segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Capítulo 3: Dancin Days

CENA 01. RIO DE JANEIRO. COPACABANA. BAR. INTERIOR/ EXTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
BIBI ATENTA AO ENCONTRO, DE LONGE. CÂM VOLTA PARA A MESA ONDE ESTÃO AMANDA E JULIANA.
AMANDA – Se passaram tantos anos, Jú.
JULIANA – Quinze anos. Quinze anos, presa.
AMANDA – (Provoca) Pelo menos não vai poder dizer que foi presa por um crime que não cometeu.
JULIANA – Eu nunca neguei o que eu fiz. Eu errei, cometi um crime sim, mas eu paguei por isso. Tô em dia com a minha dívida perante a sociedade.
AMANDA – Não acho que uma vida pode ser debitada em conta corrente com a sociedade, mas né.
JULIANA IRRITADA, RESPIRA FUNDO.
JULIANA – Eu quero conversar sobre o que me trouxe aqui. Quero saber sobre a minha filha. Sobre a Mariana. Isso que me interessa no momento.
AMANDA – A Mariana está bem, muito bem, na verdade. Ela sempre esteve assim, e vai continuar, não é, Juliana?
JULIANA – Isso não depende de mim, e sim de você. O que você contou pra minha filha sobre mim? O que a Mariana sabe da mãe dela?
AMANDA OLHA LÍVIDA PARA JULIANA. CÂM DESFOCA PARA BIBI, AINDA NO CARRO, COM UM BINÓCULO EM MÃOS. ABAIXA O OBJETO. BUFA.
BIBI – Que saco! Sair daqui e ir direto pra um cursinho de leitura labial. Tô péssima nisso!
CÂM VOLTA PARA AMANDA E JULIANA.
AMANDA – A Mariana não sabe de você.
JULIANA – Como assim não sabe de mim? O que ela não sabe, Amanda?
AMANDA – Não se exalta, ok? Juliana, não dava pra contar pra uma criança que a mãe dela tava na cadeia. Olha o choque que ia ser pra Mariana! Ia fazer um rombo na cabeça da garota!
JULIANA – Me poupa, Amanda! Você escondeu da menina a história dela. A história da mãe dela. Isso sim é fazer um rombo na cabeça da garota.
AMANDA – Eu tentei amenizar o quanto eu pude o abandono que você impôs à ela.
JULIANA – Abandono? (Ri) É muito absurdo em um diálogo só! Eu fui presa!
AMANDA – Por isso mesmo. Você queria que eu chegasse e dissesse: “Olha, meu anjinho, a titia vai cuidar de você por alguns longos anos, porque a sua mamãe foi presa porque matou o seu pai, tá bom?!”.
JULIANA BATE NA MESA, FORTE. AMANDA SE ASSUSTA. NA MESA AO LADO, UM CASAL AS OLHA.
JULIANA – Desculpa.
AMANDA – Tenta se controlar pelo menos!
JULIANA – Eu tô nervosa, cacete! Não gosto de relembrar essa história. (Pausa) O que você falou sobre mim? Não vai dizer que você também me matou pra ela?
AMANDA – Não. Isso não. Ela sabe que a mãe dela está viva. Só que ela pensa que a mãe dela é uma mulher muito ocupada e que vive á anos na Europa, agenciando cantores e bandas internacionais em turnês pelo mundo.
JULIANA COMEÇA A RIR. AMANDA DESCONFORTÁVEL.
JULIANA – Então foi isso? Não tinha nada melhor?
AMANDA – Foi o melhor que eu pude pensar.
JULIANA – Ótimo. E agora, como vai fazer?
AMANDA – Como vai ser o que? (Pausa) Não, você não tá pensando em./
JULIANA – Claro que estou. Eu vou me apresentar á Mariana como mãe dela sim. Ela tem que me conhecer.
AMANDA EXULTA. CLOSES ALTERNADOS. EM JULIANA.
CORTA PARA:

CENA 02. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
CLIMA AGITADO NO CAFÉ DA MANHÃ. NA CABECEIRA DA MESA ESTÁ ALBERICO. AO LADO, FÁTIMA, CARMINHA, PAULINA, ÁUREA E EDGAR. TODOS FALAM AO MESMO TEMPO.
CARMINHA – E era tudo um luxo mesmo.
EDGAR – Mas a irmã do Jamil fez strip mesmo? Ficou pelada em plena boate?
ÁUREA – Sempre falei que aquilo ali era uma vagabu. /
FÁTIMA – (Corta) Olha a boca na mesa!
CARMINHA – Ela não ficou completamente nua. (Ri) Mas porque o Jamil subiu no palco e impediu. O povo ficou louco! A Guida lacrou o lugar!
