Dancin' Days: Capítulo 01

Capítulo 01

Baseada na novela de Gilberto Braga

CENA 01. RIO DE JANEIRO. PRESÍDIO FEMININO. GALERIAS. INTERIOR. DIA

FADE-IN. DO PV DE ALGUÉM: UMA EXTENSA GALERIA DE PRESÍDIO É MOSTRADA. EM SLOW-MOTION, O PV OLHA POR ONDE PASSA. NAS CELAS, VÁRIAS MULHERES FAZENDO ALGAZARRA, ENQUANTO A PESSOA PASSA. ELAS FAZEM BARULHO (EM OFF), ALGUMAS ESTÃO EMOCIONADAS E APENAS ACENAM. O PV DA PESSOA SE ENCAMINHA PARA OUTRA ÁREA, AGORA EXTERNA.

NO PÁTIO, A PESSOA AINDA NÃO REVELADA, CAMINHA ATÉ UMA MULHER, QUE LHE DÁ UM ABRAÇO E LHE SORRI.

A PESSOA SE ENCAMINHA EM DIREÇÃO AO GRANDE PORTÃO DE FERRO AZUL DA INSTITUIÇÃO. OS PORTÕES SE ABREM.

CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 02. PRESÍDIO FEMININO. FRENTE. EXTERIOR. DIA

OS PORTÕES SE ABREM NESSA CENA E DELES SAEM UMA MULHER MORENA, ALTURA MEDIANA, CABELOS CACHEADOS E MALTRATADOS. ELA PORTA UMA MALA VERMELHA E ALGUMAS BOLSAS DE MÃO. ELA OLHA COM DIFICULDADE PARA O EXTERIOR DO LOCAL. CÂM VAI BUSCAR O SEU CLOSE EMOCIONADO. UMA LÁGRIMA ESCORRE DOS SEUS OLHOS. A BELA MORENA SORRI, EM MEIO AO CHORO EMOCIONADO. CLOSE EM SEUS OLHOS. FADE-OUT.

MORENA – (OFF) Liberdade, Juliana! Liberdade!

UM GRITO ENTUSIASMADO EM OFF. SONOPLASTIA OFF.

CORTA PARA:

CENA 03. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

FADE-IN. SONOPLASTIA:“SUGAR” – MAROON 5.

CÂM ÂNGULO SUPERIOR MOSTRA A EXTENSÃO DA BAÍA DE GUANABARA. EM EFEITO CHICOTE, CÂM CIRCUNDA O CRISTO REDENTOR. UMA PAISAGEM LUMINOSA DO RIO, NUM DIA CLARO DE SOL. IMAGENS RÁPIDAS DE UM RASANTE SOBRE O OCEANO BANHANDO A PRAIA. SURFISTAS NO MAR, BANHISTAS À BEIRA-MAR. NA ORLA VÁRIAS PESSOAS. CALÇADÃO DE COPACABANA LOTADO. GENTE DE TODO O TIPO, MUITOS JOVENS AGITANDO O LOCAL.

CÂM VAI BUSCAR UMA MOÇA JOVEM, NEGRA, CABELOS LISOS, BIQUÍNI PEQUENO, PROTEGIDA POR UMA CANGA BRANCA. ELA ESTÁ AO LADO DE OUTRAS DUAS JOVENS. ANDAM PELA PRAIA. CORTES DESCONTÍNUOS DE GAROTOS JOGANDO VÔLEI NA PRAIA, DENTRE ELES, UM JOVEM PARDO, FORTE, CABELOS CURTOS, BARBA POR FAZER.

A MOÇA DESCRITA PASSA POR ELE, QUE PÁRA AO VÊ-LA. UMA BOLADA ACERTA SUA CABEÇA.

RAPAZ 01 – Pô, Bruno! Presta atenção no jogo, mermão!

BRUNO OLHA PARA ELE E RECLAMA EM OFF. OLHA A MORENA E SORRI SAFADO. NELE.

CÂM AGORA VAI PEGAR A MOÇA COM AS AMIGAS. UMA RUIVA MAGRA E OLHOS VERDES (AMIGA 01) E A SEGUNDA, ALTA, PELE BRANCA E CABELOS AMARRADOS EM UM COQUE (AMIGA 02).

AMIGA 01 – Bruno tá te dando maior condição, hein Mari!

MARIANA – Não começa.

AMIGA 02 – Mas é verdade. Se bem que também é verdade que o Bruno dá condição pra todas!

MARIANA BATE NO OMBRO DELA, RINDO.

MARIANA – Até parece que sou qualquer uma, Leila! Não me compara!

LEILA – Não é qualquer uma e por isso não vai cair no papinho dele.

MARIANA OLHA BRUNO DE LONGE. SORRI.

MARIANA – Pensando bem, uma provadinha ali não é degustar o cardápio inteiro.

LEILA SE ENTREOLHA COM A OUTRA AMIGA E RIEM. MARIANA E BRUNO TROCAM OLHARES.

CORTA PARA:

CENA 03. RIO DE JANEIRO. AVENIDA ATLÂNTICA. EXTERIOR. DIA

TODA A EXTENSÃO DA AVENIDA ATLÂNTICA, DO ALTO. SEGUE SONOPLASTIA.

UM CARRO IMPORTADO, VERMELHO E CONVERSÍVEL CORTA A AVENIDA. NO VOLANTE: UMA BELA NEGRA, CABELOS CURTOS ESTILO JOÃOZINHO, ÓCULOS ESCUROS, ELEGANTE. ELA É FOCADA EM VÁRIOS ÂNGULOS.

CORTES DESCONTÍNUOS. O CONVERSÍVEL ESTACIONA EM FRENTE À UM PRÉDIO EM REFORMA. NA FACHADA, UMA GRANDE IMAGEM ESPELHADA, QUE REMETE À FIGURA DE UMA BARONESA DO CAFÉ, SENDO COLOCADA. LOGO ABAIXO, UM LETREIRO DENOTA: “BARONESA GLAM”.

A BELA NEGRA SAI DO CARRO, ACIONA O ALARME E A CAPOTA SE FECHA RAPIDAMENTE. ELA ENTRA NO PRÉDIO.

