CENA 01. APTO ROGÉRIO. INT.
NOITE.
Continuação do capítulo anterior. Depois de
esfaquear Rogério, Felipe se levanta lentamente, cansado. A faca, pingando
sangue, ele atira sobre a mesa. Felipe se senta no sofá e fica a observar com
frieza, Rogério, morto no chão. Felipe permanece por um instante, frio, calado,
sem esboçar qualquer tipo de reação. Aos poucos, começa a abrir um pequeno
sorrido debochado. Felipe sorri como se estivesse feliz. Ele se levanta do
sofá, se aproxima do corpo de Rogério. Novamente sua expressão fica séria. Ele
se ajoelha próximo ao corpo e começa a alisar o rosto do cadáver.
FELIPE:
- Agora eu percebo que você realmente nunca me entendeu. As coisas poderiam não
ter sido assim, se você tivesse colaborado comigo direitinho. Mas você não
colaborou, Rogério! Você quis fazer tudo do seu jeito, tudo ao modo e, por uma
ilusão sua de que eu aceitaria tudo isso sorrindo, acabou sendo traído pela sua
medíocre inteligência. Pela sua podre intuição. Pelo seu gênio de bosta.
Felipe ri.
FELIPE:
- Você achava mesmo que eu gostava de ficar aqui com você? Que eu gostava de
beijar a sua boca? Você achava mesmo que eu gostava disso?
Felipe fica sério novamente.
FELIPE:
- Te confesso que, por um instante, por um momento, eu gostei sim... Você tem
um corpo bonito, um belo porte. Um belo homem! Mas é cafajeste, Rogério! Você é
cafajeste! Não sabe dar valor para aquilo que tem nas mãos!... Você me jogou
fora por caprichos! Puros caprichos seus, machistas, de dominadores, donos da
situação. Mas no meu jogo, o dono sou eu! Eu! Somente eu e mais ninguém! Eu dou
as cartas, eu controlo tudo! Eu! Sempre foi e sempre vai ser assim! Eu vou
dominar! Eu vou comandar, mandar e desmandar, eu! Só eu...
Felipe se deita ao lado do cadáver e
encosta seu rosto no dele.
FELIPE:
- Eu gostei de você. Mas você não entendeu as regras... Algumas vezes você foi
frio comigo. Frio tal qual você está agora. Gélido, pálido. É uma pena que
tenha que ser assim, viu? Mas não se preocupe, tudo isso vai passar e você vai
ser feliz. O inferno pode não ser tão ruim o quanto dizem...
Felipe se levanta e percebe que há manchas
de sangue em sua roupa.
FELIPE:
- E mesmo depois de morto, você insiste em deixar a sua marca!... Agora é
sangue... Vou ter que pegar uma camisa sua emprestada. Mas não tem problema,
não é? Acho que você não vai usar mais nada daqui nem de qualquer outro lugar.
Felipe se afasta, indo até o quarto de
Rogério.
CENA 02. APTO SÉRGIO. SALA.
INT. NOITE
Sérgio está na sala, andando de um lado a
outro. Algumas vezes tentando ouvir através das paredes.
SÉRGIO:
- Não consigo ouvir nada... Mas me parecia uma briga.
Sérgio pensa em abrir a porta, mas se
contém.
SÉRGIO:
- Tenho que tentar manter a calma, pode ter sido nada de mais...
De repente, Sérgio escuta um barulho de
porta se abrindo. Ele decide observar pelo olho mágico da porta do seu
apartamento. Sérgio observa Felipe saindo do apartamento de Rogério, arrumando
a camisa e indo embora rapidamente.
SÉRGIO
(surpreso): - O Felipe?! Aqui no prédio?!
Sérgio espia novamente, mas não vê mais
nada. Ele vagarosamente abre a porta de seu apartamento, mas não há mais
ninguém no corredor. Rapidamente ele fecha a porta, temendo que alguém o veja.
SÉRGIO:
- Mas o Felipe aqui?... Aí tem coisa.
CENA 03. PETRÓPOLIS. SALA DE
MASSAGEM. INT. NOITE.
Na sala de massagem do hotel, Leandro
relaxa enquanto uma massagista o atende. A sala está praticamente vazia, apenas
com Leandro e a massagista. De repente, Mônica entra no local, enrolada numa
toalha e deita-se na esteira ao lado de Leandro.
MASSAGISTA:
- Agora o senhor aguarda um pouco e relaxa. Daqui a pouco eu retorno para
continuar a sessão.
A massagista sai da sala. Mônica aproveita
para se aproximar de Leandro e começa a fazer uma massagem nele.
LEANDRO:
- Nossa... Que rápido esse intervalo, hein!... Mas não tem problema, a massagem
é ótima, relaxante mesmo.
Mônica continua a massagear Leandro, um pouco
mais intensamente.
LEANDRO:
- Mas essa massagem está bem agradável, viu? Você tem mãos de ouro.
Mônica sobe nas costas de Leandro e começa a
massageá-lo mais.
LEANDRO:
- Não sabia que vocês faziam massagens assim também... Tão prazerosas...
MÔNICA:
- É a minha especialidade. Massagem afrodisíaca.
LEANDRO
(surpreso): - Massagem afrodisíaca?!
MÔNICA:
- Sim... E vai levar o senhor pro céu!
LEANDRO:
- Mônica! O que você está fazendo aqui! Saia de cima de mim! Alguém pode entrar
aqui a qualquer momento!
MÔNICA:
- O senhor tem certeza que quer que eu saia? Olha que pelo o que eu já conheço,
a situação aí em baixo deve estar quente...
LEANDRO:
- A situação vai ficar quente se a minha mulher inventa de entrar aqui e nos
flagrar nessa situação?
MÔNICA:
- Que situação? Eu estou complemente normal, agora você parece bem
animadinho... E outra, sua mulher não vem não. Eu passei por ela e ela estava
entrando no seu quarto, com uma cara de sono...
LEANDRO:
- Desça de cima de mim, agora! Vamos!
MÔNICA:
- Calma! Calma!
