Corta para:
Cena 01.
Trilho do Trem/ Ext./ Noite.
Tia
Pombinha ouve barulho de carro e se esconde em um matagal próximo. Segundos
depois o carro para em frente aos trilhos e Vitória e Antero descem.
Antero
começa a beijá-la, que faz cara de nojo.
Vitória – Primeiro
vamos tomar um champanhe, pega no porta-malas?
Antero dá
as costas para Vitória, que saca a pistola e lhe dá uma coronhada,
desmaiando-o. Close em Tia Pombinha filmando tudo.
Vitória
arrasta o corpo até o trilho do trem.
Vitória (a
Antero) – Nossa parceria foi boa enquanto durou. Pena você ser tão idiota.
Vitória
então ouve o barulho do trem.
Vitória – Eu desejo
que você queime no inferno.
O trem vem
a todo vapor e passa por cima do corpo de Antero. Close no sangue espirrando
todo em Vitória.
Vitória
(debochando) – Até morto você gruda em mim Antero, mas que pena que
você já cantou pra subir, ou melhor, apertou o térreo no elevador da morte e
foi direto pro umbral. Queima bastante lá, bebê!
Vitória
olha para os lados, percebe que não há ninguém, retira sua roupa, coloca outro
vestido que estava dentro do carro. Pega uma garrafa de gasolina, e joga na
roupa suja.
Vitória
(acendendo o fósforo) – E pra fechar a noite, uma fogueirinha a la São
João.
Vitória
joga o fósforo aceso nas roupas, que rapidamente pegam fogo, ela entra no carro
e sai.
Tia
Pombinha sai do mato com sua câmera nas mãos, corre e apaga uma parte do fogo,
salvando a blusa quase intacta e suja de sangue.
Tia
Pombinha (pra si/ vitoriosa) – Agora sim, muito dinheiro.
Tia
Pombinha sorri.
Corta para:
Cena 02.
Casa de Fernanda/ sala/ Int./ Noite.
Fernanda e
Julieta estão paradas se olhando. Clima muito tenso para as duas.
Fernanda – Você vai
falar alguma coisa Julieta? Por que você entra na minha casa falando que acabou
com a minha felicidade, mas não diz mais nada? Não tô entendendo.
Julieta – Você é
mesmo muito cara de pau né. Acho que esse é o mal dos homens, gostarem das
mulheres sonsas e fáceis. Porque você é uma biscate de primeira linha, uma
vagabun.../
Fernanda
(rude) – Eu não admito que você venha a minha casa me.../
Julieta (corta)
– Deixa
eu falar, que eu sou visita, é de boa educação.
Fernanda – Não é de
boa educação vir à casa das pessoas sem ser convidada.
Julieta – Pois pelo
meu marido? Eu apareço até diante do papa sem ser convidada.
Fernanda – Para com
essa conversa fiada, com esses assuntos sem relevância e diz logo o que você
quer.
Julieta – Sem
relevância? Sem relevância pra você, porque não é o seu marido que está saindo
de casa.
Fernanda – Então o
César vai realmente sair de casa?
Julieta – Momentaneamente.
Mas o fato é que eu tenho uma carta na mesa e você vai me ajudar a fazer com
que ele volte pra casa.
Fernanda – Não tem
como, o César não vai voltar, e se isso te consola, ele vai ficar comigo, vai
viver comigo. Chega! Se era isso que você tinha a me dizer, pode pôr-se daqui
pra fora.
Julieta – Eu ainda
nem comecei filhinha. Trata de fazer um café e me convidar pra sentar, porque a
conversa vai ser longa, muito longa.
Fernanda
(irritada) – Fala de uma vez por todas o que tem a dizer, antes
que eu te arrebente a cara aqui mesmo, sem dó nem piedade.
Julieta
respira fundo.
Julieta
(firme) – Essa garota que você chama de filha, a Malu, não é sua filha.
Fernanda
(surpresa) – O que?
Malu entra
em casa sem ser percebida e escuta:
Julieta – No
nascimento, eu troquei a sua filha biológica pela Malu.
Malu
(gritando) – Que palhaçada é essa Julieta?
