Cena 17.
Consultório Médico/ Interior/ Dia.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
Eva e
Fernanda estão olhando ansiosas para o médico, que está terminando de analisar
alguns exames.
Eva
(aflita) – E então doutor, o que eu tenho?
Médico – Esses
exames foram realizados ontem?
Eva – Isso.
Médico – Você teve
um leve sangramento, mas fique tranquila, que não afetou o seu bebê.
Eva e Fernanda
olham surpresas para o médico.
Fernanda – Como assim
bebê?
Médico – Vocês não
sabiam?
Eva – Não
sabíamos de que?
Médico – Você está
grávida Eva. Está esperando um bebê.
Eva olha
toda contente e surpresa para Fernanda.
Eva
(surpresa) – Tem certeza disso doutor?
Médico – Sim. Em
absoluto. Parabéns mamãe.
Eva sorri.
Corta para:
Cena 02.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Interior/ Dia.
Tamara está
com uma sacola nas mãos, apontando para Regininha.
Regininha –
Eu
não vou vestir isso.
Tamara – Se não
vestir, é demissão por justa causa e sai daqui sem nenhum centavo.
Regininha –
Eu
vou falar com o Lucas. Aposto que você está por trás do que aconteceu com a
Eva.
Tamara – Se isso for
uma acusação, é melhor você ter provas, caso contrário, vai me pagar uma boa
indenização por danos morais. Mas chega de papo furado, veste esse uniforme
agora e comece a limpar os banheiros. Eu quero te ver ajoelhada, limpando
privada.
Regininha –
Você
ainda vai pagar muito caro pelo que está fazendo comigo.
Tamara – Anda. Veste
essa porcaria.
Tamara pega
a sacola com o uniforme e joga em cima de Regininha.
Corta para:
Cena 03.
Rio de Janeiro/ Bairro Jardim Botânico/ Sanatório/ Quarto/ Int./ Dia.
Yvete está
deitada em sua cama assistindo TV. Eis que, Ellen e Ana Rosa aparecem.
Ellen – Com licença
dona Yvete, mas eu trouxe visita pra senhora.
Yvete – Ana Rosa?
Que bom que está aqui. Hoje mais cedo eu estava conversando com o Fabrício e
queria mesmo falar com você.
Ana Rosa – Que ótimo.
Aqui estou!
Yvete – Poderia nos
dar licença Ellen?
Ellen
(saindo) – Mas é claro, com licença.
Ellen sai
do quarto. Yvete se senta na cama.
Yvete – Senta aqui
pertinho de mim.
Ana Rosa se
senta perto de Yvete.
Ana Rosa – Você sabe
que não sou louca né?
Yvete – É claro que
eu sei, fico até assustada em ver a senhora aqui.
Yvete – Esse é o
único jeito para que eu possa sobreviver. Mas não quero falar disso. Quero
apenas te fazer umas perguntas. Posso?
Ana Rosa – Mas é claro
que sim.
Yvete – Pois bem, o
que você sente pelo Fabrício?
Ana Rosa – Como assim?
Yvete – Você ama o
Fabrício?
Ana Rosa – Eu gosto
dele, sinto um carinho muito grande por ele.
Yvete – É a mesma
coisa que ele sente por você. Vocês são gratos um pelo outro, mas não se amam.
E isso é perda de tempo numa relação.
Ana Rosa – Mas não há
muito a ser feito. A gente já acostumou a viver um próximo ao outro.
Yvete – Eu já sei
que você ama o Miguel. Que daria a vida para estar ao lado dele nesse momento.
Ana Rosa
(triste) – É verdade. Eu me culpo muito por isso. Por conta
desse amor avassalador, eu trai e perdi a minha melhor amiga. Mas com toda a
tragédia que o Miguel trouxe, eu ainda o amo.
Yvete – Vai ser
feliz minha querida. Esqueça o Fabrício. É melhor abandonar uma pessoa no auge
do amor, do que no auge da dor. Em muito pouco tempo, vocês terão uma crise de
consciência e vão ver que não foram feitos um pro outro.
Ana Rosa
abraça Yvete e começa a chorar.
Corta para:
Cena 04. Livraria
Dom Casmurro/ Fachada/ Ext./ Dia.
Fluxo
natural de pessoas passando pelo local.
Corta para:
Cena 05.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Ext./ Dia.
Vários
clientes e funcionários estão no salão principal, comprando e vendendo livros,
folhetos e conversando.
De repente,
todos param suas atividades e voltam o olhar para o alto da escada. Lá está Tamara
sorridente e Regininha, cabisbaixa e com o uniforme de faxineira.
Tamara
(gritando) – Parem suas atividades por um minuto, eu tenho um
comunicado a fazer.
