segunda-feira, 2 de maio de 2016

Episódio 1: Meia Estrela (ESTREIA)

EPISÓDIO 1: AU REVOIR?


CENA 1: STOCK SHOTS. DIA. EXT. PRAIA DE ICARAÍ, NITERÓI.
Imagens externas da praia de Icaraí, em Niterói (RJ). Há várias pessoas na praia e muitas estão participando de atividades como vôlei de praia e tênis de praia.
SONOPLASTIA: Blecaute – Jota Quest e Anitta
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CENA 2: FACHADA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA, NITERÓI.  DIA. EXT.
A CAM guia os passos de um grupo de pessoas, desviando-se para a fachada do prédio, que está com as paredes sujas, em tom amarelado, e com algumas rachaduras.
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CENA 3: PORTARIA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA, NITERÓI. DIA. INT.
A CAM entra pela porta principal do prédio, na portaria. A mesa do porteiro está vazia. Entra Lorraine D’urrel (aproximadamente 45 anos, alta, cabelo escuro e longo, vestido azul longo e uma bolsa de couro grande).
LORRAINE: Bom jour. (percebe que não há ninguém na portaria) Ah, cadê o porteiro?
A síndica Márcia (aproximadamente 48 anos, baixa com cabelo curto e uma roupa simples) sai do elevador.
MÁRCIA: Lorraine, querida, que bom que veio.
LORRAINE: Esse prédio não tem porteiro?
MÁRCIA: O último se demitiu. Por enquanto estamos sem um.
LORRAINE: Ah sim. Esses pobres não querem trabalhar, né?
MÁRCIA: Pois é.
LORRAINE: Márcia, me tire uma dúvida: por que chamam o prédio de Meia Estrela?
MÁRCIA: Essa gente que não tem o que fazer criou esse nome, porque existem os prédios e hotéis cinco estrelas, e esse não chega nem a uma estrela.
LORRAINE: Ah, sim.
MÁRCIA: Vamos para meu apartamento pra gente conversar sobre o nosso assunto?!
LORRAINE: Claro.
Lorraine e Márcia entram no elevador.
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CENA 4: APARTAMENTO 102, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Sarah (aproximadamente 35 anos, alta e loira) está na cozinha de seu apartamento, onde prepara uma macarronada. Pedro (aproximadamente 9 anos), filho dela, está na sala assistindo a um desenho animado.
PEDRO: Mãe, cadê o papai?
SARAH: Filho, você sabe muito bem que o seu pai é mecânico de aeronaves.
PEDRO: Mas por que ele vive viajando?
SARAH: Os aviões precisam de manutenção e ele mexe nisso, filho.
PEDRO: Ah, eu queria jogar bola com ele.
SARAH: Por que você não vai brincar na quadra do prédio?
PEDRO: Não conheço muita gente, mãe.
SARAH: Filho, você precisa conhecer mais amigos aqui.
Sarah sai da cozinha e vai até seu quarto. Ela pega seu celular no bolso e liga para Flávio.
SARAH (tel.): Tudo bem, amor?
FLÁVIO (tel./off): Tudo, Sarah. Algum problema?
SARAH (tel.): Não, Flávio. Só queria saber como você está.
FLÁVIO (tel./off): Está tudo ótimo aqui na Espanha.
SARAH (tel.): Mas você não ia para a Inglaterra?
FLÁVIO (tel./off): Ah... Eu fui transferido. Me mandaram aqui pra Espanha.
SARAH (tel.): Então traz uma blusa da seleção da Espanha de futebol pro Pedro, para a coleção dele.
FLÁVIO (tel./off): Pode deixar.
SARAH (tel.): Quando você volta?
FLÁVIO (tel/off.): Depois de amanhã. Agora preciso ir. Beijo, Sarah. Amo vocês.
SARAH (tel.): Beijo.
Sarah desliga o telefone.
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CENA 5: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Flávio (aproximadamente 40 anos, alto, magro, cabelo curto) entra no apartamento. Larissa (aproximadamente 36 anos, baixa, morena, cabelo longo), sua esposa, está sentada no sofá pintando as unhas. Os filhos deles, Guta (10 anos, morena, cabelo crespo) e Léo (8 anos, cabelo raspado, moreno) , brincam na sala.
FLÁVIO: Cheguei!
GUTA: (COMEMORANDO) Papai!
