sábado, 30 de abril de 2016

Capítulo 16: Em nome do filho

Cena 01. Cruzeiro Municipal/ Ext./ Noite.
Continuação imediata do capítulo anterior.
O cruzeiro está vazio, eis que um carro aparece e para no local. Descem Eneida e Lucído.
Lucído – Por que você me trouxe aqui?
Eneida – Há muitas coisas que eu ainda não posso te explicar, mas o tempo é o melhor remédio e saberei como lhe dizer tudo.
Lucído – Sem rodeios Eneida, fala de uma vez o que é.
Eneida – Você quer muito saber quem é a sua Helena, não é?
Lucído - Mas é claro que sim.
Eneida – Acho que chegou a hora. Vou te dizer com todas as letras, quem é a sua Helena.
Lucído olha esperançoso para Eneida.
Eneida – Vamos nos sentar e se prepare, serão muitas as turbulências.
Lucído e Eneida se sentam num banco próximo.
Lucído – Você não está mentindo pra mim né?
Eneida – A essa altura do campeonato, o que eu ganharia mentindo? Pode ser que eu não tenha mais tanta credibilidade na praça, mas acho que você merece saber quem é a sua filha.
Lucído – Deixa de rodeios e me diga de uma vez por todas. Cala essa pergunta que me atormenta há mais de 25 anos, quem é a minha filha?
Eneida – Como eu disse noutra ocasião: a sua filha está mais perto do que você imagina.
Lucído – Diz sua infeliz, diz onde a Helena está.
Eneida – Ela não se chama Helena mais. Tem outro nome.
Lucído se espanta.
Corta para:
Cena 02. Casa de Edu/ Sala/ Int./ Noite.
Edu está deitado em um sofá mexendo no notebook, enquanto César assiste TV.
César – E aí meu filho, se acertou com a Tamara?
Edu – Nada pai. Eu disse pra ela que continuo amando a Malu, que ela é a mulher com quem quero passar a vida toda.
César – E o que tá fazendo aí parado? Vai atrás do que você quer. Mexa-se. O mundo não vai te esperar, o mundo não vai trazer pra você, aquilo que tanto deseja. A vida é feita de batalhas e não de pausas. Se você continuar com esse notebook no colo e lamentando um amor perdido, sinto muito meu filho, mas você se tornará um velho amargo e rancoroso.
Edu – Mas a Malu nem quer saber de mim. Pai, ela me viu beijando a Tamara.
César – Mas e daí? Se for dela que você gosta, se é ela quem você ama. Vá à luta. Caso ela te dispense mil vezes, você tenta mil e uma. O que não dá é pra ficar em casa, parado, remoendo um amor. Pensando em o quão jumento você foi.
Edu – Foi o calor do momento pai. Até o senhor, vai ficar me crucificando?
César – A vida já te deixou bem claro, que erros não são perdoados. Você já foi suficientemente machucado e sabe onde o calor do momento pode levar. Foi no calor do momento que eu me casei com a sua mãe. Não a amava e com isso perdi o grande amor da minha vida.
Edu – O senhor era apaixonado pela dona Fernanda, Mãe da Malu?
César – E sou. Eu sou louco por aquela mulher. Sou louco pelo carinho, pelo amor, pela vida feliz, que eu sei que ela me proporcionaria. Não que com sua mãe tenha sido chato, não foi, sua mãe me deu você, me deu amor, me deu estabilidade. Mas a verdadeira felicidade, eu só encontro na Fernanda. Aquele sentimento puro, sincero e recíproco, ele tá na Fernanda. Eu sou dela.
Edu se levanta, senta próximo ao pai e faz carinho nele.
Edu – Então, o senhor acha que eu casando com a Tamara, eu estaria cometendo o pior erro da minha vida?
César – Essa pergunta só o seu coração pode dizer.
Edu fica pensativo.
Corta para:
Cena 03. Cruzeiro Municipal/ Ext./ Noite.
Continuação imediata da cena 01.
Lucído – Quer dizer que procurar por Helena seria em vão?
Eneida – Ela nem chegou a ser registrada com esse nome e você sabe disso.
Lucído – Para de rodeios e me diga de uma vez por todas quem é a minha filha.
Eneida – Tá pronto pra saber? Vai aguentar?
Lucído – Pode ser que seja a última coisa que eu faça, mas eu quero saber. Quem é?
Eneida respira fundo.
Eneida – A sua filha é a Tamara. A Tamara que trabalha na livraria.
Lucído fica sem reação.
Eneida – Eu sei que é um baque pra você, sei o quanto esse fardo está pesado. Mas eu não podia contar antes, não dava.