Regininha
(cochichando) – Para com isso Tamara, acho que você já me humilhou o
suficiente.
Tamara faz
cara de piedade e em seguida sorri diabolicamente.
Tamara
(cochichando) – Não há nada ruim que não possa piorar. Eu quero que
você sofra, que seja humilhada.
Regininha
tenta sair, mas Tamara a segura pelo braço.
Tamara (a
todos) – Sabe o que acontece com quem tenta me desafiar? Na mão da
Tamara, elas viram lama, lodo e pó. Com essa garota não vai ser diferente. Ela
ousou me desafiar, e por isso vai ter o que merece. Vai limpar privada, vai
lamber o chão que eu passo.
Regininha
começa a chorar de ódio.
Tamara – Deixa de
ser fraca. Seu calvário está só começando.
Regininha –
Uma
promessa eu faço aqui e agora: eu vou te derrubar vou te fazer me pagar por
cada humilhação. Vai engolir cada palavra que pronunciou no dia de hoje. Sua
vagabunda!
Tamara (a
todos) – Vocês tão vendo né? Ela tá me ameaçando. Agora começa o teu
quinhão de miséria Regininha.
Tamara
empurra Regininha, que rola as escadas e cai no meio da livraria, diante de
todos.
Tamara (a
Regininha) – Limpa essa porcaria direito.
Regininha
olha para Tamara com ódio.
Corta para:
Cena 06.
Casa de Fernanda/ Quarto de Eva/ Int./ Dia.
Eva está
deitada na cama, pensativa. Alguém bate a porta.
Eva – Pode
entrar.
Fernanda
entra no quarto.
Fernanda – Eva, minha
querida, eu tomei a liberdade de chamar o Miguel aqui, tudo bem?
Eva – A senhora
fez bem tia. Eu iria ligar agora mesmo pra ele.
Fernanda – Me responde
uma coisa, por que você quer tanto ter um filho de um cara que você mal
conhece?
Eva – Quando a
gente ama tia, a gente se entrega de corpo e alma. A gente curte cada momento e
esse filho é fruto de uma felicidade desmedida.
Fernanda – Você perdeu
o emprego, tá grávida, meu Deus, quanta desgraça.
Eva
(ríspida) – Desgraça? O meu filho é uma desgraça?
Fernanda – Você se
entregou a um homem, que até pouco tempo nem sabia da sua existência. Você não
usou camisinha e agora tá aí, sonhando com o príncipe encantado.
Eva – Aonde você
quer chegar tia?
Fernanda – Na sua
irresponsabilidade, na sua falta de maturidade. Caramba, Eva, você tá parecendo
àquelas meninas sonhadoras e ingênuas da década de 60. Uma mulher com ótima
formação educacional, com princípios, se deixa ser ludibriada tão facilmente?
Eu realmente não creio nisso.
Eva – Aconteceu
tia. Não foi planejado, mas que venha com toda a saúde do mundo e será muito
amado.
Fernanda – Criar um
filho vai bem além de um conto de fadas onde o príncipe e a princesa vivem
felizes para sempre. Vocês estão há tão pouco tempo juntos. E nem sequer
conhecer a família dele você conhece. Não sabe nada dele.
Eva – A senhora
pode estar certa, mas não tem como voltar no tempo. É fato, eu tô grávida. E tô
muito feliz por isso.
Fernanda – Eu espero
que não se decepcione mais tarde. Que seu príncipe não vire sapo e que sua
carruagem não se transforme em abóbora.
Eva – Sabe do que
a senhora precisa? De amor, precisa de amor pra aprender a enxergar o mundo
mais colorido, aprender a acreditar nas pessoas e na pureza dos sentimentos.
Fernanda – Talvez você
tenha razão.
Fernanda
fica pensativa.
Corta para:
Cena 07.
Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Tia
Pombinha está deitada no sofá com um cacho de uva nas mãos, ao qual está
comendo.
Tia
Pombinha (gritando) – Marinês venha cá, anda mulher.
Marinês
aparece rapidamente.
Marinês – Pois não,
Tia Pombinha.
Tia
Pombinha – Bate alguns morangos com leite condensado e vodca
pra mim, eu adoro. Ah, e faça alguns sanduíches de presunto de Parma pra mim.
Marinês – Sim
senhora.
Nesse
instante Mafalda desce as escadas.
Mafalda – A Meg ainda
tá em casa?
Marinês – Não
senhora. Ela já foi para a prefeitura.
Mafalda – Então com
quem você está falando?
Nesse
instante Tia Pombinha se levanta.
Tia
Pombinha – Surpresa. Sou eu minha sobrinha querida.
Mafalda
(surpresa) – Tia Pombinha. Que surpresa mais desagradável.