Guta e Léo abraçam o pai.
LARISSA: (PARA OS FILHOS) Crianças, vão brincar lá na quadra.
LÉO: Mas a gente quer ficar com o papai.
LARISSA: Desçam! Não me ouviram?
Chateados, Léo e Guta saem do apartamento.
FLÁVIO: Cadê a sua mãe, Larissa?
LARISSA: A velha foi fazer a caminhada dela.
FLÁVIO: Mas e a doença dela?
LARISSA: Não interessa agora. Vamos aproveitar!
Larissa agarra Flávio e eles começam a se beijar. TRAVELLING. Os dois vão para o quarto deles. A porta é fechada.
SONOPLASTIA: Aquele 1% – Marcos e Belutti
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CENA 6: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Márcia e Lorraine D’Urrel entram no apartamento de Márcia. O apartamento é enorme, com uma grande janela de vidro que dá a vista para a praia de Icaraí.
LORRAINE: Que vista bela!
MÁRCIA: É mesmo. (gritando para a empregada) Bozena, traz um café pra gente!
Bozena (aproximadamente 38 anos, ruiva, uniforme preto e branco), a empregada de Márcia, aproxima-se de Lorraine e Márcia.
BOZENA: Oi dona Márcia. O que foi? (vê Lorraine) Oi, quem é tu, querida?
LORRAINE: Sou Lorraine D’Urrel. Sou uma empresária da França.
BOZENA: Lurreine? Tenho uma amiga com esse nome. Aquela ali se perdeu na vida/
LORRAINE: Não é Lurreine. É Lorraine.
BOZENA: Atah.
LORRAINE: Eu irei construir um shopping lindíssimo aqui.
BOZENA: Shopping?
LORRAINE: Sim. Você não sabe o que é shopping, favelada?
BOZENA: Eu sou de Pato Branco. Lá em Pato Branco também tem uma perua igual a você. Mas a gente acha que ela é uma verdadeira mentirosa, como dizem por aí, uma falsiane. Sabe por quê? Ela vive com umas roupas lá metidas à besta, mas é burra que nem uma porta. Daí uma vez ela tava num restaurante lá todo caro, aí ela não sabia nada dos pratos, e das comidas. Aí uma outra vez.../
MÁRCIA: Pelo amor de Deus, Bozena, cala a boca!
LORRAINE: Minha querida, o que é Pato Branco? A favela onde você mora?
BOZENA: Não. Pato Branco é a minha terra, lá no Paraná.
LORRAINE: Ah, você participou de um reality, não é?
BOZENA: Isso, mas aquela gente não era intelectual pra entender minhas histórias/
MÁRCIA: Vamos continuar, Lorraine?!
LORRAINE: Claro.
MÁRCIA: Bozena, sua incompetente, cadê o café?
BOZENA: Ah, esqueci. Vou lá pegar.
Márcia e Lorraine sentam-se no sofá da grande sala de estar do apartamento. Bozena vai à cozinha e volta com duas xícaras de café. Ela coloca a bandeja com as xícaras em cima da mesa de centro da sala. Lorraine bebe o café.
LORRAINE: (CUSPINDO O CAFÉ) Que nojo! O que é isso, minha filha?
BOZENA: Café ué.
MÁRCIA: (EXPERIMENTANDO O CAFÉ) Isso tá horrível, Bozena. Você coou com o que? Com a sua calçola?
BOZENA: Cruz credo, dona Márcia. Desculpa.
Bozena recolhe as xícaras e sai da sala.
MÁRCIA: Desculpa, Lorraine. Realmente a Bozena é um tanto atrapalhada.
LORRAINE: É, essa gentalha... Enfim, eu quero comprar o prédio e pretendo fazer isso logo.
NA COZINHA DA CASA...
Bozena ouve a conversa entre Márcia e Lorraine. A empregada pega seu celular e liga para Dona Dirce, do apartamento 202.
BOZENA (tel.): Oi dona Dirce. É Bozena.
DONA DIRCE (tel./off): Oi querida. O que aconteceu dessa vez?
BOZENA (tel.): A dona Márcia tá com uma perua aqui e elas estão conversando sobre vender o prédio pra essa perua construir um prédio. Essazinha não me engana. Essa história me lembra de uma mulher lá de Pato Branco/
DONA DIRCE (tel./off): Tá, Bozena. Vai ter reunião de condomínio hoje. Vamos esclarecer essa palhaçada.
