neles?!
– Até seria engraçado, Jenny, porém se esse roceiro não desistiu após ser jogado no chiqueiro, imagina com água.
– Verdade. Não tinha pensado nisso.
– Eu posso fingir que estou possuída por algum espírito ruim e ameaço esses caipiras.
– Você sempre faz isso, Mary, todos já conhecem essa farsa. E tem mais: eu me recuso a participar disso. Não gosto nem de falar de espíritos e forças superiores.
– Você tem alguma outra ideia?
– Podemos soltar o corvo por aí, então eles irão atrás desse maldito pássaro, e nos deixarão em paz.
– O corvo é para outra etapa do ritual, inteligência rara.
– Então soltamos aqueles ratos que criamos.
– Boa ideia. Eles são bem nojentos.
Mary vai até o porão e volta com uma caixa cheia de ratos vivos. Mary Leh vai ao segundo andar da casa e, de uma janela voltada para a rua, joga os ratos em cima de Eufrásio e Rumina. Os dois gritam e correm rapidamente, voltando à fazenda ''Leite de Porca'', com medo dos ratos.

***
Na praça central de Pitenópolis, Augusto conversa com Leia, agora sentada ao lado do neto de Tito e Josefina.
– Leia, por que você falou aquelas coisas? Por que aquele beijo? E o desmaio?
– Eu te amo, Augusto.
– Por que não me falou? Então o beijo, o desmaio e tudo aquilo era invenção sua?
– Eu fiz isso porque não quero você com a Ângela. Vocês têm realidades totalmente opostas. Nós fomos feitos um para o outro.
– Leia, nós somos grandes amigos, nada mais do que isso.
– Augusto, o que ela tem que eu não tenho? Dinheiro? É esse o problema?
– Claro que não ligo para o dinheiro dela, Leia. Não quero ficar aqui para ouvir essas besteiras. Segue a sua vida.
– Já que você não me quer, não vai ficar com a Ângela.
– O que você quer dizer com isso?
– Nada não. Espera pra ver.
– Tchau, Leia. Volte para a casa da Aurora. Beijo.
Leia sai da praça. Augusto retorna para a pensão de Hanna Curie. Gustavo vai atrás de Leia e, ao encontrá-la, fala:
–  Leia, irei à casa dos Albuquerque agora. O que acha?
–  O que vai fazer lá?
–  Quero conversar com a Ângela, pois ela deve estar frágil.
–  Boa ideia, Gustavo. Estou muito cansada, voltarei para casa agora. Tudo bem?
–  Tudo ótimo. Parabéns pela encenação.
–  Obrigada.
Os dois se abraçam e Gustavo vai em direção à casa dos Albuquerque.

***
Na pensão de Hanna Curie, ela e Cléo pegam objetos espalhados pela pensão que possam decorar a sala em que a ex-cafetina pretende fazer suas previsões com cartas para lucrar mais. Augusto entra na pensão, enquanto as primas estão pegando tais objetos. O neto de Tito e Josefina conta para elas sobre o ocorrido envolvendo ele, Leia e Ângela. Tito e Josefina chegam, já que estavam no mercado, e ficam surpresos com o que o neto relata.
– Sempre achei que essa Leia fosse uma menina tão doce e meiga. – conta Josefina.
– Ela é, vó, mas não sei por que fez isso.
– Leia é um doce. Perdeu os pais cedo e sofreu naquele orfanato, mas sempre foi uma ótima moça. Amanhã podemos lá conversar com ela, né, Josefina? – sugere Tito.
– Claro, amor. Adoro essa menina.
Augusto observa pelas janelas da pensão que dão visão à rua que há duas pessoas sentadas em cadeiras lá. Sofia aproxima-se da sala da pensão e ao ver, pela janela, Max e Carmen, esconde-se. Álvaro entra na pensão e comenta sobre Max e Carmen:
– Sofia, ali fora são aqueles dois pilantras?
– Sim, Álvaro. Precisamos fazer algo, não estou aguentando mais isso.
– Temos que ir a Bulires. A polícia de lá é bem mais eficiente e tudo isso começou lá.
– Como eu vou sair daqui?
– Podemos chamar Mary e Jenny para espantar esses bandidos.
– Como? Batendo?
– Não. Elas podem fingir que estão recebendo algum espírito. Aquelas duas adoram fazer isso e amam aparecer.
– Boa ideia, Álvaro.
Os dois se beijam e vão à sala da pensão, onde estão os outros hóspedes.