Mônica sai de cima de Leandro, que
rapidamente se vira e pega uma almofadinha para cobrir “as partes íntimas”.
LEANDRO:
- Você definitivamente ficou louca, não é? Me seguir até aqui!
MÔNICA:
- Fazer o quê se você é irresistível!
Mônica vai até a porta e tranca a sala.
LEANDRO:
- O que você está fazendo?
MÔNICA:
- Estou dando mais privacidade pra gente. Você ouviu a massagista, não ouviu?
Você precisa relaxar... E eu sei um jeito bem gostoso de fazer você relaxar...
Mônica agarra Leandro, que não resiste e os
dois começam um tremendo amasso na sala de massagem.
CENA 04. RODOVIÁRIA PRAIA
REAL. INT. NOITE.
Imagens da rodoviária de Praia Real.
Movimentação de pessoas é grande. Ônibus chegando, outros partindo. Em um dos
terminais de desembarque, um ônibus para e os passageiros começam a
desembarcar. Entre esses passageiros, desembarca Heraldo, que se encontra
satisfeito em estar em
Praia Real.
CENA 05. TRANSIÇÃO DO TEMPO.
AMANHECER / ORLA DOS PESCADORES. EXT. DIA.
Imagens de Praia Real ao amanhecer. O sol
nascendo, imagens das gaivotas sobrevoando o mar... as pessoas já fazem
exercícios no calçadão, a praia já recebe os banhistas. Corta para a orla da
prainha, onde Joaquim está pescando, concentrado. Enquanto aguarda fisgar um
peixe, ele percebe que alguém se aproxima. Joaquim vira-se para ver quem é e
encontra Petrônio, que também traz sua vara de pescar e a maleta de acessórios.
PETRÔNIO:
- Posso sentar aqui do seu lado?
JOAQUIM:
- Tem bastante espaço do lado de lá da orla. Não precisa ficar aqui do meu lado
não.
PETRÔNIO:
- Mas eu gostaria de sentar ao seu lado. Não vim em guerra, vim pela paz.
Joaquim fica quieto. Petrônio senta-se ao
lado de Joaquim.
PETRÔNIO:
- Sabe que, quando eu era jovem, costumava vir aqui pescar com meu pai. Ele era
um pescador nato, todos os dias ele estava aqui, pescando... E pegava peixes
grandes, bonitos. Eu já não tinha a mesma sorte que ele. Às vezes saía daqui
sem pegar peixe algum. Mas depois, com o tempo, eu aprendi a pegar peixe e
desde então, não saio de uma pescaria de mãos vazias.
JOAQUIM:
- Nossa, que história mais linda, Petrônio. Por que não escreve um livro,
falando sobre isso?
PETRÔNIO:
- Ora, deixe de ser carrancudo, Joaquim!
JOAQUIM:
- Eu, carrancudo? Você chega aqui e atrapalha toda minha concentração na
pescaria para falar de suas histórias da idade da pedra, de quando você era
jovem! Faça-me o favor!...
PETRÔNIO:
- A verdade é que você nunca se perdoou... Nem mesmo tendo a Matilde aos seus
braços.
JOAQUIM:
- O que você está querendo dizer? Quem não deveria ter se perdoado é você, que
perdeu ela pra mim.
PETRÔNIO:
- Você sabe, Joaquim. Você nunca conseguiu dar para a Matilde uma vida digna
como você sempre quis. E comigo ela tinha e era muito feliz.
JOAQUIM:
- Mas ela é feliz comigo, Petrônio. Tanto é, que te deixou para ficar comigo.
Até hoje!... Isso prova que o nosso amor, o amor que eu tenho pela Matilde e
pela minha família resiste a tudo e a todos.
PETRÔNIO:
- Família? Você falando em família?... E sua filha, onde está agora? Aquela que
você expulsou de casa, acusando de ser uma moça da vida fácil...
JOAQUIM:
- Não ouse tocar nesse assunto que não te diz respeito!
PETRÔNIO:
- Era família, Joaquim. Você tinha uma família, mas que por orgulho, você mesmo
destruiu.
JOAQUIM:
- Eu ainda tenho uma família, Petrônio. Muito unida e feliz. E se Deus quiser,
seremos muito mais felizes ainda, com a
vinda do meu bisneto.
PETRÔNIO:
- Bisneto?
JOAQUIM:
- Sim, eu serei bisavô.
PETRÔNIO:
- Bisavô é avô duas vezes. Está preparado?
JOAQUIM:
- Estou... Confesso que é uma sensação diferente, o moleque ainda nem nasceu,
mas eu estou preparado sim.
PETRÔNIO:
- Será um menino?
JOAQUIM:
- Estou torcendo pra que seja.
PETRÔNIO:
- Quando minha filha, Helena, engravidou, eu também torci muito para que viesse
um menino. E fui atendido! Hoje o Matheus está aí, um rapaz feito.
JOAQUIM:
- É, o tempo passa... A Rúbia ontem era uma criança, hoje é uma mulher e logo
mais será mãe... As coisas mudam...
PETRÔNIO:
- Mudam mesmo. Quem diria que nós hoje estaríamos aqui, conversando sobre
família, netos, juntos, lado a lado...
Os dois se olham.
JOAQUIM:
- Nós éramos amigos, Petrônio.
PETRÔNIO:
- Do futebol, das brincadeiras, da escola, da marinha...
JOAQUIM:
- da marinha não porque eu não entrei, mas você conseguiu e com êxito. Fez uma
carreira brilhante.
PETRÔNIO:
- E você ficou a jóia mais preciosa desse mundo: a Matilde.
JOAQUIM:
- Coisas do coração. Ela fez a escolha dela.
PETRÔNIO:
- E nós também fizemos a nossa, de nos afastarmos por isso.
JOAQUIM:
- Será, Petrônio, que foi realmente preciso?
PETRÔNIO:
- Não sei. Nós nunca paramos para pensar sobre isso!
Os dois riem.
JOAQUIM:
- É duro afirmar, mas, eu acho que talvez não fosse preciso não.