CORTA PARA:

CENA 04. BARONESA GLAM. INTERIOR. DIA

A MULHER DESCRITA NA CENA ANTERIOR ENTRA NO INTERIOR DO PRÉDIO. MUITA COISA AINDA SENDO PREPARADA ALI. ÚLTIMOS RETOQUES NO ACABAMENTO E NA DECORAÇÃO. NAS PAREDES, UM PAPEL VINTAGE, REMETENDO À ÉPOCA DO IMPÉRIO. COLUNAS BARROCAS NA ENTRADA. DJ PASSA O SOM NA CABINE. ALGUNS PROFISSIONAIS NO BAR. EM OFF, A MULHER ORDENA ALGUMAS COISAS, APONTA OUTRAS. UM DECORADOR VEM AO SEU ENCONTRO.SONOPLASTIA OFF.

DECORADOR – Amanda! Tá um luxo isso aqui hein?! Vai dizer que não tá divando?

AMANDA – (Analisa) É, tá bom.

DECORADOR– Nossa. Pensei que você ia berrar quando visse tudo.

AMANDA – Não. Tá bom, não tô dizendo que não tá, mas sei lá... Falta alguma coisa. Não sei, essa luz não tá me convencendo.

AMANDA OLHA EM VOLTA.

AMANDA – Liga as luzes. (Tom) Vai gente, liga geral que eu quero ver.

PAUSA E TODAS AS LUZES SE ACENDEM. TUDO MAIS CLARO. AMANDA OLHA EM VOLTA.

AMANDA – (Ao decorador) Quê que cê acha hein?

DECORADOR – (Analisa junto) Olha, pra mim, tá tudo bafônico. Se retocar, desanda!

AMANDA OLHA EM VOLTA E VÊ UMA PAREDE COM O PAPEL DESCASCANDO. ELA GRITA. CÂM EM CLOSE NO SEU ROSTO. TODOS SE ENTREOLHAM. ELA CHEGA AO LOCAL, APONTANDO.

AMANDA – O que significa esse papel de parede mal colado? Vocês tão malucos?! Vocês querem acabar com a minha vida, seus infelizes?

DECORADOR – Calma, Amanda. É só o papel./.

AMANDA – (Corta/ Por cima) Só o papel? (Se aproxima) É só o papel descascando, o canapé mal feito, a champanhe quente, (entredentes) o povo notando, o jornal publicando e a casa caindo!

AMANDA FICA FRENTE A FRENTE COM O DECORADOR. FURIOSA. ELA OLHA A PORTA DE SAÍDA E APONTA.

AMANDA – Rua!

DECORADOR – Como é?

AMANDA – Tá surda, bicha? Rua! Tá demitida! (Olha em volta) Leva o teu povo junto que eu não quero gente desqualificada aqui dentro da minha boate.

DECORADOR – Gente desqualificada?

AMANDA – Usei a palavra mais leve e que o horário me permite. Isso aqui não é zona meia-boca que contrata os seus serviços. A Baronesa desponta como uma das melhores casas da noite carioca. É promessa internacional. Saiu no Estadão! O nome do meu marido figura entre os mais requisitados empresários do show business desse país. Eu tenho grana, meu amor. Eu tenho bala na agulha pra contratar quem eu quiser! Não vou ser refém de trabalho porco.

TODOS SE ENTREOLHAM. CLIMA QUENTE. AMANDA SE CONTROLA. FAZ SINAL PARA O DJ E VAI SUBINDO NA CABINE. DECORADOR EM SEGUNDO PLANO.

DECORADOR – Pode ter grana, bala na agulha, mas é micha. É pobre de espirito. Pronto, falei!

AMANDA SE VIRA E ENCARA COM UM SORRISO CÍNICO.

AMANDA – Pelo menos eu tenho uma coisa que você cortaria os pulsos pra ter, queridinha. (Olha para baixo/ Encara) Senta e chora bebê!

O DECORADOR ENGOLE SECO. OLHA TODOS EM VOLTA, ALGUNS DISFARÇAM O RISO. ELE FAZ SINAL PARA A SUA EQUIPE QUE VAI RECOLHENDO O MATERIAL DE TRABALHO. AMANDA SOBE PARA A CABINE DO DJ.

DENTRO DA CABINE, ELA COLOCA O FONE E COMEÇA A ESCUTAR A PLAYLIST. VAI OPINANDO. SONOPLASTIA: “COOL FOR THE SUMMER” – DEMI LOVATO. NELA OPINANDO.

CORTA PARA:

CENA 05. APOLLO SPORTING. FRENTE. EXTERIOR. DIA

TAKE DA FACHADA. ACADEMIA BONITA, NOVA, TODA ESPELHADA, MOSTRANDO O PESSOAL LÁ DENTRO NAS ESTEIRAS, CORRENDO. MOVIMENTAÇÃO EM FRENTE À AVENIDA.

CORTA PARA:

CENA 06. APOLLO SPORTING. INTERIOR. DIA

SONOPLASTIA ANTERIOR ROLANDO. MOVIMENTAÇÃO DE ALUNOS MAROMBADOS NO INTERIOR DA ACADEMIA. APARELHAGEM MODERNA, ESPELHOS REVESTINDO AS PAREDES. CLOSES EM CORPOS MASCULINOS E FEMININOS, TODOS BEM TORNEADOS, MALHANDO, SE MOVIMENTANDO. CORTES DESCONTÍNUOS DE PROFESSORES DANDO SUAS AULAS.

CORTE DESCONTÍNUO PARA UMA SALA, ONDE A PROFESSORA DÁ AULA DE ZUMBA. ALUNOS DANÇAM, SE DIVERTEM. ELA: BRANCA, ALTA, CABELOS CASTANHOS COM LUZES, EM UM RABO DE CAVALO, ROUPA SPEENING.

ALUNO – (Cansado) Chega Carminha! Pelo amor de Cristo!

CARMINHA RI. VAI ATÉ ELE, INCENTIVA. CORTES DA AULA. CARMINHA SE DIVERTE.

CORTA PARA:

CENA 07. APOLLO SPORTING. VESTIÁRIO FEMININO. INTERIOR. DIA

MOVIMENTAÇÃO. MENINAS SE TROCANDO, SAINDO DE TOALHAS. MARIANA E LEILA POR ALI, SE ARRUMAM PARA MALHAR. SONOPLASTIA OFF. MARIANA SE APROXIMA DO ESPELHO. ANALISA.