BOZENA (tel.): Ah, reunião de condomínio... Isso só dava errado num prédio onde em morei lá em/
DONA DIRCE (tel./off): Pato Branco. Já conheço essa história. Obrigada por avisar. Tchau.
Bozena desliga o telefone e volta a ouvir a conversa entre a patroa e Lorraine.
LORRAINE: Mas e os moradores? Você vai falar isso pra eles? Vi lá na portaria que hoje tem reunião.
MÁRCIA: Não, eles não precisam saber disso. Essa gente chata e burra não vai desconfiar nunca.
LORRAINE: Melhor assim, né?
MÁRCIA: Sim.
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CENA 7: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Em seu apartamento, Hortênsia (72 anos, cabelo loiro e curto, com uma camisola longa) bebe um café. Seu filho Lúcio (40 anos, alto, um pouco gordo, cabelo preto) está com uma roupa social e carrega seu jaleco na mão.
LÚCIO: Mamãe, já estou indo trabalhar. Tudo bem?
HORTÊNSIA: Você vai me deixar aqui sozinha, meu filho?
LÚCIO: Sim. A senhora não é uma criança.
HORTÊNSIA: Você vai mesmo me deixar aqui com o nível de criminalidade dessa cidade só subindo?
LÚCIO: Mãe, a senhora está dentro de um prédio.
HORTÊNSIA: E se invadirem aqui?
LÚCIO: Ah, mamãe, não delire, por favor.
HORTÊNSIA: E nem na praia eu posso ir.
LÚCIO: Por quê?
HORTÊNSIA: Esses favelados estão invadindo a nossa praia. Me lembra aquela música do Ultraje a rigor, ‘‘Nós vamos invadir a sua praia’’.
LÚCIO: Mais tarde eu volto. Tenho que passar num hospital que mandei meu currículo. Não está dando para ganhar dinheiro direito naquela clínica falida.
HORTÊNSIA: Espero que hoje essa mulher do 202 não dê mais uma festa. Eles estão dando festa, filho, a semana inteira. E essa festa não é nada boa. Vem um monte de favelado, o cheiro daquele churrasco gorduroso chega aqui na minha janela e têm aquelas músicas horrorosas do filho dela ainda.
LÚCIO: Reclama com a síndica, mamãe.
HORTÊNSIA: Bem lembrado, filho. Hoje tem reunião. Vou aparecer lá e falar isso com aquela anã de jardim da Márcia.
LÚCIO: Se eu não chegar antes, controle-se, mãe.
HORTÊNSIA: Pode deixar.
LÚCIO: E nada de beber, hein?!
HORTÊNSIA: Tá bom. E a inútil da Bozena? Quando aquela carrapata vai aparecer aqui?
LÚCIO: Não sei. Essa semana acho que ela só vem aqui uma vez. Depois você liga pra casa da Márcia e fala com ela.
HORTÊNSIA: Tá bom. Agora vai trabalhar porque a situação tá difícil aqui.
LÚCIO: (ABRAÇANDO HORTÊNSIA) Tchau, mãe.
Lúcio sai do apartamento.
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CENA 8: APARTAMENTO 202, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
O apartamento é pequeno, porém com vários móveis e objetos. Dona Dirce (55 anos, negra e com um turbante colorido na cabeça) está na cozinha. Seu filho mais novo, Nelsinho (26 anos, moreno, cabelo curto), está na sala, com o irmão Genival (35 anos, negro, cabelo curto).
DIRCE: Hoje a gente tem que acabar com as gracinhas dessa síndica. Essa anã de jardim acha que pode vender o prédio pra uma perua sem falar com os moradores?! Que bom que tem reunião hoje.
GENIVAL: Vamos aproveitar e falar dessa Hortênsia, mãe. Essa velha vive jogando coisa pela janela, batendo aqui na porta bêbada.
NELSINHO: Verdade, Genival. Essa velha sempre fica gritando e dando uma de maluca.
DIRCE: Ela é uma desequilibrada. Se aquele filhinho dela tiver lá eu vou falar isso direto pra ele.
NELSINHO: Aquele palhaço vive parando errado na garagem. Toda hora o carro dele ocupa uma parte da minha vaga.
GENIVAL: Mas você tem uma moto, Nelsinho.
NELSINHO: Não interessa, Genival. E quando eu tiver meu Camaro?
