Continuação
imediata da cena anterior.
Dama está
deitada na cama, assistindo TV, com todas as luzes apagadas. A porta se abre
lentamente, e Eneida, irmã de Vitória, entra, fecha a porta e acende a luz.
Dama
(assustada) – Eneida?
Eneida – Búu. Pensou
que fosse quem? O meu fantasma?
Eneida
retira uma arma de sua bolsa e aponta para Dama.
Dama
(assustada/ chorando) – Não faça uma bobagem dessas.
Eneida – A balança
se inverteu Dama. Agora é você que está na linha de tiro.
Eneida
destrava a arma. Dama fica parada e com semblante de muito medo.
Dama – Não faça
nada que você vá se arrepender depois.
Eneida – Senta e
relaxa, só quero te dar dois tiros.
Dama
(BAIXINHO) – Pai nosso que estais no céu, santificado seja o
vosso.../
Eneida – Não adianta
pedir a Deus pra perdoar os teus pecados, ele não vai aceitar.
Dama – Por que
você tá tão diferente? Me diz o que eu fiz pra você?
Eneida
abaixa a arma.
Eneida – Nada! Eu
quis só te impressionar Dama. A Vitória me contou que você estava aqui, fazendo
chantagem barata com ela. Qual foi mulher? Vai ficar medindo forças com uma
assassina?
Dama – O que farei
então? Preciso de grana e quero sentir o gostinho da vingança também.
Eneida – Vingança?
Eu tenho certeza que você vai se dar mal com isso, mas não falo mais nada.
Dama se
levanta.
Dama – Vou ajeitar
o quarto de hóspedes para você. Deve estar cansada.
Eneida – Tô morta.
Dama
(saindo) – Então me siga.
Eneida olha
para a arma.
Eneida
(rindo) – E a jumenta quase se cagou toda por causa de uma arma de
brinquedo.
Eneida sai
do quarto.
Corta para:
Cena 02. Bar
Chegaí/ Fachada/ Exterior/ Noite.
Algumas
mesas espalhadas pela calçada, com pessoas sentadas tomando cerveja e
conversando. Clima muito descontraído. Música de pagode dá o tom ao ambiente.
Diálogo da
cena posterior.
Tamara – Tá aqui Zé.
Tá pronto o cartaz, vê se você gostou.
Zé Diogo
(contente) – Mas tá uma maravilha Tamara, tu é profissa nisso
mesmo. Quanto lhe devo?
Corta
rapidamente para:
Cena 03.
Bar Chegaí/ Balcão/ Interior/ Noite.
Zé Diogo
está do lado de dentro do Balcão, com o cartaz aberto em mãos, enquanto Tamara
está sentada em um banco de frente pro balcão.
Zé Diogo –Quanto você
cobrou Tamara?
Tamara – Ah Zé, uma
mão lava a outra. Deixa esse favor pendente na casa, quando eu precisar eu
cobro, pode ser?
Zé Diogo – Claro que
pode... Tô até pensando em colar este aqui já.
Tamara – Acho
perfeito. Já fez os anúncios na rádio? Pediu carro de som pra anunciar?
Zé Diogo – Ainda não.
Tamara – Mas tem que
fazer. O marketing é a alma do negócio.
Zé Diogo – Vou fazer
isso amanhã bem cedo. (T) Agora tu
aceita uma cerva?
Tamara – Só se tiver
geladinha, com a garrafa até nevada.
Zé Diogo – E me diz,
desde quando o Bar Chegaí num tem uma loura gelada?
Tamara – Tem razão.
Esse bar arrasa.
Zé Diogo
retira uma cerveja do freezer, abre e serve a Tamara.
Tamara – Me
acompanha?
Zé Diogo – Mais tarde
eu tomo um gole, agora nem posso.
Tamara
então dá uma golada boa na cerveja.
Tamara (pra
si) – Melhor do que essa cerveja, só o meu cargo de gerente.