ÁUREA – (Irritada) Pouca vergonha. E tem homem que aplaude de pé essa safadeza!
ÁUREA OLHA EDGAR QUE A OLHA COM DESPREZO.
PAULINA – Eu acho que a dona Guida fez foi o certo! Eu teria me pendurado no lustre de cabeça pra baixo!
ÁUREA – Cala a boca que empregada aqui não opina em nada!
PAULINA – Empregada onde? Empregada recebe salário, tem carteira assinada e ganha férias. Eu não tenho nada disso. Eu sou é moradora!
CARMINHA E ALBERICO RIEM. ÁUREA EXULTA.
ÁUREA – Vê se pode! Te enxerga, boneca de piche!
CARMINHA – Áurea!
PAULINA – Deixa, dona Carminha. Deixa a dona Áurea falar o que quiser, eu nem ligo. Melhor ser boneca de pixe do que uma dondoca falida, que vive fazendo fofoca no salão de cabeleireiro o dia todo, mas ninguém sabe é que pra isso ela faz empréstimo a perder de vista no parcelamento. Já deve mais de dez mil de esmalte e acetona no banco.
PAULINA SE LEVANTA E SE RETIRA. ÁUREA FURIOSA.
ÁUREA – Vocês deixam essa empregadinha falar comigo assim e não vão fazer nada?
ALBERICO – Eu acho muito bem feito pra você, minha filha. Fala o que quer, ouve o que não quer!
ALBERICO SE LEVANTA.
ALBERICO – Agora família, se me permitem, eu vou sair pra tratar de negócios!
FÁTIMA – Negócios? (Estranha) Que negócios, Alberico?
CARMINHA – Ai, papai. O que o senhor tá inventando dessa vez? O que tá planejando essa sua cabeça?
ALBERICO – Vocês vão ver. Vou tirar todos nós da lama.
EDGAR – Duvido!
CARMINHA – Pai, o senhor sempre sai por essa porta falando a mesma coisa. Quando o senhor vai aprender que nada que o senhor tira dessa sua cabeça desmiolada dá certo?
ALBERICO SENTE AS PALAVRAS. SORRI AMARELO E SAI.
ÁUREA - Precisava disso, Carminha?
CARMINHA – (Entristecida) Só queria que ele mudasse.
FÁTIMA – Minha filha... Não sei se isso é possível. Nunca saberemos quando o Alberico vai desistir.
CARMINHA E FÁTIMA SE ENTREOLHAM, CÚMPLICES.
ÁUREA – E a Vitória? Já foi trabalhar?
NELA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 03. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE VITÓRIA. INTERIOR. DIA
VITÓRIA DEITADA NA CAMA VAI ACORDANDO. SONOPLASTIA: “DON´T YOU WORRY CHILD” – BETH.
FÁTIMA – (OFF) Ainda tá dormindo. Eu sabia que não ia dar bom essa balada em dia de semana! A Vitória vai acabar perdendo o emprego na academia desse jeito!
VITÓRIA PEGA O CELULAR AO LADO DA CAMA. ELA DESBLOQUEIA A TELA E VÊ UMA MENSAGEM DE BRUNO. SORRI. FLASHES DO BEIJO NA BOATE E DA NOITE NO MOTEL. VITÓRIA BEIJA O CELULAR E SE JOGA PARA O OUTRO LADO DA CAMA. REALIZADA.
CORTA PARA:

CENA 04. RIO DE JANEIRO. AEROPORTO. SAGUÃO. INTERIOR. DIA
CÂM EM PLANO ABERTO NO SAGUÃO DE UM AEROPORTO (SEM ESPECIFICAR). SONOPLASTIA:“SIMPLES ASSIM” – LENINE. DENTRE AS PESSOAS QUE DESEMBARCAM DE UM VÔO INTERNACIONAL, CÂM VAI BUSCAR UM HOMEM ALTO, MORENO, CABELOS CACHEADOS E BARBA POR FAZER. ELE VEM CARREGANDO UM CARRINHO COM MALAS. TIRA OS ÓCULOS ESCUROS E SORRI.
CORTA PARA:

CENA 05. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. FRENTE. EXTERIOR. DIA
UM TÁXI PÁRA EM FRENTE AO PORTÃO DA MANSÃO. DE DENTRO DO VEÍCULO, SALTA O MESMO HOMEM DESCRITO NA CENA ANTERIOR.
CELINA – (Off) Cadú! Seja bem-vindo, meu filho!
NO TAXISTA AJUDANDO A TIRAR AS MALAS DO CARRO. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA:

CENA 06. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. SALA. INTERIOR. DIA
ABRE IMAGEM. CELINA ABRAÇA CADÚ. ELE SORRI. ELA ACARINHA.
