quinta-feira, 25 de junho de 2015

Episódio 04: Reaper


Ela termina de descer as escadas e coloca a escopeta sobre um suporte na parede. Olhando para o canto, dá para ver a linha que aciona a armadilha e fico surpreso por alguém conseguir projetar algo tão bem bolado. Ela aproxima-se de nós e começa a nos cumprimentar.
— Meu nome é Syndel Winchester. E vocês? – Ela pergunta.
— Chase Davenport. – Respondo, apertando sua mão.
— Luna Mitchell. – Luna diz, meio sem jeito.
— É um prazer tê-los em minha casa. Evitem as escadas do segundo andar, está repleto de cadáveres e eu ainda não tive tempo de pôr fim neles. A cozinha é por aqui, acompanhem-me.
Syndel me intriga. Ela não parece o tipo de mulher que consegue matar alguém sem dó nem piedade, mas eu também não era alguém desse tipo, nem Luna. Nem Zoe. Nem Chloe. Todos nós mudamos. Ela olha me observa atentamente, depois desvia o olhar e pede que nos sentemos à mesa.
Em torno de mais ou menos dez minutos, Syndel nos traz vários pratos saborosos e eu posso garantir que já faz mais de um ano que não tenho uma refeição tão atraente assim. Luna e eu enchemos nossos pratos com tanta comida que quase não dá para acreditar. Syndel ignora a nossa fome gigante e puxa assunto com os filhos.
— Então, onde está Kratos?
— Pai está caçando na fronteira com Utah. – Diz Jared.
— Então ele conseguiu sair. – Kitana diz. – Estou preocupada com a nossa situação. Somos nós quatro e os dois famintos aí.
— Eu não me preocuparia. Ouvi histórias extraordinárias sobre as batalhas do ceifeiro e da maga e eu não preferiria ter ninguém diferente em meu time. Aconselho vocês a descansarem, nós iremos atrás de Lilith à noite.

[...]

— Você vai ficar neste quarto. – Diz Syndel. – Luna ficará no quarto vizinho ao seu. O resto de nós estará lá em cima. Pode tomar um banho se quiser.
— Obrigado. – Respondo.
Fecho a porta. Ponho as mãos sobre o meu rosto e respiro fundo. Tiro a minha camisa e caminho até o banheiro, onde também fecho a porta. Sinto-me vazio, não consigo pensar direito e tudo o que eu quero é que isso acabe de uma vez por todas, mas parece que não tenho tanta sorte assim. Digo, achamos que tínhamos vencido Morte próximo ao castelo de Íris, mas fomos arrastados ao inferno, onde achamos ter vencido Lilith, mas era tudo parte do seu plano e agora estamos com seis contra um exército. Ligo o chuveiro e deixo a água levar meus pensamentos para o ralo.
Depois que termino o banho, enrolo a toalha envolta da minha cintura e saio ainda com água escorrendo pelo meu corpo, quando dou de cara com Kitana encostada na porta do quarto, me olhando.
— Relaxe, eu não sou igual à Milena. – Ela diz.
— O que você quer aqui?
— Minha mãe pode parecer boazinha, mas ela é a mulher mais guerreira que eu conheço, de verdade. Eu só quero que você saiba que está em boas mãos.
— Eu acredito em você. – Digo, tranquilo. – Só não tenho certeza que Luna e eu estamos aptos para batalhas novamente.
— Eu acredito em vocês dois. – Ela responde. – Agora vá dormir, partiremos à meia noite.
Kitana sai do quarto e eu ponho algumas roupas que haviam dentro do guarda-roupa do quarto. Jogo-me na cama e observo o teto por algumas horas até pegar no sono.

[...]