Tamara
levanta seu copo em sinal de comemoração.
Corta para:
Cena 04.
Mansão Amadeu/ Quarto de Hóspedes/ Interior/ Noite.
Dama está
terminando de ajeitar as roupas de cama, enquanto Eneida aplica uma máscara
facial, se olhando no espelho.
Dama
(terminando) – Pronto Eneida, suas instalações estão devidamente
ajeitadas.
Eneida
(olhando no espelho) – Nada como uma serviçal eficiente. O que seriam
dos nobres, sem a criadagem? O que seria da Rainha, sem seus súditos?
Dama – Você tá me
confundindo?
Eneida
vira-se para Dama.
Eneida – De forma
alguma, querida. Foi só uma brincadeira, pra descontrair o ambiente.
Dama – Suas
brincadeiras hoje estão passando dos limites.
Eneida – Pelo menos,
eu não estou fazendo chantagem com ninguém, e muito menos traçando um plano de
vingança tosco e incoerente.
Dama
(ríspida) – Escuta aqui Eneida, se você veio pra ficar.../
Eneida
(corta) – Escuta aqui você. Eu não estou querendo livrar a pele da
Vitória, até porque se ela fez, é justo que pague. O que estou criticando, é a
forma amadora que você encontrou para se vingar e arrancar qualquer tostão da
minha irmã.
Dama – Amadora ou
não, eu estou conseguindo o que quero. Além do mais, a sua irmã tá comendo na
palma da minha mão.
Eneida – Nunca
subestime a inteligência e a capacidade maligna que a Vitória tem. Ela tá
criando uma emboscada pra você, que tá caindo feito um patinho.
Dama – Eu não vou
discutir os meus métodos com você, até porque, não lhe interessa essa história.
Eneida – Só estou te
dando um conselho.
Dama – Se conselho
fosse bom, venderiam nas melhores farmácias. Agora, vou me deitar. Boa NOITE.
Dama sai do
quarto, fechando a porta.
Eneida (se
deitando) – Quem avisa amiga é.
Corta para:
Cena 05.
Mansão Amadeu/ Jardim Frontal/ Exterior/ Noite-Dia.
O jardim,
todo iluminado em cores quentes, clareia a frente da mansão. Transposição da
noite para o dia, sem música.
Corta para:
Cena 06.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Estão na
sala, sentados nos sofás: Ana Rosa, Fabrício, Vitória, Miguel e Milena,
conversando.
Milena – Ai gente,
vamos? Não vejo razão para estarmos aqui parados feito dois de paus.
Vitória – Estamos
esperando o Antero. Marquei com ele aqui.
Miguel – Além do
mais, tem o Álvaro, que é advogado da empresa.
Ana Rosa (a
Fabrício) – Eu tenho mesmo que ir?
Milena – Se fosse
para o inferno sim, mas como se trata de coisas de família, acho que você pode
ficar em casa mesmo.
Miguel – Para com
essas provocações Milena.
Milena – Eu só disse
a verdade. A Ana Rosa é uma inútil mesmo.
Ana Rosa – Mas isso
depende do ponto de vista, porque inútil pra mim é passar o dia todo rastreando
e fiscalizando um homem, porque não se garante como mulher.
Milena se
levanta e fica de frente para Ana Rosa.
Vitória – Que baita
coice, dá-lhe Aninha.
Milena
(apontando dedo) – Continua esse seu sermão barato pra ver o que te
acontece. Que ódio de você.
Ana Rosa se
levanta e fica de frente para Milena.
Ana Rosa
(rude) – Tá com ódio de mim? Deita na rodovia por cinco minutos, que
passa. Eu não tenho medo de você.
Miguel
intervém e retira Milena, que se senta nervosa no outro sofá.
Fabrício – Senta Ana
Rosa.
Ana Rosa se
senta.
Vitória – Adorei o
barraco. Mas poderiam ter feito no Fórum, só assim já sairiam presas.
