Ao ver Leia desmaiada, Augusto logo afasta-se de Ângela e
aproxima-se de Leia, encostando na amiga. Augusto chama o nome de Leia diversas
vezes, porém ela não se mexe. Então, Leia, fingindo o desmaio, beija Augusto.
Ângela fica em estado de choque e vai se afastando aos poucos de Augusto. Leia
ainda completa o plano e fala em tom de voz alto, e até Ângela a ouve:
–
Augusto, que susto! Estava fazendo o que com a Ângela? Já estamos namorando há
meses.
–
Como assim, Leia? Você está bem? – pergunta Augusto, sem entender a situação.
– Claro,
meu amor. Hoje completamos 3 meses de namoro, não é?
–
Leia, você está bêbada ou drogada?
–
Claro que não.
–
Pois está parecendo.
–
Acho melhor eu ir embora. – fala Ângela.
–
Ângela, fique aqui. A Leia não está falando nada com nada.
–
Gutinho, vamos lá pro seu quarto! – diz Leia.
–
Leia, por favor, vá para a casa da Aurora. Amanhã eu te visito. Você precisa
descansar, você não está bem.
–
Augusto, eu vou para casa. – avisa Ângela, afastando-se de Augusto e Leia.
–
Ângela, eu vou com você então.
–
Não, depois conversamos.
Ângela
vai em direção a sua casa, deixando Leia e Augusto na praça. Gustavo observa
tudo de longe, rindo e tirando fotos.
***
Ângela
chega a sua casa. Jorge está na sala de estar lendo um jornal, enquanto Regina
ajuda a empregada no preparo do jantar, na cozinha.
–
Ângela, onde você estava? – pergunta Jorge, em tom arrogante.
–
No bordel que não era. – ironiza Ângela.
–
Fala direito com seu pai, Ângela. – fala Jorge.
–
Não é da sua conta, pai.
–
Claro que é. Eu sou o seu pai, sua abusada.
–
Eu já tenho mais que 18 anos.
– E
daí? Você não se sustenta!
–
Então eu sou um problema, um encosto nessa casa? Saio daqui hoje mesmo.
–
Pretende ir aonde?
–
Isso não lhe interessa.
–
Olha, garota, você anda muito abusada. Vou pegar meu cinto e você vai ver quem
é que manda aqui.
–
Vai pegar o cinto só se for para enfiar lá, né?
–
Me respeita, Ângela. – grita Jorge.
–
Cadê minha mãe?
–
Na cozinha, ajudando essa empregada lerda e inútil. Lugar de mulher é na
cozinha ou cuidando dos negócios da família.
–
Você é insuportável, seu Jorge.
–
Olha bem como você fala comigo, Ângela.
–
Você não consegue enxergar que as mulheres não são dos maridos. Somos
independentes.
–
Ângela, saia da minha casa agora! – grita Jorge.
Regina,
na cozinha, escuta o grito do marido e corre até a sala, falando:
–
Jorge, não faça isso, podemos conversar. Os ânimos estão exaltados.
–
Cala a boca, Regina.
–
Para de falar assim com a minha mãe, Jorge.
–
Jorge, se é assim, então eu vou embora com a Ângela. – fala Regina, levando uma
bofetada de Jorge no rosto.
–
Seu monstro, criminoso. – grita Ângela.
Ângela
dá a mão a Regina, que se levanta.
***
Mary
e Jenny continuam correndo desesperadamente já que Rumina e Eufrásio estão
atrás das irmãs. Mary e Jenny começam a se cansar, porém entram rapidamente em
casa. Rumina e Eufrásio batem na porta diversas vezes.
–
Meninas abusadas, abram essa porta já! Cês são duas bandidinhas mesmo! Vou
chamar a polícia. – grita Rumina.
–
Se chamar a polícia, vou falar que vocês praticam tráfico ilegal de animais,
seus roceiros. – fala Mary, deixando Rumina sem palavras.
–
Abra logo essa porcaria, Mary. – grita Eufrásio.
As
irmãs conversam e pensam numa forma de retirar o casal caipira da frente da
casa delas. Jenny sugere:
–
Por que não jogamos um balde de água neles?!
–
Até seria engraçado, Jenny, porém se esse roceiro não desistiu após ser jogado
no chiqueiro, imagina com água.
–
Verdade. Não tinha pensado nisso.
–
Eu posso fingir que estou possuída por algum espírito ruim e ameaço esses
caipiras.
–
Você sempre faz isso, Mary, todos já conhecem essa farsa. E tem mais: eu me
recuso a participar disso. Não gosto nem de falar de espíritos e forças
superiores.
–
Você tem alguma outra ideia?
–
Podemos soltar o corvo por aí, então eles irão atrás desse maldito pássaro, e
nos deixarão em paz.
– O
corvo é para outra etapa do ritual, inteligência rara.
–
Então soltamos aqueles ratos que criamos.