Lucído começa a chorar descontroladamente.
Eneida (tentando consolar) – Não fica assim, agora você já sabe.
Lucído – A mais de vinte anos que eu esperava você me falar esse nome. Há muito tempo que eu tento, em vão, imaginar o rosto da minha filha. Tento imaginar seu timbre, sua fisionomia, seus gostos. É como se eu tivesse amputado um braço. Você foi muito cruel.
Eneida – Tenta me entender.
Lucído – Você foi egocêntrica. Só pensou nos seus caprichos.
Eneida – O que você vai fazer agora?
Lucído – Um teste de DNA, pra saber se você está realmente sendo sincera. Pra não levar outra volta sua. Porque pode ser mais um desses seus cambalachos.
Eneida (cabisbaixa) – Tô mesmo sem credibilidade com você.
Lucído – E quando é que teve credibilidade? Agora vai embora, me deixe aqui, sozinho com meus carrapatos. Deixa-me achar, a minha maneira, como dizer isso a minha filha.
Eneida se levanta e vai se afastando, enquanto Lucído continua ali, pensativo.
Corta para:
Cena 04. Mansão Amadeu/ Quarto de Miguel/ Int./ Noite.
Milena e Miguel estão deitados na cama, sem roupas, cobertos por um lençol e suados.
Milena (feliz) – Essa é a melhor notícia que você poderia me dar.
Miguel – Nem me fale nisso. A Eva grávida, isso é bom demais.
Milena – Agora vem à segunda parte do plano. A barriga falsa. Eu já encomendei as barrigas para uma moça. Então vou passar amanhã na casa dela e pegar.
Miguel – Isso! Mas tenha muito cuidado para usá-las. Essa gravidez é o nosso passaporte para o sucesso.
Milena – Fica frio meu gato, quando eu quero, eu sei ser genial.
Miguel – Falando assim, me deixa até com tesão.
Milena – Jura? Assim que eu gosto.
Miguel e Milena começam a se beijar com bastante excitação.
Corta para:
Cena 05. Rio de Janeiro/ Pontos Turísticos/ Ext./ Dia.
(Música “Águas de Março” – Elis Regina e Tom Jobim). Clipe com as imagens dos pontos turísticos do Rio. Cristo Redentor, Pão-de-Açúcar, Praia de Copacabana, Maracanã e Lagoa Rodrigo de Freitas.
Corta para:
Cena 06. RJ/ Jardim Botânico/ Sanatório/ Gramado/ Ext./ Dia.
Num imenso gramado, estão todos os pacientes do local, reunidos com alguns empregados do local em volta. Fabrício e Ana Rosa estão conversando com eles e apresentando alguns livros. Junção da imagem descrita com áudio da cena posterior.
Ellen (off/ cel.) – Fala Miguel. (PAUSA) Tá tudo certo sim. O problema é que o seu irmão tá trabalhando aqui. O idiota cismou de bater ponto todos os dias aqui, aí nem tem como eu te ajudar.
Corta para:
Cena 07. RJ/ Jardim Botânico/ Sanatório/ Corredor/ Int./ Dia.
Ao final do corredor, que está vazio, Ellen fala ao celular.
Ellen (cel.) – É só pra daqui a sete meses? Então ficou fácil pra mim. Até lá eu dou um jeito de tirar seu irmão da jogada por uns dias e com isso você traz a encomenda. (PAUSA) Aqui eu dopo ela, e depois de uns dias, ninguém vai dar credibilidade a ela. Mas quero saber da grana, quanto vai me dar? (PAUSA) Só 90 mil? Pra eu arriscar minha pele enfiando uma mulher aqui? Pra mim é pouco. (PAUSA) 300 mil? Agora sim você falou a minha língua. Quero 100 mil adiantado, até o fim da semana na minha conta das Ilhas Canárias, eu vou te passar os números por mensagem. Se até o fim da semana eu tiver esse valor na minha conta, pode dar prosseguimento ao seu plano e boa sorte, novo papai.
Ellen dá uma risadinha e em seguida desliga o celular.
Ellen (pra si) – Caribe, aí vou eu!
Ellen atravessa o corredor, em direção ao gramado. Yvete aparece, saindo devagar de um quarto, próximo onde Ellen falava ao telefone.
Yvete (pra si) – Então veremos se seu plano vai dar certo. Quem espalha o mal, colhe a destruição.
Corta para:
Cena 08. RJ/ Jardim Botânico/ Sanatório/ Quarto de Yvete/ Int./ Dia.
Yvete e Ana Rosa estão fazendo tricô e conversando.
