Primeiro Capítulo – Estréia
“Uma novela de EDI SANTOS”
A capital paulista é o lugar em que tudo pode
acontecer. Famosa por suas baladas e por ser o coração financeiro do país, São
Paulo é uma das capitais mais conhecidas do mundo.
É também nessa cidade o cenário escolhido para
contar a vocês uma história em que o poder supera e corrompe a tudo. Os mais
fortes manipulando os mais fracos. A luxúria, o dinheiro, o prazer e a ambição.
Caminhos escolhidos que podem selar o destino de cada um.
Mas essa história começa muito longe de tudo
isso. Ela começa no interior do estado, em uma cidade chamada Bauru...
Música: Amy
Winehouse - Back To Black
Cena 01 – Cidade: Bauru
Dia de sol. Temos uma visão panorâmica da
cidade. Vemos o Parque Vitória Régia, com uma pequena concentração de pessoas.
Logo após vemos o Teatro Municipal, seguido do Aeroclube e do Museu Ferroviário
Regional da cidade.
Cena 02 – Obra Qualquer
Alguns homens aparecem trabalhando em uma
construção. Brancos, negros, mulatos. Corpos sarados e suados. Percebemos na
face de alguns o quanto é puxado o serviço.
O foco ocorre em um deles, Roberto, vinte e cinco anos de idade, branco, um físico invejável e
com rosto de modelo. A expressão que vemos em seu rosto é de desconforto. Ele
não parece gostar do que faz.
Após a sequência de cenas acima, vemos um homem
ao seu lado, lhe dando um pouco de água. Era Geraldo, pai de Roberto. Um homem de uns quarenta e cinco anos de
idade. Seu semblante era de um homem mais velho, desgastado pelo tempo e pelo
serviço pesado.
Cena 03 – Externa – Bauru
Com uma vista magnífica do alto, vemos o
entardecer na cidade, enquanto a música vai diminuindo aos poucos.
Música cessa aqui
Cena 04 – Casa de Gracinha/Cozinha
Vemos Maria da Graça, conhecida apenas como Gracinha, mãe de Roberto. Uma mulher de
quarenta anos dedicada ao lar e à família. Gracinha estava terminando de
arrumar a mesa para o jantar que se seguiria logo mais.
Geraldo e Roberto entram na cena. Cansados e
suados do trabalho maçante.
Gracinha –
Meus amores chegaram! Se apressem, vão tomar banho que eu já estou terminando
de aprontar a janta.
Roberto (beija o rosto de Gracinha) – O que tem de bom hoje, dona Gracinha?
Gracinha – Comida.
(dá um tapinha nas costa de Roberto)
Agora vai tomar um banho que você está precisando.
Roberto –
Eu já estou indo.
Roberto
se retira, enquanto Geraldo bebe um copo de água.
Gracinha –
Você também.
Geraldo – Já
estou indo.
Coloca o
copo sobre a pia e sai. Gracinha balança a cabeça negativamente, com um sorriso
contente nos lábios.
Cena 05 – Casa de Gracinha/Cozinha
Jantar.
Estavam sentado à mesa Geraldo, na ponta, Gracinha, a sua esquerda, e Roberto à
direita. Nada de conversa no início.
Gracinha – Quando
terminarem esse trabalho o que farão?
Geraldo – Por
enquanto nada. Esse é o único que apareceu no momento.
Gracinha – Essa
crise está de mais. Ainda dizem que tudo vai ficar bem. O engraçado é que o
povo acredita.
Tudo fica em silêncio novamente. Ouve-se apenas
o barulho dos talhares no fundo do prato.
Roberto (largando os talheres sobre a mesa) - Eu tenho que contar uma coisa para vocês.
Gracinha
e Geraldo se olham. Em seguida fixam o olhar em Roberto.
Geraldo – Pois
diga.
Roberto – É
que... (temeroso) Bom... Eu não sei
bem como dizer isso...
Gracinha – Pare
de enrolar e diga de uma vez. Está me deixando preocupada.
Geraldo – Fale
logo Roberto.
Roberto – Eu
vou embora para São Paulo!
