CENA 01/INT./MANSÃO
TRINDADE/QUARTO FERNANDA/DIA
Continuação imediata do
capítulo anterior.
PLANO
AMERICANO .
Fernanda apontando o revólver para o
advogado.
MARIA FERNANDA – Eu não tenho o dia todo,
fala logo o que você escolhe.
ADVOGADO – Dona Maria Fernanda, nós
não podemos ter uma conversa ou então/
MARIA FERNANDA – (corta) Você tá me achando com cara de idiota? Eu não caio nesse
papinho de conversa, não. Comigo é na lata, ou é ou não é.
ADVOGADO – Eu não posso fazer uma
coisa dessa. É raro no Brasil, mas eu sou um advogado honesto!
MARIA FERNANDA – Você não entendeu, meu
querido. Ou você forja o testamento do meu falecido pai ou você morre... e eu
não tô brincando!
O advogado abre os braços.
ADVOGADO – Se é pra me matar, me
mata logo. Eu prefiro morrer fazendo meu trabalho corretamente do que viver com
esse peso nas costas.
MARIA FERNANDA – Ai, que certinho. Tenho
horror a gente assim.
ADVOGADO – Menos conversa e mais
ação. Se quer me matar, me mata logo. Viver no meio da corrupção nunca foi um
objetivo de vida.
MARIA FERNANDA – Foi você quem pediu. Bye,
bye!
Maria Fernanda puxa o
gatilho. A arma está sem bala. O advogado começa a rir.
ADVOGADO – É dessa forma que você
quer ser vilã dessa novela? Não prepara nem a munição.
MARIA FERNANDA – Me subestimar é um hobby
seu, né? Mas fique sabendo que quem não tem cão, caça com gato. Maria Fernanda dá uma coronhada na cabeça do
advogado, que cai desmaiado.
Corta
para:
CENA 02/INT./CASA DE
ROSICLER/SALA/DIA
Danilo cessa o beijo.
DANILO – O que foi isso?
NÍNIVE – Você não gostou, Danilo?
DANILO – Não, não é isso. Foi bom!
É que eu não tava esperando.
NÍNIVE – Eu quero te falar uma
coisa que eu nunca tive coragem de dizer.
DANILO – Fala.
NÍNIVE – Danilo, eu/
Társis entra.
TÁRSIS
– Que porcaria tá acontecendo aqui?
Danilo e Nínive nervosos.
Corta
para:
CENA 03/EXT./LIXÃO/DIA
Corte
descontínuo da CENA 01.
Sonoplastia:
(The Mass – ERA)
Um carro chega ao lixão. De
lá, desce Maria Fernanda, que vai ao porta-mala e tira um saco preto de dentro.
Ela abre o saco e a cabeça do advogado se revela. Maria Fernanda dá um tapa
nele, que desperta.
MARIA FERNANDA – Pensei que a bela
adormecida não ia acordar. A coronhada nem foi tão forte, vai.
ADVOGADO – Que lugar é esse? Pra
onde você me trouxe, sua bandida? Eu vou te ferrar com a Justiça!
MARIA FERNANDA – Ai, mas que mania o povo
brasileiro tem de falar de justiça. Justiça é uma coisa que não existe no
Brasil, nem nunca vai existir. Corrupção, capitalismo, ganância, pecado... é
isso que move o Brasil!
ADVOGADO – E você não vê que assim
está ajudando a desonestidade a tomar conta do nosso país?
MARIA FERNANDA – Cada um tem que se virar
do seu jeito pra sacudir a poeira e dar a volta por cima, não é mesmo? Pena que
esse não é o seu caso. Quis ser certinho e babau, acabou aqui. Agora me diz:
ser corrupto é bem mais legal, né?
ADVOGADO – Me tira desse saco agora!
Você não pode me matar, Maria Fernanda!
MARIA FERNANDA – Eu posso tudo, meu
querido. Pra dizer ‘não’ a Maria Fernanda Ramos Trindade é preciso muito feijão
com arroz, querido. Agora chega de conversa, vamos partir para os finalmentes,
sim?