Petrônio e Joaquim se levantam. Os dois
ficam frente a frente. Joaquim estende a mão à Petrônio, que retribui o gesto
com um largo sorriso.
PETRÔNIO:
- Seu carrancudo!
JOAQUIM:
- Velho lobo do mar!...
CENA 06. CASA TOMÁS. SALA DE
JANTAR. INT. DIA.
Patrícia e Cristina conversam.
CRISTINA
(fazendo anotações): - Chegaram as novas peças da Glória Colombo na boutique.
PATRÍCIA:
- Sério mãe? Que tudo! Eu quero uma pra mim! Uma não, várias! É tudo muito
lindo!
CRISTINA:
- São roupas lindas mesmo. Mas ainda não estão na lista de vendas. Quero que
sua tia volte de viagem para que possamos selecionar o material.
PATRÍCIA:
- Você está dando conta direitinho da boutique, mãe.
CRISTINA:
- Claro que estou! Sou dona também. Não sei porque o espanto nisso.
PATRÍCIA:
- Não estou espantada não... Falei só por falar.
CRISTINA:
- Na verdade, eu também estou aprendendo muito, porque estou lidando mais com a
parte financeira, que é a área da Vera. Mas estou dando conta do recado.
PATRÍCIA:
- E está feliz também, pelo o que eu estou vendo.
CRISTINA:
- Estou muito feliz! Muito feliz!...
PATRÍCIA:
- Ai mãe, eu também estou radiante! A Rúbia me convidou para ir com ela para
São Paulo comprar o enxoval do bebê e também algumas coisas do casamento!
CRISTINA:
- Que maravilha filha! Que bacana!
PATRÍCIA:
- Sim! E vamos só nós duas. O César não vai poder ir por causa dos cuidados com
o projeto ambiental.
CRISTINA:
- E quando vocês vão?
PATRÍCIA:
- Nos próximos dias. Vai ser muito bom isso mãe. Faz tempo que nós não viajamos
juntas.
CRISTINA:
- Vai ser bom sim. Tanto para você, sair um pouco, quanto para ela.
PATRÍCIA:
- Falando em sair, o papai saiu cedo hoje, não é?
CRISTINA:
- E põe cedo nisso. Quando eu acordei, ele já não estava na cama.
CENA 07. CLÍNICA
PSIQUIÁTRICA. INT. DIA.
Tomás caminha pelos corredores da clínica
até encontrar a sala de espera. Ele senta no sofá, espera um instante. Logo é
chamado para entrar num dos consultórios. Tomás entra e se encontra com uma das
médicas do local.
DRA.
MARÍLIA: - Bom dia! Eu sou a doutora Marília. Você é o Tomás, não é?
TOMÁS:
- Sou eu sim.
DRA.
MARÍLIA: - Fique a vontade.
Os dois sentam, se acomodam.
DRA.
MARÍLIA: - Então Tomás, o que traz você aqui na nossa clínica?
TOMÁS:
- Eu pretendo esclarecer algumas dúvidas e também procurar salvar a minha vida
e o meu casamento.
DRA.
MARÍLIA: - Mas o problema é com você?
TOMÁS;
- Não, é com a minha esposa...
DRA.
MARÍLIA: - E o que exatamente está ocorrendo?
Tomás começa a conversar com a doutora.
CENA 08. BEST FISH. SALA DE
REUNIÕES. INT. DIA.
Alberto se reúne com César, Fredy e Lílian.
ALBERTO:
- Bom, eu estive conversando com o perito responsável pelas análises do
incêndio, ele disse que no máximo amanhã, me dá uma resposta sobre as causas do
incêndio.
CÉSAR:
- Menos mal... eu estou pilhado com isso!
LÍLIAN:
- Não adianta ficar assim, césar. Nessas horas o que se deve fazer é esperar
mesmo.
ALBERTO:
- A Lílian tem razão, meu filho.
FREDY:
- Senhor Alberto, eu fiz um relatório daquilo que pode ser constatado como
prejuízo total do incêndio.
Fredy entrega o relatório para Alberto, que
analisa atentamente.
ALBERTO:
- Foi uma perda alta.
FREDY;
- Realmente foi mesmo.
LÍLIAN:
- O que mais me deixa triste não é nem o valor material. Nós perdemos também os
animais que nós cuidávamos lá...
CÉSAR:
- As aves, todas morreram.
ALBERTO:
- Mas sobre a estrutura material, nós podemos, dentro de um determinado tempo,
construir novamente, um novo espaço.
FREDY:
- Mas não sairá muito caro para a empresa, senhor Alberto? Porque nós tínhamos
a nossa disposição equipamentos caros, importados...
ALBERTO:
- O projeto ambiental faz parte da política de responsabilidade social e
ambiental da empresa, Fredy. Não abriremos mão de tê-lo funcionando novamente,
pode ter certeza.
LÍLIAN:
- Bom, sendo assim, será preciso elaborar um novo projeto arquitetônico, tudo
novamente.
CÉSAR:
- É mesmo... Já podemos pensar nisso, em como pode ser o novo projeto e até
estudar novos meios de proteger o local contra esse tipo de acidente, enfim.
ALBERTO;
- Boa idéia, meu filho.
Os quatro continuam discutindo sobre o
assunto.
CENA 09. CASA PETRÔNIO.
QUARTO MATHEUS. INT. DIA.
Matheus está no quarto, deitado na cama,
com o pensamento longe, quando Helena entra no local rapidamente, carregando
umas roupas nas mãos.
MATHEUS:
- O que você está fazendo com as minhas roupas, mãe?
Helena atira as roupas no chão.
HELENA:
- Suas roupas estavam com areia e cheiro de mulher vadia...
MATHEUS:
- O que você está dizendo?
HELENA:
- Você saiu naquela noite, não disse nada pra ninguém... Aí chega, com as roupas
cheias de areia, e um perfume imundo... Você passou a noite com aquela vadia,
Matheus?
MATHEUS:
- Eu não passei a noite com vadia nenhuma! Eu estive foi com a Alice.
