sábado, 27 de junho de 2015

Capítulo 28: Mar da Vida


CENA 01. CASA BRENDA. QUARTO ALICE. INT. NOITE.

     Continuação do capítulo anterior. Alice confirma a gravidez para Brenda. As duas se olham apreensivas. Alice começa a chorar. Brenda tenta acalmá-la.

BRENDA: - Calma Alice! Fica calma!
ALICE: - Como eu posso manter a calma, Brenda? Eu estou grávida! Grávida! O que eu vou fazer agora?
BRENDA: - Mas você viu o resultado direitinho? Olhou certo a cor?
ALICE: - Olhei, fiz tudo como estava escrito aí... Deu positivo. Eu estou grávida mesmo.

     Alice chora. Brenda abraça a amiga.

CENA 02. CASA HENRIQUE. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

     Henrique chega em casa e encontra Silvana chorando.

HENRIQUE: - Silvana? O que foi?

Ela não responde. Apenas aponta para os exames que estão no chão. Henrique pega os papéis. Ele lê os exames e descobre que Silvana não pode ter filhos.

HENRIQUE: - Ô, meu Deus... Meu amor...
SILVANA: - Sou eu, Henrique... Eu sou estéril. Eu não vou poder te dar um filho, Henrique. Não vou.
HENRIQUE: - Calma, meu bem, não fica assim...
SILVANA: - E agora? O que vai da minha vida? Da nossa vida?
HENRIQUE: - Nós vamos continuar como sempre foi, Silvana. Vai ficar tudo bem.
SILVANA: - Nós nunca poderemos ser uma família, como eu sonhei, como você sempre quis... Papai, mamãe e filho. Nunca vamos ser assim, Henrique... Nunca!

     Henrique abraça Silvana, que chora.

SILVANA: - Isso não poderia ter acontecido. Não poderia. Por quê? Por que isso comigo? Por que com a gente?
HENRIQUE: - Não fique assim, Silvana. As coisas vão se resolver. Nós seremos felizes, com ou sem filhos...
SILVANA: - Eu tive medo disso, Henrique. Muito medo.

     Silvana vira-se para Henrique. Fica a encará-lo.

SILVANA: - Eu sempre tive medo disso, de não poder te dar um filho, de você me deixar por eu não ser uma mãe...
HENRIQUE: - Que bobagem, meu bem...
SILVANA: - Promete pra mim? Promete que você não vai me deixar? Promete que não vai procurar outra mulher para ser a mãe do seu filho?
HENRIQUE: - Silvana...
SILVANA (chorando): - Promete pra mim? Por favor!
HENRIQUE (abraçando Silvana): - Prometo, meu bem. Eu prometo... Agora fique calma...

     Henrique consola Silvana.




CENA 03. CASA SÔNIA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

     Adriano e Sônia conversam. Ele fica surpreso com a revelação de Sônia.

ADRIANO: - Você tem uma filha?
SÔNIA: - Sim, eu tenho.
ADRIANO: - Mas, por que você nunca me falou? Por que nunca me disse nada?
SÔNIA: - É uma história longa, Adriano, do meu passado, um momento triste na minha vida.
ADRIANO: - Mesmo assim, Sônia! Eu sou seu marido, você não tinha o direito de esconder uma coisa dessas de mim.
SÔNIA: - Eu sei, mas eu iria te contar! Eu ia falar para você...
ADRIANO: - Quando?! No dia da minha morte, é isso?
SÔNIA: - Não fale assim, Adriano!

     Adriano, atônito, anda de um lado a outro na sala.

ADRIANO: - Desculpa. Me desculpa... Me conta direito essa história.
SÔNIA: - Faz mais de vinte anos. Eu morava aqui em Praia Real. Eu conheci um rapaz e nós namoramos. Eu fui extremamente apaixonada por ele. Fazia loucuras para ficar com ele, fugia de casa, enfrentei meus pais... Aí eu fiquei grávida, no mesmo tempo em que ele recebeu uma proposta de trabalho magnífica fora do Estado. Ele foi embora sem eu poder dizer que estava grávida.
ADRIANO: - E seus pais, o que fizeram?
SÔNIA: - Quando eu falei para eles, foi o momento mais difícil da minha vida. Meu pai disse que eu era uma prostituta. Na época, eu tinha uma amiga que era. A Cláudia, coitada... Ela não tinha nenhuma perspectiva de vida. Mas eu tinha! Tinha estudo, tinha ambições... Depois que minha filha nasceu, meu pai me expulsou de casa. Disse que não iria me sustentar, mas que cuidaria da menina, que não tinha culpa dos erros dos pais.
ADRIANO: - E então você foi embora daqui...
SÔNIA: - Fui. Minha mãe me deu uns trocados, da economia que ela tinha e me ajudou para ir ao Rio de Janeiro. Lá, eu trabalhei de garçonete, vendedora, recepcionista. Conheci pessoas maravilhosas que me estenderam a mão, me ajudaram nos estudos até que eu pudesse me sustentar sozinha. E aí, depois de anos vivendo lá, eu perdi contato com a minha mãe. E nunca mais soube de nada de Praia Real. Fiz minha vida, recomecei. E aí conheci você, por quem eu me apaixonei e dediquei todo o meu amor.
ADRIANO: - Por isso que você estava evitando vir para Praia Real...
SÔNIA: - Sim! Eu estava com medo de rever minha família, de enfrentar toda essa história... É um peso grande no peito tudo isso.
ADRIANO: - Mas por que você está me falando tudo isso agora? Você reencontrou alguém?
SÔNIA: - Sim. Eu encontrei minha mãe. Minha linda mãezinha.
ADRIANO: - E sua filha? Você já a viu? Ela sabe de você?
SÔNIA: - Não. Para ela, eu morri num acidente de carro. Eu e o pai dela.
ADRIANO: - E ele? Você tem notícias do pai da sua filha?

Sônia fica em silêncio. Adriano a encara.

ADRIANO: - Então, Sônia? Você sabe alguma coisa sobre o pai da sua filha?
SÔNIA: - Sei.
ADRIANO: - Então...?
SÔNIA: - O pai da minha filha, Adriano, é o Henrique.

Adriano fica sem reação diante das revelações de Sônia.

CENA 04. CASA ALBERTO. QUARTO CÉSAR. INT. NOITE.

     Rúbia arruma as malas para a viagem. Ela separa as roupas, arruma na mala. César entra no quarto.

CÉSAR: - Nossa, quanta roupa! Parece que vai passar um ano fora!
RÚBIA: - Deixa de ser bobo, César. Só estou levando coisas básicas. Eu não iria ser louca de ficar um ano longe de você! Até parece que eu vou ficar lá em São Paulo e você aqui, livre, leve e solto para as outras ficarem de olho.
CÉSAR (fazendo graça): - Hum... Ciumenta então?...
RÚBIA: - É como diz um famoso ditado: quem guarda, tem.
CÉSAR: - Ah é? Nunca ouvi falar nesse ditado não.
RÚBIA: - Mas é bom ficar com ele na cabeça. Eu estou te guardando, só pra mim...

     Os dois se beijam.

CÉSAR: - Só pra você? Pra mais ninguém, não abre nem uma exceção?
RÚBIA: - Só para mim, para mais nenhuma garota, sem exceções... Nem para a Brenda.

     César fica sério.