Maria Fernanda arrasta o
saco até um barranco.
ADVOGADO – Me larga! Socorro!
Socorro!
MARIA FERNANDA – Grita, meu amor, grita
bastante, até você esfolar sua garganta! É uma pena que não vai adiantar nada.
Maria Fernanda põe o saco
com o advogado na beira do barranco.
ADVOGADO – Você não vai fazer isso!
MARIA FERNANDA – Eu vou sim. Te vejo no
inferno!
Maria Fernanda empurra o
saco e acena. Vemos o saco com o advogado caindo. Ouvimos seu último grito.
Corte descontínuo. Maria Fernanda entra no carro e limpa as mãos.
MARIA FERNANDA – Menos um pra me
atrapalhar. Ela dá a partida e o carro sai, levantando poeira.
(Music
fase) Corta para:
CENA
04/INT./CASA DE ARTURO/SALA/DIA
Kátia
Flávia está vestida com um sobretudo preto. Arturo entra.
ARTURO
– Tá doente? 40 graus ali fora e você encasacada com isso.
KÁTIA
FLÁVIA – Tô com frio, não pode mais?
ARTURO
– Santa ignorância, hein? Olha, eu vou ali na farmácia comprar meu Sonrisal e
já volto. Se comporte, viu?
KÁTIA
FLÁVIA – Tá bom, tio. Pode ir, eu cuido de tudo. É, e
a Nenê?
ARTURO
– Nenê tá no shopping com o Presente de Grego. Não sei que horas ela volta.
Agora eu tô indo. Juízo, hein?
Arturo
sai. Kátia Flávia olha pela janela e sai logo depois.
Corta para:
CENA
05/EXT./MANSÃO TRINDADE/SALA/DIA
A
campainha toca. Uma empregada atende. Kátia Flávia.
KÁTIA
FLÁVIA – (entrando)
E aí, amiga. Como vai a vida?
EMPREGADA
– Você não pode entrar assim, isso é/
KÁTIA
FLÁVIA – (corta) O Lucas tá em casa, Lucinda?
EMPREGADA
– Senhorita, meu nome é Raquel. Quanto a sua pergunta, isso não lhe diz
respeito, já que não há mais nada entre vocês. Mas por educação, eu respondo:
ele não está, mas vai chegar daqui a pouco.
KÁTIA
FLÁVIA – Magnífico, Lucinda! Ah, e nós não somos
ex-noivos. Nós estamos ex-noivos, porque agora a coisa vai mudar. Aprendi com a
minha amiguinha Cassandra.
EMPREGADA
– Com quem?
KÁTIA
FLÁVIA – Deixa pra lá, fofa. Bye, bye .
Kátia
Flávia sobe as escadas.
EMPREGADA
– O que foi isso?
Corta para:
CENA
06/INT./MANSÃO TRINDADE/QUARTO LUCAS/DIA
Kátia
Flávia entra e tira o sobretudo, revelando uma lingerie preta, com algumas
partes transparentes. Do bolso do sobretudo, ela tira um chicote.
KÁTIA
FLÁVIA – Luquinhas, Luquinhas... Você não vai
resistir!
Kátia
Flávia chicoteia o chão.
Corta para:
CENA
07/INT./CASA DE ROSICLER/SALA/DIA
Társis,
Nínive e Danilo.
TÁRSIS
– Eu tô esperando alguém me explicar essa palhaçada.
NÍNIVE
– Társis, o que você tá fazendo aqui? A mamãe te colocou pra fora de casa!
TÁRSIS
– Eu vim pegar o resto das minhas coisas, mas isso não vem ao caso. O que eu
quero saber é se eu vi mesmo você se agarrando com esse neguinho.
NÍNIVE
– Caso você não esteja cego, você viu certinho. Agora me diz: qual é o
problema?