Close: Malu
com muito ódio. Fernanda desesperada e Julieta sorrindo.
Corta para:
Cena 03.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Noite.
A sala está
toda escura, Miguel chega pela porta de entrada principal e acende as luzes,
deparando-se com Milena, sentada no sofá.
Milena – E eu te
esperei para jantarmos, pra poder comemorar a boa nova.
Miguel – Não deu.
Tive que fazer um falso noivado com a Eva.
Milena – Sempre a
Eva. Tudo que você faz agora é voltado a ela.
Miguel – Mas tem que
ser. Só a Eva pode nos dar o que queremos. Presta atenção Milena, e para de
fazer graça.
Milena – Eu tenho
duas boas notícias.
Miguel – Diz quais
são.
Milena – A primeira
é que as barrigas falsas chegaram. Todas perfeitas.
Miguel – E a
segunda?
Milena – A segunda é
que contei pra sua mãe da minha gravidez e a otária caiu direitinho. Tá até
feliz com a possibilidade de ficar rica.
Miguel – Então você
conseguiu ludibriar a dona Vitória?
Milena – Sua mãe não
é tão inteligente quanto aparenta ser.
Miguel – Cuidado.
Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Agora vamos nos deitar. Tô
exausto. Bancar o bonzinho cansa mais que correr na maratona de São Silvestre.
Milena – Bora lá.
Miguel
abraça Milena e os dois sobem as escadas em direção ao quarto.
Corta para:
Cena 04.
Casa de Fernanda/ Sala/ Int./ Noite.
Fernanda
está sentada no sofá, chocada. Enquanto Malu está de pé, com muito ódio e de
frente para Julieta que sorri.
Malu
(nervosa) – Tira esse risinho tosco da fuça e me explica direito
essa história de troca de bebês. Tô me sentindo protagonista de novela
mexicana.
Julieta – Você quer
saber de tudo? Então você saberá.
Fernanda (a
Malu) – É tudo mentira filha, não escuta. Garanto que é mais uma armação
dela.
Malu – Deixa mãe,
vamos ver até onde vai à dissimulação da Julieta. Vamos ver o quanto mais ela
quer arrasar a gente.
Julieta – Como eu ia
falando, eu troquei você no berçário. Ninguém se deu conta, eu era faxineira
ali mesmo, e como sua mãe não tinha te visto ainda e era troca de plantão, eu
me aproveitei e troquei as pulseiras dos bebês de lugar...
***Insert
do flashback a ser gravado***
Hospital/Berçário/
Int./ Dia.
Local
decorando com enfeites infantis. Berçário contendo mais ou menos 20 bebês.
Julieta
(aparentando ter entre 20 e 25 anos) está passando pano no chão do local, até
que para, olha para os lados e vê que não há ninguém por perto. Ela se
encaminha até onde se encontra o berçário de Malu.
Julieta
(olhando Malu) – Você vai ser a filha da Julieta. Aquela vagabunda
vai ter a maior decepção da vida dela.
Julieta
tira a pulseira com a identificação e coloca em outra bebê, retirando a
original da outra bebê e colocando em Malu.
Julieta
(pra si) – Nada como um sanduiche de pão com pão para se dar o
devido valor ao presunto.
Julieta
sorri, termina de limpar o chão e sai do berçário calmamente.
Close na
bebê, que seria a suposta filha de Julieta.
***Fim
do insert de flashback***
Julieta – Naquela
época o César andava diferente, mas eu ouvi uma conversa dele dizendo que
poderia ser o pai do filho que você esperava.
Fernanda – Não houve a
mínima possibilidade.
Julieta – Eu estava
tomada pelo ódio, tomada por um sentimento que só me destruía. Eu não poderia
ficar sendo passiva desses fatos. Eu tinha que fazer alguma coisa, e fiz! Eu
troquei as crianças na maternidade como forma de vingança.
Num acesso
de fúria, Fernanda se levanta gritando de ódio e dá dois tapões na cara de
Julieta, que cai no chão, rindo, radiante.
Fernanda – Você é
vagabunda.
Julieta – O que os
olhos não veem, o coração não sente.
Julieta se
levanta.
Malu
(chorando) – Então quer dizer que eu não sou sua filha, mãe?
