CAPÍTULO 09 - CAPÍTULO ESPECIAL
Cena 01.
Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Continuação
imediata da cena anterior.
Ambiente
requintado, sem vozerio. Fluxo de garçons por entre as mesas. Restaurante bem
movimentado.
Eva entra,
olha para os lados e vê Miguel, que também a vê e acena. Eva caminha em direção
a mesa de Miguel.
Miguel
(levantando) – Que bom que chegou, vai querer comer o que? Tô numa
broca danada.
Eva encara
Miguel sem esboçar reação.
Miguel – Vamos nos
sentar amor.
Eva
continua imóvel e calada.
Miguel (sem
jeito) – Assim você me deixa encabulado. O que houve?
Eva dá um
tapão na cara de Miguel. Todos no restaurante param e olham assustados.
Eva
(nervosa) – Casado! Você é casado, seu safado!
Eva é
tomada por um ódio e levanta a mão para dar outro tapão em Miguel, que segura
seu braço com firmeza. Os dois se encaram com ódio.
Eva
(gritando) – Larga meu braço seu estúpido.
Miguel – Não.
Enquanto você não se acalmar, eu não vou largar você.
Eva – Você é
casado. Como você pode fazer isso comigo? Meu Deus, eu que sempre abominei esse
tipo de situação.
Miguel
solta o braço de Eva.
Miguel
(sério) – Respira, se acalma e senta aí pra eu te explicar tudo.
Eva
(nervosa) – Não vou sentar cacete nenhum, seu desgraçado.
Miguel
(ríspido) – Você não quer saber a verdade? Então senta aí,
porque a história é pesada.
Eva respira
fundo e se senta. Todos no restaurante voltam a suas atividades.
Corta para:
Cena 02. Bar
Chegaí/ Cozinha/ Interior/ Dia.
Ondina e
Fernanda estão preparando salgadinhos.
Fernanda – Você acha
que dois mil salgados serão suficientes?
Ondina – Se não for,
passará a ser. Não temos tempo pra fazer mais.
Fernanda – Sabe Dina,
eu queria mesmo era ser uma quituteira de mão cheia. Ter uma cantina, dessas
famosas que a gente vê em novela.
Ondina – E quem sabe
um dia esse seu desejo não se torna realidade?
Fernanda – Deus te
ouça!
Ondina – Como dizem
por aí: água mole em pedra dura, tanto bate até que... Caramba, esqueci!
Fernanda
sorri e volta a preparar os salgadinhos.
Corta para:
Cena 03.
Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Eva e
Miguel estão sentados calados.
Eva
(olhando o relógio) – Cinco minutos.
Miguel – Cinco
minutos o que?
Eva – Cinco
minutos que estou sentada aqui e você sequer disse uma única palavra. Não disse
que iria me explicar tudo? Pois então, tô aqui esperando um esclarecimento.
Miguel – Eu tô
esperando chegar nosso champanhe, pedi um francês.
Eva – Champanhe o
escambal, fala logo o que tem a dizer.
Miguel
respira fundo.
Miguel – É uma
história muito complicada, mas vamos lá. Eu já fui casado sim, com a Milena.
Eva – Para de
mentir, você ainda é casado pelo que sei.
Miguel – Vai me
deixar falar?
Eva fica
calada.
Miguel – Eu já fui
casado sim, durante dois anos, eu vivi feliz com a Milena, nós nos conhecemos
por meio de uma amiga em comum, coisa de jovens, nos aproximamos e acabamos nos
casando. Eu nunca senti um amor pela Milena, mas a carência me fez enxergar
nela uma maneira de ser feliz. E então fomos levando o casamento, sempre com
muitas brigas. A Milena é complexada, tem seus distúrbios de bipolaridade, o
que no início eu achava normal, mas depois fui ficando com medo. As brigas se
tornaram constantes e então eu decidi me separar, não dava mais.
Miguel
finge um choro, porém nenhuma lágrima escorre.
Eva – Continua.
Não temos tempo pra choradeiras.
Miguel – Após a
separação, a Milena ficou muito mal. Teve inúmeras crises de personalidade,
acabou se metendo com pessoas barra pesada e tudo. Mas o pior ainda estava por
vir, a Milena sofreu um desmaio do nada e como eu ainda tinha um carinho por
ela, a levei para fazer exames. Descobrimos que ela tem um aneurisma que não
pode ser operado, bem no meio da cabeça. A cada dia ele cresce mais, pode
estourar a qualquer instante, é uma bomba-relógio.
Eva – Para, essa
história é pesada demais.
Miguel – Como ela
não possui família aqui, eu decidi cuidar dela, mas sem relacionamento amoroso.