MARIANA – (Assustada) Leila, olha isso no meu cabelo!

LEILA – (Analisando) O que amiga?

MARIANA – Leila, não me diz que isso é... Caspa?!

LEILA – Olha amiga, se a previsão do tempo não marcava neve hoje pra Copacabana, é, acho que isso aí é caspa.

MARIANA DÁ UM GRITO, ASSUSTANDO LEILA. OLHA SUA IMAGEM NO ESPELHO.

LEILA – Calma Mariana! Caspa não é o fim do mundo!

MARIANA – Vadia você sabe o que é um cabelo com caspa? É o fim! Cabelo de favelada!

LEILA – (Ri) Que exagero!

LEILA RINDO, PEGA O IPHONE. MEXE NELE E FAZ EXPRESSÃO CHOCADA. OLHA PARA MARIANA.

MARIANA – Quê que foi? O que é essa cara?

LEILA DESLIGA O APARELHO. DISFARÇA.

LEILA – Nada. Bobagem.

MARIANA – Dá aqui esse celular, Leila. O que você tá me escondendo?

LEILA TENTA IMPEDIR QUE MARIANA PEGUE O APARELHO, MAS ELA É MAIS RÁPIDA. OLHA NA TELA UMA FOTO EM UM GRUPO DO WHATSAPP, ONDE UM RAPAZ E UMA MOÇA LOURA ESTÃO AOS BEIJOS. ELA OLHA LEILA, FURIOSA.

LEILA – Tá, não era bobagem.

MARIANA – (Tom alto) Filho da puta!

MARIANA FURIOSA SAI CORRENDO DO VESTIÁRIO. LEILA CORRE ATRÁS.

CORTA PARA:

CENA 08. APOLLO SPORTING. INTERIOR. DIA

MARIANA SAI DO VESTIÁRIO E VEM ANDANDO RAPIDAMENTE POR ALI, INDO PARA A ÁREA DE EQUIPAMENTOS. LEILA ATRÁS, ESBAFORIDA. RITMO.

LEILA – Para, Mari! Você vai fazer uma loucura!

MARIANA – Loucura é ser corna conhecida e conformada. Mas já que nessa novela, eu sou a corna protagonista, ela vai ser só a participação especial!

LEILA – (Nervosa) Ah, meu Deus!

E MARIANA SEGUE PARA A APARELHAGEM. CORTA PARA A MESMA MENINA LOURA DA FOTO. ELA FAZ UM EXERCÍCIO. MARIANA CHEGA COBRANDO. LEILA EM SEGUNDO PLANO.

MARIANA – Então é você a piranha que tá ficando com o meu namorado nos dias que ele diz que vai jogar futebol?

LOURA – O que é que cê tá dizendo aí, maluca?

MARIANA – Maluca? Maluca você vai ver agora!

MARIANA ARRANCA A GAROTA DO EQUIPAMENTO PELOS CABELOS. GALERA JUNTA EM VOLTA PARA ASSISTIR. ALVOROÇO. ALGUNS TIRAM CELULARES E COMEÇAM A FILMAR. LEILA TENTA CONTROLAR, MAS MARIANA JOGA A GAROTA NO CHÃO.

LOURA – (Berra) Me solta, sua louca!

MARIANA ENFIA A MÃO NA CARA DELA. PESSOAL VIBRA. MARIANA SENTA EM CIMA DA RIVAL E AS DUAS SE ENGALFINHAM NO MEIO DA ACADEMIA. MUITO BARULHO EM VOLTA. CÂM SAI POR CIMA.

CORTA PARA:

CENA 09. MANSÃO PRATINI. FRENTE. EXTERIOR. DIA

TAKE DA FACHADA DA MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. CASARÃO IMPONENTE, PINTADO DE ROSA CLARO. CALÇADÃO DE PEDRA PORTUGUESA DA MESMA COR, ANTES DA ENTRADA PRINCIPAL. ALGUNS SEGURANÇAS EM VOLTA.

AMANDA – (OFF) Pode parando aí que eu quero conversar com você!

CORTA PARA:

CENA 10. MANSÃO PRATINI. SALA. INTERIOR. DIA

PAREDES BRANCAS NUMA DECORAÇÃO FINA E MODERNA. CONTRASTANDO O CLÁSSICO NOS OBJETOS DE ARTE, COM OS MÓVEIS ATUAIS. AMANDA NO MEIO DA SALA E MARIANA, COM A MOCHILA NAS COSTAS, NO PÉ DA ESCADA.

MARIANA – Olha, eu tô cansada.

AMANDA– (Por cima) Eu já fiquei sabendo que você brigou na academia e que foi expulsa, Mariana!

MARIANA – Nossa, mas a rádio fofoca é o serviço que melhor funciona em Copacabana, hein! Comprovado!

AMANDA – Pra você ver que a tal rádio fofoca se importa mais comigo, em me contar o que acontece ao meu redor, do que minha própria filha. Saber que você foi expulsa de uma academia por motivo de agressão física realmente não era a notícia bombástica que eu gostaria de ter visualizado pelas redes sociais.

MARIANA – Pois é, mas agora já sabe.

AMANDA – Brigar por causa de homem, Mariana? Você tá ficando louca? Perdeu a noção do ridículo?

MARIANA – (Alterada) Acho que quem perdeu a noção do ridículo aqui foi você. Se toca, Amanda! Você não é nem minha mãe!

AMANDA SENTE AS PALAVRAS. A ENCARA FORTEMENTE.

MARIANA – E de mais a mais aquela academia já estava bem caidinha mesmo. Era hora de trocar!

AMANDA – Na hora de trocar de academia, de pagar matrícula você não lembra que não sou sua mãe biológica.

MARIANA – Ah, deixa de drama! Porque quem paga a minha academia, assim como o seu speening diário, e como todo o resto é o Dante.

AMANDA – Como você é ingrata, Mariana!

MARIANA – E você uma chata! Um porre!

AMANDA SE IRRITA.

AMANDA – (De dedo) Quero você de castigo a partir de agora. É da faculdade pra casa! Até segunda ordem!

MARIANA NERVOSA, SOLTA UMA GARGALHADA. AMANDA PASSA A MÃO PELOS CABELOS, IRRITADA.

MARIANA – Essa é boa. Eu sou maior de idade!