GENIVAL: Não sonha.
NELSINHO: Eu ainda vou ser um funkeiro muito famoso. Comecei minha carreira há pouco tempo e já ganhei mais dinheiro que você em anos.
DIRCE: Mas seu irmão nem trabalha, Nelsinho.
NELSINHO: Por isso mesmo, mãe.
GENIVAL: Mas eu vou arrumar um emprego. Fiquei sabendo que aquela dona Vivy, do 706, tá precisando de um encanador. Eu até liguei pra ela e combinei de ir lá hoje.
NELSINHO: E desde quando você é encanador?
GENIVAL: Desde sempre. Sempre cuidei disso quando a gente morava lá no Morro do Cavalão.
NELSINHO: Até parece...
DIRCE: Você não vai dar em cima dessa ricaça não, né, Genival? Te conheço!
GENIVAL: Claro que não, mãe.
DIRCE: Acho bom, porque o namorado dessa mulher é um fortão, que por sinal é uma delícia.
NELSINHO: Que isso, dona Dirce?
DIRCE: Sossega aí, Nelsinho.
NELSINHO: Mãe, o que achou desse verso: ‘‘Vem que vem com o Nelsinho, ele é gato e gostosinho’’?
GENIVAL: Mentiroso.
DIRCE: Adorei, filho. Muito bom! (aplaude)
GENIVAL: Menos, mãe.
DIRCE: Genival, vai lá no apartamento dessa perua logo. Não quero você aqui não. Vaza!
SONOPLASTIA: Malandro é Malandro e Mané é Mané – Bezerra da Silva
Genival sai do apartamento.
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CENA 9: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Márcia e Lorraine continuam conversando. Bozena está abaixada atrás da bancada da cozinha e ouve a conversa das duas.
MÁRCIA: Então, Lorraine, e como fica a minha parte?
LORRAINE: Márcia, minha querida, você terá um cargo muito importante no nosso shopping. Você merece.
MÁRCIA: Esse cargo seria...
LORRAINE: Supervisora de serviços gerais.
MÁRCIA: (RINDO) Muito engraçado.
LORRAINE: Mas é sério.
Bozena ri.
BOZENA: (PARA SI MESMA) Se ferrou, anã dos infernos.
LORRAINE: Brincadeira, Márcia. Ainda veremos isso.
MÁRCIA: Ah, acho bom.
LORRAINE: Agora tenho que ir.
MÁRCIA: Não quer um café?
LORRAINE: Por favor não. Não quero passar mal de novo.
MÁRCIA: Ah, então até mais. Eu vou com você até a porta.
LORRAINE: Ah ok.
MÁRCIA: (PARA BOZENA) Bozena, vem abrir a porta!
Bozena sai da cozinha e vai em direção à porta. Bozena abre a porta.
LORRAINE: Au revoir, Márcia.
MÁRCIA: Tchau.
Bozena fecha a porta.
BOZENA: Dona Márcia, por que eu tive que abrir a porta? Eu não sou porteira.
MÁRCIA: Fica quieta, Bozena.
BOZENA: Olha o respeito. Tenho meus direitos.
MÁRCIA: Aff. Essa ascensão dos suburbanos.
BOZENA: Ah, dona Márcia, não fui com a cara dessa mulher. Ela me lembra uma madrasta que eu tive. Ela era uma safada, traía meu pai sempre/
MÁRCIA: Tá, Bozena, tá.
Márcia entra em seu quarto e Bozena fica na sala.
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CENA 10: APARTAMENTO 706, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Vivy Ferraz (36 anos, loira, alta, com roupa colada no corpo) e seu namorado Patrick (33 anos, forte, alto, cabelo escuro, com barba) estão no sofá da sala do apartamento. Ela está de lingerie e ele veste somente um short preto. Patrick está em cima dela e beija a perua. Genival vê a porta um pouco aberta e entra.
GENIVAL: Dona Vivy!
Patrick viva surpreso com a presença de Genival e sai do sofá.
PATRICK: (PARA VIVY) Quem é esse, Vivy?
VIVY: Ah, Patrick, esse é o Genival. Ele vai mexer naquele problema com o encanamento lá no banheiro.
GENIVAL: Isso. Podem me chamar de Gege.
PATRICK: Então, Genival, você pode voltar depois?
VIVY: Deixa ele, Patrick. Não tem problema não. Sou muito mais você.