TÁRSIS
– Agora todo dia é essa mesma conversa? Será que não entra na sua cabeça que
branco não se mistura com preto? Será que só eu que penso nessa casa?
DANILO
– (levanta) Eu já aguentei por muito tempo, Társis. Eu já
fui humilhado, sofri calado, mas tudo tem um limite. Chega!
TÁRSIS
– Quem te deu o direito de colocar o seu dedo na minha cara?
DANILO
– Você tem razão. Você não merece um dedo na cara. Merece cinco!
Danilo
dá um soco em Társis, que põe a mão na boca.
NÍNIVE
– Danilo, por favor, para. Violência não leva a nada!
DANILO
– Nínive, é melhor você sair. Isso é coisa de homem!
TÁRSIS
– Homem é uma coisa que você não é e nunca vai ser. Filho da mãe!
Társis
dá um soco em Danilo, cuja boca sangra.
NÍNIVE
– (grita) Para! Danilo devida e Társis cai.
TÁRSIS
– Você não passa de um bosta!
Danilo
começa a socar Társis sem dó, sem parar.
Nínive
desesperada.
DANILO
– Quem é o bosta agora, hein? Quem é?
NÍNIVE
– Danilo, por favor...
Társis
levanta.
TÁRSIS
– Pra mim chega!
Társis
sai. Danilo se põe a chorar e Nínive o abraça.
DANILO
– (chorando) Desculpa, Nínive. Desculpa!
NÍNIVE
– Tudo bem, eu te entendo. O Társis é um pulha mesmo.
DANILO
– Eu perdi a cabeça, me desculpa. Eu não queria fazer isso na sua frente.
NÍNIVE
– Tá tudo bem, Danilo, já disse. Vem, eu vou cuidar desse machucado.
Os
dois vão para a cozinha.
Corta para:
CENA
08/INT./SHOPPING/ESTACIONAMENTO/DIA
Sonoplastia: (Shake it off – Taylor Swift)
Nenê
e Greg caminham até o carro dele. Eles entram.
NENÊ
– Muito estranho, viu?
GREG
– Do que você tá falando?
NENÊ
– Aquela agonia em sair logo da praça de alimentação me deixou intrigada. O que
você viu lá de tão assustador assim? É alguma coisa que eu não posso saber,
Gregório?
GREG
– (nervoso) O que é isso, Nenê? Você tá desconfiando de
mim? Eu só queria comprar aquela camisa, juro pra você.
NENÊ
– Interessante que você não comprou ela. Você está mentindo, Greg, eu te
conheço.
GREG
– Para de falar besteira, Nenê. Quer um beijinho? Olha o beijinho!
Greg
dá um selinho em Nenê.
GREG
– Aperta o cinto, meu amor. Os dois põem o cinto de segurança.
Greg
dá a partida e bate em alguma coisa.
NENÊ
– Greg, você atropelou uma pessoa!
GREG
– Ai, meu Deus! O que eu fiz?
Greg
sai do carro. Rosicler está deitada no chão.
ROSICLER
– Ai, meu reumatismo. Ai, você não olha por onde anda?
GREG
– Rosicler?
ROSICLER
– Greg?
Os
dois se olham. Nenê não entende nada.
Corta para:
CENA
09/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA/DIA
Entra
Maria Fernanda. A empregada corre até ela.
EMPREGADA
- Dona Maria Fernanda...
MARIA
FERNANDA - Agora não, Ramira. Não tô com cabeça pra
ouvir nhenhenhém de empregada.
EMPREGADA
- O meu nome é Raquel, senhora.
MARIA
FERNANDA - Que seja. O jantar já tá pronto?
EMPREGADA
- Eu tô terminando de fritar o frango. Mas eu quero/
MARIA
FERNANDA - (corta) Você não quer nada, subalterna. Você é paga
pra cozinhar, não pra querer. Passe muito bem.
Maria
Fernanda sobe as escadas.
Corta para:
CENA
10/INT./MANSÃO TRINDADE/QUARTO LUCAS/DIA
Maria
Fernanda abre a porta do quarto. Kátia Flávia começa a fazer um strip-tease.