Fernanda – Você sempre
será minha filha.
Eva chega à
sala.
Eva – O que tá
acontecendo aqui?
Julieta – Pronto,
agora a corja de mariposas está completa: a falsa filha, a destruidora de lares
e a drogada.
Eva
(irritada) – Eu não admito que você fale assim da gente.
Julieta – Você pensa
que eu não sei do seu envolvimento com as drogas? Que você agora arrumou um boy
rico pra te sustentar e tá toda se querendo. Tudo farinha do mesmo saco.
Fernanda – Sai daqui
ou eu vou acabar com a sua raça.
Julieta – Vem comigo
Fernanda, eu preciso falar em particular com você.
Malu
(chorando) – Não vai mãe, deixa ela para lá.
Fernanda – Eu preciso
saber o que mais essa louca varrida tem a me dizer.
Julieta e
Fernanda saem da casa, Enquanto Malu cai no choro e Eva a consola.
Corta para:
Cena 05.
Casa de Fernanda/ Calçada/ Ext./ Noite.
A rua em
frente está sem movimento algum. Ninguém passa pelo local, onde apenas Fernanda
(desesperada) e Julieta (normal), estão conversando. Conversa tensa para
Fernanda.
Fernanda – Não sei
como você pôde ter sido tão diabólica. Que coisa horrível. Diz, diz pra mim
como é que a princesa da maldade conseguiu guardar esse segredo por tanto
tempo?
Julieta – Na vida,
meu bem, ou você engole ou é engolida. Mas agora não adianta chorar pelo leite
derramado.
Fernanda – Troca de
bebês é crime e dá cadeia. Pra onde eu vou te levar. Mesmo que isso não pague a
dor, o sofrimento e o tempo perdido, você vai sofrer as punições da lei. Você é
incapaz de viver em sociedade, vai ser mais um bicho recluso num metro quadrado
fétido e isolado.
Julieta – É aí que as
coisas começam a fazer sentido Fernanda. Eu não vim aqui revelar esses
segredos, por puro prazer em te ver no chão, mesmo que essa tenha sido a minha
vontade todos esses anos. O fato é que o César está mesmo decidido a sair de
casa pra viver com você, mas eu não vou deixar, ou melhor, você não irá deixar.
Fernanda – Como assim?
Você só pode ter pirado.
Julieta – Eu sei quem
é a sua filha biológica, sei onde ela vive. Mas só te contarei se você fizer o
que estou mandando. Só revelo quem é a songamonga se você aceitar minhas
exigências.
Fernanda – E quais
são?
Julieta – A primeira
é que você diga ao César que não o ama mais, que quer manter distância dele,
que o que ele anda fazendo comigo é uma cafajestagem pura. Resumindo a ópera:
Que você o force a voltar a conviver comigo, que reestruture meu casamento. Já
a segunda é que você não me denuncie a polícia. Diga que a troca foi por parte
do hospital, ou melhor, nem abra o assunto às demais pessoas.
Fernanda – Em troca
disso eu ganho o que?
Julieta – O nome e o
endereço da sua filha biológica. É pegar ou largar.
Fernanda – E como vou
saber se você está dizendo a verdade?
Julieta – Você não
tem outra saída. Ou obedece a mim, ou bye bye filha biológica.
Julieta sai
andando e Fernanda fica parada, pensativa.
Corta para:
Cena 06.
Bairro Elevado/ Subúrbio/ Ext./ Noite-Dia.
(Música “Aceita,
paixão” – Péricles). Transposição da noite para o dia. Tomadas do bairro
suburbano Elevado. Ônibus passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo
salgados e quinquilharias, periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros
antigos e velhos e motoboys. Close no Bar Chegaí.
Corta para:
Cena 07.
Bar Chegaí/ Int./ Dia.
Ondina está
varrendo o salão, enquanto Zé Diogo repõe cervejas no freezer.
Ondina – Num tá
sabendo de nenhuma fofoca não Zé?
Zé Diogo – E nem
gostaria de saber. Larga mão de ser mexeriqueira.
Ondina – Eu só
comento os fatos. Tem algo no ar, Ondina capta e espalha feito chuva de verão.