GENIVAL: Posso entrar?
VIVY: Sim.
Genival entra e Vivy o leva até o banheiro. Patrick vai junto.
NO BANHEIRO...
VIVY: (APONTANDO PARA UMA PAREDE) Então, é essa parede como eu já tinha te falado.
GENIVAL: Tudo bem. Amanhã eu começo.
VIVY: Ok.
GENIVAL: E o pagamento?
VIVY: Amanhã a gente vê.
GENIVAL: Tá, tudo bem.
VIVY: Até amanhã.
GENIVAL: Até.
Patrick acompanha Genival até a saída. Genival sai e Patrick fecha a porta.
SONOPLASTIA: Cara de rica – Erikka
PATRICK: (PARA VIVY) Vivy, você não está pensando em dar um golpe nesse rapaz, né?
VIVY: Claro que não, Patrick. Não sou de fazer isso.
PATRICK: Até parece. E a herança da sua avó? Acabou mesmo?
VIVY: Sim. Fui no banco ontem e estamos com quase nada.
PATRICK: Ah, senhor.
VIVY: E hoje ainda tem reunião de condomínio. Espero que não tenha aumento na taxa.
PATRICK: Tomara.
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CENA 11: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Flávio e Larissa saem do quarto.
FLÁVIO: Preciso ir, Larissa.
LARISSA: Mas já, Flávio?
FLÁVIO: Sim. Eu falei pro meu chefe que ia no banco resolver uns problemas.
LARISSA: Quando você volta para ficar mais tempo?
FLÁVIO: Acho que em dois dias.
LARISSA: Que bom. As crianças sentem a sua falta.
FLÁVIO: Vou falar com eles agora. Tenho que ir mesmo.
Flávio beija Larissa e sai do apartamento.
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CENA 12: QUADRA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Guta e Léo estão brincando de futebol com outras crianças. Flávio entra na quadra.
FLÁVIO: Crianças, tenho que ir.
GUTA: Você não vai ficar não, papai?
FLÁVIO: Eu tenho que voltar mesmo, mas daqui a alguns dias eu estou de volta.
LÉO: Aí a gente vai poder pescar?
FLÁVIO: Sim.
GUTA: E brincar de casinha?
FLÁVIO: Também. Beijo, meus filhos.
Flávio beija os filhos e sai da quadra.
FLÁVIO: (PARA SI MESMO) Agora tenho que comprar uma blusa da Espanha.
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CENA 13: APARTAMENTO 102, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Pedro está olhando a janela. Ele olha Flávio saindo da entrada do prédio.
PEDRO: Mãe, o papai tá saindo do prédio!
SARAH: Ah? Seu pai, Pedro? Ele está na Espanha.
PEDRO: Vem ver.
Sarah aproxima-se da janela, porém Flávio já saiu do lugar onde estava.
SARAH: (OLHANDO PARA A ENTRADA DO PRÉDIO) Filho, ele não está ali. Não delira, Pedro. Deve ser alguém parecido.
PEDRO: Mas era ele.
SARAH: Tá bom, Pedro, tá. Hoje tem reunião de condomínio. Vou chamar a Bozena pra ficar com você.
PEDRO: Mas eu já sou grande.
SARAH: Enfim, vou ligar pra ela.
Sarah pega seu celular e liga para Bozena.
SARAH (tel.): Bozena?
BOZENA (tel./off): Dona Sarah?
SARAH (tel.): Oi, Bozena. Hoje vai ter reunião de condomínio, né? Então eu preciso que você fique com o Pedrinho.
BOZENA (tel./off): Tudo bem. Já que a senhora vai na reunião, eu tenho uma coisa pra contar. A dona Márcia recebeu uma francesa aqui cheia da grana que quer demolir o prédio e construir um shopping sem falar pros moradores.
SARAH (tel.): Que cadela! Temos que desmascarar essa palhaça.
BOZENA (tel./off): Eu já liguei pra outros moradores e já contei tudo também. Eu também tô pensando em ligar pra essa francesa e falar pra ela aparecer aqui mais tarde, inventando que a dona Márcia quer conversar com ela. Mas o problema é que eu não tenho o número dela.
SARAH (tel.): Ótima ideia. Mas qual o nome dela?
BOZENA (tel./off): Lurreine do rei. Alguma coisa assim.
SARAH (tel.): Lorraine D’Urrel?