Gracinha
fica impactada ao ouvir. Geraldo bate com os punhos fechados sobre a mesa.
Geraldo era só fúria.
Geraldo – E
vai viver de que lá? Me diz. Acha que é fácil? Acha que está fácil assim?
Roberto – Eu
vou trabalhar. Viver como todo mundo. Eu tenho um sonho e vou em busca dele.
Gracinha – Mas
em São Paulo meu filho? Vai abandonar sua casa, sua família, tudo por causa de
um sonho?
Roberto – Aqui
em Bauru eu não tenho muita chance...
Geraldo – Eu
sou contra. Não apoio esse tipo de loucura.
Roberto – Eu
já sabia disso. Quero deixar bem claro aqui que não estou pedindo permissão. Eu
estou comunicando minha decisão.
Geraldo – Então
é assim? Cresceu, não precisa mais dos seus pais e simplesmente vai seguir a
vida como se não precisássemos de você?
Roberto – Eu
sinto muito pai, mas não é justo você me colocar nessa posição. Eu já tomei
minha decisão. Me desculpem. Com licença.
Roberto
se levanta e sai. Geraldo fica pensativo. Gracinha coloca sua mão sobre a mão
de Geraldo.
Cena 06 – Quarto de Roberto/Noite
Roberto
estava arrumando as roupas em uma mala. Ouve-se uma batida na porta.
Roberto – Entra.
Gracinha
entra no quarto e encosta a porta.
Roberto – Mãe,
se você veio me julgar perdeu a viagem.
Gracinha – Essa
não é a minha intenção. Sabe que sempre apoio suas decisões. Mas você deve
entender que seu pai e eu só estamos preocupados com tudo isso.
Roberto – O
meu pai só está preocupado com o colega de profissão que ele está perdendo. Se
é que isso pode ser chamado de profissão.
Gracinha – Esse
trabalho é o que coloca comida e paga as despesas dessa casa. Não admito que
fale dessa forma.
Roberto
abaixa a cabeça.
Roberto – Me
desculpa. Eu me expressei mal. Mas eu não nasci para isso mãe. Eu sou bem mais
do que tudo isso. Tem um mundo grande ai fora e eu sinto a necessidade de
desbravá-lo. Vocês nunca entenderiam.
Gracinha
se aproxima de Roberto e o abraça. Em seguida ela beija a testa dele e olha em
seus olhos.
Gracinha – Então
vá. Nunca poderíamos prender você aqui. Isso não seria justo.
Roberto – Obrigado
por compreender.
Roberto
volta a arrumar as roupas na mala.
Gracinha – Só
me responda mais uma coisa. Onde você vai morar em São Paulo?
Roberto – Com
o meu primo, Hugo. Ele alugou um apartamento e está procurando alguém para
dividir as despesas. Como eu já tinha a intenção de ir para lá me ofereci para
ficar com ele lá.
Gracinha – Seu
primo? Isso me alivia um pouco. Pelo menos é da família. Agora não se preocupe
que eu cuido do seu pai. Ele vai acabar entendendo. Boa noite meu anjo.
Roberto – Boa
noite, mãe!
Gracinha
sai do quarto. Roberto caminha até a janela do seu quarto e olha para o céu.
Roberto – São
Paulo? Aí vou eu.
Música:
Ellie Goulding – I Need Your Love
Cena 07 – São Paulo/Noite
Vemos do
alto, belas imagens da capital paulista. Avenidas iluminadas, prédios e o
trânsito carregado.
Música cessa aqui
Cena 08 – Flat de Anselmo/Noite
Música sedutora e instrumental. A CAM percorre
pelo quarto, pouco iluminado. Podemos ver duas taças sobre uma mesinha e
algumas peças de roupas jogadas pelo chão.
Agora vemos Anselmo e Lenara. Nus, em uma visão
aberta, porem discreta em algumas partes do corpo. Anselmo beijando o pescoço
de Lenara e descendo pelos seus seios, que agora é revelado.
Rápido corte de cena e vemos Lenara de costas
com Anselmo atrás dela, segurando firme em sua cintura, enquanto lhe beija o
pescoço por trás.