Ela só vive na minha casa. Acho que é meu dever de homem ajudar uma mulher que
um dia me trouxe felicidade.
Eva – Mas que
gesto lindo Miguel. Nossa, nem sei o que dizer.
Miguel – É por isso
que as pessoas ainda acham que sou casado com a Milena, mas não temos mais
nada. E aquele dia, aquele barraco que ela fez aqui, foi por causa de ciúmes e
também tem essas complicações do aneurisma.
Eva – Entendo.
Mas você promete não me esconder mais nada?
Miguel – Prometo.
Eva – Eu tive
tanto medo de te perder. Tive tanto medo de que você fosse mais um cafajeste na
minha vida.
Miguel se
levanta, puxa Eva e a abraça.
Miguel
(saindo com Eva) – Vem comigo.
Eva – Pra onde?
Miguel lhe
dá um beijo e sai puxando-a.
Corta para:
Cena 04.
Motel/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Imagem do
carro de Miguel entrando no local.
Corta para:
Cena 05.
Motel/ Quarto/ Interior/ Dia.
Miguel
entra puxando Eva, beijando-a com muita excitação.
Eva (entre
beijos) – Não posso, tenho que voltar a livraria.
Miguel, em
um movimento brusco, rasga a blusa de Eva, deixando-a desnuda.
Os dois deitam
na cama e entre beijos e amassos, vão tirando a roupa com muita paixão. Sem
decência.
Corta para:
Cena 06.
Cruzeiro/ Exterior/ Dia-Noite.
(Música
“Uma História de Amor” – Fanzine). Transposição do dia para a noite.
Corta para:
Cena 07.
Mansão Amadeu/ Quarto de Miguel e Milena/ Interior/ Noite.
Milena está
de pé, impaciente, andando de um lado para o outro com um celular em mãos. Eis
que Miguel aparece.
Milena
(afobada) – E então? Onde você tava? Liguei mil vezes pro seu
celular.
Miguel
continua calado.
Milena – Tá
arrumando uma desculpa? No escritório não estava, eu liguei muitas vezes pra
lá.
Miguel – Coloca um
GPS na minha roupa, fica mais fácil.
Milena – Já sei tava
com a piranha da livraria, não é?
Miguel – Se eu fosse
você, começaria a jogar na loteria, tem um bom palpite.
Milena
(neurótica) – Eu sabia, sabia que você tava de caso com a vadia
outra vez.
Miguel – Ela é a
chave para os nossos milhões, para a presidência da empresa e o melhor, ela é o
único caminho para você ter um filho.
Milena – Um filho é
tudo que eu mais quero.
Miguel – Então, ela
é o caminho. Vai topar o plano?
Milena – Vou. É isso
mesmo que eu quero. Quero um filho.
Close no
rosto de Milena, convicta. A imagem congela e se funde com a cena seguinte.
Corta para:
Takes da
cidade amanhecendo.
LETREIRO:
Uma semana depois.
Corta para:
Cena 08.
Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Dia.
O palco
está montado na rua em frente o bar e todo decorado com bolas e cartazes em
homenagem ao cantor Péricles, inúmeras mesas estão espalhadas pela rua e pela
calçada em frente. Várias pessoas já se encontram no local.
Mafalda e
Téo chegam e são recepcionados por Zé Diogo. Tamara chega ao local sozinha e se
senta em uma mesa. Fernanda e
Eva chegam ao local e cumprimentam Ondina, em seguida se ajeitam em uma outra
mesa próxima a Tamara.
Regininha e
Dama chegam bem discretas e se ajeitam em uma mesa.
Marinês
aparece próxima a Ondina e começa a conversar.
Julieta,
Lucído e César chegam e se colocam bem em frente ao palco.
Álvaro
chega e se senta na mesa onde se encontra Mafalda e Téo.
Corta para:
Cena 09.
Casa de Fernanda/ Sala/ Interior/ Dia.
Edu está
sentado no sofá, sozinho. Malu vem da cozinha trazendo o copo de água.
Malu
(entregando) – Toma, bebe.
Edu bebe um
pouco da água e deixa o copo em cima da mesa.
Malu se
senta.
Malu – Eu já estou
arrumada pra podermos ir ao show. Minha mãe que fez esse vestido, ele não é
lindo?
Edu
(DESANIMADO) – é LINDO.
Malu – Vou só dar
um tapa na maquiagem e já poderemos ir.
Edu – Não.
Malu – Ai amor,
para né. Deixa eu retocar a maquiagem, quinze minutinhos, prometo.
Edu – Malu não é
isso. Nós não iremos ao show juntos. A minha mãe tá no
meu pé e eu não quero criar problemas.