CELINA – Saudades suas, meu filho.
CADÚ – Pensei que não iria gostar de me ver por aqui.
CELINA – Confesso que eu preferia que você tivesse continuado a sua especialização na Europa, mas é bom te ver aqui de novo com a gente.
CADÚ – É bom estar aqui também, mãe.
FRANKLIN VEM DESCENDO A ESCADARIA.
FRANKLIN – Cadú!
CADÚ – Pai.
OS DOIS SE ABRAÇAM.
FRANKLIN – Porque não avisou que viria? Eu mesmo tinha te buscado no aeroporto.
CADÚ – Não foi preciso, pai. Eu peguei um táxi e tô aqui, isso é o que importa.
CELINA – Ainda acho loucura essa sua ideia de deixar tudo na Europa e voltar ao Brasil, meu filho.
FRANKLIN – Celina, agora não é o momento. Deixa o Cadú descansar da viagem.
CADÚ SORRI. OLHA EM VOLTA.
CADÚ – É bom estar de volta.
FRANKLIN – É bom te ter aqui de novo, meu filho.
FRANKLIN SE ENTREOLHA COM CELINA, DISCRETO.
FRANKLIN – Aqui nós vamos poder cuidar melhor de você.
CADÚ OLHA O PAI. TROCAM SORRISOS. CELINA ABRAÇA O FILHO.
CELINA – Saudade.
OS DOIS SE ABRAÇAM. NELES.
CORTA PARA:

CENA 07. COPACABANA. BAR. EXTERIOR/INTERIOR. DIA
Continuação Cena 01/ Cap. 03.
AMANDA RI. JULIANA IMPACIENTE.
AMANDA – Sabe Juliana, ás vezes eu fico pensando seriamente se você é burra ou acredita realmente nesses delírios que você escarra por aí tentando se convencer que isso em alguma hora vai dar certo?!
JULIANA – E porque não daria? Eu voltei pra falar a verdade pra minha filha. Uma verdade entalada a anos e que ela merece ouvir da minha boca! Da minha e de ninguém mais!
AMANDA – Sabe, de verdade? Eu acho bonito esse sentimento todo, esse amor repentino e essa ideia toda que tudo vai dar certo e que a Mariana ao te conhecer e saber de toda a verdade, vai baixar a guarda, abrir os braços e correr para você para brincarem de casinha e recuperar toda a infância em que ela acreditou que a mãe era uma empresária de sucesso, que morava na Europa e que agenciava turnês de artistas internacionais pelo mundo. Que bom que você acha isso mesmo, minha irmã!
JULIANA – Daí eu não tenho nada a ver com essa sujeira toda que vocês colocaram na cabeça da menina. Cada um que arque com suas mentiras! E quanto à Mariana abrir os braços e vir comigo, se ela é a filha que eu penso que ela é, ela vai fazer isso sim. Não dessa forma debochada como você tá querendo passar, mas ela vai me aceitar como mãe sim.
AMANDA – E se ela não for do jeito que você imagina, Juliana? Eu te garanto que se você visse hoje a bonequinha de luxo que eu transformei essa garota, que você enche tanto a boca para chamar de “minha filha”, você pensaria duas vezes antes de contar que ela de um instante para o outro vai deixar de ser a Cinderela e se transformar em Gata Borralheira, com direito a carruagem, cocheiros e tudo o que manda a tradição. Se toca, Juliana! A realidade é bem diferente desses seus delírios, onde você vai sair de mãos dadas com a Mariana rumo à um comercial de agência de turismo.
JULIANA – Se ela realmente é assim como você diz, então você fez um péssimo trabalho como mãe. Mesmo sendo postiça! Bom, mas Deus deve saber o que faz né, já que nunca te deu a graça de conceber um filho, de gerar outra vida. Deve ter seus motivos!
AMANDA SENTE AS PALAVRAS. ENGOLE SECO.
AMANDA – Coloca a mão na consciência! A sua filha foi uma menina que cresceu indo todos os anos comemorar o aniversário na Disney, estudou nos melhores colégios da Suíça, tendo do bom e do melhor. Tendo inclusive o que nós não tivemos a oportunidade de ter! Lembra como era sacrificado o nosso pai conseguir comprar um par de sapatos novos pra cada uma? Isso quando não esperava o sapato passar de uma pra outra, mesmo gasto, com furo!
JULIANA – A Mariana teve o que nós nunca tivemos. Isso é verdade!
AMANDA – Então, criatura! Como uma menina dessas vai entender aos dezoito anos que a mãe que ela tanto idealizava não passava de um personagem? Que a mãe dela passou quinze anos em uma penitenciária por ter matado o próprio pai?
NESSE MOMENTO, JULIANA FICA HISTÉRICA E SUA REAÇÃO É AGRESSIVA.
