Cena 01.
Cruzeiro Municipal/ Ext./ Noite.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
O cruzeiro
está vazio, eis que um carro aparece e para no local. Descem Eneida e Lucído.
Lucído – Por que
você me trouxe aqui?
Eneida – Há muitas
coisas que eu ainda não posso te explicar, mas o tempo é o melhor remédio e
saberei como lhe dizer tudo.
Lucído – Sem rodeios
Eneida, fala de uma vez o que é.
Eneida – Você quer
muito saber quem é a sua Helena, não é?
Lucído - Mas é claro que sim.
Eneida – Acho que
chegou a hora. Vou te dizer com todas as letras, quem é a sua Helena.
Lucído olha
esperançoso para Eneida.
Eneida – Vamos nos
sentar e se prepare, serão muitas as turbulências.
Lucído e
Eneida se sentam num banco próximo.
Lucído – Você não
está mentindo pra mim né?
Eneida – A essa
altura do campeonato, o que eu ganharia mentindo? Pode ser que eu não tenha
mais tanta credibilidade na praça, mas acho que você merece saber quem é a sua
filha.
Lucído – Deixa de
rodeios e me diga de uma vez por todas. Cala essa pergunta que me atormenta há
mais de 25 anos, quem é a minha filha?
Eneida – Como eu
disse noutra ocasião: a sua filha está mais perto do que você imagina.
Lucído – Diz sua
infeliz, diz onde a Helena está.
Eneida – Ela não se
chama Helena mais. Tem outro nome.
Lucído se
espanta.
Corta para:
Cena 02. Casa
de Edu/ Sala/ Int./ Noite.
Edu está
deitado em um sofá mexendo no notebook, enquanto César assiste TV.
César – E aí meu
filho, se acertou com a Tamara?
Edu – Nada pai.
Eu disse pra ela que continuo amando a Malu, que ela é a mulher com quem quero
passar a vida toda.
César – E o que tá
fazendo aí parado? Vai atrás do que você quer. Mexa-se. O mundo não vai te
esperar, o mundo não vai trazer pra você, aquilo que tanto deseja. A vida é
feita de batalhas e não de pausas. Se você continuar com esse notebook no colo
e lamentando um amor perdido, sinto muito meu filho, mas você se tornará um
velho amargo e rancoroso.
Edu – Mas a Malu
nem quer saber de mim. Pai, ela me viu beijando a Tamara.
César – Mas e daí?
Se for dela que você gosta, se é ela quem você ama. Vá à luta. Caso ela te
dispense mil vezes, você tenta mil e uma. O que não dá é pra ficar em casa,
parado, remoendo um amor. Pensando em o quão jumento você foi.
Edu – Foi o calor
do momento pai. Até o senhor, vai ficar me crucificando?
César – A vida já
te deixou bem claro, que erros não são perdoados. Você já foi suficientemente
machucado e sabe onde o calor do momento pode levar. Foi no calor do momento
que eu me casei com a sua mãe. Não a amava e com isso perdi o grande amor da
minha vida.
Edu – O senhor
era apaixonado pela dona Fernanda, Mãe da Malu?
César – E sou. Eu
sou louco por aquela mulher. Sou louco pelo carinho, pelo amor, pela vida
feliz, que eu sei que ela me proporcionaria. Não que com sua mãe tenha sido
chato, não foi, sua mãe me deu você, me deu amor, me deu estabilidade. Mas a
verdadeira felicidade, eu só encontro na Fernanda. Aquele sentimento puro,
sincero e recíproco, ele tá na Fernanda. Eu sou dela.
Edu se
levanta, senta próximo ao pai e faz carinho nele.
Edu – Então, o
senhor acha que eu casando com a Tamara, eu estaria cometendo o pior erro da
minha vida?
César – Essa
pergunta só o seu coração pode dizer.
Edu fica
pensativo.
Corta para:
Cena 03.
Cruzeiro Municipal/ Ext./ Noite.
Continuação
imediata da cena 01.
Lucído – Quer dizer
que procurar por Helena seria em vão?
Eneida – Ela nem
chegou a ser registrada com esse nome e você sabe disso.
Lucído – Para de
rodeios e me diga de uma vez por todas quem é a minha filha.
Eneida – Tá pronto
pra saber? Vai aguentar?
Lucído – Pode ser
que seja a última coisa que eu faça, mas eu quero saber. Quem é?
Eneida
respira fundo.
Eneida – A sua filha
é a Tamara. A Tamara que trabalha na livraria.
Lucído fica
sem reação.
Eneida – Eu sei que
é um baque pra você, sei o quanto esse fardo está pesado. Mas eu não podia
contar antes, não dava.
