Ela termina de
descer as escadas e coloca a escopeta sobre um suporte na parede. Olhando para
o canto, dá para ver a linha que aciona a armadilha e fico surpreso por alguém
conseguir projetar algo tão bem bolado. Ela aproxima-se de nós e começa a nos
cumprimentar.
— Meu nome é
Syndel Winchester. E vocês? – Ela pergunta.
— Chase Davenport.
– Respondo, apertando sua mão.
— Luna Mitchell. –
Luna diz, meio sem jeito.
— É um prazer
tê-los em minha casa. Evitem as escadas do segundo andar, está repleto de
cadáveres e eu ainda não tive tempo de pôr fim neles. A cozinha é por aqui,
acompanhem-me.
Syndel me intriga.
Ela não parece o tipo de mulher que consegue matar alguém sem dó nem piedade,
mas eu também não era alguém desse tipo, nem Luna. Nem Zoe. Nem Chloe. Todos
nós mudamos. Ela olha me observa atentamente, depois desvia o olhar e pede que
nos sentemos à mesa.
Em torno de mais
ou menos dez minutos, Syndel nos traz vários pratos saborosos e eu posso
garantir que já faz mais de um ano que não tenho uma refeição tão atraente
assim. Luna e eu enchemos nossos pratos com tanta comida que quase não dá para
acreditar. Syndel ignora a nossa fome gigante e puxa assunto com os filhos.
— Então, onde está
Kratos?
— Pai está caçando
na fronteira com Utah. – Diz Jared.
— Então ele
conseguiu sair. – Kitana diz. – Estou preocupada com a nossa situação. Somos
nós quatro e os dois famintos aí.
— Eu não me
preocuparia. Ouvi histórias extraordinárias sobre as batalhas do ceifeiro e da
maga e eu não preferiria ter ninguém diferente em meu time. Aconselho vocês a
descansarem, nós iremos atrás de Lilith à noite.
[...]
— Você vai ficar
neste quarto. – Diz Syndel. – Luna ficará no quarto vizinho ao seu. O resto de
nós estará lá em cima. Pode tomar um banho se quiser.
— Obrigado. –
Respondo.
Fecho a porta.
Ponho as mãos sobre o meu rosto e respiro fundo. Tiro a minha camisa e caminho
até o banheiro, onde também fecho a porta. Sinto-me vazio, não consigo pensar
direito e tudo o que eu quero é que isso acabe de uma vez por todas, mas parece
que não tenho tanta sorte assim. Digo, achamos que tínhamos vencido Morte
próximo ao castelo de Íris, mas fomos arrastados ao inferno, onde achamos ter
vencido Lilith, mas era tudo parte do seu plano e agora estamos com seis contra
um exército. Ligo o chuveiro e deixo a água levar meus pensamentos para o ralo.
Depois que termino
o banho, enrolo a toalha envolta da minha cintura e saio ainda com água
escorrendo pelo meu corpo, quando dou de cara com Kitana encostada na porta do
quarto, me olhando.
— Relaxe, eu não
sou igual à Milena. – Ela diz.
— O que você quer
aqui?
— Minha mãe pode
parecer boazinha, mas ela é a mulher mais guerreira que eu conheço, de verdade.
Eu só quero que você saiba que está em boas mãos.
— Eu acredito em
você. – Digo, tranquilo. – Só não tenho certeza que Luna e eu estamos aptos
para batalhas novamente.
— Eu acredito em
vocês dois. – Ela responde. – Agora vá dormir, partiremos à meia noite.
Kitana sai do
quarto e eu ponho algumas roupas que haviam dentro do guarda-roupa do quarto.
Jogo-me na cama e observo o teto por algumas horas até pegar no sono.
[...]
Sonhei mais uma
vez com o dia em que eu vi o vulto nos fundos do meu colégio. Novamente eu vi
Katherine e Morte lá, assim como vi a mim mesmo sentado, ouvindo músicas no meu
iPad. Eu sei que esse dia tem algum significado, mas eu não sei ao certo o quê.
Luna me cutuca e eu volto à sanidade.