Tia
Pombinha (a Marinês) – Vai garota, faça o que te pedi. Deixe-me
sozinha com minha sobrinha amada.
Marinês – Claro, com
licença!
Marinês sai
da sala.
Tia
Pombinha – Ai minha querida, tava aqui com uma saudade sua,
posso te abraçar?
Mafalda – Não! Sabe
que não!
Tia
Pombinha – Vim passar uma temporada aqui com vocês... Tava numa
saudade louca.
Mafalda – Saudade
louca? Sei. Deve estar sem nenhum tostão, né?
Tia
Pombinha (simulando falso choro) – Você sabe o quanto é difícil pra
mim né. Uma mulher na minha idade já não consegue bons empregos mais.
Mafalda – A senhora
não consegue bons maridos mais né. Nunca trabalhou. Sempre viveu na aba de um
partido.
Tia
Pombinha – Tem razão Mafalda, ninguém é perfeito da noite pro
dia. Eu por exemplo, demorei nove meses pra nascer.
Mafalda – Eu te dou
até o fim de semana pra você ir embora.
Tia
Pombinha – Eu não tenho pra onde ir, me deixa ficar, por favor!
Tia
Pombinha pega uma Bíblia e começa a folhear.
Mafalda – A Bíblia
não é revista da AVON pra você abrir só quando for fazer pedidos.
Tia
Pombinha – Mas Deus disse: Acolhei os necessitados e deles
cuidai-vos.
Mafalda – Mas Deus
não manda aqui na minha casa. Aliás, se ele te conhecesse, te excomungaria.
Mafalda sai
da casa aborrecida. Marinês entra trazendo a bebida e os sanduíches que Tia
Pombinha pediu.
Tia
Pombinha começa a comer rápido, feito uma esganada.
Tia
Pombinha (com a boca cheia) – Frita uns pastéis e faz uma
vitamina de banana pra mim.
Marinês
fica olhando Tia Pombinha.
Tia
Pombinha – Tá olhando o que? Vai garota!
Marinês vai
correndo pra cozinha.
Corta para:
Cena 08. Mansão
Amadeu/ Piscina/ Exterior/ Dia.
Milena está
tomando banho de piscina, enquanto Vitória e Eneida conversam sentadas próximas
ao local.
Eneida – Me diz:
como você consegue dormir, sabendo que matou alguém?
Vitória – É simples,
a primeira a gente fica transtornado, não dorme a noite, mas depois tudo fica
tranquilo. A gente nem pensa mais. O negócio é a primeira morte. A primeira
morte transforma a gente. Eu nunca mais vou voltar a ser quem eu era.
Eneida – O mais triste
pra mim é que pessoas como você não terão um bom final.
Vitória – O final de
todo mundo é a morte, mas eu estou ótima, linda e rica. Só tô esperando aquela
galinha ali me dar um neto. Aí ninguém vai me segurar mais.
Eneida – O inferno
te espera minha irmã.
Vitória – E você acha
que vai pra onde? Pro céu? Você abandonou sua filha recém-nascida. Quer pecado
maior?
Eneida fica
cabisbaixa.
Eneida – Dia desses
o pai dela me procurou. Ele quer saber a todo custo quem é a filha dele.
Vitória – Conta de
uma vez. Acaba com esse tormento, Se depois de tantos anos, ele ainda está
tentando conhecer essa filha, é sinal que ele nunca se esqueceu dela.
Eneida – Tarde
demais pra revirar esse baú. O nosso tempo já acabou.
Vitória – Eu como
mãe, posso te dizer que há muita coisa a ser feita ainda. Não perca mais tempo
minha irmã, vá atrás desse homem e diga quem é a filha dele.
Eneida – Você acha
isso?
Vitória – Eu tenho
certeza.
Eneida fica
pensativa.
Corta para:
Cena 09.
Bairro Elevado/ Bar Chegaí/ Calçada/ Ext./ Dia.
(Música
“Aceita Paixão” – Péricles) Algumas mesas espalhadas pelo local, com clientes
sentados, conversando e Zé Diogo servindo as mesas.
Corta para:
Cena 10.
Bar Chegaí/ Interior/ Dia.
Ondina está
limpando o balcão, quando Zé Diogo aparece.
Zé Diogo
(feliz) – Mulher, depois do show do Péricles, o bar tá bombando todos os
dias e desde muito cedo.
Ondina – Que
continue assim.
Zé Diogo – Vou falar
com a Mafalda e tentar trazer mais um show.
Ondina – Ainda é
cedo. Precisamos nos restabelecer financeiramente e planejar tudo com calma.
Fazer um show daquele porte emana tempo e muito esforço.
Zé Diogo – Tem razão,
mas o Bar Chegaí, vai se tornar um dos maiores do Brasil, isso eu te garanto.