Lucído
começa a chorar descontroladamente.
Eneida
(tentando consolar) – Não fica assim, agora você já sabe.
Lucído – A mais de
vinte anos que eu esperava você me falar esse nome. Há muito tempo que eu
tento, em vão, imaginar o rosto da minha filha. Tento imaginar seu timbre, sua
fisionomia, seus gostos. É como se eu tivesse amputado um braço. Você foi muito
cruel.
Eneida – Tenta me
entender.
Lucído – Você foi
egocêntrica. Só pensou nos seus caprichos.
Eneida – O que você
vai fazer agora?
Lucído – Um teste de
DNA, pra saber se você está realmente sendo sincera. Pra não levar outra volta
sua. Porque pode ser mais um desses seus cambalachos.
Eneida
(cabisbaixa) – Tô mesmo sem credibilidade com você.
Lucído – E quando é
que teve credibilidade? Agora vai embora, me deixe aqui, sozinho com meus
carrapatos. Deixa-me achar, a minha maneira, como dizer isso a minha filha.
Eneida se levanta
e vai se afastando, enquanto Lucído continua ali, pensativo.
Corta para:
Cena 04.
Mansão Amadeu/ Quarto de Miguel/ Int./ Noite.
Milena e
Miguel estão deitados na cama, sem roupas, cobertos por um lençol e suados.
Milena
(feliz) – Essa é a melhor notícia que você poderia me dar.
Miguel – Nem me fale
nisso. A Eva grávida, isso é bom demais.
Milena – Agora vem à
segunda parte do plano. A barriga falsa. Eu já encomendei as barrigas para uma
moça. Então vou passar amanhã na casa dela e pegar.
Miguel – Isso! Mas
tenha muito cuidado para usá-las. Essa gravidez é o nosso passaporte para o
sucesso.
Milena – Fica frio
meu gato, quando eu quero, eu sei ser genial.
Miguel – Falando assim,
me deixa até com tesão.
Milena – Jura? Assim
que eu gosto.
Miguel e
Milena começam a se beijar com bastante excitação.
Corta para:
Cena 05.
Rio de Janeiro/ Pontos Turísticos/ Ext./ Dia.
(Música
“Águas de Março” – Elis Regina e Tom Jobim). Clipe com as imagens dos pontos
turísticos do Rio. Cristo Redentor, Pão-de-Açúcar, Praia de Copacabana,
Maracanã e Lagoa Rodrigo de Freitas.
Corta para:
Cena 06.
RJ/ Jardim Botânico/ Sanatório/ Gramado/ Ext./ Dia.
Num imenso
gramado, estão todos os pacientes do local, reunidos com alguns empregados do
local em volta. Fabrício e Ana Rosa estão conversando com eles e apresentando
alguns livros. Junção da imagem descrita com áudio da cena posterior.
Ellen (off/
cel.) – Fala Miguel. (PAUSA) Tá tudo certo sim. O problema é que o seu
irmão tá trabalhando aqui. O idiota cismou de bater ponto todos os dias aqui,
aí nem tem como eu te ajudar.
Corta para:
Cena 07.
RJ/ Jardim Botânico/ Sanatório/ Corredor/ Int./ Dia.
Ao final do
corredor, que está vazio, Ellen fala ao celular.
Ellen
(cel.) – É só pra daqui a sete meses? Então ficou fácil pra mim. Até lá
eu dou um jeito de tirar seu irmão da jogada por uns dias e com isso você traz
a encomenda. (PAUSA) Aqui eu dopo ela, e depois de uns dias, ninguém vai dar
credibilidade a ela. Mas quero saber da grana, quanto vai me dar? (PAUSA) Só 90
mil? Pra eu arriscar minha pele enfiando uma mulher aqui? Pra mim é pouco.
(PAUSA) 300 mil? Agora sim você falou a minha língua. Quero 100 mil adiantado,
até o fim da semana na minha conta das Ilhas Canárias, eu vou te passar os
números por mensagem. Se até o fim da semana eu tiver esse valor na minha
conta, pode dar prosseguimento ao seu plano e boa sorte, novo papai.
Ellen dá
uma risadinha e em seguida desliga o celular.
Ellen (pra
si) – Caribe, aí vou eu!
Ellen
atravessa o corredor, em direção ao gramado. Yvete aparece, saindo devagar de
um quarto, próximo onde Ellen falava ao telefone.
Yvete (pra
si) – Então veremos se seu plano vai dar certo. Quem espalha o mal,
colhe a destruição.
Corta para:
Cena 08.
RJ/ Jardim Botânico/ Sanatório/ Quarto de Yvete/ Int./ Dia.
Yvete e Ana
Rosa estão fazendo tricô e conversando.