HELENA:
- E então, não foi com uma vadia?! Essa Alice é uma biscate de primeira que
está tirando o seu senso de raciocínio, meu filho!
MATHEUS:
- Mãe, para com isso! Não quero que você fale assim da Alice! Eu a amo e não
vou deixar que nada nem ninguém faça mal à ela!
HELENA:
- Acorda Matheus! Você é um rapazinho ainda, não sabe o que quer da vida...
Você precisa conhecer gente melhor, gente importante!
MATHEUS:
- Gente importante pra quem? Só se for pra você, que só se interessa por quem
tem dinheiro.
HELENA;
- Já falei para você não falar assim comigo!
MATHEUS:
- Você vem até aqui e me diz um monte de desaforos e quer que eu fique calado?
HELENA:
- Eu sou sua mãe! Tenho o direito de dizer o que penso e você tem que ouvir!
MATHEUS:
- Mas você não tem o direito de me ofender e ofender a pessoa que eu amo! Esse
direito você não tem!
HELENA:
- Você já está desrespeitando a sua própria mãe... Isso só pode ser coisa
daquela ladra, vagabunda.
MATHEUS
(gritando): - Não fala assim dela!
HELENA
(gritando): - Eu falo daquela desgraçada como eu bem entender!
CENA 10. CASA PETRÔNIO. SALA
DE ESTAR. INT. DIA.
Samantha, na sala de estar, fica preocupada
com a discussão entre Matheus e Helena. Nesse instante, Petrônio chega.
PETRÔNIO:
- O que foi Samantha? Está assustada...
SAMANTHA:
- Estou mesmo! A Helena e o Matheus estão discutindo novamente. E desta vez é
pra valer.
PETRÔNIO:
- Minha Nossa Senhora. Eu vou até lá em cima ver o que está acontecendo.
Petrônio sobe as escadas em direção ao
segundo andar, enquanto Samantha continua apreensiva, na sala.
CENA 11. CASA PETRÔNIO.
QUARTO MATHEUS. INT. DIA.
Matheus e Helena continuam a discutir.
MATHEUS:
- Você não enxerga que isso que você faz e que você diz só está nos afastando?
HELENA:
- E você não enxerga que o que está nos afastando é essa menina, Matheus! Antes
dela, tudo era perfeito, era lindo!
MATHEUS:
- Não, mãe... Antes dela, eu não tinha nenhuma visão de vida, de nada... Hoje
eu tenho. Hoje eu tenho vontade de sair pela rua, de pensar na minha vida, no
meu futuro, ao lado dela.
HELENA:
- Com uma penca de filhos pra criar e um par de chifres na cabeça, porque é
isso que ela vai fazer! Ela vai fazer um filho atrás do outro em você pra viver
da pensão e da maravilhosa condição de vida que nós temos, de todo o nosso
dinheiro, da nossa riqueza!
MATHEUS:
- Está vendo? Você está mais se importando com o seu dinheiro do que com a
minha felicidade. A minha felicidade não está no dinheiro, mãe! Está no amor e
na vida que eu pretendo seguir daqui pra frente!
HELENA:
- Que vida, Matheus? Uma vida desgraçada ao lado de uma vagabunda de beira da
praia?!
Nesse instante, Petrônio entra no quarto.
PETRÔNIO:
- Meu Deus do céu! Os gritos de vocês dá pra ouvir lá de baixo! Onde já se viu
isso, mãe e filho discutindo desse jeito?
MATHEUS:
- Eu cansei vovô... Não tem como conversar com a mamãe, não tem.
HELENA:
- Eu só estou tentando fazer com que você não coloque seu futuro brilhante no
lixo, com uma qualquer.
MATHEUS:
- Ela não é uma qualquer!
HELENA:
- Ah não? E é o que então? Aposto que nem uma casa descente ela tem...
PETRÔNIO:
- Helena, chega! Você também Matheus! Vamos parar com essa discussão que não
levará em nada. Esse
assunto termina aqui. Vamos Helena, vamos descer.
HELENA:
- Mas eu...
PETRÔNIO
(interrompendo): - Vamos descer, agora.
HELENA:
- Nós ainda conversaremos, Matheus.
Helena e Petrônio saem. Matheus permanece
no quarto, pensativo.
CENA 12. CASA PETRÔNIO. SALA
DE ESTAR. INT. DIA.
Helena e Petrônio estão descendo as escadas
quando encontram Samantha e Bento conversando na sala.
HELENA:
- Bento, você aqui dentro?
BENTO:
- Desculpa, dona Helena, mas eu ouvi os gritos, resolvi entrar para ver se
precisavam de ajuda.
HELENA:
- Não precisamos de ajuda nenhuma. Pode sair.
BENTO:
- Claro.
SAMANTHA:
- Obrigada pela companhia, Bento.
BENTO:
- Não há o que agradecer. Com licença.
Bento se retira. Helena troca olhares com
Petrônio.
HELENA:
- Eu já disse para ficar atento...
SAMANTHA:
- Atento com o que?
HELENA;
- Com o Matheus, ficar mais de olho nesse menino...
Petrônio disfarça, mas entendeu a indireta
de Helena.
SAMANTHA:
- O Matheus não é mais menino, Helena. Ele já tem 20 anos.
HELENA:
- Olha Samantha, esse assunto é para eu e meu filho resolvermos, ok? Eu
dispenso a sua preocupação.
SAMANTHA:
- E você, meu bem, como estava a pescaria?
PETRÔNIO:
- Foi bem proveitosa. Reencontrei o Joaquim, e conversamos bastante...
CENA 13. CLÍNICA MÉDICA.
LABORATÓRIO. INT. DIA.
Imagens de Henrique e Silvana realizando
uma série de exames, testes de fertilidade, num laboratório.
CENA 14. CASA BRENDA. SALA.
INT. DIA.
Matilde e Joaquim conversam.
MATILDE:
- E a pescaria, Joaquim, como foi?
JOAQUIM:
- Foi boa até... Fazia tempo que não pescava assim, fora do mar... Mas a maior
você não sabe.
MATILDE:
- O que foi?