***
Leia chega à casa de Aurora e Jonas com uma cara fechada. Aurora está brincando com o filho. Jonas pergunta à Leia, em tom indiscreto:
– Tava onde, Leia?
– Não é da sua conta, Jonas.
– Que grosseria, hein, Leia. – comenta Jonas.
– O que aconteceu amiga? Que cara é essa? – pergunta Aurora.
– A única que ela tem: de bunda. – brinca Jonas, rindo.
– Jonas, poupe-me. Estou cansada, Aurora, e além do mais, Augusto me desprezou mais uma vez.
– Como assim? Conta mais. – pede Aurora, curiosa.
– Então o plano deu errado? – pergunta Jonas.
– Que plano? – perguntam Leia e Aurora ao mesmo tempo.
– Nada não, pensei alto. Esqueçam!
– Agora fala, Jonas. – diz Aurora, curiosa novamente.
– Não vou falar nada, Aurora.
– Eu vou dormir então. Até amanhã. – diz Leia, saindo da sala e indo ao seu quarto.
– Durma bem, amiga. Até amanhã. – fala Aurora.
Leia sai da sala da casa, junto de Guilherme, filho de Aurora e Jonas. Aproveitando o momento, Aurora deita-se no ombro do marido, no sofá da sala, dá um beijo em Jonas, porém ele se afasta e levanta do sofá, dirigindo-se ao quarto do filho. Aurora fica na sala, desolada ao ser largada pelo marido.

***
Gustavo chega à mansão dos Albuquerque e toca a campainha do portão inicial. O portão se abre e o filho de Olga e Pietro entra no jardim da mansão. Gustavo admira o jardim belo da mansão, iluminado por luzes coloridas e com diversas flores e árvores. Ele bate na porta de madeira da mansão e entra, após o chamado de uma empregada. Gustavo adentra a sala da grande e se depara com a discussão entre Ângela, Jorge e Regina, exatamente quando o patriarca dá mais um tapa na cara de sua esposa. Gustavo separa Jorge da esposa.
–  O que você está fazendo aqui, Gustavo? – pergunta Jorge, irritado.
– Vim falar com a Ângela, mas agora reparei que cheguei num horário ruim.
– Ruim nada. Nos ajuda, Gustavo. – pede Ângela, chorando.
– Quem deixou você entrar? – questiona Jorge, frustrado.
– Os porteiros, ué.
– Vou demitir essa gentalha incompetente.
– Não tô nem aí, Jorge. Já decidi: eu e Ângela vamos embora. – fala Regina, determinada.
– Para onde? Para debaixo de uma ponte ou para um bordel? – pergunta Jorge, rindo.
– Para a minha casa. – responde Gustavo, surpreendendo Jorge, Regina e Ângela.
– Você não pode fazer isso, Gustavo. Eu sou o seu patrão. Se fizer isso, pode entrar em férias, mas essas serão eternas. – diz Jorge.
– Jorge, não sei se você se esqueceu mas eu que sou a sócia principal da Vinhos Albuquerque. Tenho 60%, por isso, as decisões de demissão precisam passar por mim antes. – avisa Regina, frustrando seu marido.
– Droga! Não sei por que passei essa parte para você. – indigna-se Jorge.
– Não quero ficar aqui ouvindo lamentação sua, Jorge. Vamos embora. – diz Regina.
Ângela e Regina sobem para seus quartos, e Gustavo vai junto. Alguns minutos depois, os três descem as escadas da bela mansão com várias malas e bolsas. Regina encara o olhar irritado de Jorge e diz:
– Estamos indo. Depois eu volto para pegar todas outras coisas nossas. Não vou deixar você nem com um centavo meu.
– Você não vai tirar nada meu, sua rapariga.
– Rapariga é a sua mãe, e eu só quero o que é meu e da Ângela. Não quero mais saber de você, seu porco. – fala Regina, saindo da casa, junto da filha e de Gustavo.
Ângela, Gustavo e Regina saem da casa e se despedem dos funcionários. Jorge continua na sala, sentado numa cadeira. Ao ver pela janela da sala a saída dos três, o empresário joga vários vasos de vidro e porcelana na parede, quebrando-os. Uma das empregadas aproxima-se e pergunta:
– Doutor Jorge, o senhor quer alguma coisa?
– Não. Vaza daqui. – grita Jorge, expulsando a empregada da sala.
O empresário, então, continua jogando os objetos na parede e depois deita-se no sofá.

***
Gustavo, Ângela e Regina chegam à casa dos pais do jovem. Ao entrarem na casa, Olga e Pietro estão seminus deitados no sofá. Os dois ficam extremamente surpresos com a chegada de Ângela e Regina, que riem dos trajes dos pais de Gustavo. Os pais do gerente acenam para as duas e correm para o quarto deles.
– Meu Deus, desculpa, dona Regina e Ângela. Não sabia que eles estavam em casa, nem desse jeito. ­– diz Gustavo, envergonhado com a situação.
– Não vamos incomodar mesmo, querido? – pergunta Regina, preocupada.
– Claro que não. Podem ficar pelo tempo que precisarem.
– Obrigada pelo carinho, Gustavo. – agradece Ângela, dando um beijo no rosto de Gustavo, que fica tímido.
– De nada. Vocês ficarão no quarto de hóspedes. Tudo bem?
– Tudo ótimo, querido.
Regina e Ângela vão ao quarto de hóspedes, acompanhadas de Gustavo.

***

A noite passa rapidamente e o sol do dia seguinte chega. Na cozinha da fazenda Leite de Porca, Rumina prepara o café da manhã num velho fogão, até que escuta uma explosão vindo da parte exterior da fazenda, e sai correndo para ver o ocorrido.

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