AMANDA – Faz 18 daqui um mês! E aceitando ou não, sendo sua mãe biológica ou não, você está sob a minha tutela e até você ser responsável pelas suas barbáries como bater em outras garotas na rua como uma barraqueira em dia de feira, quem responde pelos seus atos sou euzinha aqui!

O CELULAR DE MARIANA TOCA. ELA DESLIGA.

AMANDA – Sobe agora!

O CELULAR TOCA NOVAMENTE. MARIANA VISUALIZA, NEM DÁ BOLA PARA AMANDA.

AMANDA – (Raiva) Atende logo a droga desse celular! Quem é?

MARIANA – (Por cima) É o Bruno! Vai querer controlar as minhas ligações agora também?!

AMANDA – Bruno de que? Bruno Linhares?

MARIANA – É! É ele! Por quê? Vai querer que eu pare de falar com o garoto também?

AMANDA – Pelo contrário. Ele eu faço gosto que você atenda. Um garoto como o Bruno, você não pode descartar.

MARIANA – Linhares! Engraçado como pra você tudo se resume a um sobrenome!

AMANDA – É aí que você se engana, minha querida. O sobrenome pra mim é o que menos importa. O sujeito pode se chamar Silva, Souza ou Santos, tendo mais que oito ou nove zerinhos depois de algum algarismo na conta corrente tá valendo!

MARIANA BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.

MARIANA – Você não muda mesmo. Eu vou subir.

AMANDA – Não esquece que você tá de castigo. (Tom) Casa e faculdade! Se sair da linha, você vai ver! E sem inauguração de boate pra você hoje!

MARIANA PARA EM MEIO À ESCADA E OLHA PARA AMANDA.

MARIANA – What?!

AMANDA OLHA CÍNICA. MARIANA BUFA E VIRA AS COSTAS, TERMINANDO DE SUBIR. AMANDA FICA PENSATIVA.

AMANDA – Bruno Fraga Linhares! É, eu tenho que apressar esse namorinho da Mariana, porque se depender dela... E lá vai a Amanda ter que mexer seus pauzinhos de novo.

SUSPIRA FUNDO. NELA.

CORTA PARA:

CENA 11. MANSÃO PRATINI. SUÍTE DANTE. INTERIOR. DIA

UMA SUÍTE COMUM. CAMA KING SIZE, CLOSET, DECORAÇÃO VINTAGE. UM HOMEM EM SUA MEIA IDADE, CABELOS LEVEMENTE GRISALHOS, FORA DE FORMA, SAI ENROLADO DO BANHEIRO, EM UMA TOALHA BRANCA. A PORTA SE ABRE, AMANDA ENTRA.

AMANDA – (Rápida) A Mariana foi expulsa da academia, Dante. Você acredita? Brigando por causa de homem!

DANTE – Isso é jeito de entrar, Amanda? Eu tava no banho!

AMANDA – Como se eu nunca tivesse te visto pelado. Você é meu marido, querido.

DANTE – (Sem graça) Mesmo assim. Sabe que a minha intimidade./

AMANDA – (Completa/ Por cima) É sagrada. Blá, blá, blá. Enquanto você tá aí na sua intimidade, a sua filha está fazendo cosplay de Ronda Rousey nas academias do Rio de Janeiro!

DANTE – Você tem o dom de exagerar, Amanda. Briga de adolescente, coisa boba!

AMANDA – Não quando a adolescente em questão é nossa filha. Ela é visada, Dante. Nossa família estampa coluna social.

AMANDA COMEÇA A ANDAR, PENSATIVA.

AMANDA – Eu preciso abafar pra que isso não saia na Vida Alheia. Já pensou?!

DANTE REVIRA OS OLHOS, COMEÇA A SE TROCAR. AMANDA O ENCARA.

AMANDA – Demiti o decorador da boate.

DANTE – (Surpreso) O quê? Você tá ficando louca? Não, para. Isso não deveria ser uma pergunta, e sim, uma afirmação. Amanda, não se pode demitir funcionários em dia de inauguração. É dar tiro no pé!

AMANDA – Era uma bicha burra. Sabe que até gosto de viados, mas burros, me dão nos nervos. (Analisa Dante) Você sabe que eu sou simpatizante da causa, não sabe?

DANTE PIGARREIA.

AMANDA – E de mais a mais, não faltava muita coisa pra inauguração da noite.

AMANDA SE APROXIMA E O MASSAGEIA NO OMBRO. DANTE SENTADO NA CAMA.

AMANDA – Será um sucesso, meu amor. Prevejo flashes!

DANTE – Ah, Amanda... Se você fosse tão otimista na educação da Mariana, quanto é para os negócios.

AMANDA – E eu sou otimista, meu amor. Eduquei a Mariana desde pequena e sei a filha que eu formei. A Mariana só é desajustada, e tudo isso por causa das amizades. Mas ela fará um bom casamento e tudo vai mudar. (Pensa) E eu já sei até com quem ela vai fazer esse casamento.

DANTE – (Encara) Você não tá pensando em casar a Mariana aos dezoito anos né?

AMANDA – Na idade dela, eu já te namorava.

DANTE – Não quero que ela se antecipe, Amanda. Ela pode se arrepender das decisões que fizer agora.

AMANDA – Você fala baseado em conhecimento de causa?

DANTE FICA PENSATIVO. AMANDA CONTINUA MASSAGEANDO O MARIDO. ELA TAMBÉM PENSATIVA.

CORTA PARA:

CENA 12. COPACABANA. RUAS. EXTERIOR. DIA

UM FIAT POPULAR CORTA ALGUMAS RUAS DE COPACABANA. SONOPLASTIA: “TECNOPAPIRO” – MARIA GADÚ. NO INTERIOR, CÂM BUSCA CARMINHA AO VOLANTE. ÓCULOS ESCUROS, CABELOS AMARRADOS. O CARRO ENGUIÇA E ELA DÁ UNS SOLAVANCOS. PÁRA O VEÍCULO EM MEIA PISTA. CARROS ATRÁS. CARMINHA SAI DO VEÍCULO E ABRE O CAPÔ. FUMAÇA SAI DO CARBURADOR. BUZINAS COMEÇAM A ECOAR. CARMINHA BATE NO CAPÔ. PEGA O CELULAR.

