TERRA LIVRE
C
A P Í T U L O 0 2
CENA 1/
NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Continuação
do último capítulo;
Vicente deitado no chão,
baleado no ombro, sangrando, gemendo de dor. Helena abaixada, estancando
sangue. Várias pessoas em volta.
HELENA - Dio mio! Per favore...
Me ajudem!
Chiara chega correndo,
desesperada. Se abaixa junto a Helena.
HELENA - (cont.) A
senhora é madre de Vicente?
CHIARA - (nervosa) Si,
sou! Dio santo... O que aconteceu com mio Vicente?
VICENTE - Me ajude, madre!
Um homem chega e entrega
uma blusa a Chiara. Chiara enrola a blusa no ombro de Vicente, estancando o
sangue. FOCA em Chiara e Helena, juntas, ajudando Vicente. CORTA PARA/
CENA 02/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA./ INT./ QUARTO DE AFONSO.
Afonso paralisado a frente do empregado, que não reage.
Maria Tereza olhando por um buraco na porta. Afonso se levanta, sem reação.
AFONSO - Então já está tudo pronto.
Eles estão chegando?
EMPREGADO - Sim. Na carta dizem
que são muitos deles.
AFONSO - Era de se imaginar. Já
mandou preparar as senzalas?
EMPREGADO - Não senhor!
AFONSO - E o que está esperando para
começar?
EMPREGADO - Pense bem, meu
senhor. Eles estão vindo achando que irão conseguir uma melhor condição de
vida. Não acho que vão querer ficar hospedados em uma senzala onde negrinhos
escravos foram mortos!
Afonso pensa. Maria Tereza entra. A conversa cessa.
Closes alternados.
M.
TEREZA - Então
quer dizer que é verdade? Mais um navio de italianos chegando ao Brasil. Já
sabe o que vai fazer, Afonso?
AFONSO - Vou fazer o que sempre
fiz... Reunir todos os meus empregados e avisá-los que terão que ensinar os
nossos novos amiguinhos a mexer com as lavouras de café. Aí depois... Depois o
trabalho começa.
M. TEREZA - (ao empregado) Pode
se retirar. Preciso conversar a sós com o Barão.
EMPREGADO - Com licença!
O empregado se retira. Afonso volta a se sentar. Maria
Tereza vai até um imenso armário de madeira, retira uma garrafa de vinho e duas
taças. CAM FOCADA nela despejando o vinho nas taças. Entrega uma para Afonso, e
fica com uma. Maria Tereza se senta a frente dele.
M.
TEREZA - O
que foi? Estou te achando tão preocupado!
AFONSO - Já fazem doze anos do fim
da escravidão. Ainda não me acostumei, acredita?!
M.
TEREZA - Sei
como deve ser. Princesa Isabel eis de pagar o preço pela covardia que fez com
todos os fazendeiros.
AFONSO - Isso não me preocupa agora.
Quero é saber como vamos reagir com mais italianos dentro de nossas fazendas.
Eu sou um deles, mas... Não sei como vai ser!
Closes alternados. Maria Tereza vira a taça inteira. CORTA PARA/
CENA
03/ NAVIO/ INT./ DIA./ QUARTO.
Vicente deitado em uma tábua. A blusa enrolada no ombro.
Helena entra. Chiara já sentada ao lado dele.
HELENA - (a Vicente) Vim
saber que você está melhor!
VICENTE - Na medida do possível!
CHIARA - Tenho medo de que
alguém saia morto deste navio. O que aconteceu com mio filho pode acontecer com
outra pessoa!
HELENA - Concordo. Concordo
com a senhora.
CHIARA - (ri) Grazie...
Grazie por ter me ajudado com meu filho!
HELENA - Que nada!
CHIARA - Vou deixar vocês só!
Com licença.
Chiara sai. TEMPO.
SONOPLASTIA: No Soy El Aire – Thalía
Helena sentada, sorriso no rosto. FLASHS do quase beijo
dos dois. Vicente se levanta com dificuldade. Fica sentado ao lado de Helena.
VICENTE - No que estava pensando,
Helena? Se é que io posso saber!
HELENA - Io tava pensando na
vida, Vicente. Pensando nas coisas que acontecem nela. Tudo mui passageiro!
Vicente - Tem razão... A vida
é mui bela! Mas mui curta, temos que aproveitar!