Zé Diogo – Para com
isso. É feio mulher.
Ondina – Por isso
que a gente tá na pindaíba, você nunca quer saber dos acontecimentos que rolam
por aí.
Nesse
instante entram no bar: Bebê, vestido de segurança, e Lui, com suas roupas
espalhafatosas.
Lui
(gritando) – Ondina! Ondina! Ondina! Corre aqui minha nega, o
babado é forte e o badalo é um close.
Ondina
(curiosa) – É fofoca Lui?
Lui – Veja lá se
fico por aí fazendo fofoca? Tecerei apenas um breve comentário.
Zé Diogo – Você
deveria era ter casado com a Ondina. Dois fofoqueiros, um casal perfeito né
Lui.
Lui
(fazendo o sinal da cruz) – Deus me livre desse mal. Da fruta
que eu gosto, a Ondina lambe até o caroço.
Ondina – Para de dar
trela pra esse desembestado e me conte o babado.
Lui vai até
a porta do bar ver se vem alguém, olha para os lados e volta correndo para
próximo de Ondina.
Lui – Ontem rolou
o maior bate-boca na casa da Fernanda.
Ondina
(curiosa) – Como assim?
Lui – Além de
velha é surda, vá se tratar Ondina. Eu disse que ontem rolou um bate-boca, um
quebra-pau, um rebuliço, um barraco lá na casa da Fernanda. Não pude deixar de
escutar, já que sou vizinho da solteirona.
Bebê – Era algo
bem sério.
Ondina – Vocês
conseguiram escutar?
Lui – Ouvi pouco,
quase nada. Só sei que a mulher do César estava chamando ela de piranha e tudo
mais. E falaram também sobre bebês.
Ondina
(encucada) – Bebês?
Lui – Por um
instante eu achei que estivessem falando do meu Bebê. Mas não era não. Estavam
falando sobre bebês recém-nascidos e falaram também sobre maternidade.
Ondina – Será que é
o que estou pensando?
Lui – Que a
Fernanda tá grávida do César?
Ondina – Eu não
duvido. Aquela lá, na infância da Malu, tinha um namorado para cada mês.
Lui – Também
pensei nisso. Mas a Fernanda parece tão centrada, tão meiga.
Ondina – Meiga? Mei
galinha, só se for.
Lui – Agora eu
tenho que ir, senão minha chefa me esgana.
Ondina – Obrigado
pelo comentário. Até mais tarde eu apuro o caso, passa aqui quando voltar.
Lui – Mas é claro
que vou passar. Hoje eu não entro em casa sem uma cerveja na mãe meu bem. (SAINDO)- Beijos Zé. Vem Bebê!
Lui e Bebê
saem do bar.
Ondina
(surpresa) – Então a Fernanda tá grávida de um homem casado? Que
moral de merda que ela tem. A segunda a ficar prenha naquele casebre.
Zé Diogo – Ninguém
confirmou que ela esteja grávida, aliás, ninguém sabe se ela tem mesmo um caso
com o César.
Ondina – Pra Julieta
estar soltando os cachorros lá, boa coisa que não é.
Zé Diogo
faz que sim com a cabeça e Ondina volta a varrer.
Corta para:
Cena 08.
Mansão Amadeu/ Sala de Jantar/ Int./ Dia.
A mesa do
café está toda posta, quando Teresa e Eneida chegam ao loca.
Teresa – A senhora
não vai esperar ninguém para tomar café?
Eneida – Eu preciso
resolver a minha vida cedo. Se alguém perguntar por mim, diga que eu fui dar
uma corrida, depois farei umas compras, sei lá, inventa alguma coisa.
Teresa – Se eu fosse
a senhora esperava a dona Vitória acordar.
Eneida
(tomando café de pé) – Mas como você se chama Teresa e é empregada
desta casa, vai ficar de bico calado, ou melhor, vai falar o que te pedi.
Eneida
entrega a xícara a Teresa.
Eneida
(saindo) – Deixe-me ir, há muitas coisas a serem resolvidas
hoje.
Eneida sai
da sala de jantar, apressada.