RÚBIA: - O que foi? Ficou sério assim, de repente.
CÉSAR: - Ah, só achei que você não deveria ter falado isso.
RÚBIA: - Falado o que? Eu só falei o nome da Brenda, só isso.
CÉSAR: - Então, não precisa lembrar.
RÚBIA: - César, desencana disso! Eu já superei a traição, eu sei que foi ela quem se atirou pra você, não precisa ficar com essa cara de cão abandonado por causa disso...
CÉSAR: - Tudo bem.
RÚBIA: - Eu só queria entender uma coisa. Como você conseguiu ficar com ela, hein? Ela não tem nenhum atrativo! A Brenda é um bicho do mato total! Não se veste direito, sempre aquele jeitinho meiguinho, carinhosinho, ai! Me dá nos nervos sabia?
CÉSAR: - Cada um tem seu jeito, Rúbia.
RÚBIA: - Mas bem que uns poderiam dar um “up” na vida, não é? A Brenda é uma que se continuar assim, lerda, vai ficar pra sempre, enterrada lá na prainha, naquele fim de mundo.
CÉSAR: - Eu vou descer... (saindo)
RÚBIA: - Por favor! Me avisa quando o jantar estiver servido?
CÉSAR: - Aviso sim.

     César sai e Rúbia continua a arrumar as malas.

CENA 05. CASA PETRÔNIO. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

     Todos jantam na mesa, Petrônio, Samantha, Matheus e Helena.

PETRÔNIO: - Então, como foi seu dia hoje, meu filho?
MATHEUS: - Foi bom, vovô. Andei pela praia, contemplei esse mar lindo de Praia Real.
SAMANTHA: - Que belo programa, Matheus! Realmente, temos uma paisagem natural exuberante aqui na cidade.
HELENA: - É... É mesmo muito bom você passear, arejar a cabeça, ir se despedindo aos poucos de Praia Real, porque logo você vai estar em Londres, e lá, não tem calor não... É neve!
MATHEUS: - Lá vem você com essa história novamente.
PETRÔNIO: - Ei, calma aí vocês dois! Não vão começar a discutir novamente! Estamos na mesa, momento de respeito.
HELENA: - Não se preocupe, papai, nós não vamos discutir. Eu apenas lembrei o Matheus de que ele terá uma vida nova daqui a alguns dias e que ele precisa se dar conta disso.
MATHEUS: - Mas eu já falei pra você que eu não vou para a Europa!
HELENA: - E eu já falei pra você e falo novamente que você vai ir sim e ponto final.
SAMANTHA: - Gente, sem brigas, por favor...
MATHEUS: - Eu vou pro meu quarto.

Matheus se levanta da mesa.

HELENA: - Não vai terminar seu jantar?
MATHEUS: - Impossível fazer uma boa refeição com você, mamãe. Realmente impossível.

Matheus sai.

HELENA: - Vocês viram só como ele me trata? Vocês viram bem?
SAMANTHA: - Mas você também provoca, Helena. O garoto estava quieto, na dele...
HELENA: - Eu não provoquei ninguém! Que mania vocês têm de colocar a culpa das coisas nas minhas costas! Eu apenas falei da ida dele para a Inglaterra, que é algo praticamente certo.
PETRÔNIO: - Mas que você sabe muito bem que ele não deseja ir.
HELENA: - Mas papai, será a melhor coisa que eu já fiz para que ele tenha um futuro brilhante na vida!
PETRÔNIO: - Ou será para você poder dizer para suas amigas que tem um filho estudando na Europa?

Helena fica séria olhando para Petrônio.

PETRÔNIO: - Não queira satisfazer os seus desejos em cima do seu filho, Helena. Isso não seria a melhor coisa para ele, nem para você.

Petrônio sai da mesa.

SAMANTHA: - Pensa bem no que seu pai falou, Helena.
HELENA: - Vai ver se estou na esquina, Samantha. Ninguém aqui pediu a sua opinião.

Samantha sai da mesa. Helena fica sozinha na sala.

CENA 06. APTO VERA. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

     Vera, Leandro e Sabrina jantam.

VERA: - Sabrina, minha filha, você mal tocou na comida.
LEANDRO: - Está com algum problema? Aconteceu alguma coisa?
SABRINA: - Na verdade, tem uma coisa me agoniando sim...
VERA: - O que foi então?
SABRINA: - Quero saber até quando eu vou ficar de castigo?

Vera e Leandro riem.

SABRINA: - Gente, é sério! Vocês estão me tratando como criança, sabia? Me colocando de castigo... Poxa, eu sei que eu errei, mas isso já é um pouco demais, vocês não acham?
LEANDRO: - Eu não acho não... E você meu amor?
VERA: - Eu também não vejo nenhum problema... E quem disse pra você que castigo é coisa de criança?
SABRINA: - E não é?
VERA: - Claro que não, Sabrina.

Sabrina fica entristecida. Vera e Leandro trocam olhares.

LEANDRO: - Tudo bem, Sabrina, você não está mais de castigo.
SABRINA (animada): - Sério mesmo?!
LEANDRO: - Sério.

Sabrina, feliz, abraça Leandro fortemente, enchendo ele de beijos. Depois abraça e beija Vera também, na mesma intensidade.

SABRINA: - Vocês são os melhores pais do mundo!
VERA: - Ah, nós somos? Viu que beleza, Leandro!
LEANDRO: - Vi sim...
SABRINAS: - Que coisa boa! Eu vou lá dentro, trocar de roupa e ir na casa da Bia. Ela está reunindo as meninas lá, pra colocar conversa fora, vai fazer um jantar e tudo...
LEANDRO: - Ei, espera aí!
SABRINA; - O que foi?
LEANDRO: - O seu castigo termina amanhã.
SABRINA: - Como assim pai?! Ah, fala sério!
LEANDRO: - Mas eu estou falando sério... amanhã você está liberada. Hoje, ainda vale a ordem de reclusão.
SABRINA: - Ordem, reclusão... Parece um presídio, isso sim...

     Sabrina sai, chateada.

VERA: - Ai, Leandro, me deu uma peninha dela agora...
LEANDRO: - Não se preocupa, Vera, ela não vai tentar suicídio.
VERA: - Ai, credo, Leandro! Vira essa boca pra lá...
LEANDRO: - Sua filha não é louca não.
VERA: - Sei disso... Aliás, por falar em loucura, você acredita que a Cristina armou o maior escândalo na boutique hoje? Na frente de clientes e tudo...
LEANDRO: - Vera, não é de hoje que eu falo que a sua irmã precisa se tratar... Isso não é normal;
VERA: - Eu sei... eu nunca tinha visto ela tão irritada assim! Ela discutiu ferozmente com a Zoraide, por causa de um manequim, acredita?
LEANDRO: - Depois do vexame que ela deu naquela festa da companhia de navegação, eu acredito em qualquer coisa.
VERA: - Eu pedi para ela ir embora e depois avisei o Tomás sobre o que aconteceu... Coitada da minha irmã... E do Tomás também, que procura segurar toda barra...
LEANDRO: - Nesses casos, não adianta ter pena, Vera. Tem que ajudar. E sua irmã precisa de ajuda.

     Os dois continuam o jantar.


CENA 07. CASA TOMÁS. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

     Tomás, Cristina e Patrícia jantam.

TOMÁS: - Cristina, o que realmente aconteceu na boutique hoje? A Vera me disse que você fez um escândalo na loja, é isso?
CRISTINA: - Eu? Fazendo escândalo? Mas de onde a Vera tirou isso?
TOMÁS: - Ela me disse que você discutiu com uma funcionária...
CRISTINA: - Nem chegou a ser discussão... Nem foi nada de mais. Eu apenas chamei a atenção da Zoraide por causa de um manequim que não estava bem arrumado, só isso. Não teve escândalo, discussão, nada disso...

Patrícia fica a observar. Ela e Tomás trocam olhares.

CRISTINA: - E você, minha filha, pronta para a viagem de amanhã?
PATRÍCIA; - Estou sim, mãe. Na verdade, estou até bem ansiosa.
CRISTINA: - Vai dar tudo certo. Será muito proveitoso, com certeza... Bom, eu vou subir, estou com um pouco de dor de cabeça...
TOMÁS: - Quer um chá, alguma coisa? Está passando bem?
CRISTINA: - Calma, Tomás, não é nada de grave não, não se preocupe... Podem continuar o jantar sossegados. Eu estou bem.

Cristina sai.