Ana Rosa – O que você tá fazendo?
Yvete – Um par de sapatinhos para recém-nascidos.
Ana Rosa – Mas quem vai ser mãe?
Yvete – Não vai ter mãe, só pai.
Ana Rosa (confusa) – Como assim? Quem disse que tem como isso acontecer?
Yvete – O mundo está ao contrário meu bem. Hoje, pode-se tudo e nada podemos fazer.
Ana Rosa – Se você diz.
Ana Rosa e Yvete ficam em silêncio por um tempo.
Yvete – Você confia totalmente nas pessoas que a cercam?
Ana Rosa – Por quê?
Yvete – Confia ou não confia?
Ana Rosa – Confio. Até porque, se não confiasse, não me cercariam.
Yvete – Tá bem.
Ana Rosa – Qual o motivo da pergunta?
Yvete – Se num exato momento, eu pedisse a sua ajuda, sem te dizer os fins, apenas que me ajudasse, você atenderia?
Ana Rosa – Vai depender da situação.
Yvete – Ok.
Ana Rosa e Yvete voltam a tricotar, caladas.
Corta para:
Cena 09. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Int./ Dia.
Téo está no caixa da livraria, enquanto Regininha está passando pano no chão.
Téo (a Regininha) – A minha irmã já chegou?
Regininha – Graças a Deus eu ainda não vi aquele capeta hoje. Você não sabe como está sendo difícil pra mim.
Téo – Ela foi um pouco radical com você.
Regininha – Um pouco radical? Sua irmã me estraçalhou viva, mas o que é dela tá guardado.
Nesse instante Tamara entra no local.
Tamara – Guardado onde?
Regininha – Me mira, mas me erra, tá!
Tamara – Estressadinha? Tá limpando isso direitinho? Quero esse chão um espelho.
Regininha continua limpando o chão, agora com muita raiva. Tamara se encaminha até o caixa.
Téo – E aí maninha, como vão seus dias de glória?
Tamara – Melhor impossível, vem até a minha sala agora saber a boa nova.
Tamara e Téo se encaminham ao segundo andar.
Corta para:
Cena 10. Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Tamara está sentada em sua cadeira e Téo, todo despojado numa poltrona. Conversa em andamento.
Téo – Então você vai ser a dona do pedaço?
Tamara – Isso mesmo. Aquele chato do Lucas vai pra Nova Iorque, e euzinha linda, vou comandar a livraria, como se fosse à dona.
Téo – Minha irmã, quem diria hein.
Tamara – Agora pra mim, só faltam duas coisas.
Téo – E quais são?
Tamara – A primeira é conquistar o Edu. Antes era só bobagem, pra provocar a Malu, mas agora não. Agora eu o quero pra mim. Ficou pessoal o caso. Quanto mais difícil, mais eu gamo.
Téo – E qual é a segunda?
Tamara (séria) – Saber, quem são os meus pais biológicos. Saber como e onde estão.
Téo – Só a mãe Eugênia que sabe.
Tamara – Eu vou forçá-la me dizer. Eu preciso disso. Mesmo que isso me deixe mal, mesmo que meus pais me odeiem ou que estejam mortos. Mas eu preciso saber.
Tamara se levanta séria, e olha pela janela.
Corta para:
Cena 11. Casa de Edu/ Cozinha/ Int./ Dia.
César, Julieta e Lucído estão tomando café da manhã.
César – Cadê o Edu?
Julieta – Já foi pro curso.
César – E o senhor, onde estava ontem a noite papai? Saiu sem dar notícias.
Lucído – Fui atrás da minha Helena.
Julieta – Pelo que vi nas cartas hoje, você está mais próximo desse desejo.
Lucído – Pelo que vejo você não é de araque. Acertou. Estou colado na minha Helena.
César – Como assim pai?
Lucído (se levantando) – Com licença, eu vou atrás de respostas.
Lucído sai da cozinha, César e Julieta se olham, com caras de tacho.
Corta para:
Cena 12. Casa de Fernanda/ Sala/ Int./ Dia.
Malu e Eva estão sentadas no sofá, conversando.
Malu (feliz) – Então, quer dizer que a família tá aumentando?
Eva (acariciando a barriga) – Tá aumentando sim. E eu tô tão feliz por esse momento, sabia? Quero que venha com muita saúde, muito amor e sucesso.
Malu – E você, torce por um menino ou menina?
Eva – Se vier com saúde, já está de ótimo tamanho. Mas bem que eu sou apegado a um menininho.
Malu – Ah, viu só! Deve vir um menino fortão aí.