Os dois se olham por segundos. A música aumenta. A CAM
foca nos dois. Helena e Vicente se aproximando um do outro lentamente, até se
beijarem apaixonadamente. Chiara vê ao entrar no quarto, mas se retira. Os dois
continuam se beijando. Helena se afasta.
HELENA - Dio mio... Non podia
ter feito isso!
VICENTE - Calma... Calma! Isso só foi
um beijo.
Helena se retira. Vicente ri. CORTA PARA/
CENA 04/ MONTE VELHO/ EXT.
Imagens aéreas do cafezal da mansão de Afonso.
Trabalhadores caminhando pelo local. TAKES da colheita. CORTA PARA/
Música
cessa aqui;
CENA
05/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA./ EXT./ CAFEZAL.
Afonso caminhando pelo cafezal. Trabalhadores colhendo.
Ele observando o café. MURILO (homem adulto, alto, cabelos pretos, 40 anos) se
aproxima dele, com entusiasmo.
MURILO - Estamos cada vez
mais tendo um café de maior qualidade, Barão.
AFONSO - Percebo!
MURILO - Sem querer me
intrometer, mas o que foi, senhor?! Aconteceu alguma coisa? Sinto o senhor um
pouco fechado.
AFONSO - Os meus conterrâneos estão
chegando e não temos terras para oferecer a todos eles. A maioria de nossas
terras justamente ficam na Itália.
MURILO - Entendo... Mas o
senhor pretende.../
AFONSO - (corta) Tentarei.
Vamos ver se vai dar. Sou um deles, não creio que vão aceitar viver nessas
condições, Murilo.
Eles encerram a conversa. Voltam a ver os cafezais. CORTA PARA/
CENA
06/ NAVIO/ INT./ DIA./ PARTE DE CIMA.
Germana sentada na mesa, cara fechada. Helena se
aproxima, alegre, dela. Senta-se ao lado. Germana a observa.
GERMANA - Foi bom ter vindo, filha
mia. Tenho que conversar com você!
HELENA - (hesita) Comigo?!
GERMANA - Si! Helena... Io e tuo
padre estamos passando por uma situação complicada e você sabe disso.
HELENA - Si, mas o que isso
tem a ver?
GERMANA - Você está gostando daquele
ragazzo?! Vicente Fregnani.../
Helena assustada. Germana decidida. Closes alternados.
Helena se recompõe. Levanta-se da cadeira, vira-se de
costas a Germana, virando em seguida. Silêncio por tempo. Germana aguardando
resposta.
GERMANA - Anda... Fale!
HELENA - Non, e nem sei de
onde tirou isso, madre. Eu e Vicente somos bem parecidos, mas somos apenas
amigos.
GERMANA - Va bene... Va bene! Pode
ir!
Helena sai sem graça. FOCA em Germana desconfiada. CORTA PARA/
CENA
07/ NAVIO/ INT./ DIA./ QUARTO.
Helena entra no quarto, vai até sua mala, abre. Tira um
colar folheado a ouro da mala.
VALTER - (off) Esse
colar representa a nostra família, filha mia. Guarde como se fosse a única
coisa um alimento! Capite?
Helena olhando para o colar. Lorenzo passa pelo local,
para e olha o objeto. Helena não percebe. P.V de Lorenzo olhando.
HELENA - Vou guardar, padre.
Vou guardar para sempre, fique tranquilo!
Helena guarda o colar. FOCA em Lorenzo, assustado. CORTA PARA/
CENA
08/ SÉRIE DE PLANOS/ DIA.
a.
Maria Tereza olhando uma foto antiga da
família italiana de Afonso, acariciando a foto dele.
b.
Afonso sentado em sua cadeira,
pensando.
c.
Os trabalhadores da mansão se retirando
dela.
CENA
09/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE./ INT./ SALA DE ESTAR.
Afonso sentado no sofá, silencioso. Maria Tereza desce
as escadas com uma vela na mão, de camisola. Coloca a vela em cima da mesinha
de centro, e se senta ao lado dele. Os dois quietos.
M.
TEREZA - Você
acredita que às vezes eu me pergunto o que eu tenho de errado pra você me
rejeitar tanto. Eu não consigo achar!
AFONSO - O amor não funciona assim.
Ele funciona quando ele quer e com quem ele quer. Tenho você como irmã, Maria
Tereza.
M.
TEREZA - Eu não
gosto de você como um irmão. Sabes muito bem o quanto sou apaixonada por você!