CARMINHA – Amor? (Ri) Adivinha?!

NELA. CORTA PARA: O CARRO JÁ SENDO REVISADO, ALI NO LOCAL, MAS ESTACIONADO À BEIRA DA CALÇADA, UM HOMEM FORTE, SEM CAMISA, MORENO DE PRAIA E CABELOS LEVEMENTE PLATINADOS, FECHA O CAPÔ E SE APROXIMA DE CARMINHA. SONOPLASTIA OFF.

CARMINHA – Então, Jamil?

JAMIL – Tudo certo, meu amor. O que seria de você sem a minha ajuda máscula, hein?

CARMINHA RI E ABRAÇA O NAMORADO, ENVOLVENDO OS BRAÇOS EM VOLTA DO SEU PESCOÇO.

CARMINHA – Te tirei do serviço né?

JAMIL – Tirou. Mas aquele serviço pra mim já deu, Carminha. Não quero continuar sendo empregado a vida inteira. Quero tentar o meu negócio.

CARMINHA – Ah, não, Jamil! Não começa a imitar as ideias do papai. Você sabe que sou traumatizada com as tais ideias mirabolantes de negócios do seu Alberico!

JAMIL – Eu tenho os pés no chão, Carminha. Não sou igual o seu pai que quer resgatar um tempo do Rio de Janeiro que não vai mais voltar. Tenho tino pros negócios.

CARMINHA MEIO À CONTRAGOSTO, CONCORDA. OS DOIS DÃO UM BEIJO. O CELULAR DE JAMIL TOCA. ELE OLHA NO VISOR. SE AFASTA E ATENDE. CARMINHA FICA O ESPREITANDO. JAMIL RETORNA.

JAMIL – Amor, tenho que voltar ao trabalho, mas nós nos falamos à noite. Tudo bem pra você?

CARMINHA – Tudo bem. Você tem que ir mesmo, já me salvou por hoje, menino superpoderoso.

ELES RIEM. MAIS UM BEIJO DO CASAL. ELE SAI SOB O PV DE CARMINHA. NELA.

CORTA PARA:

CENA 13. COPACABANA. QUIOSQUE DO BANDEIRA. EXTERIOR. DIA

LUGAR COM PESSOAS CIRCULANDO. EM UMA DAS MESAS, ESTÁ A MESMA MORENA DA CENA 01. CÂM BUSCA A CHEGADA DE JAMIL. ELE PROCURA ALGUÉM. A MORENA LEVANTA, NERVOSA. ACENA. ELE ABRE UM SORRISO.

JAMIL – (Se aproximando) Juliana! Que saudade!

ELA ABRE OS BRAÇOS E OS DOIS EM UM ABRAÇO EMOCIONADO. SE ENCARAM. NELES.

CORTA PARA:

CENA 14. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA

ABRE EM VÁRIOS PAPÉIS EM UM MAÇO SENDO JOGADOS EM CIMA DE UMA MESA DE CENTRO. CÂM REVELA CARMINHA, SENTADA NO SOFÁ, COM A MÃO NA CABEÇA.

CARMINHA – Mas como vocês deixaram chegar nessa situação?

PLANO GERAL REVELA UMA SALA CLASSE MÉDIA. APARTAMENTO MEIO ANTIGO, MÓVEIS SEGUEM O ESTILO. NO AMBIENTE: UMA MULHER BRANCA, ESTATURA MEDIANA, CABELOS LEVEMENTE GRISALHOS, ENCARA CARMINHA. PRÓXIMA, UMA NEGRA, ESTATURA BAIXA, SHORT CURTO, REGATA.

NEGRA – (Metida) Eu falei pra dona Fátima que as contas tavam chegando, falei que o apartamento o seu Alberico não pagava, mas ela não escutou.

FÁTIMA – Paulina!

PAULINA – Mas é verdade, dona Fátima. Aqui nessa casa, tomo mundo entra e sai e acham que água vem do céu e cai na torneira e que se acumula energia elétrica em pote vazio de conserva pra gerar luz à noite. Ninguém se interessa em saber se o gás tá faltando!

FÁTIMA – Eu só não te demito. /

PAULINA – (Corta/ Por cima) Só não me demite porque a senhora e o seu Alberico teriam que me pagar mais de ano atrasado! Pensa eu tô morta é? Eu sei dos meus direitos!

PAULINA VAI SAINDO DO AMBIENTE. FÁTIMA ENCARA CARMINHA.

CARMINHA – Mãe, isso que a Paulina disse não é nenhuma mentira. Aqui nessa casa ninguém se interessa em pagar nada. Se não sou eu./

FÁTIMA – Pode parar, Carminha. Não criei filha minha pra jogar na cara que paga as minhas contas.

CARMINHA – Desculpa. Mas poxa, o papai poderia colaborar um pouco.

FÁTIMA – O seu pai? Ah, o seu pai.

FÁTIMA SENTA. RI.

FÁTIMA – O seu pai sempre foi desse jeito e nunca mudou. Desde que o Rio era dourado e se tocava Bossa Nova nas festinhas do Copacabana Palace. Você sabe, Carminha.

CORTA PARA:

CENA 15. RIO DE JANEIRO. JOCKEY CLUB. INTERIOR. DIA

A FALA ANTERIOR VEM EM OFF DURANTE A CENA. PLANO GERAL NO JOCKEY. PESSOAS MOVIMENTAM. MULHERES E HOMENS FAZENDO APOSTAS. ENTRE ELES, UM HOMEM ALTO, MEIO CALVO, MAGRO, ÓCULOS ESCUROS. ANSIOSO, SEGURA UM BILHETE, O ERGUE.

FÁTIMA – (OFF) O Alberico é uma boa pessoa, mas sem senso prático nenhum. Desde que eu conheci eu me encantei por aquele jeito do Alberico, mas de uns tempos pra cá... A velhice chega, minha filha. E quando não tivermos mais nem esse apartamento? Como vamos nos virar?

CORTES DESCONTÍNUOS DAS RAIAS DO CAVALO. ALBERICO, O HOMEM DA CENA, VAI LEVANTANDO DA CADEIRA, ENQUANTO ACOMPANHA A CORRIDA. ESTÁ NERVOSO, SEGURA COM FORÇA O BILHETE.

FÁTIMA – (OFF) As escolhas do seu pai sempre foram as erradas.