JULIANA – (Grita) Cala a sua boca! Você não tem o direito de falar sobre isso!
O GARÇOM SE APROXIMA DA MESA.
GARÇOM – O que está acontecendo aqui? Vocês querem espantar os clientes?
AMANDA – Desculpa. A minha irmã, ela tá um pouco exaltada.
GARÇOM – Se vocês não pararem de lavar roupa suja no meu bar, eu vou ser obrigado a chamar a polícia!
AMANDA – Polícia não, por favor. Nós já estamos terminando e já nos retiramos. Fica tranquilo.
O GARÇOM ASSENTE E IRRITADO ENTRA NO ESTABELECIMENTO.
AMANDA – (Tom Baixo) Você tá louca?
JULIANA – (Tenta controlar) Você fica falando dessas coisas. Eu já disse que não quero ouvir isso!
AMANDA – (Corta) Mas é a verdade! Vai querer tampar o Sol com a peneira? Pra mim que acompanhei de perto a historia toda?
JULIANA – (Chora) Eu não tive culpa pelo que aconteceu! Eu não sabia./
AMANDA – (Corta) É claro que não sabia, Juliana! Você matou o seu marido, o pai da Mariana durante um surto psicótico! (Tom) Drogada! Atropelou ele, enquanto tentava fugir de casa, sair pra comprar mais droga! Você nem cuidava da sua filha, Juliana!
JULIANA CHORA. AMANDA EXALTADA, Á UM PASSO DO CHORO.
AMANDA – Agora você vem com esse discurso de mãe do ano querendo recuperar os anos perdidos ao lado dela, como se isso fosse possível?!
JULIANA – (Grita) Ela é minha filha!
AMANDA OLHA EM VOLTA, AS PESSOAS JÁ OLHANDO PARA ELAS.
AMANDA – Vamos continuar essa conversa em outro lugar. Eles vão acabar ligando para a polícia desse jeito.
JULIANA OLHA EM VOLTA. CONCORDA. TENTA CONTER OS ÂNIMOS. AMANDA ENTRA NO INTERIOR DO BAR. CÂM BUSCA BIBI, DENTRO DE SEU CARRO. ELA OLHA ATENTA PARA AS DUAS.
BIBI – Que babado! O negócio é mais forte do que eu imaginava!
PEGA O BINÓCULO PARA VER MELHOR. CÂM VOLTA PARA A MESA DE JULIANA, QUE SE LEVANTA, PEGANDO A BOLSA. AMANDA SAI DO INTERIOR DO BAR.
AMANDA – Vamos pra um lugar mais reservado. Onde você tá morando?
JULIANA – (Rápida) Não. Lá não é lugar pra esse tipo de conversa. Na sua casa?
AMANDA – Pirou? A Mariana não te conhece. Vou dizer o que?
JULIANA – Que tal a verdade?
AMANDA BUFA IMPACIENTE.
AMANDA – Vamos para outro lugar. Eu tenho um apartamento. Não é muito longe daqui.
JULIANA CONCORDA. AMANDA PÕE O ÓCULOS ESCUROS E ELAS VÃO SAINDO EM DIREÇÃO AO CARRO DE AMANDA. BIBI SE ESCONDE PARA NÃO SER VISTA. AS DUAS ENTRAM E AMANDA DÁ A PARTIDA NO VEÍCULO. BIBI SEGUE EM SEGUNDO PLANO, TENTANDO NÃO SER VISTA.
CORTA PARA:

CENA 08. APOLLO SPORTING. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA
VITÓRIA, UNIFORMIZADA, DIGITA ALGO NO COMPUTADOR. MOVIMENTAÇÃO DE ALUNOS POR ALI. SOM VINDO DO INTERIOR DA ACADEMIA: “MAGNETS” – DISCLOSURE FT. LORDE. UM PAR DE MÃOS MASCULINAS POUSA SOBRE O BALCÃO. VITÓRIA OLHA, SORRI. CÂM REVELA BRUNO.
VITÓRIA – (Levantando) Bom dia.
BRUNO – Quase boa tarde já.
OS DOIS SORRIEM.
VITÓRIA – Veio pegar o seu treino de hoje?
BRUNO – Também. Mas eu vim te ver, principalmente.
NESSE MOMENTO, LEILA E MARIANA CHEGAM Á RECEPÇÃO. ELAS OLHAM PARA BRUNO E VITÓRIA, QUE NÃO AS VÊEM. ELAS PASSAM A CATRACA E ENTRAM NA ACADEMIA.
BRUNO – Sabia que eu não esqueci nenhum minuto essa sua boca maravilhosa?
VITÓRIA – Eu também não.