Do subúrbio florense nasce a esperança musical.
Ondina – Deus te
ouça meu amor. Como diz o ditado.../
Zé Diogo – Nada de
ditados populares. Você nunca acerta um.
Ondina – Bobo.
Corta para:
Cena 11.
Casa de Fernanda/ Quarto de Eva/ Int./ Dia.
Eva
permanece deitada. Eis que Miguel entra.
Miguel
(preocupado) – Sua tia me ligou o que aconteceu meu amor?
Eva se
levanta.
Eva – Tenho uma
coisa séria pra te contar.
Miguel – Então me
fale, por favor!
Eva – Eu tô
grávida.
Miguel fica
surpreso e em seguida sorri.
Miguel
abraça Eva. Close no olhar ambicioso de Miguel.
Eva – Você tá
feliz?
Miguel – Tô muito
feliz. Parabéns meu amor.
Eva e
Miguel se beijam.
Corta para:
Cena 12.
Praça Central/ Exterior/ Dia.
Eva e
Miguel estão Passeando pela praça, tomando sorvete.
Miguel – Eu sempre
sonhei em ser pai, mas a Milena nunca quis.
Eva – Agora estou
realizando o seu sonho. Seremos uma família feliz.
Miguel – Seremos
felizes demais. Eu, nosso bebê e você.
Eva – Apesar de
toda insegurança, que tinha me tomado conta, hoje eu percebi que te amo de
verdade Miguel. Eu sempre vou te amar.
Eva e
Miguel se beijam. (Música “I’LL TRY” – Allan Jackson).
Corta para:
Cena 13.
Cruzeiro Municipal/ Ext./ Dia-Noite.
(Música
“Relicário” – Nando Reis) Transposição do dia para a noite.
Corta para:
Cena 14.
Casa de Edu/ Cozinha/ Int./ Noite.
Julieta,
César, Lucído e Edu estão jantando.
Julieta – Acho uma
falta de ética de essa Eva ter usado entorpecentes para a realização de um
evento.
César – Eu acredito
na inocência dela.
Julieta – Por que
será? Ela é sobrinha da devoradora de homens casados. Aquela que você lambe o chão
por onde ela passa. Seria normal mesmo que isso acontecesse.
César – Tá me
cansando essas picuinhas suas. Chega de falar da Fernanda ou da família dela
Julieta.
Edu – Eu só
queria alguma notícia da Malu.
Julieta – Esquece
essa garota. Foca nos estudos agora!
Nesse
instante a campainha toca.
Julieta – Eu atendo.
Julieta se
levanta e sai para atender a porta.
Corta para:
Cena 15.
Casa de Edu/ Varanda/ Ext./ Noite.
Tamara e
Edu estão conversando.
Tamara – Desculpa
ter aparecido sem avisar, mas eu queria muito te ver. A gente anda tão
afastado.
Edu – É, estamos
mesmo.
Tamara – Você se
arrependeu daquele beijo, não foi?
Edu – Não é um
arrependimento, mas sim, algo diferente. Eu gostei de ter ficado com você, mas
eu amo a Malu ainda. É com ela que eu quero me casar, entende?
Tamara – Não. Eu não
entendo como um rapaz lindo e especial como você, pode correr tanto atrás de
uma mulher que não te valoriza. Desculpa, Edu, sua mãe pode até exagerar, mas
ela tá certa quando fala que vocês nunca dariam certo juntos.
Edu – Eu só
saberei disso, se ficar com ela. Não tem como prever o futuro.
Tamara – Isso quer
dizer que eu fui jogada pra escanteio. Que aquele dia você me seduziu e depois
me jogou fora, como um sapato velho que não serve mais.
Edu – Não foi bem
assim. Você é maior de idade e também sabe muito bem o que faz.
Tamara – Meu erro é
sempre gostar de quem não gosta de mim. Eu sou uma burra mesmo.
Tamara sai
correndo.
Corta para:
Cena 16.
Cruzeiro Municipal/ Ext./ Noite.
O cruzeiro
está vazio, eis que um carro aparece e para no local. Descem Eneida e Lucído.
Lucído – Por que
você me trouxe aqui?
Eneida – Há muitas
coisas que eu ainda não posso te explicar, mas o tempo é o melhor remédio e
saberei como lhe dizer tudo.
Lucído – Sem rodeios
Eneida, fala de uma vez o que é.
Eneida – Você quer
muito saber quem é a sua Helena, não é?
Lucído - Mas é claro que sim.
Eneida – Acho que
chegou a hora. Vou te dizer com todas as letras, quem é a sua Helena.
Lucído olha
esperançoso para Eneida.
(Música “Te
esperando” – Luan Santana).
Corta para:
FIM
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