Maria Tereza se aproxima de Afonso, que fica assustado.
Ela rasga a camisola.
AFONSO - O que é isso?
M.
TEREZA - Às
vezes é preciso tomar coragem. Faça o que quiser de mim. Me entrego em seus
braços, Afonso.
Afonso agarra Maria Tereza e a beija calorosamente, a
jogando no sofá. Ventania. Apaga a vela. CORTA
PARA/
CENA
10/ NAVIO/ NOITE./ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Todos na mesa comendo. Helena e Vicente trocando olhares. Helena se levanta da mesa. Vicente em seguida. Os dois ficam na borda da embarcação.
VICENTE - Sobre o beijo de ontem, eu
que.../
HELENA - (corta) Aconteceu.
Non podemos evitar. Ninguém precisa saber disso.
VICENTE - É vero. Mas io non me
arrependo nem um pouco de ter feito o que fiz.
Helena ri, sem graça. Vicente acaricia o rosto dela.
VICENTE - Você é tão bela, tão
delicada!
HELENA - Você acha?
VICENTE - Si! Você é uma flor...
Linda!
Helena fica em silêncio. Vicente também.
VICENTE - Preciso te contar uma cosa!
HELENA - Pois conte!
VICENTE - Você precisa me prometer,
me jurar que non vai contar isso para ninguém.
HELENA - Si... Prometo.
Helena encara Vicente, esperando resposta. Ele respira
fundo.
VICENTE - Io fui até o porão do
navio, e vi com esses olhos que a terra há de comer, um homem. Esse homem é
negro, está escondido no porão.
HELENA - (surpresa) Dio
mio! E como ele vai conseguir sobreviver dentro daquele porão? Aquilo lá é
frio, é escuro.
VICENTE - Si, concordo plenamente.
Disse isso a ele, mas às vezes entendo a situação dele. Imagine quando o
comandante descobrir tudo?!
HELENA - E como este homem
vai fazer, Dio?
VICENTE - Nada... Pretende ficar lá até
a morte!
Helena espantada, se afasta de Vicente. Tempo.
HELENA - Você pretende fazer
algo?
VICENTE - Non. Ele non quer que
façamos nada.
HELENA - Va bene! Eu quero
ter uma conversa com este Rogério.
Close em Helena, decidida. CORTA PARA/
CENA
11/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PORÃO.
CAM focando de vários ângulos. Rogério encolhido,
tremendo de frio. ABREM A PORTA. Ele se encolhe ainda mais. Helena aparece,
descendo as escadas, olha diretamente e o vê no chão.
ROGÉRIO - Per favore. Saia daqui! Per
favore! Me deixe em paz.
Helena continua descendo. Fica ao lado de Rogério.
ROGÉRIO - Non vê que estou fedendo?!
HELENA - O ser humano é muito
mais que o odor que ele tem. O que fale é o que tem no corazón.
ROGÉRIO - Alguém te contou que io estava aqui?
HELENA - Si. Alguém que quer
muito tuo bene!
ROGÉRIO - Desgraziato. Pedi para que
non contasse a ninguém./
HELENA - (corta) Calma...
Io também non vou contar para ninguém. Quero tuo bene também. Você não pode
continuar aqui. Vai acabar morrendo.
ROGÉRIO - Que seja feita a vontade de
Dio. Io non tenho nada a perder.
Helena se senta. Ele se esquivando dela.
HELENA - Às vezes a vida pega
peças terríveis em nós, mas temos que seguir em frente. Desafiá-la, capite?
Rogério balança a cabeça afirmando. Helena deixa uma
lágrima cair dos seus olhos, limpa rapidamente.
HELENA - Esse momento difícil
vai passar. Dio sabe o tamanho da cruz que cada um de nós aguenta carregar.
ROGÉRIO - Per favore. Não conte a
ninguém que estou aqui. Se me descobrirem irão me matar.
HELENA - A mente das pessoas
é vazia. Non conseguem ser humanas de verdade. São máquinas.
ROGÉRIO - Mas infelizmente io non
posso mudar isso. E non quero me arriscar. Va bene?
HELENA - Va bene! Posso dar
uma abraço em você?
ROGÉRIO - Io estou sujo.
HELENA - Non importa.
Helena abraça Rogério fortemente. Ambos emocionados. CORTA PARA/
CENA
12/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Chiara fumando, olhando o mar, aflita. Valter a vê e se
aproxima dela, ficando ao seu lado. Ela percebe sua presença, mas continua no
mesmo estado momentâneo.