OS DOIS SORRIEM UM PARA O OUTRO, FLERTANDO.
INTERIOR DA ACADEMIA:
MARIANA E LEILA CONVERSAM, ENQUANTO VÃO PARA A ÁREA DE EQUIPAMENTOS.
LEILA – Você viu o Bruno e a carinha de anjo, conversando bem derretidos?
MARIANA – Ai Leila, não vi nada demais.
LEILA – Amiga, tá Kátia cega? Já foi mais ligadinha! A sonsinha tá toda jogada pra cima do seu boy magia. Se eu fosse você, começava a agilizar esse romance.
MARIANA – Qual é, Leila? Vai botar fogo no circo?
LEILA – Não coloco fogo no circo... Mas até que eu empresto a gasolina!
LEILA RI. MARIANA IRRITADA, OLHA PARA TRÁS: DO SEU PV, BRUNO E VITÓRIA AINDA CONVERSAM SORRIDENTES.
MARIANA – Será?
LEILA FAZ QUE SIM. EM MARIANA, PENSATIVA.
CORTA PARA:

CENA 09. APARTAMENTO DE AMANDA. SALA. INTERIOR, DIA
O APARTAMENTO DE AMANDA TEM CORES SÓBREAS, MAS COM REQUINTE. MÓVEIS ACONCHEGANTES, APARTAMENTO TODO MONTADO. AMANDA E JULIANA ENTRAM NO LOCAL.
JULIANA – Tem certeza que não vai aparecer ninguém aqui?
AMANDA – Eu deixo esse apartamento pra uma eventualidade, como agora. Só eu tenho as chaves. Aqui nós podemos conversar em paz.
AMANDA TRANCA A PORTA. JULIANA MEIO CONSTRANGIDA, SENTA-SE NO SOFÁ.
JULIANA – Parabéns! Você conseguiu realmente muita coisa nesses anos. Nossos pais sempre pagaram aluguel e você além de uma mansão, tem esse apartamento, sabe-se lá pra que... Área boa, valorizada.
AMANDA - Viu? É isso que sempre dei pra Mariana: Conforto! Coisa que você não poderia ter dado. Cai na real, Juliana. Pra quê estragar a vida dela desse jeito?
JULIANA – A Mariana é minha filha!
AMANDA – (Grita) Ela é minha filha! Minha! Você perdeu qualquer direito de maternidade quando por um erro seu, você matou aquele homem e foi condenada por isso! Pagou por isso! (Tom mais baixo/ Nervosa) Eu cuidei da Mariana nas noites em que ela teve febre, eu vi ela dar os primeiros passos, a cair de bicicleta, ralar a perna subindo em árvore!
AMANDA RESPIRA, TENTA SE CONTROLAR. JULIANA EMOCIONADA.
AMANDA – (Tom) Eu segurei a mão dela em noite de tempestade, enquanto ela chorava de medo! Vesti, alimentei, eduquei!
AMANDA SE APROXIMA DE JULIANA E A ENCARA DE PERTO.
AMANDA – Quem você acha que tem mais direito de ser chamada de mãe aqui nessa sala? Você?! Eu acho que não! (Pausa) Mas se você ainda acha que é você que tem o direito de ser a mãe da Mariana, mesmo depois de tudo, vamos sentar nesse sofá e decidir qual a melhor hora para contar isso pra ela. (Olha no relógio de pulso) Ela deve chegar da faculdade no fim da tarde. Temos um tempinho. Ah, e isso será outra coisa que você não vai conseguir bancar. Ela vai ter que abandonar os estudos, o curso que ela sempre quis e a carreira brilhante que ela teria em um futuro glorioso pela frente. Tudo isso pra contarmos toda a verdade sobre a “mãe” dela.
AMANDA SENTA-SE NO SOFÁ E CRUZA AS PERNAS.
AMANDA – Então, qual a melhor hora pra você?
JULIANA ENCARA AMANDA. CLOSES ALTERNADOS.