Nesse
instante Antero e Álvaro chegam.
Álvaro
(entrando) – Nem me dei ao trabalho de tocar a campainha. Ouvi um
falatório e decidi entrar.
Vitória – Eram duas
gazelas se dando ao desfrute da discussão.
Fabrício – Agora sim
poderemos ir?
Vitória – Lógico. Não
quero me atrasar.
Todos se
levantam e saem da casa.
Corta para:
Cena 07.
Casa de Edu/ Sala/ Interior/ Dia.
Edu está
deitado no sofá assistindo TV, enquanto Seu Lucído está sentado na
escrivaninha, mexendo no computador.
Lucído – Por que tem
que existir tantas Helenas assim?
Edu – Ué vô, é um
nome muito normal. Lógico que existiriam várias pelo Brasil a fora.
Lucído – Mas eu
acharei a minha Helena. Isso eu garanto a você.
Edu se
senta no sofá.
Edu – Me explica
uma coisa?
Lucído – Fala.
Edu – Olha só vô,
o senhor tá sempre procurando ou falando nessa tal Helena que eu desconheço
quem seja. Me diz, com franqueza, quem ela é? É sua amante? Uma namorada da
juventude? Diz.
Lucído – Na hora
certa você saberá.
Edu – Se eu
acreditasse nessas feitiçarias, eu pediria a mãe pra colocar o tarô na mesa e
descobrir quem é essa mulher.
Lucído –Nem tudo é
na base da adivinhação.
Edu (se
levantando) – Quer saber vô? Tô caindo fora. Vou visitar minha
namorada que ganho mais. Deixa o senhor e suas maluquices por aí.
Edu sai e
Lucído volta a digitar.
Corta para:
Cena 08.
Fórum/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Um prédio
grandioso com o letreiro: ”FÓRUM”.
Fluxo natural
de pessoas, na maioria em trajes sociais, entrando no local.
Corta para:
Cena 09.
Fórum/ Sala de Reunião/ Interior/ Dia.
Sala em
tons escuros, ambiente requintado. Uma enorme mesa ocupa quase que a totalidade
da sala.
Nas
laterais estão, lado direito: Vitória, Antero e Ana Rosa. Do lado esquerdo:
Álvaro, Fabrício, Miguel e Milena.
Vitória (a
Antero/ Cochichando) – Essa desgraça de leitura vai demorar tanto
assim?
Antero – Calma
chefa, a juíza já deve estar chegando.
Vitória
(impaciente) - Tinha que ser fêmea, deve estar retocando o batom ou
olhando algum promotor pelos corredores.
Antero
sorri contidamente.
Miguel (a
Álvaro) – Será que o meu pai possuía muitos bens?
Álvaro – Inúmeros.
Você e Fabrício podem se considerar milionários. Verdadeiros magnatas.
Miguel
(feliz) – Há males que vem para o bem.
Eis que
toca uma campainha, todos se levantam, a juíza entra e se senta na cabeceira da
mesa.
Juíza (a
todos) – Podem se sentar.
Todos se
sentam, a juíza toma posse do livro de testamento, abrindo-o.
Juíza – Eu, Norma
Ferreira e Silva, juíza da vara cinco, que se encontra localizado neste fórum,
situando-se na cidade de Flores, no estado do Espírito Santo. Aos vinte dias do
mês em curso, dou por aberta a leitura do livro de testamento feito por: Ângelo
Salles de Queirós e reconhecido pela comarca local, dando a este documento
plenos poderes válidos na repartição de seus bens, conforme seu último desejo
em vida.
Miguel olha
para Vitória totalmente feliz.