Ana Rosa – O que você
tá fazendo?
Yvete – Um par de
sapatinhos para recém-nascidos.
Ana Rosa – Mas quem
vai ser mãe?
Yvete – Não vai ter
mãe, só pai.
Ana Rosa
(confusa) – Como assim? Quem disse que tem como isso acontecer?
Yvete – O mundo
está ao contrário meu bem. Hoje, pode-se tudo e nada podemos fazer.
Ana Rosa – Se você
diz.
Ana Rosa e
Yvete ficam em silêncio por um tempo.
Yvete – Você confia
totalmente nas pessoas que a cercam?
Ana Rosa – Por quê?
Yvete – Confia ou
não confia?
Ana Rosa – Confio. Até
porque, se não confiasse, não me cercariam.
Yvete – Tá bem.
Ana Rosa – Qual o
motivo da pergunta?
Yvete – Se num
exato momento, eu pedisse a sua ajuda, sem te dizer os fins, apenas que me
ajudasse, você atenderia?
Ana Rosa – Vai
depender da situação.
Yvete – Ok.
Ana Rosa e
Yvete voltam a tricotar, caladas.
Corta para:
Cena 09.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Int./ Dia.
Téo está no
caixa da livraria, enquanto Regininha está passando pano no chão.
Téo (a
Regininha) – A minha irmã já chegou?
Regininha –
Graças
a Deus eu ainda não vi aquele capeta hoje. Você não sabe como está sendo
difícil pra mim.
Téo – Ela foi um
pouco radical com você.
Regininha –
Um
pouco radical? Sua irmã me estraçalhou viva, mas o que é dela tá guardado.
Nesse
instante Tamara entra no local.
Tamara – Guardado
onde?
Regininha –
Me
mira, mas me erra, tá!
Tamara – Estressadinha?
Tá limpando isso direitinho? Quero esse chão um espelho.
Regininha
continua limpando o chão, agora com muita raiva. Tamara se encaminha até o
caixa.
Téo – E aí
maninha, como vão seus dias de glória?
Tamara – Melhor
impossível, vem até a minha sala agora saber a boa nova.
Tamara e
Téo se encaminham ao segundo andar.
Corta para:
Cena 10.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Tamara está
sentada em sua cadeira e Téo, todo despojado numa poltrona. Conversa em
andamento.
Téo – Então você
vai ser a dona do pedaço?
Tamara – Isso mesmo.
Aquele chato do Lucas vai pra Nova Iorque, e euzinha linda, vou comandar a
livraria, como se fosse à dona.
Téo – Minha irmã,
quem diria hein.
Tamara – Agora pra
mim, só faltam duas coisas.
Téo – E quais
são?
Tamara – A primeira
é conquistar o Edu. Antes era só bobagem, pra provocar a Malu, mas agora não.
Agora eu o quero pra mim. Ficou pessoal o caso. Quanto mais difícil, mais eu
gamo.
Téo – E qual é a
segunda?
Tamara
(séria) – Saber, quem são os meus pais biológicos. Saber como e onde
estão.
Téo – Só a mãe
Eugênia que sabe.
Tamara – Eu vou
forçá-la me dizer. Eu preciso disso. Mesmo que isso me deixe mal, mesmo que
meus pais me odeiem ou que estejam mortos. Mas eu preciso saber.
Tamara se
levanta séria, e olha pela janela.
Corta para:
Cena 11. Casa
de Edu/ Cozinha/ Int./ Dia.
César,
Julieta e Lucído estão tomando café da manhã.
César – Cadê o Edu?
Julieta – Já foi pro
curso.
César – E o senhor,
onde estava ontem a noite papai? Saiu sem dar notícias.
Lucído – Fui atrás
da minha Helena.
Julieta – Pelo que vi
nas cartas hoje, você está mais próximo desse desejo.
Lucído – Pelo que
vejo você não é de araque. Acertou. Estou colado na minha Helena.
César – Como assim
pai?
Lucído (se
levantando) – Com licença, eu vou atrás de respostas.
Lucído sai
da cozinha, César e Julieta se olham, com caras de tacho.
Corta para:
Cena 12.
Casa de Fernanda/ Sala/ Int./ Dia.
Malu e Eva
estão sentadas no sofá, conversando.
Malu
(feliz) – Então, quer dizer que a família tá aumentando?
Eva
(acariciando a barriga) – Tá aumentando sim. E eu tô tão feliz por esse
momento, sabia? Quero que venha com muita saúde, muito amor e sucesso.
Malu – E você,
torce por um menino ou menina?
Eva – Se vier com
saúde, já está de ótimo tamanho. Mas bem que eu sou apegado a um menininho.
Malu – Ah, viu só!