–
Boa ideia. Eles são bem nojentos.
Mary
vai até o porão e volta com uma caixa cheia de ratos vivos. Mary Leh vai ao
segundo andar da casa e, de uma janela voltada para a rua, joga os ratos em
cima de Eufrásio e Rumina. Os dois gritam e correm rapidamente, voltando à
fazenda ''Leite de Porca'', com medo dos ratos.
***
Na
praça central de Pitenópolis, Augusto conversa com Leia, agora sentada ao lado
do neto de Tito e Josefina.
–
Leia, por que você falou aquelas coisas? Por que aquele beijo? E o desmaio?
–
Eu te amo, Augusto.
–
Por que não me falou? Então o beijo, o desmaio e tudo aquilo era invenção sua?
–
Eu fiz isso porque não quero você com a Ângela. Vocês têm realidades totalmente
opostas. Nós fomos feitos um para o outro.
–
Leia, nós somos grandes amigos, nada mais do que isso.
–
Augusto, o que ela tem que eu não tenho? Dinheiro? É esse o problema?
–
Claro que não ligo para o dinheiro dela, Leia. Não quero ficar aqui para ouvir
essas besteiras. Segue a sua vida.
–
Já que você não me quer, não vai ficar com a Ângela.
– O
que você quer dizer com isso?
–
Nada não. Espera pra ver.
–
Tchau, Leia. Volte para a casa da Aurora. Beijo.
Leia
sai da praça. Augusto retorna para a pensão de Hanna Curie. Gustavo vai atrás
de Leia e, ao encontrá-la, fala:
– Leia, irei à casa dos Albuquerque agora. O que
acha?
– O que vai fazer lá?
– Quero conversar com a Ângela, pois ela deve
estar frágil.
– Boa ideia, Gustavo. Estou muito cansada,
voltarei para casa agora. Tudo bem?
– Tudo ótimo. Parabéns pela encenação.
– Obrigada.
Os
dois se abraçam e Gustavo vai em direção à casa dos Albuquerque.
***
Na
pensão de Hanna Curie, ela e Cléo pegam objetos espalhados pela pensão que
possam decorar a sala em que a ex-cafetina pretende fazer suas previsões com
cartas para lucrar mais. Augusto entra na pensão, enquanto as primas estão
pegando tais objetos. O neto de Tito e Josefina conta para elas sobre o
ocorrido envolvendo ele, Leia e Ângela. Tito e Josefina chegam, já que estavam
no mercado, e ficam surpresos com o que o neto relata.
–
Sempre achei que essa Leia fosse uma menina tão doce e meiga. – conta Josefina.
–
Ela é, vó, mas não sei por que fez isso.
–
Leia é um doce. Perdeu os pais cedo e sofreu naquele orfanato, mas sempre foi
uma ótima moça. Amanhã podemos lá conversar com ela, né, Josefina? – sugere
Tito.
– Claro,
amor. Adoro essa menina.
Augusto
observa pelas janelas da pensão que dão visão à rua que há duas pessoas
sentadas em cadeiras lá. Sofia aproxima-se da sala da pensão e ao ver, pela
janela, Max e Carmen, esconde-se. Álvaro entra na pensão e comenta sobre Max e
Carmen:
–
Sofia, ali fora são aqueles dois pilantras?
–
Sim, Álvaro. Precisamos fazer algo, não estou aguentando mais isso.
–
Temos que ir a Bulires. A polícia de lá é bem mais eficiente e tudo isso
começou lá.
–
Como eu vou sair daqui?
–
Podemos chamar Mary e Jenny para espantar esses bandidos.
–
Como? Batendo?
–
Não. Elas podem fingir que estão recebendo algum espírito. Aquelas duas adoram
fazer isso e amam aparecer.
–
Boa ideia, Álvaro.
Os
dois se beijam e vão à sala da pensão, onde estão os outros hóspedes.
***
Leia
chega à casa de Aurora e Jonas com uma cara fechada. Aurora está brincando com
o filho. Jonas pergunta à Leia, em tom indiscreto:
–
Tava onde, Leia?
–
Não é da sua conta, Jonas.
–
Que grosseria, hein, Leia. – comenta Jonas.
– O
que aconteceu amiga? Que cara é essa? – pergunta Aurora.
– A
única que ela tem: de bunda. – brinca Jonas, rindo.
–
Jonas, poupe-me. Estou cansada, Aurora, e além do mais, Augusto me desprezou
mais uma vez.
–
Como assim? Conta mais. – pede Aurora, curiosa.
–
Então o plano deu errado? – pergunta Jonas.
–
Que plano? – perguntam Leia e Aurora ao mesmo tempo.
–
Nada não, pensei alto. Esqueçam!
–
Agora fala, Jonas. – diz Aurora, curiosa novamente.
–
Não vou falar nada, Aurora.
–
Eu vou dormir então. Até amanhã. – diz Leia, saindo da sala e indo ao seu
quarto.