Sonhei mais uma vez com o dia em que eu vi o vulto nos fundos do meu colégio. Novamente eu vi Katherine e Morte lá, assim como vi a mim mesmo sentado, ouvindo músicas no meu iPad. Eu sei que esse dia tem algum significado, mas eu não sei ao certo o quê. Luna me cutuca e eu volto à sanidade.
— Nós já estamos quase na fronteira de Nevada.
— Sério? Eu nem percebi.
— Kratos continuará em Utah até segunda ordem. Eu fui atrás de uma bruxa enquanto vocês dormiam e consegui esses broches aqui – Syndel os entrega para Jared – repasse aos outros. Eles nos permitirão ficar invisíveis, mas os sensores de calor poderão nos detectar à qualquer movimento brusco. Luna, Chase, espero que estejam bem armados.
— Estou com a espada que Jared me deu.
— E eu estou com as antigas adagas de Milena. – Luna diz e o rosto de Kitana se entristece um pouco.
Os broches são interessantes. É uma espécie de raio na horizontal, e todos nós posicionamo-nos no peito esquerdo. Syndel continua dando umas instruções para Jared e Kitana, em seguida, vira-se para mim.
— Chase, você virá comigo. Kitana seguirá pelos fundos e Jared ficará com Luna. Nós tentaremos entrar por onde der para resgatar os outros. O broche funcionará neles assim que você os tocar, mas peço que todos tenham cuidado. Preparados?
Todos nós confirmamos com a cabeça.
Jared para o carro.
Descemos do carro e começamos a nos armar. Ponho minha espada abaixo do cinto, também estou com duas granadas presas a ele, em casos extremos. Luna coloca as adagas nas costas dela e uma arma abaixo da calça. Kitana está com seus leques escondidos, pois eu não os vejo, já Jared está com seu bastão dobrado em seu bolso e uma escopeta nas costas. Syndel é quem está mais armada. Ela tem uma escopeta nas costas, duas armas abaixo do cinto, um monte de facas abaixo de sua calça, presas por um suspensório e ainda tem agulhas venenosas prendendo o seu cabelo.
— Que a missão se inicie.
Nós andamos pelo mesmo caminho por um tempo, mas logo nos separamos. Jared e Luna saem voando no bastão dele, embora eu não entenda muito bem como, mas como aquilo sempre foi mágico, então acabo não reparando muito. Não vi ao certo quando Kitana sumiu. Syndel e eu continuamos andando.
Depois de uns quarenta minutos de caminhada, eu estou surpreendentemente normal e não me sinto cansado, mesmo considerando que estamos num deserto no meio do Nevada. Chegamos até a cerca de proteção e quando eu estava prestes a encostá-la, Syndel me impede, pega uma cobra que estava por perto e a joga contra a cerca. Vejo a cobra agonizar e pegar fogo em questão de segundos.
— É a Area 51. É óbvio que tem cerca elétrica.
— Então o que nós vamos fazer? Cavar? – Pergunto.
— Não.
Vejo o bastão de Jared descendo dos céus e Syndel sobe, passa pela cerca e depois o joga de volta para mim. Subo no bastão meio desengonçado, mas logo percebo que posso ficar em pé no mesmo, pois ele está girando e criando uma barreira de ar. Também entro na Area 51.
— Vamos.
O bastão de Jared sai voando sozinho. Syndel e eu andamos até a porta central da Area 51 e ficamos encostados na parede, ao aguardo de algum guarda chegar e digitar a senha, para que possamos entrar sem sermos notados.
A espera é um pouco longa, mas logo o portão é aberto e uma van preta da S.W.A.T. aparece. A van é estacionada e dela descem dois seguranças carregando uma moça com um saco preto no rosto, em seguida, mais dois carregam um rapaz, também com um saco preto no rosto.
— Íris e Ryan. – Sussuro para Syndel.
— Não. Eles já estão aqui, disso eu tenho certeza.
Syndel levanta a manga de sua blusa e tira um dispositivo bastante fino de lá. Ele é prateado e tem um círculo no meio. É uma espécie de câmera. Syndel aponta para os prisioneiros e os guardas e uns cinco segundos depois, recebe uma foto.
— Jared está com outro desse. Olha. – Ela me mostra uma foto de corpos espalhados pelo chão. – Devem estar à procura de alguém específico.
— Eles não vão trazer aqueles dois pela porta principal. Acho melhor seguirmos.
Outra foto chega. Syndel olha e depois a mostra para mim. Kitana enviou.
— Ótimo, ela vai segui-los. – Digo. – O que nós fazemos? Continuamos esperando?
— Sim. – Ela responde.
Uns quinze minutos depois, um carro preto entra pelo portão principal e apenas um homem sai de lá. Ele é alto, cabelos castanhos e anda em nossa direção. Syndel me segura e ambos seguramos nossas respirações. O homem digita a senha e a porta abre. Ele entra e nós entramos em seu rastro, antes que a porta se feche.
Syndel tira fotos do interior do lugar e as envia para Jared e Kitana. Eu observo atentamente. A entrada é um pequeno corredor com paredes esverdeadas e iluminação forte. Ao final, há uma identificação ocular e o homem entra, mas a porta se fecha rapidamente, deixando eu e Syndel para trás.
De repente, a iluminação verde fica vermelha. Ouvimos uma voz eletrônica.
Invasão de perímetro. Invasão de perímetro. Exterminação em 20 segundos.
Syndel e eu ficamos desesperados.



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