CHIARA - (a Valter) Fuma?
VALTER - Non, non. Parei há
alguns anos. Grazie! Percebi que está aflita. O que houve?
CHIARA - Preocupada, Valter.
Preocupada!
VALTER - Ainda teme que façam
algo contra tuo filho?
CHIARA - Io temo pela
segurança de todos nós. Nostra família está marcada, Valter. Tenho medo de que
io ou mio filho sejamos os próximos.
VALTER - Non fala isso. É
quase impossível que isso aconteça.
CHIARA - Io achava o mesmo
quando Matteo era vivo, mas agora. Agora temo por tudo. Matteo nunca fez mal a
ninguém, e acabou morrendo. Non consigo entender.
Tempo. Chiara se vira e encara Valter. Os dois se
encaram em silêncio por segundos.
VALTER - Io sofri muito com a
perda de mios filhos. Sofri demais. Mas... Precisamos viver, Chiara. Non é
porque mios filhos foram mortos que io vou achar que estarei sendo sempre
perseguido, capite?
CHIARA - Você nunca foi
atingido novamente, Valter. Mio filho foi. Quer prova maior que isso? Io e mio
filho estamos correndo risco de vida sim, e temos que tomar muito cuidado,
senão iremos dormir ao lado de um formigueiro da mesma forma de mio marito!
Close em Valter, preocupado. CORTA PARA/
CENA
13/ CASA DE DOMINGOS/ NOITE/ INT./ COZINHA.
Local simples. Objetos bem simplórios condizentes a
classe média baixa da época. DOMINGOS (homem alto, aproximadamente sessenta
anos, cabelos grisalhos, olhos pequenos) preparando um arroz no fogo. BATEM NA
PORTA. Ele estranha, e desliga o arroz. Vai em direção à sala. CORTA PARA/
CENA
14/ CASA DE DOMINGOS/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Domingos destranca a porta. Maria Tereza entra com
raiva. Domingos se assusta.
DOMINGOS - O que você está fazendo
aqui?
M.
TEREZA - Quanto
tempo não nos vemos, querido Domingos Leroy.
DOMINGOS - Nem me lembrava que
carregava esse maldito sobrenome!
M.
TEREZA - Vim
buscá-lo. O Barão ordena que você volte imediatamente à fazenda.
DOMINGOS - (irônico) E o Barão coxinha
acha que eu sou o que? Um súdito dele... Deve achar que eu sou você, uma mulher
que fica correndo atrás de um homem que não a deseja.
Maria Tereza dá um tapa na cara de Domingos. Ele ri.
DOMINGOS - (cont.) Não importa quantos
tapas me dê, nada vai mudar o que meu irmão sente por você. Ele tem nojo de
você, pena. Não fique se iludindo a toa não, Terezinha.
M.
TEREZA - Cala
essa sua boca! Se você não quiser ir por bem, irá por mal.
DOMINGOS - E você sozinha, montada num
cavalo, vai conseguir me levar como?! Vai... Me diga! Não se esqueça que você
está sozinha e que eu posso muito bem acabar com você aqui, agora.
M.
TEREZA - Pois
então faça. Seja homem e faça!
DOMINGOS - Não sou como você e meu
irmão. Dois monstros! Dois imbecis que acham que tem poder, mas na verdade não
prestam pra nada.
M.
TEREZA - Não
vou discutir com você... Passar bem!
Maria Tereza vai em direção à porta, mas dá um passo
para trás.
M.
TEREZA - (cont.) Ah,
antes que eu me esqueça, lembre-se que da próxima vez espero voltar com a sua
sentença de morte nas minhas mãos! Imbecil!
Maria Tereza se retira da casa. Domingos senta exausto
no sofá. CORTA PARA/
CENA
15/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Vicente servindo água para todos em um galão. Uma fila a
sua espera. Helena chega perto dele.
HELENA - (no ouvido) Io
preciso falar com você. Urgente!
Vicente entrega o galão de água para o homem ao lado e
vai para o canto junto a Helena.
VICENTE - O que foi? Aconteceu alguma
coisa?
HELENA - Io conversei com
Rogério.
VICENTE - Viu o estado?
HELENA - Si. Muito triste.
Mas non podemos ficar lastimando assim. Temos que encontrar uma solução,
capite?
VICENTE - Capisco! Mas que solução?
Que solução temos que tomar?