Novo corte de cena. Anselmo está deitado na
cama. Lenara se levando e caminhando até a janela.
Anselmo – Hoje
você foi incrível.
Lenara – Você
também.
Delicadamente ela acende um cigarro e começa a
tragar. Anselmo alcança sua carteira e retira algumas notas de dinheiro.
Anselmo – Vou
te dar um bônus extra pelo serviço de hoje.
Lenara sopra a fumaça além da janela.
Lenara – Ótimo!
Cena 09 – Casa de Lavínia/Noite
Sala. Lavínia meche em seu tablet, enquanto
degusta uma taça de vinho tinto. Paula, sua filha, entra sala.
Lavínia – Oi
minha filha! Chegou cedo.
Paula – Não
estava tão bom quanto imaginava.
Lavínia – E
o Diego? Ele não veio com você?
Paula – Terminei
com ele. Boa noite, mãe.
Paula se retira da sala. Lavínia fica
pensativa.
Cena 10 – Quarto de Paula/Noite
Paula fecha a porta de seu quarto e joga sua
bolsa sobre a cama, junto com seu celular. Ela caminha até o banheiro. A CAM
foca em seu celular que logo começa a vibrar. Na tela vemos o nome de Diego.
Paula caminha até seu celular e olha, até que a ligação é encerrada.
Paula – Está na
hora de virar essa página.
Cena 11 – Apartamento de Lenara/Noite
No apartamento vivem Lenara, Kelly e Viviane.
Todas são garotas de programa.
Kelly estava sentada no sofá, com uma tigela de
brigadeiro, assistindo televisão. Lenara entra.
Kelly – É você.
Achei que fosse a Viviane.
Lenara – Ela
ainda não voltou?
Kelly – Não.
Disse que chegaria...
Antes de terminar de falar vemos Viviane
entrando no apartamento com uma mala de viagem.
Viviane – Oi
meninas. Até que em fim cheguei. Que cansativo esses programas fora de São
Paulo.
Kelly – Conta
tudo. Como é que foi?
Viviane – Calma.
Primeiro eu preciso me livrar dessa roupa e tomar um banho. Depois eu conto
tudo.
Lenara – Com
licença.
Lenara se retira da cena. Kelly e Viviane se
olham sem entender.
Cena 12 – Quarto de Viviane/Noite
Kelly estava deitada de bruços sobre a cama.
Viviane senta ao lado dela. Estava vestida em um roupão e com uma toalha presa
na cabeça.
Viviane – Ele
era muito rico. Acredita que mandou o motorista dele me pegar no aeroporto. Me
senti uma rainha.
Kelly – Nossa!
Isso parece até um sonho.
Viviane – É.
Parece, mas sabemos muito bem que não é um sonho. Sonho mesmo é ter tudo isso
de verdade e não por algumas horas.
Kelly – É
verdade. Às vezes eu fico pensando na minha família. Se os meus pais soubessem
do que eu faço aqui em São Paulo. O que será que eles fariam?
Viviane – No
mínimo te excluiriam da família.
Viviane retira a toalha da cabeça e começa a
passar os dedos entre seus cabelos molhados.
Viviane – Agora
vem cá, o que aconteceu com a Lenara? Achei ela bem estranha.
Kelly – Eu também
queria saber.
Viviane – Será
que está acontecendo algo e ela não quer nos contar?
Kelly – Só espero
que não seja nada demais.
Viviane – Eu
também.
Música: Lykke Li - Never Gonna Love Again
Cena 13 – Cidade: Bauru/Noite
Vemos imagens diversas do alto da cidade. Tudo
iluminado.
Música baixa
Cena 14 – Bauru – Praça/Noite
A CAM vai focando lentamente em Roberto e
Gisele, sua namorada. Os dois estão sentados em um banco. Há um diálogo já em
andamento.
Roberto – Esse
sempre foi o meu sonho e você sabia disso.
Gisele – Eu
sei. Eu só não imaginava que você fosse mesmo tomar uma decisão dessas, não
assim. Do nada.
Roberto – Em
São Paulo eu vou ter mais chances de me tornar um grande ator. Aqui em Bauru eu
não tenho tanta opção.