CORTA PARA:

CENA 10. APARTAMENTO DE ALBERICO. SUÍTE DE CARMINHA. INTERIOR. DIA
AMBIENTE MODESTO, ASSIM COMO O RESTANTE DO IMÓVEL. PAPEL DE PAREDE FLORAL, CONTRASTANDO COM OS POUCOS ELETRÔNICOS QUE HÁ ALI. JAMIL DEITADO NA CAMA DE CASAL, APENAS DE CUECA. CARMINHA DE CALCINHA E SUTIÃ, SENTADA EM SEU PEITO. SONOPLASTIA:“GOLDEN” – SIA FT. TRAVIE McCOY. OS DOIS SE BEIJAM, QUENTES, COM DESEJO. SLOW-MOTION: JAMIL VAI TIRANDO O SUTIÃ DE CARMINHA, DEIXANDO SEUS SEIOS À MOSTRA. ELE MORDISCA A PONTA DE SEU PEITO. ELA RI, JOGANDO A CABEÇA PARA TRÁS. CORTE DESCONTÍNUO, ELA JÁ COMPLETAMENTE NUA, SOBRE ELE. ELE VEM POR CIMA, TAMBÉM DESNUDO. ELE SOBE EM CIMA DELA, SEGURANDO-A PELOS BRAÇOS. ELA COM OS OLHOS FECHADOS. ELE A BEIJA NO PESCOÇO, VAI DESCENDO SOBRE SEU CORPO, LAMBE SUA BARRIGA E CHEGA NAS PARTES ÍNTIMAS. CLOSE NA EXPRESSÃO DE PRAZER DE CARMINHA. ELA PEGA NA CABEÇA DO NAMORADO, FAZENDO PRESSÃO CONTRA SUAS PARTES ÍNTIMAS. MAIS UM BEIJO ENTRE ELES. FADE-OUT. SONOPLASTIA OFF.
FADE-IN.
CARMINHA DEITADA COM A CABEÇA NO PEITO DE JAMIL. ELES SORRIEM.
CARMINHA – Como é bom ficar aqui com você, sem fazer absolutamente nada.
JAMIL – Bom se fosse todos os dias, mas infelizmente, a vida real nos espera...
CARMINHA – Estraga-prazer! (O encara) Vai sair mesmo do seu emprego?
JAMIL RESPIRA FUNDO E BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE.
CARMINHA – E as contas?
JAMIL – Tô com outro emprego em vista, relaxa.
CARMINHA FICA PREOCUPADA.
CARMINHA – Essa instabilidade financeira me deixa com medo. Já basta o exemplo do papai.
JAMIL – (Corta) Já te disse umas mil vezes, eu não sou igual o seu pai. O seu Alberico é sonhador, não tem os pés no chão.
CARMINHA – (Ri) Porque você tem?
JAMIL – Tenho sim. Eu sei onde eu quero chegar e sei que só vou conseguir trabalhando e não montando projetos mirabolantes que nunca dão certo. O seu pai é um otimista. Eu não sou e esse é o grande diferencial entre nós dois.
CARMINHA CONCORDA.
CARMINHA – Eu não sei o que vou fazer para melhorar a nossa situação financeira. Tá complicado pra mim. Eu não quero ficar segurando o mundo com as mãos, enquanto cai tudo sobre a minha cabeça, Jamil. Chega de arcar com as loucuras do papai. Ele vai ter que dar um jeito.
JAMIL – (Concordando) Eu sei. (Pensa/ Sério) Eu acho que tenho uma solução pra vocês.
CARMINHA ENCARA JAMIL.
JAMIL – Pelo menos pra ajudar a aliviar essa tensão financeira que paira sobre essa casa.
CARMINHA – O que?!
JAMIL – Alugando um quarto do apartamento.
CARMINHA ENCARA JAMIL. PENSATIVA.
JAMIL – Eu já sei até pra quem alugar. Mas antes eu tenho que te contar uma coisa. Uma coisa que eu venho te escondendo.
CARMINHA SÉRIA. CLOSES ALTERNADOS. EM JAMIL, TEMEROSO.
CORTA PARA:

CENA 11. APARTAMENTO DE AMANDA. SALA. INTERIOR, DIA
Continuação cena 09/ Cap. 03.
AMANDA ENCARANDO UMA JULIANA, AGORA NÃO TÃO CONFIANTE COMO ANTES.
AMANDA – Vai, me diz então qual a melhor hora pra contarmos toda a sua verdade pra Mariana!
JULIANA – Calma, é que./
AMANDA – (Corta/ Forte) É que o que, Juliana? Não veio tão decidida, cheia de coragem para estragar a vida daquela que você tanto chama de filha?
JULIANA SE LEVANTA, NERVOSA.
JULIANA – A última coisa que eu quero nesse mundo é estragar a vida da minha filha. Eu posso até não ter visto ela crescer, nem nada disso que você falou, e que você, infelizmente, tem toda a razão! Mas Deus sabe que não teve um dia sequer dentro daquela cadeia fedorenta, como você tanto gosta de lembrar, que eu não tenha pensado na Mariana e me arrependido amargamente daquela maldita noite e por todas as vezes que eu me droguei! (Encara com lágrimas nos olhos) O meu amor pela minha filha é o meu maior tesouro. Eu não tenho nada pra oferecer pra ela e isso também é verdade. Não tenho viagem para a Suíça, roupas caras e nem condição de pagar a faculdade dos sonhos da Mariana, mas o amor que eu tenho aqui dentro é maior que qualquer dessas coisas.