JOAQUIM:
- Encontrei o Petrônio lá também.
MATILDE:
- Ai, meu Jesus! E vocês brigaram novamente...
JOAQUIM:
- Aí é que você se engana. Sentamos, conversamos, falamos sobre diversas
coisas... Sobre família, netos, o passado, sobre você.
MATILDE:
- Não me diga que tudo isso aconteceu na mais bela paz?
JOAQUIM:
- Em perfeita harmonia. Acho que reencontrei meu velho amigo novamente, Matilde.
MATILDE:
- Que coisa boa, meu amor!
Os dois se abraçam felizes.
CENA 15. CASA ALBERTO. SALA
DE ESTAR. INT. DIA.
O telefone na casa de Alberto. Tânia entra
na sala e atende a ligação.
TÂNIA:
- Alô?
(T)
TÂNIA:
- Quem está falando?
Nesse instante, Olga entra na sala. Tânia
reconhece a voz e disfarça.
TÂNIA:
- Helena! Como vai?
(T)
TÂNIA:
- Quanto tempo mesmo, não é?
Olga permanece parada próxima a Tânia.
TÂNIA:
- Só um momento, Helena. (à Olga) O que você quer plantada aí, não está vendo
que eu estou falando com minha amiga no telefone?
OLGA:-
Desculpe, dona Tânia.
TÂNIA:
- Saia logo, quero continuar a minha conversa com a Helena. Vamos, vai!
Olga se retira. Tânia aguarda para se
certificar de que ninguém vai ouvir a conversa.
TÂNIA:
- Tive que fingir para ninguém desconfiar.
(T)
TÂNIA:
- Então você já está em
Praia Real.. .
(T)
TÂNIA:
- Hoje à noite?
(T)
TÂNIA:
- E onde nos encontraremos?
(T)
TÂNIA:
- Sim, sei onde fica...
(T)
TÂNIA:
- Tudo bem, estarei lá no horário combinado.
Tânia
desliga o telefone e fica pensativa.
CENA 16. BEST FISH. SALA
FELIPE / MARINA. INT. DIA.
Marina e Felipe estão na sala, trabalhando.
MARINA:
- Será que o papai continua em reunião com o pessoal do projeto ambiental?
FELIPE:
- Acho que sim. Eles tinham coisas importantes para resolver.
MARINA:
- Eu precisava falar com ele... Mas acho que você pode me ajudar, Felipe.
FELIPE:
- E o que você precisa?
MARINA:
- Eu gostaria de ver o relatório geral da empresa, sobre a nossa atual situação
financeira, após o contrato firmado com os norte-americanos.
FELIPE
(apreensivo): - Mas pra quê você precisa disso?
MARINA:
- Quero saber, acompanhar, estar por dentro daquilo que está acontecendo com a
empresa, como ela está financeiramente, até para estudar novos negócios e
propor isso ao meu pai.
FELIPE:
- Mas a empresa está ótima, Marina. Fizemos negócios muito bons, não há com o
que se preocupar.
MARINA:
- Felipe, por acaso você está querendo ocultar as informações de mim?
FELIPE:
- Eu não quero ocultar nada de ninguém. Eu gosto de trabalho transparente.
MARINA:
- Mas então por quê tanta recusa em me mostrar esse relatório, em abrir para
mim a situação da empresa hoje?
FELIPE:
- Porque esse é o meu trabalho e não gosto de intromissões nele, só isso. Essa
parte financeira é de minha responsabilidade e eu cuido dela sozinho.
MARINA:
- Mas eu fui contratada para trabalhar com você, te auxiliar nisso também.
FELIPE:
- Você está me auxiliando e muito não se envolvendo nessa parte. Eu já havia
dito para você outro dia... Isso é complicado, a Best Fish é uma empresa
mundial, é preciso ter experiência para controlar isso aqui e você ainda não
está no nível exato para isso, entende?
MARINA:
- Não, eu não entendo...
FELIPE:
- Questão de tempo, Marina. Com o tempo, você vai entender. Agora, deixa isso
pra lá e vamos retomar as nossas atividades, ok?
MARINA:
- Tudo bem.
Marina volta a fazer o seu serviço, enquanto
Felipe respira mais aliviado por ter conseguido enganar a moça.
CENA 17. CLÍNICA
PSIQUIÁTRICA. CONSULTÓRIO. INT. DIA.
Tomás e Dra. Marília conversam no
consultório.
DRA.
MARÍLIA: - Essa foi a última crise dela?
TOMÁS:
- Que eu me lembre sim... Depois houveram outras situações, como uma distração
exagerada, sabe? Perdendo a concentração rapidamente, ou então, que foi o
último fato mesmo, fico até com vergonha de falar isso...
DRA.
MARÍLIA: - Não precisa ter vergonha, Tomás. Estou aqui para ajudar. Pode dizer,
não tem problema.
TOMÁS:
- Bem, ela estava com uma compulsão sexual, um desejo insaciável.
DRA.
MARÍLIA: - Libido elevada mais do que o normal...
TOMÁS:
- Isso mesmo. Mas, no outro dia, para ela, foi como se nada tivesse acontecido.
A nossa noite de amor, não teve a mínima importância... Ela parece estar
vivendo uma montanha russa de emoções, de sensibilidade, algo que eu não
consigo entender porquê.
DRA.
MARÍLIA: - Tomás, pelo o que você me relatou aqui, na nossa conversa, a sua
esposa, Cristina, pode estar sofrendo daquilo que chamamos de TBH, transtorno
bipolar de humor.
TOMÁS:
- Transtorno bipolar de humor?
DRA.
MARÍLIA: - Isso mesmo... esse tipo de transtorno psicológico é caracterizado
por oscilações ou mudanças periódicas no estado de humor da pessoa. E essas
mudanças podem ser da alegria à tristeza, ou pode até mesmo atingir estados
clínicos um pouco mais graves, como a depressão.
TOMÁS:
- E por que isso ocorre doutora? Qual a causa desse transtorno?
DRA.
