Capítulo 32
Marlon abriu o
frasco de veneno. Fechou os olhos e ficou imaginando sua trajetória.
- Será que
depois de tudo que enfrentei, será esse meu fim? Será que tudo foi em vão?
Marlon soltou
o frasco no chão.
- Não. Eu não
sou fraco. Não posso dá esse gosto pra sociedade. Sou forte. Vou honrar tudo o
que já vivi. Tenho meus pensamentos e atitudes que me diferenciam do resto
dessas carcaças de pessoas imundas e hipócritas. Vou me erguer dessa vez. Essa
foi mais uma prova, de que o mundo não é justo. Nada é justo. Vou zelar pela minha
amizade com o Fabrício e a Mônica. Essa riqueza que é a amizade. Depois de tudo
o que passei, a vida me deu uma recompensa, a amizade deles dois. Tenho que
seguir em frente. Sempre com a cabeça erguida. Tenho orgulho de ser quem eu
sou, de estar onde estou.
Enxugando as ralas lágrimas que escorriam pela
face falou:
- Tenho que
aceitar o meu destino e aprender a dominar meus sentimentos.
Depois de seis
anos, Marlon ainda continuava no Jornal Matinal, lugar que lhe trazia paz. Como
de costume, ao chegar direcionava-se a sala Fabrício e Mônica, que agora
possuíam cargos de maior importância na empesa, para conversarem sobre as
novidades do dia. Em seguida, encaminhou-se para sua sala. Pouco depois, sua
secretária entrou na sala e disse:
- Senhor
Marlon, tem visita para o senhor.
- Quem é?
- Disse que
era Marta.
- Não disse o
sobrenome?
- Não senhor.
- Pode
deixa-la entrar.
Gilda abriu a
porta e convidou-as a entrar. Marta estava acompanhada de uma menina
encantadora. Tinha olhos castanhos escuros e cabelos negros. Estava vestida com
humilde vestido cor lilás. Ao vê-las, Marlon perguntou:
- Em que posso
ser útil?
- Bom dia
senhor Marlon.
Depois de
apontar para a cadeira que se encontrava na sua frente, a fim de que as duas se
acomodassem, retornou os cumprimentos.
- Meu nome é
Marta. Sou a tia da Solange.
Ao escutar o
nome, Marlon levantou-se furioso. Ao perceber a reação dele, Marta tratou-se de
explicar sua intenção.
- Vim porque
quero te contar um segredo que ela te escondeu a seis anos.
- Tudo que vem
dela é uma maldição.
- Tenho
certeza que essa será uma benção.
Marlon foi ao
encontro de Marta e tratou de pegá-la pelo braço e arrancar de sua sala.
- Espere.
- Esperar pelo
que? Não quero saber nada do que vem daquela mulher.
Ao ver que
Marlon estava decidido a expulsá-la de sua sala, ela gritou:
- Essa menina
é sua filha.
Aquelas
palavras anestesiou Marlon. Foi a última pólvora do barril. Nunca esperava que
o fantasma de Solange rondasse sua vida. Ele soltou o braço da mulher e tratou
de olhar a criança. Ao ver que o homem ia em sua direção, a menina começou a
tremer de medo. Ao ver a reação ele falou:
- Não tenha
medo. Não vou lhe machucar.
Ficou
admirando a menina por minutos. Depois de um vago silencia, a voz de Marlon
quebrou o ar:
- Como se chama?
- Esperança.
O nome da
menina era o sentimento que Marlon tanto alimentava nos últimos tempos. Tinha
esperança que sua vida tomasse outros rumos, sem ser a dor. Pensava em como
recomeçar a vida. Esquecer de todas as marcar que ficaram em seu amargo espírito
machucado. Olhando para Marta indagou:
- Quer dizer
que ela é mesmo minha filha?