Roberto segura o rosto de Gisele com as duas
mãos.
Roberto – Se
tudo der certo e tenho certeza que dará, eu volto e te levo para viver comigo.
Eu prometo.
Gisele – Eu
não quero promessas. Também não vou me opor em suas decisões. Eu confio em você
e te dou meu apoio.
Roberto – Obrigado
por entender.
Os dois se beijam.
Roberto – Eu
te amo!
Gisele – Eu
também.
Eles tornam a se beijar.
Música alta
Cena 15 – Cidade: Bauru/Dia
Imagens do amanhecer no horizonte. Algumas
imagens dos prédios e do Parque Vitória Régia.
Musica cessa aqui
Cena 16 – Rodoviária de Bauru/Dia
Vemos ao longe Roberto abraçado em Gracinha. A
CAM se aproxima aos poucos. Ao lado tem um ônibus parado, indicando partida
para São Paulo.
Gracinha – Tome
cuidado meu filho. A cidade grande é sempre perigosa.
Roberto – Eu
tomarei cuidado, mãe. Só fico triste porque o meu pai não entende.
Gracinha – Fique
tranquilo. Mais cedo ou mais tarde ele entenderá. Seu pai turrão assim mesmo.
Nordestino! Não é fácil dobrar o gênio dele.
Roberto – No
dia em que ele me ver na televisão ele entenderá pelo que estou lutando.
Gracinha – Deus
queira meu anjo. Agora vá. Já estão terminando de embarcar o pessoal.
Roberto dá outro abraço em Gracinha.
Roberto – Obrigado
por tudo, mãe.
Gracinha – Eu
sempre estarei aqui meu filho. Sabe que sempre poderá voltar para sua casa.
Roberto sorri para Gracinha e depois embarca no
ônibus.
Música: Daughter - Youth
O ônibus começa a sair. Gracinha acena um adeus
para Roberto, que através da janela do ônibus, retribui.
Cena 17 – São Paulo/Dia
Imagens
aéreas da cidade são mostradas de diversas partes. A grande Av. Paulista e o
Parque do Ibirapuera. O Prédio da prefeitura com a bandeira do estado no alto.
Música cessa aqui
Cena 18 – Rodoviária de São Paulo/Dia
Vemos Lavínia ao lado de Mário, seu braço direito. Eles analisam
algumas pessoas.
Lavínia – Eu detesto esperar em
rodoviárias. Isso é muita classe média. Da próxima vez deixo isso com você.
Mário – Eu já te disse isso muitas
vezes. Eu recebo o pessoal e levo até você. Parece que não confia em mim.
Lavínia – Sabe que gosto de cuidar do
meu negócio pessoalmente. Mas nesse caso, vou deixar com você. Tenho um almoço
com o Anselmo. Está quase na hora. Instale a moça e avise que a chamarei para
uma conversa depois.
Mário – Claro! Pode deixar.
Lavínia sai e Mário fica observando os ônibus chegando.
Lavínia caminha entre a multidão. Paralelamente, vemos Roberto
caminhando também. Parece perdido, enquanto olha para todos os lados.
Lavínia olha o celular e de repente esbarra em Roberto, que
derruba o celular dela.
Roberto – Me desculpa!
Lavínia – Seu cego! Está vendo só o
que você fez? Sabe quanto custa um celular desses?
Roberto (pegando o celular) – Me
desculpe, eu não tive a intenção.
Lavínia fica encarando ele, enquanto Roberto fica com a mãe
estendida devolvendo o celular.
Lavínia estava deslumbrada com Roberto. Estava diante de um
rapaz perfeito. Seria um verdadeiro tesouro valioso em suas mãos. Lavínia abre
um sorriso e pega o celular.
Lavínia – Me desculpa! Eu até pareço
uma mal educada.
Roberto – Tudo bem. Eu mereci.
Lavínia (estendendo a mão) – Me
chamo Lavínia!
Roberto (apertando a mão dela) – Roberto! Prazer.
E lentamente tudo fica em câmera
lenta e a imagem se torna preto e branco.
Fim do Capítulo
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