MARÍLIA: - Ainda não há causas concretas para a ocorrência dessa doença, mas
acredita-se que pode ser fortemente influenciada pela genética, fatores
biológicos ligados aos sistema neurológico da pessoa. E há muitos casos de
ocorrência em mulheres nessa mesma faixa etária da sua esposa, entre 45 e 50
anos.
TOMÁS:
- E os sintomas são esses mesmos que eu relatei para você?
DRA.
MARÍLIA: - Sim, o que você me relatou pode ser considerado como sintoma da
doença. Aumento da irritabilidade, do impulso sexual, facilidade em se
distrair, otimismo exagerado, excesso de alegria, euforia, perda de interesse
em atividades habitualmente interessantes...
TOMÁS:
- Nossa, é muita coisa.
DRA.
MARÍLIA: - O transtorno bipolar de humor pode se manifestar de diversas formas
e isso faz com que a doença, nem sempre, seja bem observada. Por exemplo, a
pessoa pode sentir-se mais triste, deprimida pela manhã e com o passar do dia,
ficar totalmente eufórica, ou vice-versa.
TOMÁS:
- Isso já aconteceu com a Cristina, diversas vezes.
DRA.
MARÍLIA: - O transtorno bipolar de humor caracteriza-se também por fases, que
podem ir das mais leves oscilações de humor até as mais fortes, chegando até
aos pensamentos de suicídio.
TOMÁS:
- Meu Deus, isso nunca!
DRA.
MARÍLIA: - Calma, Tomás, não precisa ficar com medo. Mas é importante você
saber para poder ajudar a sua esposa num futuro tratamento.
TOMÁS:
- A senhora me ajuda, doutora?
DRA.
MARÍLIA: - Pode contar comigo sim.
CENA 18. RESTAURANTE
MARESIA. SALÃO. INT. DIA.
O movimento no restaurante é baixo. Brenda,
Alice e Guto arrumam as mesas, enquanto Joaquim organiza o balcão do caixa. De
repente, para a surpresa de todos, Rúbia chega no local.
RÚBIA:
- Olá pessoal! Sentiram a minha falta?
Todos vibram.
JOAQUIM:
- Rúbia, meu amor!
RÚBIA:
- Então vovô, não vai me dar um abraço?
Joaquim abraça Rúbia, emocionado.
JOAQUIM:
- Como você está linda!
RÚBIA:
- Obrigada!... E vocês, como estão?
GUTO:
- Todos bem, graças a Deus!
ALICE:
- E você Rúbia, como vai na casa nova?
RÚBIA:
- Vivendo muito bem, Alice. Me tratam muito bem lá, estou tomando todos os
cuidados da gravidez e sendo amada plenamente pelo César!
Rúbia encara Brenda.
RÚBIA:
- E você, minha irmã, como está?
BRENDA:
- Estou bem, Rúbia. Levando a minha vida.
RÚBIA:
- Pelo visto sem muitas emoções...
BRENDA:
- Pelo contrário. Estou muito feliz, plenamente feliz. (olhando para Guto)
RÚBIA:
- Hum... Percebi que tem coisa no ar...
BRENDA:
- Tem sim, muito amor, muito carinho, muita verdade.
RÚBIA:
- E a vovó, onde está?
JOAQUIM:
- Está lá dentro... Matilde! Matilde! Vem cá ver quem está aqui!
Matilde sai de dentro da cozinha e entra no
salão.
MATILDE:
- Rúbia, minha filha!
Matilde e Rúbia se abraçam.
MATILDE:
- Como você está, meu bem?
RÚBIA:
- Estou ótima vovó, melhor impossível.
GUTO:
- E o bebê, já sabe se é menino ou menina?
RÚBIA:
- Ainda não sei Guto, mas em breve saberei, depois que eu voltar da viagem.
BRENDA:
- Viagem?
RÚBIA:
- Sim. Eu vim até aqui avisá-los que daqui a alguns dias, eu estarei viajando
para São Paulo para comprar algumas peças para o enxoval do bebê e também para
o meu casamento.
MATILDE:
- Que coisa boa, Rúbia!
JOAQUIM:
- E o César vai com você?
RÚBIA:
- Ele não vai poder ir não vovô, com essa história do projeto ambiental, ele
vai ficar por aqui para poder tratar de tudo. Eu vou com a Patrícia para a
viagem.
BRENDA:
- É mesmo... Esse incêndio no projeto ambiental foi horroroso. O César deve
estar arrasado.
RÚBIA:
- Ele ficou triste sim, mas já está melhor.
ALICE:
- São Paulo... É uma cidade enorme e tem muita coisa bonita lá.
RÚBIA:
- São Paulo é tudo! Se der tempo, eu compro umas lembrancinhas para vocês.
JOAQUIM:
- Que bom Rúbia que você veio nos visitar. Eu estava com muita saudade de você.
RÚBIA:
- Eu também estava com saudades de vocês, vovô. Mas a visita foi rápida, porque
eu já tenho que ir embora.
MATILDE:
- Mas já? Que rápido mesmo!
JOAQUIM:
- Por que não fica mais um pouco, Rúbia?
RÚBIA:
- Não posso, vovô... Tenho que passar no médico ainda para pedir uma pequena
licença para viajar. O senhor Alberto é todo cheio de cuidados comigo. Pediu o
aval do médico para me liberar para a viagem, acredita?
GUTO:
- Faz bem ele. Você ainda está nos primeiros meses de gravidez, sofreu aquele
acidente... É bom estar preparada.
RÚBIA:
- Eu estou preparadíssima! Agora gente, eu preciso ir embora, mesmo!
Rúbia começa a se despedir dos seus
familiares. Ela abraça Brenda.
RÚBIA
(cochichando): - Foi bom ver você, irmãzinha. Mas olha só, não se anima muito
com a minha viagem não, pensando que vai ficar com o caminho livre para o César
porque eu não vou demorar muito, ok?
BRENDA:
- Que ideia maluca. Não se preocupe...
RÚBIA:
- Foi só um aviso, já que você adora pegar o que é meu.
As duas se afastam. Rúbia se despede e vai
embora.