AMANDA – Eu acredito em você, Juliana. De verdade! Posso compreender isso tudo que você está me dizendo.
AMANDA SE LEVANTA.
AMANDA – Mas a realidade é muito diferente e isso é que eu estou tentando enfiar na sua cabeça. (Pausa) A Mariana não vai te aceitar! Não depois de saber toda a verdade! Eu conheço a garota que eu criei. A Mariana é o tipo de menina que gosta de exibir para as amigas um modelo de mãe de sucesso, vitoriosa! A mulher que eu me esmerei a vida inteira em ser para ela. Eu sou o modelo de mãe que a Mariana sempre quis. Ou você acha mesmo que é você quem ela apresentaria para as amigas, para o namoradinho rico da hípica? Não é, Juliana! Cai na real! Você pode ser batalhadora, esforçada e digna até o último fio do seu cabelo pixaco, mas a verdade é uma só: Entre uma mãe ex-presidiária e uma dondoca desocupada que bate perna e faz compras o dia inteiro, a filha que eu criei, não vai ter dificuldade nenhuma em escolher.
JULIANA BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE.
JULIANA – Realmente! Se a Mariana é dessa forma como você tá me dizendo, não há nada pra fazer aqui mesmo. E eu estou só perdendo o meu tempo. Talvez você esteja até certa e é melhor a Mariana pensar que eu sou uma mulher fina, elegante, uma empresária de sucesso do show business como você inventou de forma tão convincente, para ela não perceber que isso tudo é uma grande farsa!
AMANDA – Isso quer dizer que você colocou um pouco de juízo na sua cabeça e que você não vai estragar o futuro da sua filha!
JULIANA – Futuro não! Eu não vou acabar é com a ilusão que ela tem de ser a princesinha encastelada que ela pensa ser!
AMANDA – É a melhor decisão que você poderia tomar!
AMANDA RESPIRA ALIVIADA E ESBOÇA UM SORRISO.
AMANDA – Sabe que até começo a enxergar você como uma pessoa melhor?!
JULIANA – (Corta) Por favor, pare com esse cinismo e com essa falsidade para cima de mim! Você pode até enganar os outros, as suas amigas vazias e o seu maridinho panaca que acredita nessas historias que você inventa, mas não a mim que te conheço de uma vida inteira. Que te conheço como conheço cada linha da palma da minha mão. Você nunca vai enxergar nada em mim, nem em ninguém porque você só enxerga o seu próprio reflexo no espelho! Saiba que eu tenho muita pena da Mariana e de você.
AMANDA – Pena? Porque pena?
JULIANA – Pena sim! Porque quando vocês acordarem para a realidade, vão se deparar com um mundo terrível que vocês não estavam preparadas para enfrentar e que vai cobrar todo esse tempo que vocês permaneceram alienadas!
AMANDA SORRI, CÍNICA.
AMANDA – Então não há porque se preocupar. Porque se Deus quiser, esse dia nunca vai chegar pra nenhuma de nós duas.
JULIANA – Olha que o mundo dá voltas, Amanda!
AMANDA – E sempre para no mesmo lugar no fim do dia! Aceita um fato, minha irmã: Quem nasceu para ser Juliana da Silva nunca será Amanda Pratini!
JULIANA BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE E DÁ UM SORRISO CÍNICO.
JULIANA – Pode se sentir vitoriosa hoje, Amanda! Não foi hoje que o seu castelo de cartas caiu, mas não pense que eu desisti de contar essa historia para a Mariana. Mas também não vou contar à ela enquanto não tiver mais do que um prato de comida para oferecer.
AMANDA – (Provoca) Então vou dormir tranquila por muitos anos, porque esse dia pelas minhas contas vai demorar a chegar.
JULIANA – Quem sabe? Quem sabe eu possa conseguir mais rápido algo que você demorou anos para ter?
AMANDA CONSENTE. JULIANA SE ENCAMINHA PARA A PORTA.
AMANDA – Juliana.
JULIANA SE VIRA.
AMANDA – Você tá precisando de algum dinheiro? Eu posso te dar, até você se reajustar.
JULIANA ENCARA AMANDA, SORRI AMARELO E NEGA COM A CABEÇA.
JULIANA – De você, por enquanto, eu só quero distância!
AMANDA – (Concorda) Ótimo.
JULIANA SAI, BATENDO A PORTA. AMANDA CAI SOBRE O SOFÁ, NERVOSA.
AMANDA – Inferno!
NELA.