UM CAVALO PASSA A LINHA DE CHEGADA. AGITAÇÃO DE ALGUNS EM VOLTA DE ALBERICO. ELE JOGA O BILHETE NO CHÃO. DECEPCIONADO. PERDEU A APOSTA.

FÁTIMA – (OFF) A verdade é que o seu pai sempre foi o cavalo azarado do páreo no Jockey Club.

CORTA PARA ALBERICO SAINDO DO JOCKEY, CABEÇA BAIXA, ENTRISTECIDO. O JOCKEY EM SEGUNDO PLANO. NELE.

CORTA PARA:

CENA 16. COPACABANA. QUIOSQUE DO BANDEIRA. INTERIOR. DIA

JULIANA E JAMIL SENTADOS EM UMA DAS MESAS DISPOSTAS. TOMAM UMA ÁGUA DE COCO.

JAMIL – Quase quinze anos, Jú! Como o tempo passa.

JULIANA – Imagina pra quem tá lá dentro, meu amigo? Muita coisa mudou. (Triste) Eu não vi a minha filha crescer.

JAMIL – Eu também nunca mais tive notícias dela, Juliana. Eu até tentei procurar a Amanda, mas você sabe como é a sua irmã.

JULIANA – (Melancólica) Irmã? Que irmã é essa que abandona a outra atrás das grades, mofando por mais de dez anos e nem sequer vai visitar? Poxa, ela criou a Mariana! Foi mãe dela até hoje! Ela poderia me dar notícias de como tá a minha filha.

JAMIL – Ela já sabe que você saiu?

JULIANA NEGA COM A CABEÇA.

JULIANA – Não tive coragem de ligar pra avisar. A primeira pessoa que eu liguei foi pra você.

JULIANA SEGURA A MÃO DELE EM CIMA DA MESA.

JULIANA – Cê sabe que é como um irmão pra mim, não sabe?

JAMIL – Claro que sei. Você também, cara. É a irmã que eu nunca tive. Pode contar comigo sempre.

JULIANA – Vou precisar de apoio mermo, ainda mais agora que sou uma ex-presidiária. É barra aqui fora!

JAMIL – (Concorda) É sim. Tá difícil pra todo mundo, Jú. É uma crise em todos os setores. Vai ser difícil se estabelecer, mas conta comigo. Eu também vou conversar com a minha noiva.

JULIANA – Pô, Jamil! (Feliz) Não falou que tava noivo! Te amarram finalmente!

JAMIL – (Ri) Pra você ver! É uma garota muito bacana. Guerreira e linda. Carmem o nome dela, mas todo mundo conhece como Carminha. É personal numa academia bacana daqui. (Desperta) Taí! Vou falar com ela pra ver se ela consegue alguma coisa pra você na academia. Cê topa?

JULIANA – Poxa, Jamil. Não tem nem como eu recusar. Cê sabe como tá a minha situação. Ainda preciso encontrar um lugar pra ficar.

JAMIL – Eu te ajudo. Vou aproveitar a tarde livre e te ajudar.

JULIANA – Pô, valeu.

JAMIL – Então bora?

JULIANA SORRI, ASSENTE.

CORTA PARA:

CENA 17. COPACABANA. RUAS. EXTERIOR. DIA

UMA MOTO CORTA AS RUAS, NA DIREÇÃO JAMIL, NA GARUPA ESTÁ JULIANA. SONOPLASTIA: “ME LEVE A SÉRIO” – JORGE VERCILLO. CORTES DESCONTÍNUOS DA MOTO PASSANDO POR VÁRIAS RUAS. JAMIL APONTA ALGUNS CONDOMÍNIOS E PLACAS DE ALUGA-SE PARA JULIANA. CORTA PARA JAMIL E JULIANA VISITANDO ALGUNS LUGARES. ENTRAM E SAEM DE PRÉDIOS EM PLANOS CONTÍNUOS. MAIS ALGUMAS VOLTAS POR ALGUMAS RUAS.

CORTA PARA JULIANA E JAMIL EM UMA KITINET, ALGUNS POUCOS MÓVEIS SIMPLES. O DONO ENTREGA UM MOLHO DE CHAVES PARA JULIANA. ELA SORRI PARA JAMIL. SONOPLASTIA OFF.

JAMIL – Pronto! Não falei que te ajudaria?!

JULIANA ABRAÇA JAMIL.

JULIANA – Não sei nem como te pagar isso tudo que você tá fazendo por mim.

JAMIL – Me paga sendo feliz.

JULIANA SORRI. SEGUNDOS E LOGO VOLTA A ENTRISTECER.

JULIANA – Agora só tenho que encontrar a Amanda e a minha filha. Eu vou me reaproximar da Mariana.

JAMIL – Será que é uma boa ideia, Jú?

JULIANA – Não importa, meu amigo. Eu vou reconquistar a minha filha.

JAMIL – Olha, eu nem devia falar nada, mas justamente hoje, é a inauguração da boate da sua irmã e do marido dela aqui em Copacabana.

JULIANA – Boate da Amanda e do Dante?

JAMIL – Tá sendo bem disputada e comentada pelas mídias. O nome é Baronesa Glam. Fica aqui em Copacabana mesmo. Se quiser dar uma conferida...

JULIANA PENSATIVA. CLOSES DE AMBOS. NELA. FADE-OUT.

CORTA PARA:

CENA 18. RIO DE JANEIRO. HARAS DONA CAROLINA. EXTERIOR. DIA

FADE-IN. PLANO GERAL, ÂNGULO SUPERIOR. SONOPLASTIA: “ROLLING IN THE DEEP” – ARETHA FRANKLIN. A EXTENSÃO DE UM GRANDIOSO HARAS É VISTA. DA PORTEIRA PRINCIPAL, ONDE HÁ UMA PLACA EM MADEIRA TALHADA: “HARAS DONA CAROLINA”, ATÉ AS COCHEIRAS. CORTES MOSTRANDO OS PASTOS, AS PISTAS E CERCADOS, ONDE PESSOAS EQUITAM. POR FIM, A CASA GRANDE DA FAZENDA. UMA EMPREGADA SAI DALI COM O TELEFONE EM MÃOS. PRÓXIMO DA CASA, SENTADA EM UM CAVALO NEGRO, UMA MULHER ALTA, MAGRA, BELA E APROXIMADAMENTE QUARENTA E POUCOS ANOS. SONOPLASTIA OFF. A EMPREGADA ACENA COM O TELEFONE.