CENA 19. RESTAURANTE
MARESIA. EXT. DIA.
Rúbia se aproxima de Charles, que estava
esperando do lado de fora do carro.
RÚBIA:
- Vamos até o meu médico, Charles.
CHARLES:
- Claro, dona Rúbia.
Charles abre a porta para Rúbia entrar no
carro. Ela entra. Ele em seguida entra no carro e os dois vão embora.
CENA 20. PASSAGEM DO TEMPO.
ENTARDECER / CASA ALBERTO. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Imagens gerais da cidade ao entardecer.
Corta para casa de Alberto. Alberto chega em casa, acompanhado de Felipe,
Marina e César. Olga vai recebê-los na sala.
OLGA:
- Que coisa boa! Chegaram mais cedo hoje!
MARINA:
- Isso mesmo Olga.
CÉSAR:
- Bom, eu vou subir, tomar um banho...
OLGA:
- Ah, César, a Rúbia não está em
casa. Ela disse que ia visitar os avós, mas vem jantar em
casa.
CÉSAR:
- Certo Olga, obrigado.
FELIPE:
- Também vou subir. Esses sapatos estão me matando.
César e Felipe sobem as escadas.
ALBERTO:
- Eu também estou subindo, para meu banho.
MARINA:
- Eu te acompanho papai.
ALBERTO:
- E Tânia Olga, está em casa?
OLGA:
- Não está não, senhor Alberto. Ela saiu, disse que ia visitar uma amiga, uma
tal de Helena.
ALBERTO:
- Faz tempo isso?
OLGA:
- Não faz muito tempo não. Mas ela não disse se voltaria para jantar.
ALBERTO:
- Bom, ela e a Helena fazem tempo que não se vêem, talvez até jantem juntas...
Mesmo assim, coloque o prato dela na mesa também.
OLGA:
- Pode deixar.
Marina e Alberto sobem as escadas.
CENA 21. TRANSIÇÃO DO TEMPO.
ANOITECER / RESTAURANTE CENTRO DA CIDADE. INT. NOITE.
Imagens de Praia Real ao anoitecer. Imagens
da cidade já à noite. Corta para a fachada de um restaurante do centro da
cidade. Dentro do local, Heraldo está sentado em uma mesa quando Tânia se
aproxima e para bem à sua frente. Heraldo se levanta. Os dois ficam frente a
frente, olho no olho.
TÂNIA:
- E eu rezando para que isso não fosse verdade...
HERALDO:
- Mas é a mais pura verdade, Tânia. Eu voltei. E como diz a música, “eu voltei,
voltei para ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar”.
TÂNIA:
- Sempre desse mesmo jeito cafajeste, malandro de sempre.
HERALDO:
- E você também, sempre desse jeito, nariz empinado, se achando a tal...
Os dois ficam a se encarar.
HERALDO:
- Senta.
Os dois se sentam.
HERALDO:
- Me acompanha no wiski?
TÂNIA:
- Não, não quero beber nada não. Quero logo saber o que dei na sua cabeça em
voltar pra cá?
HERALDO:
- Já vi que você não quer saber de rodeios...
TÂNIA:
- Você sabe muito bem que eu não sou mulher de rodeios... Então, vai me dizer o
porquê da sua volta ou não?
Os dois ficam a se encarar.
CENA 22. CASA ALBERTO. EXT.
NOITE.
Charles estaciona o carro em frente a casa
de Alberto.
CHARLES:
- Eu preciso ir buscar minha esposa no emprego.
RÚBIA:
- Não tem problema Charles, pode ir. Obrigada.
Rúbia desce do carro e vai para dentro de
casa. Charles segue para a imobiliária.
CENA 23. IMOBILIÁRIA. EXT. NOITE.
Charles chega com o carro e estaciona em
frente a imobiliária. Ele buzina. O local está aparentemente fechado. Ele
espera por alguns minutos, mas Clarisse não aparece. Charles decide entrar na
imobiliária.
CENA 24. IMOBILIÁRIA. SALA
DIOGO. INT. NOITE.
Diogo e Clarisse conversam.
DIOGO:
- Os cartazes com a campanha de preservação da área da reserva ficaram muito
bons, Clarisse. Parabéns.
CLARISSE:
- Obrigada, mas eu não fiz tudo isso sozinha não. Os outros funcionários
colaboraram bastante.
DIOGO:
- É isso que eu gosto em você. É linda, educada, generosa e sabe reconhecer o
talento das pessoas...
Diogo se aproxima de Clarisse. Nesse instante,
Charles entra na sala.
CHARLES:
- Clarisse!
CLARISSE
(surpresa): - Charles?!
CHALRES:
- Vamos embora agora! (puxando Clarisse pelo braço)
DIOGO
(tentando impedir Charles): - Ei, o que você pensa que está fazendo?
Charles dá um soco em Diogo, que cai no chão.
CLARISSE:
- Charles, não!
CHARLES:
- Vamos embora, Clarisse! Vamos embora daqui!
Charles leva Clarisse à força da sala,
enquanto Diogo tenta se levantar.
CENA 25. IMOBILIÁRIA. EXT.
NOITE.
Diogo e Clarisse saem às pressas da
imobiliária.
CLARISSE:
- Pra que ter feito isso com o Diogo, Charles?
CHARLES:
- Você deveria era me agradecer por não ter dado uma surra daquelas naquele
infeliz. Agora fica quieta e vamos embora!
Charles abre a porta do carro e empurra
Clarisse para dentro do veículo. Ele bate a porta, entra no carro e arranca,
rapidamente. Logo em seguida, Diogo sai da imobiliária correndo, tentando
conter os dois, mas não consegue.
CENA 26. CASA
ALBERTO. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.
Marina entra no escritório e encontra César
vendo alguns livros e arquivos.
MARINA:
- A mesa já está posta.
CÉSAR:
- Já estou indo, Marina, obrigada.
MARINA:
- O que você está fazendo aí?