- É. Quando
Solange foi presa fazia pouco de três meses de gestação. Você pode imaginar
como a gravidez foi conturbada. Assim que a Esperança nasceu, ela me deu a
menina. Sabia que nunca iria ser libertada. Parece que ela estava pressentido
que... – Marta caiu no choro.
- Como assim,
ela estava pressentindo?
- Meses
depois, ela acabou morrendo. O resguardo não foi nada tranquilo. Ela acabou
deprimida e se suicidou.
Marlon ficara
ainda mais em choque.
- Ela pensou
em você a todo instante. Solange te amava de verdade. Se privações de
sentimentos. Tudo o que ela te dizia era verdade. Sabe porque o nome da sua
filha é Esperança? Porque ela sonhava que um dia você recuperasse esse
sentimento dentro de si, voltando a viver feliz.
Marlon não
aguentou e começou a chorar. Depois que controlou-se abraçou a menina:
- Minha filha!
Minha filha querida!
- Como você é
o pai da Esperança, vim para que soubesse da notícia e ficasse com a guarda da
menina. Foi o último pedido de Solange. Você concorda?
Marlon não
respondeu. Apenas ficou abraçado com a criança.
Depois dos
trâmites, Esperança estava ocupando o seu verdadeiro lugar. Toda a mágoa de
Marlon saíra de cena e dera lugar a um amor puro e verdadeiro, cheio de alegria
e paz.
Num belo
domingo de manhã, Marlon e Esperança foram encontrar-se com Fabrício, Mônica e
Bruno, que era fruto da relação do casal. Ao chegarem no restaurante, Esperança
foi logo cumprimentar os amigos.
-Boa dia!
- Bom dia,
minha linda. Você está linda!
- Obrigada
Mônica.
- Como vocês
estão? – indagou Marlon sentando.
- Estamos
ótimos. Melhor agora. – respondeu Fabrício.
Bruno
levantou-se e entregou um presente para a linda moça e parabenizou-a:
- Parabéns
Esperança.
- Obrigada
Bruno.
- Espero que
goste. Eu mesmo que escolhi.
- Verdade
Esperança. Ontem andamos a tarde inteira. Nunca vi um menino tão indeciso para
comprar um presente. – falou Mônica alegremente. – Você já está uma mocinha.
Como passa rápido. Você tem treze anos. Quem Deus te abençoe muito minha
querida.
- Obrigada.
- Bruno também
já está grande. Ele tem cinco anos e me lembro como se fosse hoje quando o
carregava no colo.
O almoço
deu-se de forma agradável. Todos estavam contentes com o momento. Desde a chegada
de Esperança e Bruno que eles esqueceram as tristezas e começaram a conviver
apenas com a felicidade plena.
Ao terminar o
almoço foram ao parque que havia perto do restaurante. Os adultos sentaram no
banco que estava embaixo de uma árvore frondosa e as crianças foram brincar no
parquinho.
- Nunca me
senti tão completo. – disse Marlon.
- Você sempre
lutou pela felicidade. – disse Fabrício.
- Verdade.
Mais sempre me afastei dela. Fiz muitas coisas para prejudicar os outros e,
principalmente, me maltratar. Hoje vejo que tudo o que fiz foi bobagem. Não
ganhei nada com vingança. Apenas perdi a oportunidade de conhecer a felicidade
mais cedo. Por outro lado, sei que vivi tudo por algum motivo e esse motivo tem
nome. Se não fosse pela adolescência traumática não teria conhecido vocês e
a.... Solange. – proferiu com voz trêmula – Mas hoje sei o real sentido da
felicidade. Ser feliz é estar em paz consigo mesmo, deixando os pensamentos
negativos para trás. Agora só quero desfrutar da minha filha e da amizade de
vocês. – seus olhos marejaram quando viu Esperança e Bruno.
Naquele início
de tarde, a felicidade reinava num coração repleto de feridas, mas também
recheado de aprendizado, perdão e alegria.
FIM
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