TOMÁS; - Ela não falou tudo não... Sua tia Vera disse que ela armou o maior escândalo com a funcionária, xingando a pobre coitada na frente de clientes, aos gritos... E depois, quando sua tia conseguiu levá-la para outra sala, começou a chorar, desesperadamente.
PATRÍCIA: - Papai, eu estou preocupada... Não sei nem se vou viajar com a mamãe tendo essas crises assim e só você aqui pra cuidar dela.
TOMÁS: - Não, Paty. Pode viajar tranqüila, que eu tomo conta da sua mãe, sem problemas...
PATRÍCIA: - Ai, pai, mas mesmo assim, eu acho que não vou conseguir viajar tranqüila.
TOMÁS: - Você vai sim, não se preocupe. Vai ficar tudo bem.

CENA 08. CASA BRENDA. QUARTO ALICE. INT. NOITE.

     Brenda consola Alice, que está nervosa com a gravidez.

BRENDA: - Calma Alice, a gente vai achar a melhor solução para tudo isso.
ALICE: - E se não tiver solução, Brenda? Como eu fico?
BRENDA: - Claro que há solução! Tem que haver alguma coisa... E se você falar com o Matheus? E se você falar não, você vai ter que falar para o Matheus que está esperando um filho dele.
ALICE: - Não, Brenda! Eu não posso!
BRENDA; - Mas Alice, ele precisa saber!
ALICE: - Não, Brenda! Ainda não é o momento... Tenho medo que ele possa me abandonar por causa disso...
BRENDA; - Como assim, abandonar você? Se ele realmente ama você, não faria isso...
ALICE: - Eu sei, mas eu tenho medo... E tem a mãe dele ainda. Imagina se ela descobre? Aí sim que ela manda ele para a Europa de vez...
BRENDA: - Como assim, mandar ele para a europa?
ALICE: - A mãe dele quer que ele vá para Londres para estudar... Se ela descobre que eu estou grávida, é capaz de mandar ele pra lá na mesma hora.
BRENDA: - Nossa, que mulherzinha essa, hein!
ALICE: - Por isso eu acho melhor esperar um pouco. Ainda é cedo. Eu quero conversar com ele com calma... Só espero ter força pra isso...
BRENDA; - Você vai ter sim. E se não foi suficiente, eu estou aqui para ajudar você, sempre.

As duas se abraçam.

CENA 09. CASA BRENDA. QUARTO JOAQUIM. INT. NOITE.

     Matilde está arrumando umas coisas no guarda-roupas, quando Joaquim entra no quarto.

JOAQUIM: - O que está fazendo aí, Matilde?
MATILDE: - Estou arrumando umas coisas aqui... Isso aqui está uma bagunça...

     Joaquim senta-se na cama e começa a mexer nas caixas que estão sobre a cama, nas roupas, nos envelopes e pacotes. Em uma dessas caixas, ele encontra uma carta de Sônia.

MATILDE: - Eu estou organizando isso tudo, nem sei porque... Na verdade, nós precisamos de um guarda-roupas novo, isso sim...
JOAQUIM: - Matilde, o que é isso aqui?
MATILDE (vira-se para Joaquim): - Isso aqui o que?
JOAQUIM: - Essa carta da Sônia...

     Matilde fica séria.

JOAQUIM: - Você mantinha contato com ela, Matilde?
MATILDE: - Joaquim...
JOAQUIM: - Você mantinha contato com ela nas minhas costas, é isso? Você nunca me falou nada sobre essas cartas todas aqui.
MATILDE: - Não falei porque sabia que você não aceitaria, que você não iria gostar.
JOAQUIM: - Você me traiu, Matilde. Prometeu que não a procuraria mais.
MATILDE; - Eu nunca traí você, Joaquim! Desde quando uma mãe falar com a filha, continuar um contato que nada nem ninguém poderia terminar, é trair alguém? Você com seu orgulho que pensa as coisas de forma errada...
JOAQUIM: - Você sabe muito bem que a errada foi ela, nessa história toda! Ela não deveria ter se envolvido com aquele canalha!
MATILDE: - Fala baixo, homem! A Brenda está em casa!

     Joaquim joga as cartas na caixa. Matilde se aproxima dele.

MATILDE: - Nunca passou pela sua cabeça que ela pode ter voltado?
JOAQUIM: - O quê? A Sônia em Praia Real?
MATILDE; - É... Você nunca pensou numa possibilidade dessas?
JOAQUIM: - Claro que não! Ela já deve estar bem longe daqui, ainda mais depois de todos esses anos... a não ser que você saiba de alguma coisa.
MATILDE: - Eu?
JOAQUIM: - sim, você mesma... Para estar me perguntando essas coisas, só pode estar sabendo de alguma coisa.
MATILDE: - Eu não sei de nada não, Joaquim. Apenas perguntei, pois eu não tive mais contato com ela, há muito tempo... Bom, eu vou continuar a minha arrumação aqui.
JOAQUIM: - E essas cartas? O que você vai fazer com elas?
MATILDE: - Não sei... Deixa elas aí que depois eu vejo o que farei com elas.

CENA 10. CASA ALBERTO. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.
    
     Todos jantam. Alberto, Tânia, Felipe, César, Marina e Rúbia.

MARINA: - Então Rúbia, preparada para sua viagem?
RÚBIA: - Estou sim, Marina. Não caibo mim de tanta felicidade!
FELIPE: - Falando em viagem, eu faz tempo que não faço uma... Estou precisando sair um pouco também.
TÂNIA: - Mas faça isso mesmo, Felipe. Você trabalha demais, querido. Precisa relaxar um pouco. Com certeza, seu tio não implicaria com isso.
ALBERTO: - Claro que não. De maneira alguma. Felipe realmente dá um duro danado na empresa. Precisa de um descanso. Até eu preciso descansar também...
CÉSAR: - Pelo o que eu percebi, está todo mundo querendo tirar uns dias de folga, é isso?

     Todos riem.

MARINA; - É, pelo visto é isso mesmo, César.
RÚBIA; - Nada melhor do que sair, aliviar a mente, como diz minha avó...
ALBERTO: - Por falar em sair, onde você esteve hoje Tânia? Liguei aqui para casa e a Olga havia me dito que você saiu, e sem o Charles.
TÂNIA: - Ah, você ligou?
ALBERTO: - Liguei... E então, onde você esteve?

     Rúbia fica a olhar para Tânia, observando a reação dela.

TÂNIA: - Ah, querido, eu fui até a casa da Helena.
ALBERTO: - Ah, claro, conseguiram marcar o encontro então?
TÂNIA; - Encontro?
ALBERTO: - Sim, Tânia, daquele dia em que você estava marcando encontro pelo telefone...
TÂNIA: - Ah, claro, lembrei... Conseguimos sim...
ALBERTO: - E como ela está?
TÂNIA: - Está bem, conversamos bastante...

     Rúbia percebe que Tânia mentiu, mas fica na sua. Todos continuam o jantar.

CENA 11. CASA ALBERTO. QUARTO CÉSAR. INT. NOITE.

     César e Rúbia estão deitados na cama.

RÚBIA: - Quem é essa dna Helena, tão amiga da sua mãe?
CÉSAR: - ela é filha de um comandante da marinha aposentado. Ela e minha mãe são amigas das rodinhas da alta sociedade, da época em que minha mãe vivia saindo nas revistas e colunas sociais. Hoje ela está mais recatada.
RÚBIA: - Pois é, sua mãe tem saído muito pouco, pelo o que eu vejo.
CÉSAR: - Tem sim... Mas porque esse interesse na minha mãe?
RÚBIA; - Nada não, meu amor, só curiosidade... É que eu estou tão ansiosa, que não consigo dormir, aí me vem um monte de coisas na cabeça... Eu não sei se vou conseguir ficar muito tempo longe de você.
CÉSAR: - Claro que vai sim. Lá em São Paulo vocÊ vai ter tanta coisa interessante para ver, curtir, que nem vai se lembrar de mim.
RÚBIA: - Aí é que você se engana. Eu sou capaz de jogar tudo pro alto e voltar para Praia Real na mesma hora em que eu sentir saudade de você. Eu não largo você nunca mais, César. Escreve o que eu estou te dizendo. Nunca mais você vai se ver livre de mim.