BOZENA (tel./off): Você conhece essa mulher?
SARAH (tel.): Ela é muito rica e foi a capa de uma revista recentemente.
BOZENA (tel./off): Mas não fui com a cara dela. Aquela cara de azeda.
SARAH (tel.): Enfim, Bozena, eu vou arrumar o número dela e te mando por mensagem. E te espero aqui mais tarde pra ficar com o Pedro.
BOZENA (tel./off): Obrigada, dona Sarah. Tá, não vou esquecer.
Sarah desliga.
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CENA 14: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Bozena recebe a mensagem de Sarah. A empregada percebe que Márcia deixou seu celular em cima da mesa e liga através dele para Lorraine.
LORRAINE: (tel./off) Alô? Márcia?
BOZENA: (tel.) Lurreine do Rei? É Bozena.
LORRAINE: (tel./off) Já falei que Lorraine D’Urrel. Mas, enfim, o que você quer comigo, peste?
BOZENA: (tel.) É que a dona Márcia pediu pra te ligar e te chamar para uma conversa hoje à noite no salão de eventos do condomínio sobre o shopping.
LORRAINE: (tel./off) E a reunião com os moradores que teria?
BOZENA: (tel.) Ela cancelou. Não entendi. Dona Márcia dá umas de maluca às vezes.
LORRAINE: (tel./off) Ah, tudo bem. Que horas?
BOZENA: (tel.) Sete e meia da noite.
LORRAINE: (tel./off) Sorte que minha agenda está vazia. Algo raro.
Bozena desliga e coloca o telefone de Márcia no mesmo lugar de antes.
BOZENA (PARA SI MESMA): Essa mulher é mesmo uma burra.
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CENA 15: STOCK SHOTS. NOITE. EXT. PRAIA DE ICARAÍ, NITERÓI.
Imagens externas da praia de Icaraí, em Niterói (RJ). Já está de noite e algumas pessoas praticam atividades na praia.
SONOPLASTIA: The Rhythm of the night – Corona
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CENA 16: APARTAMENTO 102, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Bozena entra no apartamento.
BOZENA: Cheguei, dona Sarah.
Sarah chega à sala de estar pronta para a reunião de condomínio.
SARAH: Oi Bozena. Já vou subir então. A Márcia desconfiou de algo?
BOZENA: Não, nem a francesa lá do rei. Será que ela é fã do Roberto Carlos, por isso o ‘‘do rei’’?
SARAH: É D’Urrel, mas, enfim, já estou indo. Cuida do Pedro. Obrigada.
BOZENA: Tchau. Arrebenta, dona Sarah.
Sarah sai do apartamento.
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CENA 17: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Neide (80 anos, cabelo curto e loiro, com um vestido florido) entra no apartamento, carregando várias sacolas.
LARISSA: Isso são horas de chegar, mãe? A senhora saiu pra uma caminhada de manhã e só volta agora?!
NEIDE: Larissa, minha filha, não precisa de tudo isso. Eu só aproveitei e fui fazer umas comprinhas.
LARISSA: Mas a senhora não passou mal não, mãe?
NEIDE: Não.
LARISSA: Vou te levar no médico de novo. Preciso entender direito essa doença.
NEIDE: Tá bem, mas você não vai à reunião?
LARISSA: Sim, vou subir agora. Não saia daqui. As crianças já comeram.
NEIDE: Tá bom.
Larissa sai do apartamento.
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CENA 18: SALA DE EVENTOS DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
A sala de eventos já está repleta de cadeiras enfileiradas para a reunião de condomínio. Márcia, a síndica, já está sentada em sua mesa, em frente às cadeiras. Os moradores vão entrando. Sarah, Larissa, Dirce, Nelsinho, Genival, Vivy e Patrick são alguns dos que aparecem.
MÁRCIA: Podemos começar nossa reunião?
TODOS: Sim.
MÁRCIA: Pois bem, gostaria de avisar que a nossa de taxa de condomínio agora subiu 10%, iniciando no próximo mês.
DIRCE: Por quê?
MÁRCIA: Para suprirmos melhor os serviços.
DIRCE: Mas aqui não tem nem porteiro.
LARISSA: E sem falar na imundice que encontramos nos corredores e na quadra.
MÁRCIA: Mas cada morador pode limpar seu corredor.
DIRCE: Você limpa o seu?
MÁRCIA: Não.