–
Durma bem, amiga. Até amanhã. – fala Aurora.
Leia
sai da sala da casa, junto de Guilherme, filho de Aurora e Jonas. Aproveitando
o momento, Aurora deita-se no ombro do marido, no sofá da sala, dá um beijo em
Jonas, porém ele se afasta e levanta do sofá, dirigindo-se ao quarto do filho.
Aurora fica na sala, desolada ao ser largada pelo marido.
***
Gustavo
chega à mansão dos Albuquerque e toca a campainha do portão inicial. O portão
se abre e o filho de Olga e Pietro entra no jardim da mansão. Gustavo admira o
jardim belo da mansão, iluminado por luzes coloridas e com diversas flores e
árvores. Ele bate na porta de madeira da mansão e entra, após o chamado de uma
empregada. Gustavo adentra a sala da grande e se depara com a discussão entre
Ângela, Jorge e Regina, exatamente quando o patriarca dá mais um tapa na cara
de sua esposa. Gustavo separa Jorge da esposa.
– O que você está fazendo aqui, Gustavo? –
pergunta Jorge, irritado.
– Vim
falar com a Ângela, mas agora reparei que cheguei num horário ruim.
–
Ruim nada. Nos ajuda, Gustavo. – pede Ângela, chorando.
–
Quem deixou você entrar? – questiona Jorge, frustrado.
–
Os porteiros, ué.
–
Vou demitir essa gentalha incompetente.
–
Não tô nem aí, Jorge. Já decidi: eu e Ângela vamos embora. – fala Regina,
determinada.
–
Para onde? Para debaixo de uma ponte ou para um bordel? – pergunta Jorge,
rindo.
–
Para a minha casa. – responde Gustavo, surpreendendo Jorge, Regina e Ângela.
–
Você não pode fazer isso, Gustavo. Eu sou o seu patrão. Se fizer isso, pode
entrar em férias, mas essas serão eternas. – diz Jorge.
–
Jorge, não sei se você se esqueceu mas eu que sou a sócia principal da Vinhos
Albuquerque. Tenho 60%, por isso, as decisões de demissão precisam passar por
mim antes. – avisa Regina, frustrando seu marido.
–
Droga! Não sei por que passei essa parte para você. – indigna-se Jorge.
–
Não quero ficar aqui ouvindo lamentação sua, Jorge. Vamos embora. – diz Regina.
Ângela
e Regina sobem para seus quartos, e Gustavo vai junto. Alguns minutos depois,
os três descem as escadas da bela mansão com várias malas e bolsas. Regina
encara o olhar irritado de Jorge e diz:
–
Estamos indo. Depois eu volto para pegar todas outras coisas nossas. Não vou
deixar você nem com um centavo meu.
–
Você não vai tirar nada meu, sua rapariga.
–
Rapariga é a sua mãe, e eu só quero o que é meu e da Ângela. Não quero mais
saber de você, seu porco. – fala Regina, saindo da casa, junto da filha e de
Gustavo.
Ângela,
Gustavo e Regina saem da casa e se despedem dos funcionários. Jorge continua na
sala, sentado numa cadeira. Ao ver pela janela da sala a saída dos três, o
empresário joga vários vasos de vidro e porcelana na parede, quebrando-os. Uma
das empregadas aproxima-se e pergunta:
–
Doutor Jorge, o senhor quer alguma coisa?
–
Não. Vaza daqui. – grita Jorge, expulsando a empregada da sala.
O
empresário, então, continua jogando os objetos na parede e depois deita-se no
sofá.
***
Gustavo,
Ângela e Regina chegam à casa dos pais do jovem. Ao entrarem na casa, Olga e
Pietro estão seminus deitados no sofá. Os dois ficam extremamente surpresos com
a chegada de Ângela e Regina, que riem dos trajes dos pais de Gustavo. Os pais
do gerente acenam para as duas e correm para o quarto deles.
–
Meu Deus, desculpa, dona Regina e Ângela. Não sabia que eles estavam em casa,
nem desse jeito. – diz Gustavo, envergonhado com a situação.
–
Não vamos incomodar mesmo, querido? – pergunta Regina, preocupada.
–
Claro que não. Podem ficar pelo tempo que precisarem.
–
Obrigada pelo carinho, Gustavo. – agradece Ângela, dando um beijo no rosto de
Gustavo, que fica tímido.
–
De nada. Vocês ficarão no quarto de hóspedes. Tudo bem?
–
Tudo ótimo, querido.
Regina
e Ângela vão ao quarto de hóspedes, acompanhadas de Gustavo.
***
A
noite passa rapidamente e o sol do dia seguinte chega. Na cozinha da fazenda
Leite de Porca, Rumina prepara o café da manhã num velho fogão, até que escuta
uma explosão vindo da parte exterior da fazenda, e sai correndo para ver o
ocorrido.
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