     Rúbia beija César.

CENA 12. TRANSIÇÃO DO TEMPO. AMANHECER / AEROPORTO RIO DE JANEIRO. SAGUÃO. INT. DIA.

     Imagens de Praia Real ao amanhecer. Corta para o aeroporto do Rio de Janeiro. No saguão, César, Rúbia, Alberto, Marina, Patrícia, Cristina e Tomás aguardam o vôo para São Paulo.

CRISTINA: - Pegaram todas as coisas? Não esqueceram de nada?
PATRÍCIA: - Não, está tudo aqui.
ALBERTO: - E o chek-in? As passagens, demais documentos, tudo certo?
CÉSAR: - Tudo certo, papai. Eu acompanhei elas em tudo.

     Nesse instante, é anunciado o vôo delas. Eles se despedem no saguão.

PATRÍCIA (abraçando Tomás e Cristina): - Meus amores! Beijos! Adoro vocês!
CRISTINA: - Nossa Paty, parece até que você vai embora!
PATRÍCIA; - Ai, mamãe, um pouquinho de emoção fica mais bonita a despedida...

     Do outro lado, Rúbia se despede de César.

CÉSAR: - Aproveita bastante, viu? E traz coisas bem lindas para o nosso baby.
RÚBIA: - Pode deixar, que eu vou trazer coisas maravilhosas para o nosso filho e também para o nosso casamento. Vai ser divino.

     Os dois se beijam.

MARINA: - Meninas, rápido, senão vocês vão perder o vôo.
PATRÍCIA; - Claro! Vamos lá!

     As duas seguem para o portão de embarque.

CRISTINA: - Elas estão tão felizes.
ALBERTO: - Elas são bem amigas mesmo não é?
TOMÁS: - Muito amigas, doutor Alberto. Cresceram praticamente juntas. A Rúbia sempre freqüentou minha casa. É uma boa menina. Ou melhor, agora já é uma mulher, vai ser mãe.
CRISTINA: - Você também deve estar na maior expectativa, não é César?
CÉSAR: - Claro que estou. Muito feliz também.
MARINA: - Já estou vendo... Vai ser um pai babão daqueles!
CÉSAR: - Não mais que o vovô babão!
ALBERTO: - Tinha que sobrar pro vovô!

     Todos riem.

CENA 13. AVIÃO. INT. DIA.

     Os passageiros se organizam dentro do avião. Rúbia e Patrícia entram no avião e se acomodam nas poltronas. Elas estão visivelmente felizes.

CENA 14. APTO ROGÉRIO. INT. DIA.

     Felipe entra no apartamento de Rogério e percebe que ele foi modificado.

FELIPE: - Levaram o defunto já... Não há mais nada o que fazer aqui nesse antro imundo...

Quando vai saindo do lugar, ele encontra Sérgio.

SÉRGIO: - Procurando alguma coisa, Felipe? Ou melhor, alguém?

     Os dois ficam a se encarar.
SÉRGIO: - Então Felipe? Ficou surpreso com a minha pergunta?
FELIPE: - O que você está fazendo aqui?
SÉRGIO: - Eu é que pergunto para você... O que você está fazendo aqui, dentro desse apartamento, vasculhando, procurando...?
FELIPE: - Ora essa... Eu não devo satisfações nenhuma à você. (saindo)
SÉRGIO: - Realmente, a mim você não deve satisfações sobre isso, mas talvez para a polícia sim.

     Felipe para na porta. Volta a encarar Sérgio.

FELIPE: - Do que é que você está falando? Que história é essa de polícia?
SÉRGIO: - Não se faça de sonso, Felipe, porque isso você com certeza não é. Você sabe muito bem do que eu estou falando.
FELIPE: - Não sei não, senhor Sérgio... Estou completamente por fora de suas idiotices, de seus pensamentos ilusórios, da sua imaginação fértil...
SÉRGIO: - Ah, você está por fora... Então eu vou tratar de interar você do assunto... Há alguns dias atrás, aqui mesmo, dentro desse apartamento, houve um assassinato.
FELIPE: - Ah, houve um assassinato? Nossa, que horrível... E o que eu tenho a ver com isso?
SÉRGIO: - Para mim, você tem tudo a ver com isso. A começar que você saiu daqui de dentro na mesma noite em que o crime ocorreu.

     Felipe fica sério, apreensivo.

SÉRGIO: - Eu vi, Felipe. Eu vi você saindo daqui naquela noite... Eu custei a acreditar, mas depois do que eu vi aqui dentro, realmente caiu a minha ficha de perceber o quanto você é cruel, do que você é capaz de fazer... Por que você fez isso, Felipe?
FELIPE: - Isso o que? Eu não fiz nada! Você pare de falar essas coisas, de me acusar!
SÉRGIO: - Chega Felipe! Não precisa mais fingir... Eu sei que foi você quem matou o Rogério aqui dentro. Eu sei.

     Felipe parte para cima de Sérgio. Ele pressiona Sérgio na parede, com o braço prendendo o pescoço dele. Sérgio tenta se proteger.

FELIPE: - Você não sabe de nada, você não viu nada!
SÉRGIO: - Seu assassino!
FELIPE: - Cala a boca! Você não vai abrir a boca para ninguém, está ouvindo? Para ninguém!
SÉRGIO: - Eu quero ver quem vai fazer eu ficar quieto.
FELIPE: - Eu vou fazer você se calar!
SÉRGIO: - E o que você vai fazer? Me matar também?
FELIPE: - A ideia não é má não... Talvez eu siga o seu exemplo... Faço vocÊ sofrer bastante primeiro, depois eu te mato, como você fez com a minha mãe.

     Sérgio empurra Felipe. Os dois se afastam.

SÉRGIO: - Eu não matei sua mãe!
FELIPE: - Matou! Você é tão assassino quanto eu, Sérgio...
SÉRGIO: - Você não sabe o que está dizendo.
FELIPE: - E você mal sabe o que te aguarda...

     Felipe sai do apartamento. Sérgio fica pensativo.


CENA 15. CASA PETRÔNIO. QUARTO MATHEUS. INT. DIA.

     Helena entra no quarto de Matheus. Ele está deitado, na cama, pensativo.

HELENA: - Oi meu filho. Eu quero conversar com você.
MATHEUS: - Olha mãe, se é para falar mal da Alice ou querer me forçar à ir para Inglaterra, pode esquecer...
HELENA: - Ei, calma! Não precisa vir com quatro, cinco pedras na mão... Eu não vim até aqui para falar daquela sua namoradinha. Mas eu quero falar sobre a sua ida sim para Londres.
MATHEUS: - Pode esquecer. Eu já falei que eu não vou.
HELENA: - Você quer deixar eu falar? Eu tenho um pedido para fazer... Na verdade, é uma proposta...
MATHEUS: - Proposta?

Helena senta-se na cama. Matheus se aproxima dela.