EMPREGADA – Dona Celina!

O CAVALO PÁRA. UM EMPREGADO AJUDA CELINA A DESCER. ELA COM ROUPA DE EQUITAÇÃO, VAI ATÉ A EMPREGADA.

CELINA – Quem?

EMPREGADO – Cadú.

CELINA SORRI. PEGA O TELEFONE. ANIMADA.

CELINA – (Cel.) Filho mais desnaturado que eu tenho. Preciso deixar milhões de recados na caixa postal pra enfim receber uma ligação?! (Pausa) Trabalho não é desculpa, Carlos Eduardo. Poxa, Cadú, poderia ligar vez ou outra. Eu e o seu pai sentimos saudade. (Pausa) Na cidade, como sempre, cuidando dos negócios. Franklin não sai daquele escritório. Você sabe de quem é filho! (Pausa/ Estranha) Fala.

CELINA MUDA A EXPRESSÃO E VIRA PARA OUTRO PONTO. CÂM ACOMPANHA.

CELINA – (Cel.) Como é que é?!

NELA.

CORTA PARA:

CENA 19. HARAS. CASA GRANDE. SALA. INTERIOR. DIA

AMBIENTE REFINADO E LUXUOSO. MÓVEIS REQUINTADOS, COM CARACTERÍSTICA RÚSTICA. UMA MESA DE CENTRO EM CARVALHO TALHADO, COM REVISTAS POR CIMA. ALGUMAS ORQUÍDEAS EM VASOS. CELINA, ENTRA, AO TELEFONE.

CELINA – (Cel.) O seu filho enlouqueceu, Franklin! (Pausa) Disse! Disse com todas as letras que está voltando para o Brasil e que vai parar de advogar! (Pausa) Não, Franklin! Eu não vou permitir! (Pausa/ Por cima) Não coloca panos quentes, Franklin! Não!

CELINA DESLIGA O TELEFONE E JOGA NA PAREDE. FURIOSA.

CELINA – Eu não vou permitir!

CELINA SOBE RAPIDAMENTE AS ESCADAS.

CORTA PARA:

CENA 20. HARAS. CASA GRANDE. SUÍTE CELINA. INTERIOR. DIA

AMBIENTE REFINADO, ASSIM COMO O RESTANTE DO IMÓVEL. FLORES POR ALI TAMBÉM. CELINA SAI DO CLOSET COM UMA PEQUENA MALA E ALGUMAS ROUPAS. BATIDAS NA PORTA. A EMPREGADA ENTRA.

EMPREGADA – Dona Celina, preparo o que para o jantar?

CELINA – O que você quiser, Lourdes. Eu já estou voltando para a capital.

EMPREGADA – Mas a senhora chegou hoje de manhã.

CELINA – E estou indo embora à noite. Qual o problema?

EMPREGADA – Desculpe, mas a senhora parece nervosa. Não é bom dirigir nesse estado. Quer que eu peça para o Jeremias levar. /

CELINA IRRITADA JOGA A MALA NO CHÃO.

CELINA – (Grita) Pede pro Diabo te levar, sua infeliz!

A EMPREGADA SAI DALI RAPIDAMENTE. CELINA SE JOGA NA CAMA.

CELINA – O Cadú não pode jogar fora os planos que eu fiz pra ele. Já me basta o Bruno com os problemas dele. O Cadú não. Com ele vai ser diferente. Eu juro que vai ser diferente!

CELINA PENSATIVA.

CELINA – Eu tenho que arrumar uma mulher pro Carlos Eduardo. (Se convence) Uma mulher vai colocar a cabeça dele no lugar.

EM CELINA, NERVOSA.

CORTA PARA:

CENA 21. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

TAKES DO RIO DE JANEIRO, ENTARDECENDO. SOL SE PÔNDO NO HORIZONTE. CÉU LARANJA COMPLETA O CENÁRIO. SONOPLASTIA: “MODO AVIÃO” – NX ZERO. AS PLATAFORMAS DE METRÔ LOTADAS. CORTES DESCONTÍNUOS DE PESSOAS EMBARCANDO E DESCENDO NAS PASSARELAS. CORTA PARA UM GRUPO, COMPOSTO POR DOIS RAPAZES: ALTOS, FORTES, UM É BRUNO (CENA 03) E O OUTRO LOURO, OLHOS AZUIS, E UMA GAROTA: LEILA (CENA 03). OS TRÊS ANDAM PELA PLATAFORMA. SE ENTREOLHAM.

CORTA PARA O METRÔ FECHANDO AS PORTAS E SAINDO DA ESTAÇÃO. LEILA FAZ SINAL. OS TRÊS PULAM EM UM DOS VAGÕES. SOBEM ATÉ O TETO DO VEÍCULO. ELES FAZEM ACROBACIAS ARRISCADAS.

CORTES DESCONTÍNUOS DO SURF FERROVIÁRIO FEITO PELOS TRÊS JOVENS.

CORTA PARA O METRÔ CHEGANDO À UMA ESTAÇÃO. OS TRÊS PULAM NA PLATAFORMA, INCONSEQUENTES. UM GUARDA AVISTA, APITA. FAZ SINAL PARA OUTROS DOIS GUARDAS. OS JOVENS CORREM. ADRENALINA NA PERSEGUIÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 22. RIO DE JANEIRO. BOTECO. FRENTE. EXTERIOR. DIA.

ABRE NOS TRÊS JOVENS GARGALHANDO, ENQUANTO ESTÃO SEM FÔLEGO. SONOPLASTIA OFF.

BRUNO – Bando de coió!

LEILA – É, mas dessa vez foi arriscado. Quase que nos pegam!

JOVEM LOURO – Ih, qual é, Leila? Vai arregar? Temos uma aposta!

LEILA – Sai fora, Léo. Que arregar o que! Faço o que muita patricinha metida não faz por aí.

BRUNO – Mas tu também é patrícia, Leila! (Ri).

LEILA – Cala a boca, Bruno! Seu bosta!

OS TRÊS RIEM.

LÉO – Bom, galera. Tá tudo muito bom, tudo muito bem, sinto a dor da perda, partirei!