DIRCE: Então fecha essa boca PP.
MÁRCIA: Vamos fazer uma votação. Quem concorda com o aumento da taxa, levante a mão.
Nenhum morador levanta a mão.
MÁRCIA: Próximo tópico: reforma externa do prédio. Para a reforma, cada apartamento deverá contribuir com uma taxa.
DIRCE: Que é de...
MÁRCIA: Dois mil reais.
LARISSA: Isso é uma reforma do nosso prédio ou a reconstrução das Torres Gêmeas?
MÁRCIA: Podemos negociar uma taxa menor. Mil e quinhentos.
Hortênsia entra na sala. Ela está claramente bêbada, segura duas garrafas de uísque e começa a dançar.
HORTÊNSIA: Que palhaçada é essa aqui?
MÁRCIA: Ah, vai começar.
HORTÊNSIA: Vamos pra parte boa, pouca sombra. Esse bando de favelado do 202 vive fazendo umas festas horrendas. Aquele cheiro de churrasco cheio de gordura chega na minha janela, impregna meus sofás, além, claro, das músicas péssimas, desse projeto de MC que é filho dela.
DIRCE: Oh, sua velha, então também vou falar de você. Você vive mamada no uísque, começa a jogar um monte de coisa pela janela, inclusive garrafas de uísque e anda pelo prédio igual uma louca e às vezes praticamente nua.
HORTÊNSIA: Olha, pra começar, velha é a senhora sua mãe. E quem vive mamada é você, mas na cerveja. Até pra isso tem espírito de pobre.
DIRCE: Cadê o seu filho, aquele sem noção?
NELSINHO: Esse tal de Lúcio vive parando uma parte da lata velha dele na minha vaga.
MÁRCIA: Mas, vocês do 202, não têm só uma moto?
NELSINHO: Sim, mas eu ainda vou comprar o meu Camaro.
Hortênsia ri.
HORTÊNSIA: Ah, esses pobres...
MÁRCIA: Vou dar a minha decisão. Vocês do 202 não podem colocar som alto depois das dez horas da noite. E você, dona Hortênsia, contenha-se quando enche a cara.
Hortênsia joga a garrafa de uísque no lado de Márcia, que se assusta.
MÁRCIA: Enfim, vamos continuar...
Lorraine entra na sala.
LORRAINE: Márcia, você não tinha cancelado a reunião de condomínio?
MÁRCIA: Não. O que você está fazendo aqui?
SARAH: (levanta-se da cadeira) Gente, precisamos nos unir contra essas duas picaretas. Essa que chegou é Lorraine, uma empresária francesa famosa, mas essas duas querem demolir o prédio e colocar um shopping aqui. E o pior de tudo: sem falar com ninguém.
LARISSA: (levanta-se da cadeira) Que safadas!
DIRCE: Agora, chaveirinho, explica isso aí.
MÁRCIA: Bem, isso é mentira. Essa Sarah é uma desequilibrada.
SARAH: Não é mentira não. Agora pode esclarecendo aí. Ninguém vai sair daqui até vocês nos explicarem.
VIVY: Isso mesmo. Explica logo, Márcia.
MÁRCIA: Bem... Corre, Lorraine.
Márcia e Lorraine correm. Hortênsia acerta a sua outra garrafa em Lorraine, que cai, causando a queda de Márcia também.
LORRAINE: Bem, Márcia, esse povo cafona não quer um shopping aqui, então preciso ir.
MÁRCIA: Mas, Lorraine.../
LORRAINE: Não insista, Márcia.
Lorraine e Márcia se levantam. Lorraine sai da sala de reuniões. Os moradores aplaudem.
MÁRCIA: Vocês são mesmo uns sem graça. Não querem um shopping aqui. Declaro encerrada nossa reunião.
Todos se levantam e vão saindo da sala.
Corta para:

CENA 19: FACHADA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. EXT.
Lorraine está à espera de um táxi. Bozena, que está no apartamento de Sarah, que tem vista para a entrada do prédio, joga um balde de água gelada em cima de Lorraine.
LORRAINE: Quem fez isso?
Lorraine olha para cima e vê Bozena, acenando.
LORRAINE: Essa gentalha... Au revoir, Meia Estrela.

FIM DO EPISÓDIO

Escrito por
Vitor Abou

Revisão de texto do episódio
Ramon Fernandes

Rynaldo Nascimento

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