Teresa (pra
si) – Depois eu que levo a culpa dentro dessa casa por não saber de
nada.
No mesmo
instante, Milena e Miguel entram na sala de jantar.
Milena (a
Teresa) – Tá falando sozinha?
Teresa
(disfarçando) – Claro que não. Tô aqui contando quantos pães tem.
Milena e
Miguel sentam-se a mesa.
Teresa – Querem que
eu prepare algo especial?
Milena – Omelete com
peito de peru e rúcula.
Teresa – E o senhor?
Miguel – Nada.
Teresa
(saindo) – Com licença.
Teresa sai
da sala de jantar.
Miguel
(falando baixo) – Você já sabe quando vai utilizar a barriga falsa?
Milena – Já sim.
Daqui dois meses eu começo. No kit da barriga falsa, tem umas barrigas
pequenas, que vou começar a usar, mas as que de fato tem presença, só daqui a
alguns meses.
Miguel – Eu tô com
medo de alguém descobrir.
Milena – Eu vou usar
vestido a gravidez toda. Você só tem que esquecer que eu uso barriga falsa. De
resto vai dar tudo certo.
Miguel e
Milena dão um selinho, e Vitória entra e vê a cena.
Vitória – Qual foi a
pulada de cerca dessa vez Miguel?
Milena – Como
sempre, destilando veneno?
Vitória – Meu veneno
é bálsamo querida, ele necrosa, sabia?
Vitória se
senta a mesa.
Milena – Hoje nada
do que você fale, vai estragar meu dia.
Vitória – Com essa
cara sua de vodu que saiu da Magia Negra, meu bem, não precisa ninguém estragar
nada, você já se basta.
Miguel – Mãe, por
favor, para. A Milena está grávida e fica mais sensível nessa época.
Vitória – A culpa é
sempre minha né? Porque sou uma velha inválida e sozinha.
Milena – Você
precisa colocar as pessoas pra baixo para que a autoestima delas fique da
altura da sua. Você toma conta da vida de todo mundo, porque a sua é um marasmo
sem limite. Sabe Vitória, eu realmente sinto pena de você, que vai passar por
essa vida sem deixar seu legado. Tudo que as pessoas vão lembrar sobre você é:
“Aquela dondoca que cuidava da vida alheia”. É uma pena mesmo que Deus tenha
desperdiçado um corpo na face da Terra.
Vitória
aplaude sorridente.
Vitória – Amei o seu
discurso. Diga mais o que pensas sobre mim. Vamos, derrame sobre vossos pés a
mágoa, o ressentimento que você tanto sente.
Milena – De você eu
só sinto pena e muito ódio.
Vitória – Cuidado,
tanto ódio assim, pode ser amor encubado.
Miguel se
levanta.
Vitória – Vai onde
filho?
Miguel – Pra
empresa, pra praça, pro diabo que me carregue. O que não quero é ficar aqui
sendo plateia pra essa toca de farpas de vocês. Hello gente, são nove da manhã
ainda.
Milena se
levanta também e sai da sala de jantar junto com Miguel.
Close em
Vitória, séria, tomando seu café.
Corta para:
Cena 09.
Mansão Trajano/ Fachada/ Ext./ Dia.
Close no
carro de Meg saindo da garagem. Dia lindo de sol.
Corta para:
Cena 10.
Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Álvaro está
sentado, lendo alguns processos, quando Mafalda vem da sala de jantar.
Mafalda – Achei que
tivesse ido para a empresa.
Álvaro – Hoje vou
passar a manhã em casa lendo processos.
Mafalda – Álvaro,
depois da festa no Chegaí, você voltou diferente. A gente tá se entendendo
mais.
Álvaro – Tem razão
Mafalda. Sabe, eu nunca gostei de você, não gostei de cara e por anos a gente
ficou nessa queda de braço, mas hoje eu posso dizer que adoro estar com você.
Na verdade, você nem parece ser irmã da Meg, tão diferente, tão superior a ela
em tudo.
Mafalda – A Meg é um
ser humano de muitos defeitos, não que eu não os tenha, mas ela é ambiciosa e
até hoje não consigo entender o que a une tanto a Vitória assim.