HELENA; - Eu sei que você não quer ir para Londres para não se afastar da sua namorada, dos seus amigos, da sua vida aqui em Praia Real, mas... Pensa bem, meu filho. É uma experiência fantástica, quase única na sua vida! Ir para Londres, estudar numa universidade inglesa, uma das melhores do mundo, tudo pago, tudo certo, moradia, uma oportunidade de ouro...
MATHEUS: - Eu sei de tudo isso mãe, mas...
HELENA: - Pensa, pensa um pouco comigo. Eu me empenhei em criar você, te dando tudo do bom e do melhor. Roupas, casa, comida, escola, brinquedos... Carinho, amor, afeto, cuidado, proteção... Tudo bem que às vezes eu exagero, mas sou mãe! Eu faço tudo isso para o seu bem, pensando no seu bem. Não pense que eu quero que você vá para a Europa para livrar você das pessoas daqui de Praia Real. Mas é que eu penso num futuro melhor para você, algo que você possa olhar depois e dizer: nossa, tudo valeu a pena.
MATHEUS: - Olha mãe, eu sempre vou ser grato à você por tudo que a senhora fez por mim, até hoje. Mas nem sempre, aquilo que você idealizou ou idealiza para mim, pode ser o melhor, pode ser aquilo que vai me fazer feliz, entende?
HELENA: - Entendo. Claro que entendo. Eu também já fui filha, ou melhor, eu sou filha e sei que às vezes os pais fazem escolhas para os filhos sem saber se eles vão gostar ou não. Mas uma coisa que a sua avó me dizia, que eu vou dizer para você agora, eu nunca esqueci. E isso foi importante e é importante para mim até hoje. Ela dizia assim: “você não pode dizer que essa escolha não será boa para a sua vida, se você não vivê-la. Felizmente, há momentos na vida em que a gente faz escolhas, mas se elas não nos fazem bem, podemos recuar e escolher um outro caminho.”
MATHEUS: - Vovó era sábia.
HELENA: - Ela era um anjo aqui na Terra... Mas eu quero que você pense bem nisso. Você vai para Londres, fica uns dias, uma semana, talvez... Veja o que será bom para você. Se você achar que realmente não é o momento, não é isso que você quer, você volta. Eu não ficarei triste com você.
MATHEUS: - Não vai mesmo?
HELENA: - Não, eu não vou. Eu ficarei triste, se você não for. Se você não seguir os conselhos que a sua avó me dizia. Recuar sem antes viver... Pensa nisso, ta?
MATHEUS: - Pode deixar.

Helena beija Matheus e depois sai do quarto. Ele fica pensando na conversa.

CENA 16. RESTAURANTE MARESIA. SALÃO. INT. DIA.

     Matilde, Joaquim, Alice e Brenda trabalham no restaurante. Não há muito movimento.

MATILDE: - Mas como o Guto está demorando com essas compras...
JOAQUIM: - Mas também, com a lista de coisas que você passou pra ele, deve estar tendo o maior trabalho de carregar tudo.
MATILDE: - Não tenho culpa se precisamos de bastante coisa, oras... E ele poderia muito bem ter aceitado a ajuda das meninas.
BRENDA; - Cabeça dura feito ele não há em lugar nenhum, vovó...

Nesse instante, César surge na porta do restaurante. Alice o vê.

ALICE: - Pessoal, temos visita.
MATILDE (contente): - César! Que surpresa boa!
JOAQUIM: - Quanto tempo que você não aparece aqui, rapaz!

César entra, cumprimenta Matilde e Joaquim. Brenda fica um pouco distante dos três, que conversam.

CÉSAR: - Estou com tempo bem apertado, seu Joaquim... Ainda mais agora que começamos os trabalhos de reestruturação do projeto ambiental.
MATILDE: - Ah, já começaram, é?
CÉSAR; - Sim... as coisas já estão se encaminhando.
MATILDE; - Graças a Deus, meu filho! Graças a Deus.
CÉSAR: - Passei aqui para avisar que a Rúbia embarcou hoje para São Paulo.
JOAQUIM: - Mas que coisa boa! Ela estava tão animada com essa viagem.
CÉSAR: - Estava mesmo.
MATILDE; - E você, César, está animado com o fato de ser papai e também com o casamento?
CÉSAR: - Estou sim, dona Matilde.

         Brenda sai do restaurante e vai para dentro de casa. César percebe.

CÉSAR: - Se vocês me permitem, seu Joaquim, dona Matilde, eu poderia dar uma palavrinha com a Brenda?
MATILDE: - Claro, ela está ali... (virando-se) Mas onde será que essa menina foi? Estava aqui atrás agora pouco...
JOAQUIM: - Alice, você reparou se a Brenda saiu?
ALICE: - Ela foi lá para dentro, seu Joaquim.
MATILDE: - Ah, sim, ela está lá dentro, César. Pode ir, fique a vontade.
CÉSAR: - Obrigado. Eu não vou demorar...
JOAQUIM: - Não se preocupe, César. Você é de casa.
CÉSAR: - Com licença.

         César vai para dentro de casa.

MATILDE: - Esse rapaz é de ouro!
JOAQUIM: - A Rúbia realmente tirou a sorte grande...

CENA 17. CASA BRENDA. SALA. INT. DIA.

     César entra na sala e encontra Brenda, chorando.

CÉSAR: - Brenda.
BRENDA (secando as lágrimas): - Oi César.
CÉSAR: - Eu entrei para ver como você está...
BRENDA: - Estou bem.
CÉSAR: - Você está chorando...

     César se aproxima de Brenda.

CÉSAR: - A Rúbia viajou hoje...
BRENDA: - Sim, eu ouvi você falando para os meus avós lá fora. Disse também que estava animado, feliz com o casamento, com o filho...
CÉSAR: - Você sabe que eu falei isso mas não por realmente estar feliz.
BRENDA: - Não, eu não sei... Agora você começou a mentir para todo mundo, então?
CÉSAR: - Por que você está agindo assim comigo, Brenda? O que foi que eu fiz para você ficar assim?
BRENDA: - Desculpa... Desculpa César... Não estou muito boa hoje.
CÉSAR: - Eu, ao contrário de você, acordei disposto. Muito disposto.
BRENDA: - Como assim? Disposto a que?
CÉSAR: - Disposto a provar que é com você que eu quero ficar, que é você que eu amo.
BRENDA: - Você ficou louco, César?
CÉSAR: - Fiquei... Louco por você!

     César segura Brenda firmemente e a beija. Ela tenta resistir, mas aos poucos, vai cedendo.

CENA 18. BOUTIQUE POEME. INT. DIA.

     Vera e Cristina estão trabalhando na boutique, quando Glória Colombo entra no local.

GLÓRIA COLOMBO: - Olá meninas!
VERA: - Glória! Que surpresa maravilhosa!
CRISTINA: - Estávamos justamente falando de você...
GLÓRIA COLOMBO: - De bem, eu espero. (risos)
VERA: - Claro! As suas peças são lindas e estão vendendo como nunca!
GLÓRIA COLOMBO: - É mesmo?
CRISTINA: - Nossa! As mulheres estão enlouquecidas atrás das suas roupas, Glória!
GLÓRIA COLOMBO: - Fico muito feliz com isso, porque essas peças são de um carinho enorme pra mim.
VERA: - Então já pode se preparar, porque nós vamos precisar de mais peças...

     As três comemoram.

CENA 19. CALÇADÃO PRAIA REAL. EXT. DIA.

     Carvalho está num quiosque, bebendo uma cervejinha, quando avista Heraldo no calçadão.

CARVALHO: - Mas, aquele cara não é estranho...
    
     Heraldo caminha, passando próximo à Carvalho.

CARVALHO: - Ei!

     Heraldo para. Carvalho se aproxima.

HERALDO: - Me chamou?
CARVALHO: - Chamei sim... Desculpe perguntar, mas você não é novo aqui na região não...?
HERALDO: - Eu não... Já morei aqui por muitos anos. Aí fui embora e agora voltei... Mas, porque a pergunta?
CARVALHO: - Por nada não... Acontece que achei você parecido com um antigo conhecido meu...
HERALDO: - É... Mas você também não me é estranho não...
CARVALHO: - Coincidência, não é? Você também não me é estranho.
HERALDO: - Eu me chamo Heraldo. Prazer! (estendendo a mão)
CARVALHO; - Heraldo... Prazer, eu me chamo Carvalho. (cumprimentando Heraldo)
HERALDO: - Prazer, Carvalho. Vou seguindo meu caminho aí. A gente se cruza qualquer hora.
CARVALHO: - Claro! Até mais!

     Heraldo segue. Carvalho fica pensativo.