Malu fica
chocada.
Edu – Eu sei que
você tá me achando um frouxo, mas tenta se colocar no meu lugar, não tem como
eu enfrentar a minha mãe. Não agora. Eu dependo dela, eu preciso seguir a
cartilha dela. É a minha mãe.
Malu – Parabéns
filhinho da mamãe. Siga a cartilha direitinho pra não ser reprovado tá?
Edu – Você é
minha namorada, tenta entender que eu../
Malu
(corta) – Sai daqui!
Edu – Malu, eu
não quero que pense mal de mim, por favor!
Malu
(gritando) – Sai daqui, sai daqui, sai daqui! Frouxo, egoísta! Só
pensa em si, no que lhe convém.
Edu se
levanta.
Edu – É uma pena
você pensar assim.
Malu – Eu não
quero te ver mais. Acabou Eduardo, acabou! Sai, vai embora.
Edu vai
embora. Malu cai aos prantos.
Corta para:
Cena 10.
Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Dia.
O ambiente
já está bem lotado. Fernanda está sentada conversando com Eva.
Fernanda – Resolveu a situação
com o muquirana do Miguel Queirós?
Eva – Sim. Ele tá
solteiro, ou melhor, está comigo. Milena é coisa do passado.
Fernanda – Espero
mesmo.
Fernanda
percebe que tem alguém a olhando. Ela olha para trás e vê César a admirando, os
dois então começam a trocar olhares. Julieta percebe o clima e derruba suco em
César, fingindo ser acidentalmente. Close na mesa de Julieta.
Julieta – Desculpa
César, me distraí meu amor. Mas também né, a gente olha tanto pro passado, olha
tanto pra essa gentinha de merda. Acaba se esquecendo de quem está ao nosso
lado.
César – O que você
disse Julieta?
Julieta – Pelo que
vejo, você também adorou o vestido da Fernanda, não parou de olhar um só
segundo pra lá. Aposto que é visco lycra. Eu tenho um parecido. Se quiser posso
ir em casa e vesti-lo, o que acha?
César – Eu acho que
você deveria parar de neurose e curtir o evento.
Julieta
amarra a cara.
Close na
mesa de Fernanda.
Fernanda – Por que o
passado assombra a vida da gente?
Eva – Do que a
senhora tá falando?
Fernanda – Nada,
esquece. Foi um momento de distúrbio meu.
Eva fica
intrigada. Nesse instante Malu chega.
Eva (a
Malu) – Até que enfim a princesa saiu do castelo, senta aqui.
Malu, com a
cara emburrada, se senta.
Fernanda – Cadê o Edu?
Malu – Desconheço
essa pessoa. Faça o favor de nunca mais pronunciar esse nome perto de mim.
Fernanda – Xi, já vi
que a coisa entornou.
Nesse
instante o celular de Eva toca.
Eva atende.
Eva – Alô.
Eva sorri.
Eva – Fala meu
amor (PAUSA). Tá bem, vou sim. Me dá cinco minutos? (PAUSA) Ok, já tô chegando.
Eva desliga
e Fernanda olha intrigada.
Eva – Vou dar uma
saidinha.
Fernanda – Com aquele
cara?
Eva – Com o
Miguel, o meu Miguel. Agora chega de falatório, beijos.
Eva se
levanta e sai.
Fernanda – Ela ainda
vai se arrepender de estar saindo com esse verme.
Malu – Falta de
sorte no amor deve ser nossa sina.
Fernanda – Por falar
em falta de sorte, olha lá que chegou.
Malu olha e
em seguida faz cara feia.
Close em
Edu chegando ao show com Lui e Bebê.
Lui – Isso daqui
tá o fervo, adoro!
Bebê – Tô louco
numa cerveja.
Lui – Só na
cerveja Bebê.
Bebê dá um
tapinha no bumbum de Lui.
Lui – Ai, que
delícia. Continua pra tu ver, nem show veremos. Vamos correndo pra casa
aproveitar.
Bebê – Se contenha
Lui, tem muita gente aqui.
Lui – E aí Edu,
aceita uma cerveja?
Edu – Não Lui,
obrigado. Vou achar um lugar pra eu sentar.
Lui – Tá bem, vou
entrar pra comprar uma gelada com o Bebê.
Bebê – Então vamos
minha delícia.
Bebê e Lui
entram no bar e Edu procura um lugar. Tamara acena para ele, que se senta ao
seu lado.
Close em
Malu, indignada.
Malu (a
Fernanda) – Não sabia que a Tamara era amiguinha do Eduardo não.
Fernanda – Ciúme é
fogo.
Malu – Não é
ciúme, é curiosidade.