Álvaro – Dizem que
os opostos se atraem, mas é mentira. A Meg e a Vitória se unem pelo que mais
tem em comum: a ambição. A Vitória eu não sei, mas a Meg parece ter uma face
oculta.
Mafalda – É tão
difícil pra mim, ter que ouvir isso e concordar. Mas eu sei que a Vitória e a
Meg escondem algo.
Álvaro – Por falar
em esconder algo, cadê àquela tia esquisita de vocês?
Mafalda
(encucada) – Tem razão, desde ontem a noite que eu não vejo a Tia
Pombinha. Isso não tá me cheirando a boa coisa.
Mafalda
fica pensativa e Álvaro volta a ler os processos.
Corta para:
Cena 11.
Praça Central/ Ext./ Dia.
(Música
“Boogie Oogie Oogie” – Taste of houney). Imagens aéreas da praça, com pessoas
caminhando, conversando, passeando com cachorros. Close no chafariz, fazendo um
belíssimo espetáculo com a água. Close Final em Tia Pombinha, com um envelope
A4 EM MÃOS, conversando com um motoboy.
(Fad out
trilha “Boogie oogie oogie”).
Tia
Pombinha – Entendeu o que vai fazer?
Motoboy – Vou até a
casa da tal Vitória e entrego esse envelope a ela?
Tia
Pombinha – Isso. Caso ela pergunte quem enviou, o que você vai
dizer?
Motoboy – Que foi um
homem moreno, que tinha um nome diferente: Agenor, Antero ou Antenor.
Tia
Pombinha – Isso mesmo!
Motoboy – Agora me
passa a grana tiazinha.
Tia
Pombinha retira do bolso cem reais.
Tia
Pombinha (entregando) – Toma! E agora vai levar isso o mais rápido
possível.
Motoboy
pega o dinheiro, coloca o capacete, monta na mota e sai disparado.
Tia
Pombinha (sorrindo) – E o grande império de Maria Pombalina começa
agora.
Corta para:
Cena 12.
Casa de Fernanda/ Quarto de Fernanda/ Int./ Dia.
Fernanda
está diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, ela acende uma vela e começa
a rezar. Após alguns instantes ela termina sua oração e vai até sua janela,
onde fica olhando, pensativa.
Eva entra
de mansinho no quarto e abraça a tia por trás.
Fernanda
(triste) – Quando a Julieta disse que acabaria para sempre com
a minha felicidade, ela não estava mentindo.
Eva – Como que a
senhora está?
Fernanda – Eu tô mal
né, me sentindo a pior das mulheres. Tentando entender onde eu errei para
merecer um calvário desses. Eu não vou poder ficar com o homem que amo, e não
sei quem é a minha filha. Mas o pior é saber que a Maria de Lourdes, pode se
rebelar e querer achar essa outra família.
Eva – Fica calma
tia. A Malu está bem, acabei de sair do quarto dela. Ela sabe da gravidade do
assunto e prometeu que não vai contar essa história a ninguém.
Fernanda – Mas chega
de falar de mim e dessa tragédia. Eu quero saber da senhora e do seu bebê hein.
Eva – Ah tia,
estamos bem, felizes. Agora eu quero conhecer a família do Miguel. Mas ele
parece estar enrolando.
Fernanda – Aquela mãe
dele é uma louca desvairada. Eu nunca fui com a fuça da dondoca.
Eva – A senhora e
suas manias.
Fernanda – Eu e meus
pressentimentos que nunca falham. Aguarde as cenas dos próximos capítulos e me
diga se ela não é realmente uma megera de primeira linha.
Eva nega
com a cabeça.
Corta para:
Cena 13.
Prefeitura/ calçada/ Ext./ Dia.
Movimento
normal de pessoas passando pelo local ou entrando na prefeitura.
Corta para:
Cena 14.
Prefeitura/ Gabinete da prefeita/ Int./ Dia.
Vitória
está sentada, semblante de feliz e Meg está de pé, andando de um lado para o
outro, nervosa.
Meg – Eu não
acredito que você fez isso. Vitória, você está se arriscando demais. Não vê que
a morte do Antero pode respingar a culpa em você?