CARVALHO: - Heraldo, Heraldo... Tenta lembrar Carvalho, da onde você conhece esse cara...

CENA 20. CASA BRENDA. SALA. INT. DIA.

     Brenda e César se beijam. Brenda se afasta dele.

BRENDA; - A gente não podia ter feito isso! Alguém poderia ter entrado, flagrado a gente aqui...
CÉSAR: - É mesmo... Foi arriscado, desculpa... Mas foi bom, não foi?
BRENDA: - Vai embora, César, por favor!
CÉSAR: - Mas eu...
BRENDA: - Vai César! Vai embora por favor!
CÉSAR: - Eu vou ligar para você... A gente vai se ver novamente, Brenda.
BRENDA: - O que?
CÉSAR; - A gente precisa se acertar de uma vez por todas.
BRENDA: - Tudo bem, mas depois! Agora vai embora...

     César abre um sorriso e fica a olhar Brenda, que está de costas para ele. Brenda se vira.

BRENDA; - Você ainda está aí? Saia César!
CÉSAR: - Eu amo você!... Eu amo você!

     César sai. Brenda fica séria, mas aos poucos, abre um tímido sorriso. Nesse instante, Alice entra na sala.

ALICE: - Então, o que vocês conversaram?
BRENDA; - Ai amiga, me abraça!

     As duas se abraçam.

ALICE: - O que foi? O que aconteceu?
BRENDA; - O meu coração está virado do avesso, só pode...
ALICE: - Ai amiga, que situação...

     Nesse instante, o telefone de Alice toca. Ela atende.

ALICE: - Alô?
(T)
ALICE: - Oi meu amor!
(T)
ALICE: - Claro, posso sim...
(T)
ALICE: - Tudo bem, eu estarei lá. Beijos. Amo você.

     Alice desliga o telefone.

BRENDA: - Deixa eu adivinhar que é... Matheus?
ALICE: - Acertou, lógico... ele quer falar comigo mais tarde no calçadão.
BRENDA; - E você vai falar para ele sobre...
ALICE: - Não sei ainda...
BRENDA; - Alice!
ALICE: - Vai ter o momento certo... Mas quem tem que falar alguma coisa aqui é você... O que você e o César conversaram?

     Nesse instante, Matilde chama Brenda.

ALICE; - Nossa, eu acho que é para você não me falar mesmo!... Uma hora é meu telefone, agora sua avó... (risos)
BRENDA: - É mesmo amiga... A gente se fala mais tarde, pode deixar...
ALICE: - Tudo bem...

CENA 21. CASA ALBERTO. APTO CHARLES. INT. DIA.

     Clarisse sai do quarto e encontra Charles na sala.

CHARLES: - Onde você vai?
CLARISSE: - Vou sair.
CHARLES: - Isso eu já estou vendo... Perguntei aonde você vai?
CLARISSE: - Vou procurar emprego.
CHARLES: - Procurar emprego? Você ainda não desistiu dessa história?
CLARISSE: - Charles, desde que a gente se conheceu, eu sempre trabalhei.
CHARLES: - E você sabe muito bem que eu não gosto disso.
CLARISSE: - Você e essa sua mania ridícula de achar que no serviço, os homens ficam dando em cima de mim.
CHARLES: - Não é mania. Eles ficam dando em cima de você sim! Igual aquele palhaço da imobiliária... Olha que eu me segurei e muito para não dar na cara daquele ordinário e deixá-lo atirado no chão...
CLARISSE: - Mas você não seria louco de fazer uma besteira dessas!
CHARLES: - E porque eu não faria? Ele ficava provocando...
CLARISSE: - O Diogo? Provocando você? Ah não, Charles! Me poupe!... Eu já vou indo.
CHARLES: - Não! Espera aí que eu levo você...
CLARISSE: - Claro que não. Vai que alguém precise de você aqui? Pode deixar que eu vou sozinha...

Clarisse sai.

CENA 22. AEROPORTO SÃO PAULO. SAGUÃO. INT. DIA.

     Imagens do aeroporto de São Paulo. Aviões na pista. Corta para imagens do saguão. Muita movimentação, inúmeras pessoas. Rúbia e Patrícia desembarcam em São Paulo.

RÚBIA: - Nossa, nunca vi tanta gente!
PATRÍCIA: - Mas pode começar a se acostumar, amiga... você está em São Paulo, a maior cidade da América Latina!
RÚBIA; - Não vejo a hora de descobrir o que essa cidade tem de bom... Quero aproveitar tudo!
PATRÍCIA: - Vem, vamos pegar um táxi ali fora... Está com o nome do hotel aí?
RÚBIA; - Claro, tudo anotadinho...

CENA 23. SÃO PAULO. EXT. DIA.

     Rúbia e Patrícia, no táxi, passam por vários pontos da cidade de São Paulo, a caminho do hotel. As duas estão animadas.

CENA 24. SÃO PAULO. HOTEL. INT. DIA.

     Rúbia e Patrícia conversam no quarto do hotel.

RÚBIA: - Eu nem acredito que estamos aqui, Paty.
PATRÍCIA: - Nós vamos aproveitar muito, Rúbia. Vai ser inesquecível. Esse hotel então, é lindo! Seu Alberto reservou o melhor hotel da cidade para gente! Tem noção disso?

     Rúbia vai até a janela do quarto.

RÚBIA: - Aqui é tão diferente... Muito prédio, muito cinza...

     Patrícia se aproxima.

PATRÍCIA: - Mas à noite, a cidade vira um arco-íris multicolorido... Boates, danceterias, bares, tudo! A noite paulistana é uma das melhores que existem!
RÚBIA: - Não vejo a hora de curtir tudo isso de perto...
PATRÍCIA: - Ih, já ia esquecendo! Vou ligar para a mamãe, para avisar que chegamos bem.

     Patrícia entra no quarto.

RÚBIA; - Realmente, essa viagem vai ser inesquecível.

     Patrícia fica a observar a cidade do alto, da janela do hotel.

CENA 25. CIA DE NAVEGAÇÃO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

     Henrique está no escritório, quando Adriano entra rapidamente na sala, visivelmente irritado.

ADRIANO: - Eu quero falar com você.
HENRIQUE: - Olá Adriano. Aconteceu alguma coisa?
ADRIANO: - Aconteceu. Aconteceu uma coisa totalmente inesperada. Algo que eu nunca poderia imaginar.
HENRIQUE: - Pelo visto, deve ser ruim... quer um copo d’água, para se acalmar um pouco?
ADRIANO: - Ruim? Talvez não seja... E eu não quero nada não. Estou bem calmo.
HENRIQUE: - Então me diga, o que foi que aconteceu?
ADRIANO: - Que história é essa que você e a Sônia tem uma filha?

Adriano fica a encarar Henrique.

CENA 26. CALÇADÃO PRAIA REAL. QUIOSQUE. INT. DIA.

     Alice e Matheus conversam.

MATHEUS: - Espero não ter atrapalhado o seu serviço lá no restaurante...
ALICE: - Não atrapalhou não. Pode ficar tranqüilo... Mas o que você queria falar comigo?
MATHEUS: - Sobre a minha viagem para Londres...
ALICE: - Você vai viajar mesmo?
MATHEUS: - Pois é, não há nada decidido ainda... Eu conversei com a minha hoje. Nós falamos sobre isso. Ela diz que vai ser bom para mim, que é uma oportunidade bacana.
ALICE: - Isso com certeza é. Ir para Londres, estudar é algo muito bom.
MATHEUS: - Ela falou também que posso ir para lá, ver como são as coisas, mas que depois eu poderei voltar. Assim que eu quiser. Ela falou que não ficaria chateada se eu voltasse, mas que ficaria triste se eu não tentasse, se eu não fosse lá ver como é, entende?
ALICE; - Entendo, claro... Ela quer que você veja tudo antes para depois decidir o que você vai querer. Não desistir sem antes saber o que quer...
MATHEUS: - Isso mesmo.
ALICE: - E pensando bem, eu concordo com ela, Matheus. Eu acho que você deveria tentar.
MATHEUS: - Você acha?
ALICE; - Claro. Se a sua mãe também te deu a chance de voltar quando você quiser, não custa nada você ir, ver como são as coisas, como você disse, e se não for do seu agrado, você retorna. Pensa na experiência, nas oportunidades que podem surgir para você... Isso vai ser importante para o seu futuro.
MATHEUS: - E nós, Alice? Como fica a gente?
ALICE; - A gente vai continuar junto. Você vai viajar e eu ficarei aqui, esperando por você, morrendo de saudade, mas feliz por saber que você está buscando um futuro melhor para você. Ou até para nós dois...
MATHEUS: - Obrigado pelo apoio.
ALICE: - Não precisa agradecer não. Eu te amo e sempre vou estar ao seu lado, independente da sua opinião, da sua escolha.