Juíza
(lendo) – “Eu Ângelo
Sales de Queirós, no uso das minhas atribuições legais e gozando plenamente de
minhas faculdades mentais utilizo-me do recurso que a lei concebe a mim para a
divisão dos meus bens materiais, que foram constituídos a partir de trabalho
digno. Sendo realizado o documento de testamento da herança feito por advogados
de minha plena confiança e lavrado em cartório de primeira instância com a
supervisão de duas testemunhas, as quais se encontram aqui presentes.”
Álvaro (a
juíza) – As testemunhas são: Álvaro Trajano de Toledo e Ana Rosa Medeiros.
Aqui presentes.
Juíza – Muito bem,
estando o documento de posse legal, dou início a leitura. (PAUSA) “Meus apartamentos, situados nos seguintes bairros:
Copacabana, Ipanema, Méier e Jardim Botânico deixo para Ana Rosa Medeiros. A que estimo muito e que desejo toda
a felicidade”.
Milena – E a
rapariga conseguiu.
Juíza – Silencio,
por favor.
Todos ficam
em silêncio.
Juíza – Minha
mansão situada no bairro de Moema, zona sul de São Paulo, deixo para meu amigo
Antero Cavalcanti.
Antero faz
cara de pouco satisfeito.
Juíza – Minha
mansão, situada em Flores, a qual fora construída por meus avós, deixo para
minha ex-esposa Vitória Lemos de Amadeu, assim como, uma quantia no valor de
300 mil reais.
Vitória
(inconformada) – Só isso? Que velho pão duro. Eu vive mais de vinte
anos da minha vida ao lado dele pra receber isso? Mesquinharia.
Juíza
(rude) – Ou a senhora se controla, ou terei de usar medida de força para
contê-la.
Miguel – Por favor,
mãe. Acalme-se!
Vitória
respira fundo e fica calada, mas morrendo de ódio.
Juíza – Para Meu
pupilo Oscar de Valença, deixo 10% das ações da empresa LA SALUD.
Todos se
olham espantados.
Álvaro (a
juíza) – Desculpe interrompê-la excelência, mas é que esse pupilo não
fora encontrado.
Juíza – Nesse caso,
os 10% das ações serão congelados. Poderá apenas ser mantido pelo
administrador, que não poderá vender ou, sequer se apropriar dos lucros, até
que o responsável legal assuma sua parte.
Álvaro – Compreendo.
Juíza – Por último
e não menos importante, deixo para meus filhos, Fabrício Menezes de Queirós e
Miguel Amadeu de Queirós: Uma quantia de 35 milhões de reais e 45% da empresa
para cada um, salvo de uma única cláusula.
Miguel
(afobado) – Quer bendita cláusula é essa?
Juíza – Só poderão
receber a parte de vocês, ou seja, os 45% da empresa e mais os 35 milhões de
reais, após terem um filho legítimo com três exames de DNA que comprove a
paternidade.
Miguel olha
para Milena com ar de reprovação. Vitória se alegra.
Juíza – Sem mais
delongas, dou por encerrada a leitura do testamento. Peço que todas as partes
ao saírem daqui, não se esqueçam de assinar o termo de contrato.
A juíza se
levanta e sai da sala.
Miguel – E agora?
Vitória
(alegre) – Agora trate de arrumar um rebento e tirar a gente
desse sufoco.
Miguel (a
Milena) – É a nossa hora.
Milena
massageia a barriga com tristeza.
Corta para:
Cena 10.
Fórum/ Estacionamento/ Exterior/ Dia.
Miguel e
Milena estão entrando no carro.
Corta para:
Cena 11.
Fórum/ Carro de Miguel/ Interior/ Dia.
Miguel está
com o carro desligado, pensativo.
Milena – Não tem o
que pensar, acabou. A gente perdeu.
Miguel
continua pensativo.
Milena – Tá pensando
em que? Acho que não tem mais saída. O jeito é se conformar. Liga esse carro e
vamos embora.
Miguel – Não. Eu sei
um jeito da gente colocar a mão naquela bolada.
Milena – Odeio
quando você fala assim, mas vamos lá, qual o plano?