Helena vai explicando para ele. Não se ouve o áudio. CORTA PARA/
CENA
16/ NAVIO/ NOITE/ INT./ CENTRAL DE COMANDO.
O comandante concentrado seguindo com o navio. BATEM NA
PORTA.
COMANDANTE
– Entre!
Lorenzo entra, se aproxima do Comandante, que fecha a
cara.
COMANDANTE
– (cont.) O que quer dessa vez, maledetto!
LORENZO - Calma... Calma, comandante.
Vim pra termos uma conversa, capite?
COMANDANTE
– Que
conversa?
LORENZO - Uma conversa... Digamos que
um acerto, uma espécie de acordo.
COMANDANTE
– Non
quero nem saber que acordo é esse. Quero mesmo é poder seguir o fim dessa
viagem em paz.../
LORENZO - (CORTA) Você
non entende?! Seremos muito úteis juntos, comandante.
Os dois ficam em silêncio. Lorenzo esperando resposta.
COMANDANTE
– Va
bene. Va bene! Que acordo é esse?
LORENZO - Preciso que você me dê as
chaves de todos os quartos. O mais rápido possível.
COMANDANTE
– Mas
pra que você iria querer as chaves dos quartos?
LORENZO - Preciso fazer uma cosa, e
para isso preciso das chaves. Non me faça muitas perguntas, apenas confie em
mim.
COMANDANTE
– Non
posso confiar em você. Não devo.
LORENZO - Va bene. Non precisa
confiar em mim, apenas faça o que digo. E aí?! Posso contar com você?
Closes alternados. CORTA PARA/
Closes alternados. CORTA PARA/
CENA
17/ STOCK-SHOTS/ EXT./ MONTE VELHO.
SONOPLASTIA: Todo Azul do Mar – Flávio
Venturini.
Imagens aéreas do amanhecer em Monte Velho. TAKES de
pessoas indo e vindo. ÚLTIMO TAKE na fachada da mansão de Afonso. CORTA PARA/
CENA
18/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Maria Tereza lendo um livro sentada no sofá. BATE NA
PORTA. Ela atende. Domingos entra furioso, subindo as escadas com raiva. Maria
Tereza o segue. CORTA PARA/
CENA
19/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ QUARTO DE AFONSO.
Afonso assinando papéis, com uma grande pena, molhando-a
com tinta. Domingos entra ofegante, furioso. Maria Tereza atrás. Afonso se
levanta, sem entender.
M.
TEREZA - Me
desculpe, Afonso. Não tive muito tempo pra prendê-lo lá fora. Ele já foi entrando.
DOMINGOS - Eis me aqui, querido irmão.
Soube que queria muito me ter em sua presença, estou correto? Pois então... Não
vai abraçar seu querido irmão mais novo?
AFONSO - Com que ordens você entra
assim na minha casa?
DOMINGOS - Ah... Não seja hipócrita,
Afonso. Ontem mandou a sua querida serva para me ordenar que voltasse a morar
nessa mansão, e hoje apareço aqui e é assim que você me recebe?! Não conheço
mais o irmão que tenho.
AFONSO - Você continua o mesmo...
Sempre sarcástico!
DOMINGOS - Continuo sendo feliz.
Diferente de você! Canalha!
Afonso solta uma alta gargalhada, se aproxima de
Domingos, muda feição. Expressão de ódio.
AFONSO - Veja bem como fala comigo,
Domingos. Já ouviu falar que existe um dia após o outros e que eles nunca são
iguais? Um dia a gente tá vivo, no outro estamos mortos. E aí?! Como entender a
vida, não é mesmo?
DOMINGOS - Você está me ameaçando?
AFONSO - Não sou canalha da forma
que diz, Domingos. Pelo menos não sou ao ponto de ter que executar um irmão.
Não seria capaz disso nunca. Mas... Mas eu posso muito bem ordenar que façam
isso!
DOMINGOS - Eu não tenho medo de você! (grita) EU NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ, SEU
DESGRAÇADO!
AFONSO - Pode me xingar do que você
quiser, mas nada vai me deixar mais contente em lembrar de você. Pequenininho,
se achando, arrumou uma namoradinha, achou que iria conseguir se casar com ela,
e eis que eu me caso com ela... Você precisava ver a sua cara de bunda. Era
impagável. Eu sempre tive mais poder que você, Domingos. Já ouviu aquele
ditado?! Um rei deve ser adorado e temido, se não pode ser adorado, que pelo
menos seja temido!