Os dois se beijam apaixonadamente.

CENA 27. CASA ALBERTO. GARAGEM. INT. DIA.

     Charles limpa o carro na garagem, quando Felipe chega para falar com ele.

FELIPE: - Charles.
CHARLES: - Sim, doutor Felipe.
FELIPE; - Você quer ganhar um pequeno presente...?

Felipe tira do bolso um bolo de notas de dinheiro, mostrando para Charles.

CHARLES: - Quem não gosta de presentes, doutor...?

Nesse instante, Olga que estava passando próximo a eles, para e fica espiando a conversa.

FELIPE: - Muito bem... Eu preciso que você faça um serviço para mim.
CHARLES: - Que serviço, doutor?
FELIPE: - Parecido com aquele que eu pedi para você fazer outra vez, lembra?
CHARLES: - Lembro sim.
FELIPE: - Pois é, mas esse será um pouquinho diferente e mais objetivo, digamos assim.
CHARLES: - O que você quer que eu faça?
FELIPE; - Mas antes eu quero saber se você está realmente disposto em me ajudar, se não vai amarelar e colocar tudo a perder.
CHARLES: - Claro que não, doutor Felipe. Eu cumpro com as minhas palavras.
FELIPE: - Mesmo quando se trata de cometer um assassinato?

Olga fica surpresa e apreensiva.

CHARLES: - Assassinato?
FELIPE; - Isso mesmo, Charles. Assassinato. Na verdade não chega a ser bem um assassinato... Digamos que será um pequeno acidente.
CHARLES: - Mas como eu farei isso?
FELIPE; - Você vai precisar de um carro, que não será esse aqui, lógico. O resto eu irei explicando para você...
CHARLES: - Tudo bem. Eu acho que já sei onde posso conseguir um carro. E o melhor, a placa é fria.
FELIPE: - Muito bom Charles... Sabe, que, se tudo sair direitinho, eu estou disposto a dobrar ou até triplicar o seu pagamento...

Nesse instante, Olga bate em umas caixas, fazendo barulho. Felipe faz sinal para Charles, que vai até a porta da garagem observar.

CHARLES: - Olga?
OLGA; - Desculpe Charles, se assustei você... eu estava passando e acabei batendo nessas caixas aqui...
CHARLES: - Você se machucou? Está tudo bem?
OLGA: - Está sim...

Felipe surge na porta.

FELIPE: - Você precisa tomar mais cuidado Olga.
OLGA: - Eu sei disso.
FELIPE: - Bom Charles, acho que era isso que eu tinha para falar com você. Com licença.

Felipe sai.

OLGA: - O que ele queria falar com você, Charles?
CHARLES: - Nada não. Apenas sobre meu serviço para buscá-lo num lugar aí.
OLGA: - Hum... Bom, eu vou lá para dentro, continuar o meu serviço.
CHARLES: - E eu vou voltar a polir o carro.

CENA 28. CIA DE NAVEGAÇÃO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

     Adriano e Henrique conversam.

HENRIQUE: - Como é que é?
ADRIANO: - Não precisa mais fingir, Henrique. Se fazer de não entendido, de confuso... Eu já sei de toda história.
HENRIQUE: - Então a Sônia falou para você...
ADRIANO: - Sim, ela me falou. E eu achei o cúmulo de nenhum de vocês ter me falado isso antes!
HENRIQUE: - Mas quem tinha essa obrigação de falar com você era ela, que é sua esposa.
ADRIANO: - Mas você como meu amigo, também poderia ter feito isso. Quero dizer, agora nem sei se é meu amigo.
HENRIQUE: - Está desprezando a minha amizade agora por causa de algo do passado que nem se refere à você?
ADRIANO; - Mas se refere à Sônia, à minha mulher, a pessoa que eu amo.
HENRIQUE: - Adriano, as coisas mudaram, o tempo passou... Eu e a Sônia tivemos sim uma filha, mas agora está tudo diferente... Nós não estamos juntos. Você está com ela agora.
ADRIANO: - Não consigo entender porque vocês esconderam isso de mim por esse tempo todo...
HENRIQUE: - Talvez para evitar esse comportamento descontrolado que você está tendo.
ADRIANO: - Vocês me traíram, Henrique.
HENRIQUE: - Nós te traímos, Adriano? Por favor! Agora você está sendo completamente insolente nas suas colocações.
ADRIANO: - Se vocês tiveram uma filha e não me falaram nada, é sinal de que queriam manter esse segredo só entre vocês. E é bem capaz que haja ainda mais segredos entre vocês dois que eu não saiba, que a Silvana também não sabe...
HENRIQUE: - Não há mais segredos, Adriano. Pare de falar bobagem...
ADRIANO: - Vocês podem estar juntos ainda...
HENRIQUE: - Chega Adriano! Chega! Sai da minha sala agora.
ADRIANO: - Vocês estão juntos, não estão?
HENRIQUE: - Adriano, por favor, sai daqui, eu estou te pedindo...
ADRIANO: - Me responde, Henrique! Vocês estão juntos não estão?
HENRIQUE: - Você quer mesmo a resposta?
ADRIANO: - Quero! Claro que eu quero saber! Quero saber tudo o que vocês me escondem...
HENRIQUE: - Eu e a Sônia não estamos juntos. E tem um só motivo nisso tudo. Nós só não estamos juntos, porque ela ainda não quer.
ADRIANO: - Como é que é?
HENRIQUE: - Eu amo a Sônia. Sempre amei. Sempre fui louco por ela e ainda sou. E ela só não está comigo, porque ainda não desistiu de você. Só por isso.

     Adriano, sentando na poltrona, fica totalmente sério. Henrique, de pé, respira fundo após falar o que sente por Sônia para Adriano.

HENRIQUE: - Desculpa por falar isso para você, mas você quis saber a verdade. E essa é a verdade.

     Adriano levanta-se e lentamente vai caminhando até a porta.

HENRIQUE: - Adriano espera...

     Adriano vira-se para Henrique, que fica a olhar para ele. Adriano se aproxima de Henrique e lhe dá um soco. Henrique cai sobre a mesa.

ADRIANO: - Canalha.

     Adriano sai da sala.



CENA 29. BOUTIQUE POEME. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

     Silvana conversa com Vera e Cristina.

VERA: - Não, Silvana! Isso não pode ser verdade...
SILVANA: - Mas é a mais pura verdade... Está comprovado nos exames. Eu não posso ter filhos.
CRISTINA: - Meu Deus do céu... eu não sei nem o que dizer...
VERA: - E o Henrique, como ele está?
SILVANA: - Ele me dá força, tenta me colocar para cima... Mas a situação lá em casa depois desses exames não está das melhores.
CRISTINA: - Nossa, posso imaginar.
SILVANA: - Nós não estamos nem transando.
VERA: - Não?
SILVANA: - Não... Não há clima, não há empolgação...
CRISTINA: - Mas Silvana, isso não pode continuar. Desculpe falar isso para você, mas você tem que fazer alguma coisa. Um casamento nesse clima não continua firme não...
VERA: - Cristina! Isso é coisa que se diga!
SILVANA: - Vera, a Cristina tem razão. Eu não posso deixar meu casamento esmorecer... O jeito agora é procurar como fazer ele melhorar depois de tudo isso...