Miguel – A EVA.
Milena – Essa
piranha não. Eu não quero.
Miguel – A Eva é a
única forma de termos um filho legítimo, já que você é estéril.
Milena começa
a chorar.
Milena – Para de
ficar esfregando isso na minha cara.
Miguel – Não tô
esfregando, tenta me entender Milena. A Eva tá caidinha por mim e a única
chance que temos de colocar a mão nesse dinheiro é ludibriando aquela mulher. O
plano é o seguinte: eu engravido ela e você forja uma gravidez pra você. Aos
olhos de todos, o bebê será seu.
Milena – Mas e
depois que o bebê nascer? A Eva vai querer.
Miguel – Eu dou um
jeito de sumir com ela. Apagar ela do nosso caminho. E assim eu terei a empresa
e o dinheiro, como sempre quis e você terá o seu sonhado filho, não é um plano
perfeito?
Milena
(ressabiada) – É. Perfeito até demais, mas enfim, tudo que eu quero
é um filho. Eu topo.
Miguel – Pra isso,
eu precisarei manter relações com ela.
Milena – Pelo meu
filho e pelo nosso casamento, eu aceito qualquer acordo.
Miguel
(ligando o carro) – Assim que eu gosto.
Corta para:
Cena 12.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Eva/ Interior/ Dia.
Tamara e
Eva estão sentadas a mesa conversando. Conversa já iniciada.
Tamara – Você me
chamou aqui, mas não disse nada ainda, o que houve?
Eva – Eu vou ser
bem direta Tamara, não gosto de rodeios.
Tamara
engole seco.
Eva – Eu consegui
uma nova assistente, que tem um currículo impecável e que trabalhará aqui
conosco. A decisão é minha junto com o Lucas.
Tamara
(feliz) – Que ótimo, mais uma ajudante, só assim, eu posso dar mais
atenção ao projeto novo.
Eva (séria)
– Não
é bem assim Tamara. As coisas não vão funcionar conforme você acha.
Tamara fica
intrigada.
Eva – Você
voltará para o cargo de vendedora e a Regina, ocupará o cargo, que você estava
provisoriamente.
Tamara – Eu não
concordo. Eu me dediquei anos a essa livraria, ocupei diversas funções na falta
de funcionários, te auxiliei quando você mais precisava e não é justo que
agora, eu seja jogada fora, como um sapato velho que não serve mais. É um
desrespeito a uma mulher e o seu profissional.
Eva – Se controle
Tamara. Desde o início, você sabia que estávamos colocando você como
assistente, provisoriamente, até que uma outra pessoa viesse. E chegou.
Tamara – É gélida a
forma como vocês me descartam.
Eva – Não estamos
te descartando, tanto é que os seus benefícios, como salário mais alto,
permanecerá. A única coisa é que você será vendedora.
Tamara – Tá bem. Vou
fazer o que? Mas não reclame lá na frente, quando você notar que eu era a
pessoa mais experiente para esse cargo.
Eva – Eu sei da
sua capacidade, nunca duvidei disso.
Tamara – Me dá
licença. Vou colocar meu uniforme de vendedora.
Tamara sai
da sala.
Corta para:
CORREDOR.
Tamara
saindo da sala de Eva.
Tamara (com
ódio) – Eu vou te destruir Eva Magalhães. Agora não só pelo cargo, mas
pela maneira nojenta que você me derrubou.
Corta para:
Cena 13.
Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Dia.
Vários
homens estão montando um palco de pequeno porte na frente do bar. Eis que Zé
Diogo aparece para conferir a obra.
Zé Diogo
(chegando) – Tá tudo nos conformes aí Cabral?
Cabral – Meus homens
estão empolgados aqui com a montagem do palco. A maioria é daqui do bairro e
estão loucos pelo show do Péricles.
Zé Diogo – Tomara que
o show seja um sucesso absurdo.