Os dois se encaram. Closes alternados. CORTA PARA/
CENA
20/ NAVIO/ DIA/ INT./ QUARTO 2.
Lorenzo entra lentamente no local, sem barulho. Começa a
procurar por um baú. Olha debaixo da cama e o vê. Pega-o e o coloca em cima da
cama. Abre-o e tira várias de lá. Vê um fundo falso na caixa.
LORENZO - Um fundo falso?!
Lorenzo puxa o pano que esconde o fundo falso, e vê um
revólver.
LORENZO - (cont.) Non
acredito!
Lorenzo pega a caixa e sai correndo do local. CORTA PARA/
CENA
21/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
O comandante em silêncio. Barulho de passos. Lorenzo
entra rapidamente, ofegante.
LORENZO - Foi você... Foi você,
Comandante. Você!
COMANDANTE
– Io?!
O que io fiz?
LORENZO - Por qual motivo non sei,
mas você que atirou contra aquele ragazzo. Você é um assassino... Um assassino,
Comandante.
O comandante se assusta. FOCA em seu rosto empalidecendo.
COMANDANTE
– Como?
Só pode estar maluco. Io non atirei em ninguém.
LORENZO - Io non sou bobo. Soube
ligar direitinho. A mim você non engana.
COMANDANTE
– Essa
arma io tenho por segurança. Mais nada. Nunca a usei.
Lorenzo se aproxima do Comandante, ficando perto do
ouvido.
LORENZO - (sussurra) Io
sei como mexer com uma arma. Sei quando uma arma está fresca, que acabou de ser
usada. Capite?
O comandante engole seco. Lorenzo confiante.
COMANDANTE
– Va
bene... Fui io! Io atirei contra aquele ragazzo. Satisfeito?!
LORENZO - Si. Mas non para por aí,
Comandante. Você non vai sair dessa assim, tão fácil. Terá que me ajudar em
algo.
COMANDANTE
– Pois
diga.
LORENZO - Você terá que me ajudar em
um roubo... Um roubo simples. Quero um colar, um colar de uma ragazza
belíssima. Me parece que tuo nombre é Helena. Quero esse colar. Pode me vale
uma fortuna em Brasil.
COMANDANTE
– Non
posso fazer isso.../
LORENZO - (corta) Caso
o contrário, todos irão saber quem é verdadeiramente o comandante desse navio.
Os dois se encaram. O Comandante preocupado. Lorenzo
alegre. CORTA PARA/
CENA
22/ STOCK-SHOTS/ EXT.
Imagens aéreas de Monte Velho. Uma tempestade se
aproximando. TUDO escuro. Rua deserta. Domingos saindo da mansão de Afonso. CORTA PARA/
CENA
23/ RUA/ DIA./ EXT.
Domingos andando tranquilamente. Homens seguindo-o. Ele
olha para trás. Os homens se escondem atrás de um poste. Os homens correm atrás
dele. Ele percebe e corre também. Domingos cai. O Homem#1 dá uma coronhada na
cabeça dele. O Homem#2 o pega no colo e o coloca em um carro condizente a
época.
HOMEM
#1 – Vamos pela trilha. Só assim não iremos deixar que alguém
o veja. Pela cidade é muito perigoso.
O Homem #2 dirige. O carro segue. CORTA PARA/
CENA
14/ CASA/ DIA/ INT./ SALA.
Uma casa antiga. Domingos amarrado a uma pilastra, com a
boca tampada com um pano, tentando se soltar. BATE NA PORTA. O Homem#1 atende.
Uma pessoa encapuzada de preto entra, fica de frente a Domingos. Tira o capuz.
Maria Tereza. Ela ergue um revólver em direção a ele.
M.
TEREZA - Te
darei apenas uma chance de se salvar.
O Homem#1 tira o pano da boca dele.
DOMINGOS - (grita) Me solta!
M.
TEREZA - Ou
você renuncia a toda a sua fortuna. Renunciar a tudo o que você tem direito, ou
você morre aqui mesmo. Imagine. Ninguém... Ninguém pra sentir a sua falta.
DOMINGOS - Eu não vou renunciar a
nada.
M.
TEREZA - Eu
te dei as opções... Agora a escolha é sua.
Closes alternados. FOCA na feição de preocupação de
Domingos.
EFEITO: Congela
em Domingos, preocupado.
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