CÉSAR:
- Estava vendo esses meus livros de biologia quando encontrei esses arquivos,
que são cópias de relatórios do projeto ambiental. Nem sabia que estavam
guardadas aqui.
MARINA:
- Nossa, que coisa boa!
CÉSAR:
- Isso é ótimo. É um documento importante para a reestruturação.
MARINA:
- Falando em relatório, hoje aconteceu uma coisa muito estranha.
CÉSAR:
- O que?
MARINA:
- Eu pedi para o Felipe um relatório geral sobre a situação financeira da
empresa e ele simplesmente me negou o documento.
CÉSAR:
- Como assim? Ele disse não, simplesmente não?
MARINA:
- Não, não foi bem assim, mas ele enrolou, disse que isso era serviço dele, que
eu não precisaria me preocupar nem me envolver, porque ele não gosta de
intromissões, enfim... Inventou mil desculpas... Me parecia querer me deixar
afastada disso, sabe? Como se estivesse escondendo algo que eu não pudesse
saber.
CÉSAR:
- Você acha que ele faria mesmo isso?
MARINA:
- O Felipe é muito estranho, César. É meu primo, mas eu não sinceramente, não
consigo entender nada sobre ele. Ele mais me parece uma pessoa estranha do que
um parente.
CÉSAR:
- Tem razão. As vezes o Felipe é muito estranho, tem comportamentos
diferentes... Mas talvez essa história do relatório não seja nada de mais. Vai
ver ele só não quis te empurrar mais coisas no serviço, já que você ainda é
nova lá dentro, ainda está conhecendo alguns processos...
MARINA:
- É, ele falou isso também, disse que é questão de experiência... Mas sei lá,
isso me deixou intrigada.
CÉSAR:
- Não esquenta não... Olha só isso aqui, o número de espécies de aves
catalogadas na região da Pedra Lisa, do outro lado de Praia Real, olha só! Tem
tudo aqui!
MARINA:
- Que maravilha!... Nossa, quanta ave!
Os dois seguem vendo os arquivos.
CENA 27. CASA HENRIQUE. SALA
DE ESTAR. INT. NOITE.
Henrique e Silvana estão jantando. Silvana
está quieta. Henrique percebe que ela não está muito contente.
HENRIQUE:
- Aconteceu alguma coisa, meu amor?
SILVANA;
- Não aconteceu nada não querido.
HENRIQUE:
- Você não me engana, meu amor... Está aí com essa carinha triste, pra baixo...
Não quer mesmo me contar o que está acontecendo?
SILVANA:
- Ai, Henrique... Eu estou com medo.
HENRIQUE:
- Medo do que?
SILVANA:
- Medo de não poder ter filhos. Medo de não engravidar, de não poder realizar o
seu sonho de ser pai... Estou com muito medo disso.
Henrique se levanta e abraça Silvana.
HENRIQUE:
- Silvana, não há o que temer!... Vai dar tudo certo, você vai ver.
SILVANA:
- Você vai continuar me amando, mesmo eu não sendo fértil?
HENRIQUE:
- Claro que vou, querida! Claro que sim!
SILVANA:
- Eu tenho muito medo de te perder, Henrique. Muito medo!
HENRIQUE:
- Você não me perder, Silvana. A gente se ama. Nós não vamos nos separar. Não
há o que temer.
Os dois se abraçam. Silvana emocionada,
Henrique a consolando.
CENA 28. CASSINO
CLANDESTINO. INT. NOITE.
Imagens do cassino clandestino. Várias
pessoas freqüentam o local. Traficantes, malandros, mulheres sensuais. Entre as
opções de jogo, máquinas caça-níqueis, roleta e outros jogos de azar. Virgínia
e Carvalho estão observando uma das rodadas da roleta.
APOSTADOR:
- Eu quero número 20.
A mesa de apostas está cheia, valendo uma grande
quantia de dinheiro. O croupier gira a roleta. Todos em volta ficam na
expectativa. E a bolinha cai no número 20.
APOSTADOR
(eufórico): - Eu ganhei!
O apostador vibra, ganhando das mãos do
croupier todas as fichas da mesa.
CROUPIER:
- Pode trocar as fichas lá no balcão do fundo pelo seu dinheiro.
O apostar sai feliz. Virgínia e Carvalho
ficam maravilhados.
VIRGÍNIA:
- E aí, vamos apostar? Já comprou as fichas?
CARVALHO:
- Comprei...
VIRGÍNIA:
- E quantas fichas você comprou?
CARVALHO:
- Cinco.
VIRGÍNIA:
- Só cinco? Nossa, tão pouco...
CARVALHO:
- Foi o deu pra comprar, com aquele troco que sobrou... E aí, vamos?
VIRGÍNIA:
- Claro! Hoje eu to sentindo que a sorte está do meu lado!
Os dois vão até uma máquina caça-níquel e
apostam. Já na primeira jogada, conseguem ganhar.
CARVALHO:
- Mas que maravilha!
VIRGÍNIA:
- Não disse que eu estava com sorte! Vamos de novo! Isso aqui é uma beleza!
Os dois se animam e continuam a opostas, sem
perceber que estão sendo vistos por um grupo de “seguranças do lugar”, que
cercam o chefão do cassino.
CENA 29. APTO SÉRGIO. INT.
NOITE.
Sérgio está inquieto em seu apartamento.
SÉRGIO:
- Eu preciso saber o que o Felipe fazia aqui no prédio ontem à noite...
CENA 30. APTO ROGÉRIO. SALA.
INT. NOITE.
Alguém bate à porta do apartamento. Nada
acontece. De repente, a porta se abre. Sérgio entra vagarosamente.
SÉRGIO:
- Tem alguém casa? Estou entrando...
Ele vê a faca com sangue sobre a mesa da sala
e fica apreensivo.
SÉRGIO:
- O que será que aconteceu aqui?...
Ele caminha até o meio da sala e encontra o
corpo de Rogério no chão, totalmente ensangüentado das facadas.
SÉRGIO
(surpreso): - Oh, meu Deus!
Sérgio fica surpreso ao encontrar Rogério
morto.
FIM DO CAPÍTULO
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