Fernanda – Uhum, sei.
Malu não
tira os olhos de Tamara e Edu.
Corta para:
Cena 11.
Mansão Amadeu/ Escritório/ Interior/ Dia.
Vitória
está sentada pensando, eis que Eneida entra.
Vitória – Não sabe
mais bater na porta?
Eneida
volta, bate a porta e entra.
Eneida – Satisfeita
maninha?
Vitória – Você me
irrita. Esse seu bom humor é insuportável, sabia?
Eneida – Você sempre
se incomoda com a felicidade alheia né? Por quê?
Vitória – A vida é
triste meu bem, não dá pra sorrir a cada frase, não dá pra colocar humor em
cada situação. Mas você é uma daquelas raras desgraças que tentam a todo custo sorrir,
a todo custo falar caraminholas que pensam fazer as pessoas mais alegres. Odeio
essa hipocrisia.
Eneida – Acordou
virada hoje? O dragão te cuspiu, foi?
Vitória – Pelo
contrário meu bem. Eu tracei um plano espetacular e hoje os meus problemas vão
acabar.
Eneida
(curiosa) – Será que posso saber?
Vitória – Pode sim,
desde que fique bem caladinha.
Eneida – Prometo.
Vitória – Eu vou
aproveitar que todo mundo, aliás, apenas a parte podre dessa cidade, está lá
naquele show patético e vou atrair a Dama para uma armadilha.
Eneida – Como assim?
Vitória – Eu vou
esperar anoitecer e vou eliminar a Dama. Vou passar por cima dela feito um
trator. Não vai sobrar nem arcada dentária pra contar história.
Eneida fica
bastante assustada.
Vitória – É pra ficar
bem assustada mesmo, porque até eu me assustei com o plano. Vou eliminar aquela
vadia de uma maneira terrível. Pena que você não poderá ver, mas eu filmo.
Vitória ri
diabolicamente.
Eneida – Lembrei que
tenho que fazer uma ligação, já volto.
Eneida sai
do escritório.
Vitória – Pronto.
Lancei a isca direitinho. Agora é esperar o peixe grande fisgar.
Vitória se
levanta sorridente.
Corta para:
Cena 12.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Eneida está
muito nervosa, com o celular no ouvido andando de um lado para o outro.
Eneida (pra
si) – Atende essa droga de celular Dama, atende.
Nesse
instante Vitória chega.
Vitória – Falando com
quem Eneida?
Eneida
(disfarçando) – Então tá bem querida, depois eu passo na sua casa.
Tô cheia de novidades, Tchau.
Eneida
finge desligar o celular.
Vitória – Falava com
quem?
Eneida – Dona
Idalina. Prometi uma visita a ela. Agora vou trocar de roupa e ir à casa da
minha amiga, com licença.
Eneida sobe
as escadas em direção ao quarto.
Vitória – A Idalina
morreu tem mais de três meses. Sei bem quem ela tava tentando avisar. Melhor eu
preparar meu carro.
Vitória sai
da casa.
Corta para:
Cena 13.
Pórtico/ Exterior/ Dia- Noite.
Transposição
do dia para o fim de tarde, pôr-do-sol.
Corta para:
Cena 14.
Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Noite.
A rua está
ainda mais lotada, as pessoas empolvoras pelo show. Muito falatório, muita
alegria.
Close na
mesa onde está Tamara e Edu.
Tamara – Que show
demorado né? Tô com fome já.
Edu – Tá
demorando mesmo. Mas artista é assim.
Tamara – Mas também
né, encontrar esse fim de mundo, não é fácil pra ninguém. GPS engana muito.
Edu – Tem razão.
Tamara
coloca suas mãos sobre as de Edu.
Tamara – Mas me fala
mais sobre você. Sobre sua vida.
Edu – A minha
vida é tão monótona, tão parada, que mesmo que eu contasse na Sapucaí em pleno
carnaval, você iria morrer de tédio.
Tamara – Que nada,
gosto de ouvir, me conta aí.
Edu sorri.
E com o áudio cortado começa a conversar com Tamara.
Corta para:
Cena 15.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Noite.
Eneida
desce as escadas com cuidado, chega a sala, olha para os lados e sai apressada.
Corta para
Cena 16.
Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Noite.
Eneida
entra em um táxi e sai, logo em seguida Vitória dá partida em seu carro e sai.
Close no
olhar diabólico de Vitória. Corta para:
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
AUTORIA DE: WESLEY ALCÂNTARA
ROTEIRO DE: WESLEY ALCÂNTARA
COM A DIREÇÃO DE: VITOR ABOU E JOÃO CARVALHO
(C) 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário