Cena 01.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
Tamara está
sentada numa poltrona degustando uma caixa de chocolates importados. Quando
Lucído abre a porta com força e entra, sendo seguido por Téo.
Tamara
(assustada) – Que isso?
Téo – Eu tentei
parar ele lá embaixo, mas não teve como.
Lucído (a
Tamara) – Eu exijo falar com você.
Tamara – Marque uma
hora. Tô sem tempo hoje.
Lucído – Eu vou ser
bem breve.
Tamara – Téo tira
esse velho daqui. Louco!
Téo começa
a puxar Lucído para fora da sala.
Lucído – Eu vim
falar sobre seus pais biológicos. Eu sei quem são.
Tamara fica
assustada, e Téo também paralisa.
Lucído – Seus pais
estão bem mais próximos, do que você possa imaginar.
Tamara fica
perplexa. Close final em Tamara, totalmente assustada.
Tamara
(ressabiada) – Isso só pode ser mentira sua. Olha lá o que tu fala
hein.
Lucído – E eu viria
até aqui pra que? Você me conhece direito Tamara?
Tamara – Não. E é
por isso mesmo que eu tô com o pé atrás.
Lucído – Eu não
ganharia nada vindo aqui mentir pra você. Eu tenho provas de que isso tudo é
verdadeiro, de que podemos estar bem próximos dos seus pais.
Tamara – É, se isso
tudo for verdadeiro, você não ganharia nada. Mas por que você quer me contar?
Qual o seu interesse nessa história?
Téo fica
muito curioso, entra para sala e fecha a porta.
Tamara – Saia Téo.
Essa história é só minha. Deixa-me tentar resolver sozinha.
Téo – E você vai
acreditar nesse velho?
Tamara – E eu tenho
outra saída?
Téo – Eu vou
cuidar do caixa.
Téo sai da
sala e fecha a porta.
Tamara – Agora
estamos somente você e eu. Conta de uma vez quem são meus pais.
Lucído
(tenso) – Eu vou contar, mas depois, preciso que escute a história que
tenho pra lhe dizer. Essa história vai fazer todo o sentido e mostrar o quão
perto de seus pais você esteve.
Tamara se
senta.
Lucído – O seu pai
sou eu!
(Música de
tensão). Tamara olha Lucído com surpresa.
Corta para:
Cena 02.
RJ/ Sanatório/ Cozinha/ Int./ Dia.
Yvete está
com o pote de sopa na mão, muito aflita. Ellen continua imóvel ao seu lado.
Ellen – Você não
estava com fome Yvete? Tome a sopa.
Yvete – Eu não
posso com sal.
Ellen – É mentira
sua. Tome esta sopa agora ou.../
Nesse
instante Fabrício entra na cozinha, fazendo muito barulho. Yvete finge se
assustar e deixa cair o pote de sopa no chão.
Yvete – Que susto
Fabrício.
Fabrício – Desculpa
dona Yvete, não era a minha intenção. Vim à cozinha procurar justamente pela
senhora. Vou começar a ler um de meus fascículos que estará disponível no meu
próximo livro.
Yvete – Oba! Vamos
lá, o que estamos esperando?
Fabrício – Vou limpar
a sujeira que fiz, esta sopa não pode ficar no chão. Onde tem pano Ellen?
Ellen
(emburrada) – Deixa que eu limpo. Esse é meu serviço.
Fabrício e
Yvete saem da cozinha. Ellen pega um pano, se ajoelha e começa a limpar a sopa
caída, com muito ódio.
Corta para:
Cena 03.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Tamara está
perplexa, sentada em sua cadeira, ouvindo Lucído, que está de pé, de frente
para ela.
Lucído – E assim, eu
fiquei na agonia por mais de 25 anos. Sofri por não saber quem era a minha
filha. Mas a Eneida caiu no mundo, deu a filha pra adoção e nem me disse onde.
Tamara fica
bastante abalada.
Tamara – Quer dizer
que a minha mãe é a Eneida, essa irmã da Vitória que chegou há pouco tempo na
cidade?
Lucído – Exatamente.
Mas só agora eu consegui a pressionar e fazê-la me dizer quem era a minha
Helena.
Tamara – Que nome
mais brega hein Lucído. Parece até que sou filha do Manoel Carlos. Mas por que
a Eneida nunca me procurou?
Lucído – Ela nunca
me disse a razão. Só sei que ela acompanhou seu crescimento, mesmo que de
longe.
Tamara – Eu preciso
que ela me conte umas verdades. Isso não vai passar em branco não.
Tamara se
levanta, pega sua bolsa e se encaminha em direção à porta.
Lucído – E nós, como
ficamos?
Tamara – Tá tudo
muito bagunçado pra mim, por favor, vá pra casa e espere que eu o procure.
Deixa eu entender essa história e saber se tudo isso é mesmo verdade. Ainda
tenho minhas dúvidas.
Tamara sai
de sua sala. Lucído sai logo em seguida.
Corta para:
Cena 04.
Casa de Regininha/ Sala/ Int./ Dia.
A sala está
toda escura, Antero abre a porta e entra, puxando Regininha, forte, pelo braço
e na outra mão está com a pistola apontada para ela. Antero Joga Regininha com
toda a força no chão.
Regininha
(assustada) – O que você quer? Eu não tenho mais nada contra a
Vitória.
Nesse
instante Antero acende a luz e revela Vitória com um exuberante vestido de seda
vermelho sangue, sentada no sofá.
Vitória – Então a
órfã de tia saiu mais cedo do emprego?
Regininha –
O
que mais você quer de mim Vitória?
Vitória – Eu quero a
sua alma, quero o seu silêncio. Aliás, você já viu os filmes de ação da TV
Americana? Lá, quem sabe demais é um perigo. A mesma filosofia, eu trago pra
minha vida, quem sabe demais, acaba encontrando a luz mais rápido.
Regininha
(medo) – Quer dizer que você vai me matar?
Vitória – Não. Tudo
depende de você. Há duas saídas.
Regininha –
Você
está negociando meu silêncio?
Vitória – Eu não
negocio com inferiores. Estou te dando à chance de sair dessa com vida. De não
ter o mesmo fim que a sua tia teve. E aí, vai ouvir minha proposta?
Regininha
olha para Vitória, em seguida olha para Antero, que está apontando a pistola
para a cabeça dela, e volta a olhar para Vitória.
Regininha –
Diga.
Vitória – Eu te dou
uma grana e você some dessa cidade pra sempre. Nunca mais pisa aqui. Vai pra
São Paulo, Rio de Janeiro, o caralho que quiser, mas some da minha vida e da
minha vista. Aí eu me esqueço de você.
Regininha –
Jura?
Vitória – Tudo que eu
quero é me ver livre de você e desse plano de vingança vexatório que você
arrumou. Te dou o dinheiro hoje e você vai pro Rio no último ônibus que sai
dessa cidade. Sem se despedir de ninguém. Vai sem deixar rastro. E aí?
Regininha –
E
qual é a outra opção?
Vitória – Destrava a
arma Antero.
Antero, com
a arma apontada para Regininha, destrava.
Vitória (a
Regininha) – Preciso ser mais clara?
Regininha –
Posso
arrumar minhas coisas então?
Vitória – É assim que
eu gosto. Boa garota.
Vitória
olha para Antero e sorri. Regininha fica pensativa.
Corta para:
Cena 05.
Prefeitura de Flores/ Fachada/ Ext./ Dia.
Imagens da
fachada. Fluxo natural de pessoas passando pelo local.
Corta para:
Cena 06.
Prefeitura de Flores/ Gabinete da prefeita/ Int./ Dia.
Meg está
sentada em sua cadeira, assinando alguns papéis, quando alguém bate a porta.
Meg (tom
alto) – Pode entrar.
Meg volta a
assinar os papéis. A pessoa abre a porta, entra e fecha. Meg olha por cima dos
óculos e fica parada, perplexa. É Bebê.
Bebê – A senhora
pediu pra eu vir cedo.
Meg olha
Bebê de cima em baixo com olhar malicioso.
Meg – Senta
querido. Precisamos conversar um pouco.
Bebê se
senta.
Meg – Eu preciso
analisar algumas coisas em você, posso?
Bebê – É aquele
negócio de currículo? Eu dei pro Lui entregar.
Meg – Não é isso.
Aliás, se fosse por isso, você nem estaria aqui. Que lixo de formação a sua.
Bebê – A senhora
tá me xingando?
Meg – Digamos que
estou te capacitando. Você precisa de instrução. Não te quero como um simples
segurança da prefeita, mas sim, como meu digníssimo e respeitado assistente
itinerante.
Bebê – O que vou
fazer?
Meg (se
levantando) – Levante-se.
Bebê se
levanta, Meg se aproxima e começa a apertar seus bíceps. Em seguida tira,
lentamente, a camisa de Bebê, e começa a apertar seu tanquinho, com muito
desejo.
Lui abre a
porta de uma vez só e entra na sala.
Lui (bravo)
– Que
tipo de safadeza está acontecendo aqui?
Meg fica
paralisada.
Corta para:
Cena 07. Mansão
Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Uma
manicure está fazendo as unhas de Milena.
Milena – Hoje tenho
uma bomba pra minha família. Acho que todos ficarão felizes.
Manicure – Que ótimo.
Milena – Faça
francesinha nas minhas unhas hoje. Cansei de tons de vermelho.
A manicure
continua fazendo a unha. A campainha toca e Teresa vai atender. Tamara entra na
casa desesperada.
Teresa – Que isso
garota? Não pode ir entrando assim na casa dos outros.
Tamara (a
Teresa) – Cala essa sua boca e vá chamar a Eneida, rápido.
Teresa fica
parada.
Milena – O que tá
acontecendo aí gente?
Tamara se
encaminha até próximo de Milena.
Tamara – A sua
serviçal não quer chamar a Eneida pra mim. Eu preciso falar com ela
urgentemente.
Milena (a
Teresa) – Chama a Eneida de uma vez.
Teresa,
mesmo contrariada, sobe as escadas em direção ao quarto de Eneida.
Milena (a
Tamara) – Senta aí.
Tamara
(rude) – Tô bem assim.
Milena
volta a fazer suas unhas e Tamara fica de pé, impaciente.
Corta para:
Cena 08. Prefeitura
de Flores/ Gabinete da prefeita/ Int./ Dia.
Lui de pé,
nervoso. Meg e Bebê sem reação.
Lui – Estou
esperando uma resposta convincente de vocês dois.
Meg – Você tá
duvidando de mim?
Lui – Nesse
mundo, eu duvido até da minha sombra meu bem. Agora se expliquem.
Bebê – A dona Meg
tava vendo quanto eu media, pra mandar fazer meu uniforme.
Meg – É isso
mesmo.
Lui – Jura? E
precisava apalpar tanto abdômen dele assim? Precisava disso tudo?
Meg – Ai, Lui,
que horror. Acha que eu vou querer o seu namorado.
Lui – Isso é você
quem tem que me responder, queria?
Meg – Assim você
até me ofende.
Meg simula
um falso choro e Lui a olha com piedade.
Lui – Desculpa
dona Meg, não queria causar esse transtorno.
Meg – Tudo bem,
agora vai embora pra casa com seu namorado. Amanhã vocês voltam. Por hoje tá
encerrado o expediente.
Lui – Sim
senhora... Agora vem Bebê.
Lui e Bebê
saem. Meg respira aliviada.
Meg – Essa foi
por pouco.
Corta para:
Cena 09. Mansão
Amadeu/ Escritório/ Int./ Dia.
Eneida e
Tamara estão sentadas, conversando. Conversa muito tensa.
Tamara – Para de
enrolação e fala de uma vez toda a verdade.
Eneida – O Lucído já
disse. Essa é toda a verdade.
Tamara – Então quer
dizer que.../
Eneida – Quer dizer
que o Lucído e eu somos seus pais biológicos.
Tamara fica
chocada e começa a chorar.
Tamara
(chorando) – Como vocês puderam? Como vocês me abandonaram?
Eneida
(cabisbaixa) – O Lucído não tem nada haver com isso. Ele nem sabia.
Eu é que te deixei para adoção. Eu não podia te levar comigo. Não dava. Era um
momento meu. único.
Tamara – Seu? Único?
E eu? Se fez, tem que assumir. Eu era sua filha. Uma menina indefesa, que
precisava de colo, de carinho, de cuidados. Não sabe o quanto me doía e ainda
dói, saber que você cresceu numa família que não era a sua. Por mais que eu
tenha recebido amor, por mais que eu tenha tido de tudo, faltou saber a minha
verdadeira origem. Faltou saber quem são meus pais de verdade.
Eneida – Eu rompi um
laço.
Tamara – Pior. Você
nunca construiu esse laço. E agora é tarde demais para arrependimentos. É tarde
pra tentar estabelecer qualquer sentimento, qualquer vínculo. Tudo que eu sinto
é um enorme vazio, vazio este, que jamais será preenchido. Nem por você, nem
por ninguém.
Eneida – Eu sei que
jamais serei sua mãe, mas eu queria estabelecer algo com você. Queria poder te
dar esse amor que ficou guardado aqui.
Tamara – Eu sinto
pena de mim, mas pena maior, eu sinto de você. É um lixo humano, algo
inexplicável. Você foi um monstro. E sabe como você vai pagar? Com a solidão.
Eneida
começa a chorar.
Tamara
(saindo) – Morra sozinha!
Tamara sai
do escritório e Eneida se joga no chão, em uma crise de choro.
Corta para:
Cena 10.
Rodoviária Municipal/ Ext./ Dia.
Regininha
está na plataforma de embarque com uma mochila perdurada nas costas. É quando
Eva chega.
Eva – Regininha?
Regininha
abraça Eva e fica agarrada a ela por alguns instantes.
Regininha –
Que
bom que você veio.
Eva – Mas você
vai pra onde?
Regininha –
As
voltas que a vida dá me fizeram mudar o caminho, tive que pegar um atalho,
ficar na retaguarda e esperar o momento certo para voltar em cena. Infelizmente
eu tenho que ir, mas quero que saiba que estou muito feliz em ter te conhecido.
Eva – Você foi
uma amiga e tanto.
Regininha –
Eu
tô indo pro Rio hoje, mas eu volto. Eu tô levando seu número de telefone e com
ele uma saudade grande. Juro que lhe escrevo minha amiga.
Eva e
Regininha se abraçam emocionadas. Nesse instante Álvaro chega.
Álvaro (a
Regininha) – Então você vai mesmo?
Regininha –
Momentaneamente.
Eu prometo que volto.
Álvaro – Volta
mesmo?
Eva – Eu vou indo
minha amiga. Beijos e Boa Viagem.
Eva abraça
Regininha e sai.
Álvaro – Fica, por
favor.
Regininha –
Eu
prometo que volto antes do que você possa imaginar.
Álvaro – Tá bem.
Regininha –
Não
se esquece de mim, tá?
Álvaro – Jamais me
esquecerei.
Regininha e
Álvaro se beijam apaixonadamente, em seguida, Regininha entra no ônibus e
Álvaro se despede com aceno de mão.
Corta para:
Cena 11.
Mansão Trajano/ Jardim/ Ext./ Dia-noite.
(Música
“Hoje” – Mc Ludmila.) Transposição do dia para a noite.
Corta para:
Cena 12.
Mansão Trajano/ Quarto de Mafalda/ Int./ Noite.
Mafalda
está deitada na cama, com uma caixa de bombons, comendo e assistindo TV, quando
Tia Pombinha entra no quarto.
Tia
Pombinha – Boa noite, nem vi sua careta hoje.
Mafalda – Dá um
tempo, vai.
Tia
Pombinha – Que bicho andou te mordendo?
Mafalda – Um bicho
enorme, negro e muito, mas muito gostoso, que a senhora não conhece faz anos.
Tia Pombinha
fecha a porta do quarto e se senta.
Tia
Pombinha – A amiguinha da sua irmã tá lá embaixo.
Mafalda – Quem?
Tia
Pombinha – Vitória Lemos de Amadeu.
Mafalda – É normal,
essa pilantra vem sempre aqui.
Tia
Pombinha – Mas eu tenho minhas desconfianças. Naquele bordel,
sempre que elas se juntavam, algo muito ruim estava para acontecer.
Mafalda – Hoje em
dia, são outros tempos Tia Pombinha. Outras formas de se ver o mundo.
Tia
Pombinha – Seja como for, eu vou descer e vou ver o que se
passa nesse lugarejo. Beijo e fui.
Tia
Pombinha sai do quarto e Mafalda volta a assistir TV.
Corta para:
Cena 13.
Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Close em
Meg e Vitória sentadas no sofá conversando. Em seguida, close em Tia Pombinha
no alto da escada, ouvindo a conversa.
Meg – Mas matar o
Antero? Ele é seu braço direito.
Vitória – Eu não
confio no Antero. Não quero mais ele como meu assistente nos crimes.
Meg – Eu acho
essa sua atitude radical e precipitada.
Vitória – Ele sabe
demais. E agora com a Regininha fora do jogo, a última peça a deixar o
tabuleiro vai ser o Antero. Eu preciso acabar com ele. Aí sim serei feliz.
Meg – E você
pretende mata-lo quando?
Vitória – Hoje! É
hoje que eu pego aquele desgraçado.
Close no
olhar de Vitória. Close no olhar de surpresa de Tia Pombinha.
Corta para:
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