LEILA – Ah, mas já?

LÉO – Tem baladinha, esqueceu?

LEILA – Pode crê. Tour na Baronesa.

LÉO CUMPRIMENTA OS DOIS COM DE MODO JOVEM.

LÉO – #Partiu!

E LÉO PEGA O SKATE, SAI DROPANDO. BRUNO E LEILA ACOMPANHAM COM O OLHAR.

LEILA – Vai. Desabafa.

BRUNO – Não entendi.

LEILA – Pode desarmar, Dom Quixote. Tá na cara que tá numabad, fala qual é a parada da vez.

BRUNO – Minha vida tá foda. Minha mãe cada vez mais controladora. O meu pai quer que eu faça Direito, siga os passos da família. Tô cheio da minha vida!

LEILA – (Ironiza) Nossa, realmente deve ser difícil ser um dos herdeiros mais ricos do país. Bonito e disputado por 11 das 10 mais populares do Rio e ainda assim namorar uma modelo que faz desfiles em Paris e Milão. Ah, e ela promete ser a nova queridinha da publicidade no Brasil na próxima estação de desfiles.

LEILA FAZ CARA DE POUCO CASO. BRUNO BRAVO.

BRUNO – Não ironiza, Leila! A minha vida é complicada sim. Aliás, esse relacionamento com a Gabriela já tá uma droga!

LEILA – Tadinho de você, Bruneco! Tá precisando de um habeas-corpus pra sair desse namoro fracassado ou vai esperar ser condenado ao casamento?

BRUNO PENSATIVO, OLHA LEILA E FAZ CARA DE INSATISFAÇÃO. FADE-OUT.

CORTA PARA:

CENA 23. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE

FADE-IN. RIO DE JANEIRO LUMINOSO. AVENIDAS MOVIMENTADAS SOB AS LUZES DOS FARÓIS DOS CARROS.SONOPLASTIA: “WALKING ON AIR” – KATY PERRY. TAKES DO CRISTO, CIRCUNDANDO E REVELANDO A BAÍA, ILUMINADA. PRAIAS AINDA MOVIMENTADAS PELOS BANHISTAS NOTURNOS. SURFISTAS SAINDO DO MAR, COM SUAS PRANCHAS.

ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DA BARONESA GLAM, COM A ESTÁTUA QUE DÁ NOME À CASA, ILUMINADA EM NEON. PESSOAS MOVIMENTANDO A PORTA. SEGURANÇA NO LOCAL. POLÍCIA MILITAR REFORÇANDO A SEGURANÇA. BILHETERIA LOTADA. FILA VIP NA PORTA TAMBÉM CHEIA. FLASHES POR TODOS OS LADOS. JOVENS EM ALGAZARRA, EM SEUS VÁRIOS GRUPOS DE AMIGOS.

CORTA PARA:

CENA 24. BARONESA GLAM. INTERIOR. NOITE

PLANO GERAL. A BOATE DE DOIS ANDARES, LOTADA. AGITAÇÃO NA PISTA DE DANÇA. DJ TOCA, ENQUANTO, INCITA O POVO, QUE GRITA, ENLOUQUECIDO. NO TELÃO, VÁRIOS VÍDEOS PSICODÉLICOS PASSANDO. SONOPLASTIA ANTERIOR. JOVENS BEBEM, DANÇAM E BEIJAM NA BOCA. SE AGARRAM NA PISTA, EM COMEMORAÇÃO.

CÂM EM EFEITO CHICOTE, VAI BUSCAR AMANDA. ELA NO CAMAROTE, BELÍSSIMA, NUM VESTIDO PRETO, COM PAETÊS, ALÇA ÚNICA. OLHA PARA O PRIMEIRO PISO. SORRIDENTE, DANÇA AO SOM DA MÚSICA. UM HOMEM ALTO, FORTE, BONITO E UMA MULHER MAGRA, ALTA, CABELOS EFEITO CALIFORNIANOS SE APROXIMAM DELA. SONOPLASTIA MAIS BAIXA.

AMANDA – (Tom alto) Pensei que tinha evaporado, Bibi!

BIBI – (Tom) Nunca, amiga! Isso aqui tá um arraso! Não dá nem pra se mexer! Que furacão, hein, vaca!

AMANDA – (Ri) Efeito publicitário, amiga!

HOMEM – Mas a casa tá um espetáculo, Amanda!

AMANDA – Você é sócio, Henrique. Não vale! Mas tá perfeita mesmo. Eu me supero!

AMANDA FAZ CHARME. HENRIQUE SORRI, DISCRETO.

HENRIQUE – Bom, eu vou dar uma circulada. Receber as pessoas e ver como tá tudo.

AMANDA CONSENTE. HENRIQUE SAI. BIBI ACOMPANHA COM O OLHAR.

BIBI – (Tom) Ai, amiga. Será que hoje eu finalmente consigo pegar o Henrique?

AMANDA – Não pira, bitch! Henrique faz a linha “Livre para todos os públicos”.

BIBI FAZ CARA DE DESAGRADO. BEBE SUA DOSE. AMANDA TAMBÉM BEBE SUA TAÇA DE CHAMPANHE. NELA, DIVANDO. CÂM ABRE EM PLANO.

CORTA PARA:

CENA 25. BARONESA GLAM. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

NA AVENIDA EM FRENTE À BOATE, UM ÔNIBUS PARA. DESCEM ALGUMAS PESSOAS. DESCE TAMBÉM JULIANA. ELA OLHA PARA A FRENTE DA BOATE. TENSÃO. ELA CRUZA A AVENIDA E SE APROXIMA DO BOLO DE PESSOAS NA PORTA. OLHA TUDO EM VOLTA. MOSTRA INDECISÃO.SLOW-MOTION:JULIANA DÁ UM PASSO PARA IR EM DIREÇÃO À MARIANA. UMA MÃO SEGURA O SEU BRAÇO. CAM VOLTA EM RITMO NORMAL.

JULIANA SE VIRA E ENCARA. Á SUA FRENTE, AMANDA, FUZILANDO COM O OLHAR.

JULIANA – (Espantada) Amanda?!

AMANDA – O que você pensa que tá fazendo aqui?

CLOSES ALTERNADOS. AMANDA NERVOSA. ÚLTIMO CLOSE EM JULIANA.

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 01.