Deve vir um menino fortão aí.
Eva – Ou uma
menina linda.
Malu – Eu sempre
sonhei em ter um filho, em me casar na igreja. Será que ainda consigo?
Eva – Mas é
claro, você tá jovem, tá bonita. Cheia de vida pela frente.
Malu
(cabisbaixa) – A gente idealiza isso com uma pessoa, mas acaba que
tudo fica para trás né? Quando a decepção supera o amor, as expectativas
murcham, aí nada mais pode ser feito. Ah prima, eu tô vivendo um dia de cada
vez. Tô indo sem pressa, na marola da vida. Eu desisti de tudo. Nunca achei que
uma pessoa pudesse ter tanto poder, tanta influência sobre mim.
Eva – Ele não tem
influência sobre você, é você que se deixou levar, pela frustração de vê-lo aos
beijos com outra.
Malu – E que outra
hein.
Eva – Nem me
fala, porque a minha vontade é de acabar com a cara da Tamara. Garota falsa.
Ah, mas a vida se encarrega de ensinar a ela, como é que se chega ao sucesso.
Quanto mais alto o voo de um tucano, mais forte a queda. Essas são as voltas
que o destino dá, um dia somos arranha-céus, no outro somos pano de chão.
Malu – Eu que o
diga, em fração de segundos eu fui do luxo ao lixo.
Malu
acaricia a barriga de Eva e em seguida apoia sua cabeça no local.
Corta para:
Cena 13.
RJ/ Sanatório/ Cozinha/ Int./ Dia.
Ellen está
sozinha na cozinha, colocando algum líquido na panela de sopa. Yvete entra e
fica escondida atrás do armário. Ellen termina de jogar o líquido, guarda o
frasco na bolsa e sai.
Yvete
(cochichando pra si) – Não posso deixar ninguém tomar essa sopa.
Yvete pega
na alça da panela, quando vai derramar, alguém segura a sua mão. Yvete fica
muito assustada.
Corta para:
Cena 14.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Princ./ Int./ Dia.
Fluxo
natural de pessoas. Téo está passando alguns produtos no caixa, enquanto
Regininha tira pó das prateleiras. Nesse instante Antero entra no local, fica
próximo de Regininha, saca uma pistola disfarçadamente e cola o cano da arma na
cintura dela.
Antero (tom
baixo) – Sai colada comigo, qualquer movimento brusco, eu te mato aqui,
na frente de todos.
Regininha
fica muito nervosa, mas sai disfarçadamente, com Antero.
Corta para:
Cena 15.
RJ/ Sanatório/ Cozinha/ Int./ Dia.
Continuação
da cena 13. Yvete pega na alça da panela, quando vai derramar, alguém
segura a sua mão. Yvete fica muito assustada. Yvete olha para cima... CAM
LENTA: Mostra o rosto de Ellen, muito aborrecida.
Ellen – O que você
tá fazendo aqui? Ia derrubar a comida?
Yvete
(desesperada) – Eu só queria provar.
Ellen – Ainda bem
que esqueci meu celular aqui, caso contrário, você iria derrubar toda essa sopa
e me causaria um grande problema.
Yvete – Eu só iria
pegar um pouco pra mim.
Ellen – Então deixa
que eu te sirvo.
Yvete – Não
precisa, eu perdi a fome.
Ellen
(rude) – Mas agora você vai comer. (meiga)
Senão, vou achar que você estava mesmo querendo derrubar a sopa. Mas sei
que você não é louca o suficiente para isso.
Yvete – Eu vivo num
sanatório, posso ser muito louca.
Ellen
(arrumando sopa ) – Mas você vai comer sim e tudo.
Ellen
termina de colocar a sopa num pote e entrega nas mãos de Yvete, que fica
olhando para a sopa. Close em Yvete, muito aflita.
Corta para:
Cena 16.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Tamara está
sentada numa poltrona degustando uma caixa de chocolates importados. Quando
Lucído abre a porta com força e entra, sendo seguido por Téo.
Tamara
(assustada) – Que isso?
Téo – Eu tentei
para ele lá embaixo, mas não teve como.
Lucído (a
Tamara) – Eu exijo falar com você.
Tamara – Marque uma
hora. Tô sem tempo hoje.
Lucído – Eu vou ser
bem breve.
Tamara – Téo tira
esse velho daqui. Louco!
Téo começa
a puxar Lucído para fora da sala.
Lucído – Eu vim
falar sobre seus pais biológicos. Eu sei quem são.
Tamara fica
assustada, e Téo também paralisa.
Lucído – Seus pais
estão bem mais próximos, do que você possa imaginar.
Tamara fica
perplexa. Close final em Tamara, totalmente assustada.
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