Vitória – A única
coisa que respingou, foi o sangue dele quando o trem passou. Precisa ver Meg.
Meg – Eu não
queria ver nada. Deus me livre.
Vitória – Você é
mesmo muito medrosa. Mas deu tudo certo Meg. Ninguém sabe e ninguém viu. Em
menos de um mês eu me livrei das três pessoas que poderiam arruinar a minha
vida: A chantagista da Dama, a revoltadinha da Regininha e o pau mandado do
Antero.
Meg – Agora, para
de se meter em confusão. Já que conseguiu apagar de vez o seu passado, agora é
viver o presente.
Vitória – Quando o
meu filho colocar a mão naquela grana, ah Meg Trajano, eu te garanto que vou
viajar. Leste Europeu, Emirados Árabes, Caribe.
Meg – E voltar
mais pobre que a sua empregada?
Vitória – Eu tô
falando de uma fortuna.
Nesse
instante Lui entra na sala.
Lui
(entrando) – Com licença dona Meg e dona Vitória.
Meg – Você
desaprendeu as regras de boas maneiras?
Lui – Na mesma
velocidade que você aprendeu a dar em cima do macho dos outros.
Meg
(irritada) – Que isso agora?
Lui – É a simples
lei do retorno. O que vai, uma hora volta dona Meg.
Meg – Eu vou
mandar te demitir.
Lui – Diferente
da senhora, eu sou concursado. Eu exerço um cargo público, fiz prova e fui
aprovado.
Vitória – Chega de
mostrar seu currículo mixo Lui. Diga logo o que veio fazer aqui.
Lui – A polícia
tá aí fora, ou melhor, o delegado, quer falar com a Dona Meg. Deixo entrar?
Vitória e
Meg se olham tensas.
Meg – Manda
entrar.
Lui sai.
Meg – Será que
ele tá desconfiado?
Vitória – Fica calma.
Às vezes não é nada disso e você acaba entregando o ouro. Respira fundo.
Meg respira
e se acalma. O delegado entra.
Delegado – Bom dia.
Desculpa interrompê-las.
Vitória – Bom dia
delegado, eu sou amiga e assessora da Meg Trajano, se importa que eu fique?
Delegado – De forma
alguma, por favor!
Meg – Sente-se
delegado.
Delegado – Prefiro
permanecer de pé. Quero ser rápido e objetivo.
Meg – E sobre o
que se trata.
Delegado – Eu vim
falar sobre uma morte muito suspeita que ocorreu ontem. A morte de Antero
Dutra. Eu sei que foi homicídio e que vou resolvê-lo custe o que custar.
O delegado
fica sério e Meg e Vitória se entreolham muito tensas.
Corta para:
Cena 15.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da gerência/ Int./ Dia.
Tamara está
sentada em sua mesa, com um monte de contas em mãos, fazendo contas na
calculadora, desesperada.
Tamara (em
desespero) – Essas contas não batem, que inferno!
Tamara pega
a calculadora e joga contra a parede. Alguém bate a porta.
Tamara
(nervosa) – Entra.
Téo entra
na sala.
Tamara – O que você
quer?
Téo – Maninha,
acho que a gente precisa conversar.
Tamara – Você me
pegou num péssimo dia, deixa para amanhã.
Téo – É do seu
interesse.
Tamara – O meu único
interesse é que as contas desse mês batessem e que fechássemos a livraria no
azul.
Téo – Pelo andar
da carruagem, iremos fechar, mas fecharemos as portas.
Tamara
(batendo na mesa) – Nunca, tá me ouvindo? Nunca!
Téo – Mas é para
esse mar, que o rio caminha.
Tamara – Eu não vou
dar esse gostinho para a Eva. Não vou deixar ela sambar na minha cara.
Téo – Então tente
fazer algo. O movimento aqui tá fraco. As editoras perceberam isso e estão
repassando poucos títulos para nós. Perdemos a noite de autógrafos da Diva
Divina.
Tamara – Como se
chama aquela moça daquele livro maravilhoso?
Téo – Cecília
Meirelles?
Tamara – É, deve ser
ela. Aproveita e a retire do túmulo onde você deveria passar a eternidade. Eu
tô falando daquela autora daquele livro ótimo que virou febre na cidade: Tribo
do Amor.