KÁTIA
FLÁVIA - Olá, tigrão. Que bom que você chegou! A
tigresinha estava te esperando pra uma noite maravilhosa.
Kátia
Flávia chicoteia o chão e ruge. Maria Fernanda liga a lâmpada.
MARIA
FERNANDA - O que você tá fazendo aqui, sua quadrúpede?
Kátia
Flávia envergonhada.
Corta para:
CENA
11/INT./CASA DE MADALENA/SALA/DIA
Madalena
e Angélica sentadas no sofá, vendo TV. Angélica impaciente.
MADALENA
- O que é, Angélica? A novela tá chata?
ANGÉLICA
- Não é isso, tia Madá. Eu adoro Caminho das Índias. Mas eu quero logo visitar
a mansão em que você trabalha.
MADALENA
- Não, meu amor, lá só pode entrar quem a dona da casa convida.
ANGÉLICA
- E quem é essa senhora chata? A presidenta do Brasil?
MADALENA
- Comadre dela! Agora tira essa visita da sua cabeça, porque não vai acontecer.
Bom, eu vou arrumar a sua cama, tá bom?
ANGÉLICA
- Tá bom, tia.
Madalena
sai e deixa sua bolsa no sofá. Angélica a pega e começa a revirar as coisas,
até encontrar um cartão, onde se lê: "MANSÃO TRINDADE" e o endereço.
ANGÉLICA
- O que será que o povo dessa mansão diria de uma penetra?
Angélica
guarda o cartão no bolso e sai de casa.
Corta para:
CENA
12/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA/DIA
A
campainha toca. A empregada atende e Angélica passa por baixo, sem ser notada.
A empregada fecha a porta. Angélica se esconde atrás da escada e sai quando a
empregada entra na cozinha. Ela sobe as escadas.
Corta para:
CENA
13/INT./CASA DE MADALENA/SALA/DIA
Entra
Madalena.
MADALENA
- Pronto, Angélica. Sua cama já está feita, agora... (Percebe a ausência de Angélica) Angélica? Meu Deus do céu, cadê
essa menina? Angélica?
Madalena
sai procurando Angélica.
Corta para:
CENA
14/INT./MANSÃO TRINDADE/QUARTO LUCAS/DIA
Kátia
Flávia envergonhada. Maria Fernanda de pé, em sua frente.
MARIA
FERNANDA - Anda, eu tô esperando uma explicação. O que
você tá fazendo seminua em cima da cama do meu filho?
KÁTIA
FLÁVIA - Eu é que te pergunto, ex-sogrinha. O que
você tá fazendo no quarto alheio?
MARIA
FERNANDA - Ah, então eu tenho que dar satisfação do que
eu faço na minha própria casa? Não tenho não. Agora sai daqui, circulando!
Maria
Fernanda empurra Kátia Flávia da cama.
KÁTIA
FLÁVIA - Ei, ei, ei! Segura a marimba aí, mon amour!
Já tô dando o fora, não precisa empurrar.
ANGÉLICA
(V.O.) - Olá!
Kátia
e Fernanda se viram. Angélica parada, na porta.
MARIA
FERNANDA - Quem é você e quem te deixou entrar?
Corta para:
CENA
15/INT./ESPAÇO DE EVENTOS/DIA
Sonoplastia: Pretty Girls - Britney Spears)
Acontece
um desfile. Luzes coloridas e flashes dominam o cenário. Uma modelo sobe na
passarela, vestindo uma blusa curta, de um ombro só, e short branco rasgado.
Ela sai e Vitória entra, em um vestido colorido, bem justo. Da platéia, Lucas
fotografa ela, entusiasmado.
LUCAS
(grita) - Linda!
Vitória
esboça uma expressão de dor. Lucas se preocupa. Vitória cai, desmaiada.
LUCAS
- Vitória!
FIM
DO CAPÍTULO
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