CENA 30. CASA SÔNIA. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

     Matilde e Sônia conversam.

MATILDE; - E então, você falou para o Adriano?
SÔNIA: - Falei mamãe.
MATILDE: - E ele, como ele reagiu?
SÔNIA: - Ele ficou péssimo, como eu já imaginava... se sentiu traído, enganado, por eu não ter falado para ele sobre a minha filha.
MATILDE; - Mas isso vai passar, você vai ver.
SÔNIA; - Não sei não, mamãe... Ele ficou ainda mais perplexo quando eu falei para ele que a filha é do Henrique. Ele considera o Henrique um grande amigo. Já tinha até falado com ele para montarem uma parceria entre o resort e a companhia de navegação... Mas depois dessa história toda.
MATILDE: - Por um lado é triste, mas cedo ou tarde, ele teria que saber!
SÔNIA: - Ele nem falou comigo aquela noite...
MATILDE; - Sim, ele ficou chocado... Mas vá com calma... deixa que aos poucos, ele amolece o coração e vocês se entendem novamente...
SÔNIA: - Tomara, mamãe!
MATILDE: - Bom, já vou indo, senão seu pai reclama que eu demorei...
SÔNIA: - Mas o que você disse para ele?
MATILDE; - Falei que ia numa vizinha pegar uma receita de bolo...
SÔNIA (risos): - Só a senhora mesmo, mamãe...
MATILDE: - Ora, tinha que inventar uma desculpa, não é?
SÔNIA: - Mas vai ser por enquanto apenas...
MATILDE; - Se Deus quiser!

     As duas se abraçam. Sônia acompanha Matilde até a porta. Matilde vai embora. Sônia fica pensativa.



CENA 31. TRANSIÇÃO DO TEMPO. ANOITECER / SÃO PAULO. HOTEL. INT. NOITE.

     Imagens de Praia Real ao anoitecer. Imagens da praia, do calçadão iluminado. Corta para imagens de São Paulo já a noite. Imagens da noite paulistana. Corta para o hotel onde Rúbia e Patrícia estão hospedadas. Elas se preparam para jantar.

PATRÍCIA (saindo do banheiro): - Está boa essa roupa?
RÚBIA (maquiando-se em frente ao espelho): - Está sim! Linda!
PATRÍCIA: - Então, vamos jantar aqui no hotel mesmo?
RÚBIA; - Não... Eu ouvi um dos funcionários indicando um restaurante bacana para um casal que também está hospedado aqui. Vamos pra lá.
PATRÍCIA: - E você sabe onde fica?
RÚBIA: - Sim, gravei tudo e anotei para não esquecer.
PATRÍCIA; - Então vamos pra lá.

     As duas continuam a se arrumar.

CENA 32. CASA SÔNIA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

     Adriano chega em casa. Sônia está no sofá. Adriano se aproxima sério, fechado.

SÔNIA: - O que foi Adriano? O que aconteceu? Por que está assim?
ADRIANO: - Eu fui até a Companhia de Navegação falar com o Henrique.
SÔNIA: - Por que você fez isso, meu amor?
ADRIANO; - Eu precisava tirar essa história de filho a limpo... Fui lá saber a versão dele dessa história toda.
SÔNIA: - Não era preciso fazer isso, Adriano, não era...
ADRIANO: - Mas sabe que por um lado foi bom... Fiquei sabendo de uma coisa muito interessante.
SÔNIA: - O que foi? O que você ficou sabendo?
ADRIANO: - Fiquei sabendo que ele ainda gosta de você. Ou melhor, que ele ainda ama você!

Sônia fica sem reação.

ADRIANO: - Então, você não me diz nada sobre isso?
SôNIA; - Mas você quer que eu te diga o que? Que eu também amo o Henrique?
ADRIANO: - Isso! Pode ser isso também!... Você ainda ama o Henrique, Sônia?
SÔNIA: - Eu não acredito que você esteja me perguntando uma coisa dessas...
ADRIANO: - Mas eu estou, Sônia. E quero ouvir a resposta. Você ainda ama o Henrique ou não?

Adriano e Sônia ficam a se olhar.

CENA 33. CASA PETRÔNIO. QUARTO MATHEUS. INT. NOITE.

     Matheus conversa com Sabrina e Ricardo.

RICARDO: - Ta cara, então você vai mesmo para Londres?
MATHEUS: - Ainda não sei, Ricardo...
SABRINA: - Mas o que está deixando você com duvidas?
MATHEUS: - Sei lá... Tem uma coisa aqui dentro de mim que diz para que eu não vá para longe agora, para que eu fique aqui, sabe?
SABRINA: - Tipo um pressentimento?
MATHEUS: - É, pode ser...
RICARDO: - Nossa, que sinistro! Tenho um amigo paranormal!
SABRINA: - Deixa de bobagem, Ricardo.
MATHEUS: - Tem o meu lance com a Alice...
SABRINA: - Você já falou com ela sobre a viagem?
MATHEUS: - Já falei.
RICARDO: - E ela?
MATHEUS: - Ela me deu a maior força para ir viajar. Falou que seria importante para mim, para os meus estudos, para o meu futuro... E ela, assim como a minha mãe, não deixa de ter razão. Mas eu ainda me sinto preso aqui, sabe?
RICARDO: - Se eu fosse você eu iria para Londres e tentaria dominar uma inglesa! Aquelas feras!
SABRINA: - Nossa, Ricardo, como você está inconveniente hoje!
RICARDO: - Ah, Sabrina! Estou brincando, poxa!... Quer saber, ao invés de domar as inglesas, vou tentar domar você, pra ver se você fica mais mansinha...
SABRINA: - Nem em sonho!
MATHEUS: - Ih Ricardo... Pelo visto, nem no Brasil nem na Europa você vai conseguir domar alguém... (risos)
RICARDO: - Ah, esperem só para ver!
SABRINA: - Com essa pose de garanhão em final de carreira, eu não vou esperar coisa nenhuma! Vou ficar velhinha e não vou ver nada!

     Matheus e Sabrina riem. Ricardo tenta convencê-los dos seus truques com a mulheres. Os três seguem rindo, brincando.

CENA 34. CASA ALBERTO. COZINHA. INT. NOITE.

     Olga está na cozinha quando Felipe entra no local.

FELIPE (cínico): - Você precisa aprender melhor algumas coisas, Olga...
OLGA: - Como assim, Felipe? Aprender o que?
FELIPE: - Aprender, por exemplo, a como escutar uma conversa sem ser percebida...
OLGA; - Desculpe, Felipe, mas eu não sei do que você está falando.
FELIPE; - Sabe... Você sabe muito bem.

     Felipe se aproxima de Olga.

FELIPE: - Você, como empregada, deveria saber muito bem que não é permitido ficar ouvindo conversas de patrão.
OLGA: - Foi sem querer, eu não tive intenção nenhuma.
FELIPE: - Me engana que eu gosto, Olga. Empregada insignificante...
OLGA: - Você está me tratando com desrespeito, Felipe.
FELIPE: - E eu posso tratá-la ainda pior... Não fique escondida pelos cantos, Olga, ouvindo a conversa alheia, buscando informações... Ainda mais se for para repassar para outra pessoa fora daqui.

     Olga fica apreensiva.

OLGA: - Eu não passo nada para ninguém, Felipe. Você está enganado ao meu respeito.
FELIPE (encarando Olga firmemente): - E você está achando que eu sou um idiota, só pode... Eu sei muito bem que você anda de conversinhas e encontrinhos com aquele imundo do Sérgio. Mas eu só vou te avisar uma vez: pare de ficar se intrometendo onde não deve, Olga... Porque quem procura, acha.

     Felipe encara Olga.

               FIM DO CAPÍTULO


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