Téo – Aquela moça
com o cabelo vermelho? Vermelho da cor da paixão, do amor.
Tamara – Essa mesma.
Eu tenho que admitir, ela é uma ótima autora e muito simpática também. Só não
me recordo o nome.
Téo fica
pensativo.
Tamara – Lembrei. O
nome dela é Pit Larah.
Téo – Isso mesmo.
Tamara – Caça os
contatos dela: telefone, Facebook, e-mail. Eu a quero aqui na livraria, para
falar comigo. Acho que uma palestra seguida de uma noite de autógrafos pode
reerguer a livraria.
Téo
(saindo) – Vou procurar o contato dela.
Téo sai da
sala, e Tamara se levanta, pega a calculadora e volta a fazer as contas.
Corta para:
Cena 16.
Prefeitura/ Gabinete da prefeita/ Int./ Dia.
Meg e
Vitória visivelmente tensas e o delegado sério.
Delegado – As senhoras
parecem tensas, as assustei?
Vitória – Você falou
em homicídio, será que existem pessoas tão perversas em nossa cidade?
Delegado – Pessoas
ruins existem em todo lugar. Você às vezes, nem se dá conta de que está diante
de um assassino. Isso dificulta o nosso trabalho.
Vitória – Que horror.
Nem quero ouvir mais, vou ir para a minha casa.
Vitória sai
da sala.
Meg – Mas então
delegado, sobre o que quer falar comigo?
Delegado – Eu quero
abrir uma sindicância para apurar essa morte. Quero pesquisar vestígios, e pra
isso, preciso contar com a contribuição da prefeitura, para que eu traga perito
e outros especialistas. Podemos estar diante de um Serial Killer.
Meg – O senhor
está exagerando delegado. Acho que está assistindo demais aquela série da
Glória Perez, mas o fato é que eu não posso dar tanto alarde assim, logo de
cara.
Delegado – Isso quer
dizer que não posso contar com seus investimentos em segurança pública?
Meg – Isso quer dizer
que eu não posso abrir os cofres assim, sem relatório detalhado, sem algo que
ligue esse crime a outros.
Delegado – Eu já
entendi dona Meg Trajano. A senhora não está a fim de investigar o caso. Não
tem problema, eu vou fundo com os recursos que tenho. Não vou me abastecer de
hipocrisia.
Meg – A
prefeitura estará de portas abertas a ajudar o caso.
Delegado – As vésperas
das eleições a gente não precisa de dinheiro financiado por empreiteiras e
políticos mais sujos que a senhora.
Meg – O senhor
está exorbitando do seu direito como cidadão.
Delegado – Que o
próximo crime desse Serial aconteça com a sua família.
O delegado
sai da sala com raiva e bate a porta com força.
Corta para:
Cena 17.
Mansão Amadeu/ Jardim/ Ext./ Dia.
Vitória vem
da rua e estaciona seu carro bem em frente à porta de entrada da mansão, onde
se encontra o motoboy, com o envelope na mão e sentado em um banco.
Vitória
desce do carro e se aproxima do rapaz.
Vitória – Tá
esperando alguém?
Motoboy – Eu tenho
uma encomenda para a senhora.
Vitória – Eu não
comprei nada.
Motoboy
entrega o envelope a Vitória e sai em sua moto.
Corta para:
Cena 18.
Mansão Amadeu/ Quarto de Vitória/ Int./ Dia.
Vitória
abre o envelope e retira um embrulho de presente e um DVD. Close no DVD com os
dizeres: “Que a felicidade vire rotina. Mas não para você”.
Vitória
coloca o DVD em seu aparelho, que começa na parte em que Vitória arrasta Antero
para linha do trem.
Desesperada,
Vitória retira o DVD e o quebra em vários pedaços.
Vitória
(com fúria) – Quem fez essa merda?
Vitória
olha para o embrulho de presente, o pega e abre. No embrulho contém uma pequena
boneca, usando um vestido feito com uma parte da blusa de Vitória que respingou
de sangue.
Vitória
(assustada) – Meu Deus, não pode ser!
Corta para:
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