Cabral – No que
depender dessa galera aqui, vai ser massa meu amigo.
Zé Diogo – Vou buscar
um refresco pra essa galera aqui. Mas de antemão quero te agradecer pelo apoio
meu amigo.
Cabral – No que depender
de mim, pode sempre fazer eventos nessa cidade.
Zé dá um
aperto de mão em Cabral e sai.
Corta para:
Cena 14.
Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Dia.
CAM aérea
mostra um carro importado estacionando bem em frente à entrada principal da
mansão.
Corta para:
Cena 15.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
A sala está
vazia, Vitória e Antero entram pela porta principal.
Vitória
(comemorando) – Rica, agora eu tô rica Antero. Já pensou nisso?
Antero – Você não. O
Miguel e o Fabricio podem ficar ricos.
Vitória – Que
história é essa de Miguel e Fabricio podem ficar ricos? O Fabrício tanto faz,
mas o meu Miguel tá na cara já a sua fortuna. É só ter um filho com a
vagabunda.
Antero se
senta e Vitória permanece de pé. Ambos de costas para a escada.
Vitória – Eu nem
sabia que o velhote era tão rico assim.
Antero –Agora me
diz, quem é essa pessoa que ficou com 10% da empresa?
Vitória
(intrigada) – Taí uma boa pergunta. Aquele velho era mais esperto
que nós dois juntos.
Eis que do
P.V de Vitória, vemos Eneida descer as escadas vagarosamente.
Eneida
(gritando) – Cheguei queridos!
Vitória e
Antero olham assustados para Eneida.
Corta para:
Cena 16.
Mansão Amadeu/ Área da piscina/ Exterior/ Dia.
Teresa está
varrendo a área, quando Dama aparece.
Dama – A patroa já
chegou né?
Teresa – Infelizmente.
Dama – Você também
não gosta dela?
Teresa – Não é
questão de gostar, mas sim de me adaptar. A dona Vitória é uma pessoa muito
amargurada, bem gananciosa e conviver com pessoas assim faz mal. Ela parece
carregar uma nuvem negra em torno de si.
Dama – Quero me
benzer.
Teresa – Melhor,
vamos a uma cartomante?
Dama – Mas
encontrar cartomante que preste, é mais difícil do que encontrar agulha num
palheiro.
Teresa – Eu conheço
uma boa, aliás, ótima. Garanto que você vai gostar.
Dama – Me passa o
contato dela depois, tô precisando me espiritualizar.
Teresa – Mas é claro
que passo. Agora vou até a sala ver o que a madame deseja.
Dama – Vai lá. Eu
continuo aqui arrumando as coisas.
Teresa
entrega a vassoura a Dama e sai.
Corta para:
Cena 17.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Vitória e
Antero continuam olhando assustados para Eneida.
Eneida
(deboche) – Vão continuar feito mulas no sereno me olhando? Nem
sou tão bonita assim.
Vitória – Não te
esperava aqui hoje.
Eneida – E quem
disse que eu vim hoje? Tô aqui desde ontem.
Vitória – E por que
não me procurou ontem?
Eneida – Pra que meu
bem? Estava morta de cansada. E também cheguei tardíssimo ontem. Não queria
acordar a donzela.
Antero – Esses anos
fora só te valorizaram Eneida.
Eneida
(meiga) – Muito obrigada!
Antero – Voltou pra
que?
Eneida – Rever minha
irmãzinha, cuidar do meu sobrinho adorado.
Vitória – Tu não joga
pra perder mesmo Eneida. Veio tirar lascas da minha fortuna.
Eneida – Que
fortuna? Tu não passa de uma classuda sem eira nem beira. Burguesa falida.
Dondoca sem tesouro. Você não tem nada.
Vitória – Aí é que você
se engana, eu tô milionária meu bem. Acabei de vir do Fórum, leitura do
testamento do amado Ângelo.
Eneida – Tô passada.