Eva – Ou uma menina linda.
Malu – Eu sempre sonhei em ter um filho, em me casar na igreja. Será que ainda consigo?
Eva – Mas é claro, você tá jovem, tá bonita. Cheia de vida pela frente.
Malu (cabisbaixa) – A gente idealiza isso com uma pessoa, mas acaba que tudo fica para trás né? Quando a decepção supera o amor, as expectativas murcham, aí nada mais pode ser feito. Ah prima, eu tô vivendo um dia de cada vez. Tô indo sem pressa, na marola da vida. Eu desisti de tudo. Nunca achei que uma pessoa pudesse ter tanto poder, tanta influência sobre mim.
Eva – Ele não tem influência sobre você, é você que se deixou levar, pela frustração de vê-lo aos beijos com outra.
Malu – E que outra hein.
Eva – Nem me fala, porque a minha vontade é de acabar com a cara da Tamara. Garota falsa. Ah, mas a vida se encarrega de ensinar a ela, como é que se chega ao sucesso. Quanto mais alto o voo de um tucano, mais forte a queda. Essas são as voltas que o destino dá, um dia somos arranha-céus, no outro somos pano de chão.
Malu – Eu que o diga, em fração de segundos eu fui do luxo ao lixo.
Malu acaricia a barriga de Eva e em seguida apoia sua cabeça no local.
Corta para:
Cena 13. RJ/ Sanatório/ Cozinha/ Int./ Dia.
Ellen está sozinha na cozinha, colocando algum líquido na panela de sopa. Yvete entra e fica escondida atrás do armário. Ellen termina de jogar o líquido, guarda o frasco na bolsa e sai.
Yvete (cochichando pra si) – Não posso deixar ninguém tomar essa sopa.
Yvete pega na alça da panela, quando vai derramar, alguém segura a sua mão. Yvete fica muito assustada.
Corta para:
Cena 14. Livraria Dom Casmurro/ Salão Princ./ Int./ Dia.
Fluxo natural de pessoas. Téo está passando alguns produtos no caixa, enquanto Regininha tira pó das prateleiras. Nesse instante Antero entra no local, fica próximo de Regininha, saca uma pistola disfarçadamente e cola o cano da arma na cintura dela.
Antero (tom baixo) – Sai colada comigo, qualquer movimento brusco, eu te mato aqui, na frente de todos.
Regininha fica muito nervosa, mas sai disfarçadamente, com Antero.
Corta para:
Cena 15. RJ/ Sanatório/ Cozinha/ Int./ Dia.
Continuação da cena 13. Yvete pega na alça da panela, quando vai derramar, alguém segura a sua mão. Yvete fica muito assustada. Yvete olha para cima... CAM LENTA: Mostra o rosto de Ellen, muito aborrecida.
Ellen – O que você tá fazendo aqui? Ia derrubar a comida?
Yvete (desesperada) – Eu só queria provar.
Ellen – Ainda bem que esqueci meu celular aqui, caso contrário, você iria derrubar toda essa sopa e me causaria um grande problema.
Yvete – Eu só iria pegar um pouco pra mim.
Ellen – Então deixa que eu te sirvo.
Yvete – Não precisa, eu perdi a fome.
Ellen (rude) – Mas agora você vai comer. (meiga) Senão, vou achar que você estava mesmo querendo derrubar a sopa. Mas sei que você não é louca o suficiente para isso.
Yvete – Eu vivo num sanatório, posso ser muito louca.
Ellen (arrumando sopa ) – Mas você vai comer sim e tudo.
Ellen termina de colocar a sopa num pote e entrega nas mãos de Yvete, que fica olhando para a sopa. Close em Yvete, muito aflita.
Corta para:
Cena 16. Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Tamara está sentada numa poltrona degustando uma caixa de chocolates importados. Quando Lucído abre a porta com força e entra, sendo seguido por Téo.
Tamara (assustada) – Que isso?
Téo – Eu tentei para ele lá embaixo, mas não teve como.
Lucído (a Tamara) – Eu exijo falar com você.
Tamara – Marque uma hora. Tô sem tempo hoje.
Lucído – Eu vou ser bem breve.
Tamara – Téo tira esse velho daqui. Louco!
Téo começa a puxar Lucído para fora da sala.
Lucído – Eu vim falar sobre seus pais biológicos. Eu sei quem são.
Tamara fica assustada, e Téo também paralisa.
Lucído – Seus pais estão bem mais próximos, do que você possa imaginar.
Tamara fica perplexa. Close final em Tamara, totalmente assustada.
(Música “Te esperando” – Luan Santana).






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