CORTA PARA:

CENA 12. PRÉDIO DE AMANDA. FRENTE. EXTERIOR. DIA
JULIANA SAI DO PRÉDIO E SE ENCAMINHA PARA UM PONTO DE ÔNIBUS, ALI MESMO NA AVENIDA EM FRENTE. MOVIMENTAÇÃO GRANDE DE CARROS E PESSOAS NO CALÇADÃO. AMANDA, SAI DO PRÉDIO, EM SEGUNDO PLANO, SEM SER VISTA POR JULIANA. DE ÓCULOS ESCUROS, ELA TENTA SEGUIR A IRMÃ. CORTE DESCONTÍNUO: JULIANA SOBE EM UM ÔNIBUS. AMANDA, ATRÁS, COM SEU CARRO. CORTA PARA MAIS ATRÁS, BIBI, ATRÁS DAS DUAS, COM A CABEÇA ABAIXADA, TENTANDO SE ESCONDER.
BIBI – Essa história não vai acabar hoje?!
CORTA PARA O ÔNIBUS PARANDO QUASE EM FRENTE AO PRÉDIO ONDE JULIANA MORA. JULIANA SALTA DA LOTAÇÃO E SE ENCAMINHA RAPIDAMENTE PELA CALÇADA ATÉ CHEGAR AO SEU PRÉDIO. ENTRA, RÁPIDA. AMANDA, ATRÁS, A PÉ. OLHA PARA A FACHADA DO PRÉDIO POR ALGUNS INSTANTES. PEGA O IPHONE E FOTOGRAFA. MISTERIOSA, SAI DALI RAPIDAMENTE. BIBI ATRÁS, NO CARRO, PÁRA EM FRENTE AO PRÉDIO.
BIBI – Pelo menos agora eu sei onde te encontrar, Juliana. Vamos ver se a minha intuição falha ou não...
BIBI SORRI. NELA.
CORTA PARA:

CENA 13. APARTAMENTO DE ALBERICO. SUÍTE DE CARMINHA. INTERIOR. DIA
Continuação cena 10/ Cap. 03.
CARMINHA A ENCARAR JAMIL.
CARMINHA – Fala logo! O que você tá escondendo de mim?
JAMIL – Amor.
CARMINHA – Ai, Jamil, eu não acredito que você esconde algo de mim. Nós sempre tivemos uma relação aberta, de sinceridade entre nós dois. Não acredito nisso, definitivamente!
JAMIL – Era algo que eu não podia te contar, mas tá me fazendo mal em esconder de você.
CARMINHA RESPIRA FUNDO E TOMA CORAGEM.
CARMINHA – É outra mulher?
JAMIL – É sim. É outra mulher!
CARMINHA COMEÇA A BATER EM JAMIL, QUE SE PROTEGE COM OS BRAÇOS.
CARMINHA – Eu sabia! Galinha! Cafajeste!
JAMIL – Calma. Me deixa explicar! Não é nada disso que você tá pensando!
CARMINHA – Não é nada disso é? (Continua batendo) Você me traindo, e eu acreditando em você igual uma idiota! Trouxa!
JAMIL – (Tom) Não tô te traindo!
CARMINHA PARA DE BATER EM JAMIL E O ENCARA, FORTE. JAMIL SE RECOMPÕE.
JAMIL – Pára com isso!
CARMINHA – Se não tá me traindo, como tem outra mulher na parada?
JAMIL – É uma amiga minha. Ela tá passando por uma situação complicada e precisa de um lugar para ficar. Nós até encontramos um apartamento pra ela, mas ela precisa de pessoas ao redor dela, pra acolher.
CARMINHA – (Ri) Essa é boa. Você agora quer que eu acolha sua amante dentro da casa do meu pai!
JAMIL – Não é minha amante, pelo amor de Deus! Você acha que eu seria capaz de fazer isso com você, Carmem Lúcia?
CARMINHA BAIXA OS OLHOS.
CARMINHA – Acho que não. (Encara) Mas eu também não confio nessa sua raça masculina. Sempre enganam!
JAMIL COMEÇA A RIR. CARMINHA NERVOSA.
CARMINHA – Para de rir, idiota!
JAMIL – Desculpa, mas feminismo com você nem combina, vai! Eu não sou desse tipo de homem e você me conhece o suficiente pra saber disso. É óbvio que não é minha amante. A Juliana, a irmã dela e eu crescemos juntos, na mesma rua, brincando. Éramos como irmãos. Ela passou por uma situação complicada na vida e agora precisa se restabelecer.
CARMINHA – Sei... Papo mais sem futuro, mas vamos lá. Que situação complicada essa Juliana passou?
JAMIL RESPIRA FUNDO.
JAMIL – A Juliana ficou detida durante quinze anos.
CARMINHA – (Assustada) O quê?!
CLOSES ALTERNADOS. CARMINHA ASSUSTADA. CLOSE FINAL NELA.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 03.

Nenhum comentário:

Postar um comentário