Antero – Tô é com
fome. Cadê o café da manhã?
Nesse
instante Teresa entra na sala.
Teresa – Com
licença, o café já está na mesa.
Vitória – ótimo.
Eneida (a
Teresa) – Tem aquele pão francês maravilhoso?
Teresa – Hoje não.
Ah lembrei, tem um pãozinho dormido lá na cozinha. Eu o esquento pra senhora.
Eneida – Pão dormido
Teresa?
Teresa – Isso.
Eneida – Sabe o que
você faz com esse pão dormido? Acorda ele e come. Eu gosto de pão fresco meu
bem. Trata de ir a padaria buscar.
Teresa
(saindo) – Sim senhora.
Teresa sai
da sala.
Antero e
Vitória se olham e em seguida aplaudem Eneida.
Vitória – Aprendeu
direitinho como lidar com a criadagem.
Eneida – Escola de
maldades Vitória Amadeu.
Vitória
sorri orgulhosa.
Corta para:
Cena 18.
Pontos turísticos/ Exterior/ Dia.
Música “Uma
história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe
dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves
emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte
ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto
por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça
Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e
animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos. 3º:
Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade, com uma cruz
imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado por um
grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores campestres. 4º:
Fachada da Livraria Dom Casmurro.
Corta
parra:
Cena 19.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
A livraria
está fechada e todos os funcionários estão no salão principal.
Tamara (a
Téo) – Não sei pra que essa palhaçada. Montando um circo dentro dessa livraria.
Mas os dias de reinado da Maria Antonieta estão contados.
Téo – Que rancor
é esse maninha?
Tamara – Você ainda
não viu nada.
Nesse
instante Eva chega com Regininha.
Eva – Desculpem a
demora, mas sabem que a pontualidade não é uma das minhas qualidades.
Tamara
fecha a cara.
Eva – Convoquei
essa reunião para apresentar a minha mais nova assessora e o membro mais novo
da família Dom Casmurro, com vocês Regina Leão.
Todos
aplaudem Regininha, que sorri timidamente.
Eva – A Regina
tem um currículo impecável e é muito engajada em literatura. Espero que gostem
dela.
Regininha –
Obrigado
pelo apoio de todos e sei que juntos vamos fazer a diferença.
Tamara
(cochichando) – Discurso besta, mulherzinha idiota.
Eva – Agora vamos
abrir a livraria e iniciar os trabalhos. Eu vou almoçar e resolver uns
assuntos. Dentro de duas horas tô de volta.
Eva sai.
Regininha
(sorrindo) – Então, que comecem os trabalhos.
Todos
começam a se movimentar para suas funções, exceto Tamara.
Corta para:
Cena 20.
Restaurante Frigideira/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Fluxo
natural de pessoas passando pelo local, algumas entram no restaurante. Eis que
Eva aparece, para em frente à porta de entrada.
Eva – Chegou a
hora de colocar os pingos nos is.
Eva entra
no restaurante.
Corta
rapidamente para:
Cena 21.
Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Ambiente
requintado, sem vozerio. Fluxo de garçons por entre as mesas. Restaurante bem
movimentado.
Eva entra,
olha para os lados e vê Miguel, que também a vê e acena. Eva caminha em direção
a mesa de Miguel.
Miguel
(levantando) – Que bom que chegou, vai querer comer o que? Tô numa
broca danada.
Eva encara
Miguel sem esboçar reação.
Miguel – Vamos nos
sentar amor.
Eva
continua imóvel e calada.
Miguel (sem
jeito) – Assim você me deixa encabulado. O que houve?
Eva dá um
tapão na cara de Miguel. Todos no restaurante param e olham assustados.
Eva
(nervosa) – Casado! Você é casado, seu safado!
Eva é
tomada por um ódio e levanta a mão para dar outro tapão em Miguel, que segura
seu braço com firmeza. Os dois se encaram com ódio.
Corta para:
FIM
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