segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Escrúpulos: Capítulo 32


Capítulo 32

Marlon abriu o frasco de veneno. Fechou os olhos e ficou imaginando sua trajetória.
- Será que depois de tudo que enfrentei, será esse meu fim? Será que tudo foi em vão?
Marlon soltou o frasco no chão.
- Não. Eu não sou fraco. Não posso dá esse gosto pra sociedade. Sou forte. Vou honrar tudo o que já vivi. Tenho meus pensamentos e atitudes que me diferenciam do resto dessas carcaças de pessoas imundas e hipócritas. Vou me erguer dessa vez. Essa foi mais uma prova, de que o mundo não é justo. Nada é justo. Vou zelar pela minha amizade com o Fabrício e a Mônica. Essa riqueza que é a amizade. Depois de tudo o que passei, a vida me deu uma recompensa, a amizade deles dois. Tenho que seguir em frente. Sempre com a cabeça erguida. Tenho orgulho de ser quem eu sou, de estar onde estou.
 Enxugando as ralas lágrimas que escorriam pela face falou:
- Tenho que aceitar o meu destino e aprender a dominar meus sentimentos.
Depois de seis anos, Marlon ainda continuava no Jornal Matinal, lugar que lhe trazia paz. Como de costume, ao chegar direcionava-se a sala Fabrício e Mônica, que agora possuíam cargos de maior importância na empesa, para conversarem sobre as novidades do dia. Em seguida, encaminhou-se para sua sala. Pouco depois, sua secretária entrou na sala e disse:
- Senhor Marlon, tem visita para o senhor.
- Quem é?
- Disse que era Marta.
- Não disse o sobrenome?
- Não senhor.
- Pode deixa-la entrar.
Gilda abriu a porta e convidou-as a entrar. Marta estava acompanhada de uma menina encantadora. Tinha olhos castanhos escuros e cabelos negros. Estava vestida com humilde vestido cor lilás. Ao vê-las, Marlon perguntou:
- Em que posso ser útil?
- Bom dia senhor Marlon.
Depois de apontar para a cadeira que se encontrava na sua frente, a fim de que as duas se acomodassem, retornou os cumprimentos.
- Meu nome é Marta. Sou a tia da Solange.
Ao escutar o nome, Marlon levantou-se furioso. Ao perceber a reação dele, Marta tratou-se de explicar sua intenção.
- Vim porque quero te contar um segredo que ela te escondeu a seis anos.
- Tudo que vem dela é uma maldição.
- Tenho certeza que essa será uma benção.
Marlon foi ao encontro de Marta e tratou de pegá-la pelo braço e arrancar de sua sala.
- Espere.
- Esperar pelo que? Não quero saber nada do que vem daquela mulher.
Ao ver que Marlon estava decidido a expulsá-la de sua sala, ela gritou:
- Essa menina é sua filha.
Aquelas palavras anestesiou Marlon. Foi a última pólvora do barril. Nunca esperava que o fantasma de Solange rondasse sua vida. Ele soltou o braço da mulher e tratou de olhar a criança. Ao ver que o homem ia em sua direção, a menina começou a tremer de medo. Ao ver a reação ele falou:
- Não tenha medo. Não vou lhe machucar.
Ficou admirando a menina por minutos. Depois de um vago silencia, a voz de Marlon quebrou o ar:
- Como se chama?
- Esperança.
O nome da menina era o sentimento que Marlon tanto alimentava nos últimos tempos. Tinha esperança que sua vida tomasse outros rumos, sem ser a dor. Pensava em como recomeçar a vida. Esquecer de todas as marcar que ficaram em seu amargo espírito machucado. Olhando para Marta indagou:
- Quer dizer que ela é mesmo minha filha?
- É. Quando Solange foi presa fazia pouco de três meses de gestação. Você pode imaginar como a gravidez foi conturbada. Assim que a Esperança nasceu, ela me deu a menina. Sabia que nunca iria ser libertada. Parece que ela estava pressentido que... – Marta caiu no choro.
- Como assim, ela estava pressentindo?
- Meses depois, ela acabou morrendo. O resguardo não foi nada tranquilo. Ela acabou deprimida e se suicidou.
Marlon ficara ainda mais em choque.
- Ela pensou em você a todo instante. Solange te amava de verdade. Se privações de sentimentos. Tudo o que ela te dizia era verdade. Sabe porque o nome da sua filha é Esperança? Porque ela sonhava que um dia você recuperasse esse sentimento dentro de si, voltando a viver feliz.
Marlon não aguentou e começou a chorar. Depois que controlou-se abraçou a menina:
- Minha filha! Minha filha querida!
- Como você é o pai da Esperança, vim para que soubesse da notícia e ficasse com a guarda da menina. Foi o último pedido de Solange. Você concorda?
Marlon não respondeu. Apenas ficou abraçado com a criança.
Depois dos trâmites, Esperança estava ocupando o seu verdadeiro lugar. Toda a mágoa de Marlon saíra de cena e dera lugar a um amor puro e verdadeiro, cheio de alegria e paz.
Num belo domingo de manhã, Marlon e Esperança foram encontrar-se com Fabrício, Mônica e Bruno, que era fruto da relação do casal. Ao chegarem no restaurante, Esperança foi logo cumprimentar os amigos.
-Boa dia!
- Bom dia, minha linda. Você está linda!
- Obrigada Mônica.
- Como vocês estão? – indagou Marlon sentando.
- Estamos ótimos. Melhor agora. – respondeu Fabrício.
Bruno levantou-se e entregou um presente para a linda moça e parabenizou-a:
- Parabéns Esperança.
- Obrigada Bruno.
- Espero que goste. Eu mesmo que escolhi.
- Verdade Esperança. Ontem andamos a tarde inteira. Nunca vi um menino tão indeciso para comprar um presente. – falou Mônica alegremente. – Você já está uma mocinha. Como passa rápido. Você tem treze anos. Quem Deus te abençoe muito minha querida.
- Obrigada.
- Bruno também já está grande. Ele tem cinco anos e me lembro como se fosse hoje quando o carregava no colo.
O almoço deu-se de forma agradável. Todos estavam contentes com o momento. Desde a chegada de Esperança e Bruno que eles esqueceram as tristezas e começaram a conviver apenas com a felicidade plena.
Ao terminar o almoço foram ao parque que havia perto do restaurante. Os adultos sentaram no banco que estava embaixo de uma árvore frondosa e as crianças foram brincar no parquinho.
- Nunca me senti tão completo. – disse Marlon.
- Você sempre lutou pela felicidade. – disse Fabrício.
- Verdade. Mais sempre me afastei dela. Fiz muitas coisas para prejudicar os outros e, principalmente, me maltratar. Hoje vejo que tudo o que fiz foi bobagem. Não ganhei nada com vingança. Apenas perdi a oportunidade de conhecer a felicidade mais cedo. Por outro lado, sei que vivi tudo por algum motivo e esse motivo tem nome. Se não fosse pela adolescência traumática não teria conhecido vocês e a.... Solange. – proferiu com voz trêmula – Mas hoje sei o real sentido da felicidade. Ser feliz é estar em paz consigo mesmo, deixando os pensamentos negativos para trás. Agora só quero desfrutar da minha filha e da amizade de vocês. – seus olhos marejaram quando viu Esperança e Bruno.
Naquele início de tarde, a felicidade reinava num coração repleto de feridas, mas também recheado de aprendizado, perdão e alegria.


FIM

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