— Nós já estamos
quase na fronteira de Nevada.
— Sério? Eu nem
percebi.
— Kratos
continuará em Utah até segunda ordem. Eu fui atrás de uma bruxa enquanto vocês
dormiam e consegui esses broches aqui – Syndel os entrega para Jared – repasse
aos outros. Eles nos permitirão ficar invisíveis, mas os sensores de calor
poderão nos detectar à qualquer movimento brusco. Luna, Chase, espero que
estejam bem armados.
— Estou com a
espada que Jared me deu.
— E eu estou com
as antigas adagas de Milena. – Luna diz e o rosto de Kitana se entristece um
pouco.
Os broches são
interessantes. É uma espécie de raio na horizontal, e todos nós posicionamo-nos
no peito esquerdo. Syndel continua dando umas instruções para Jared e Kitana,
em seguida, vira-se para mim.
— Chase, você virá
comigo. Kitana seguirá pelos fundos e Jared ficará com Luna. Nós tentaremos
entrar por onde der para resgatar os outros. O broche funcionará neles assim
que você os tocar, mas peço que todos tenham cuidado. Preparados?
Todos nós
confirmamos com a cabeça.
Jared para o
carro.
Descemos do carro
e começamos a nos armar. Ponho minha espada abaixo do cinto, também estou com
duas granadas presas a ele, em casos extremos. Luna coloca as adagas nas costas
dela e uma arma abaixo da calça. Kitana está com seus leques escondidos, pois
eu não os vejo, já Jared está com seu bastão dobrado em seu bolso e uma
escopeta nas costas. Syndel é quem está mais armada. Ela tem uma escopeta nas
costas, duas armas abaixo do cinto, um monte de facas abaixo de sua calça,
presas por um suspensório e ainda tem agulhas venenosas prendendo o seu cabelo.
— Que a missão se
inicie.
Nós andamos pelo
mesmo caminho por um tempo, mas logo nos separamos. Jared e Luna saem voando no
bastão dele, embora eu não entenda muito bem como, mas como aquilo sempre foi
mágico, então acabo não reparando muito. Não vi ao certo quando Kitana sumiu.
Syndel e eu continuamos andando.
Depois de uns
quarenta minutos de caminhada, eu estou surpreendentemente normal e não me
sinto cansado, mesmo considerando que estamos num deserto no meio do Nevada. Chegamos
até a cerca de proteção e quando eu estava prestes a encostá-la, Syndel me
impede, pega uma cobra que estava por perto e a joga contra a cerca. Vejo a
cobra agonizar e pegar fogo em questão de segundos.
— É a Area 51. É
óbvio que tem cerca elétrica.
— Então o que nós
vamos fazer? Cavar? – Pergunto.
— Não.
Vejo o bastão de
Jared descendo dos céus e Syndel sobe, passa pela cerca e depois o joga de
volta para mim. Subo no bastão meio desengonçado, mas logo percebo que posso
ficar em pé no mesmo, pois ele está girando e criando uma barreira de ar.
Também entro na Area 51.
— Vamos.
O bastão de Jared
sai voando sozinho. Syndel e eu andamos até a porta central da Area 51 e
ficamos encostados na parede, ao aguardo de algum guarda chegar e digitar a
senha, para que possamos entrar sem sermos notados.
A espera é um
pouco longa, mas logo o portão é aberto e uma van preta da S.W.A.T. aparece. A
van é estacionada e dela descem dois seguranças carregando uma moça com um saco
preto no rosto, em seguida, mais dois carregam um rapaz, também com um saco
preto no rosto.
— Íris e Ryan. –
Sussuro para Syndel.
— Não. Eles já
estão aqui, disso eu tenho certeza.
Syndel levanta a
manga de sua blusa e tira um dispositivo bastante fino de lá. Ele é prateado e
tem um círculo no meio. É uma espécie de câmera. Syndel aponta para os
prisioneiros e os guardas e uns cinco segundos depois, recebe uma foto.
— Jared está com
outro desse. Olha. – Ela me mostra uma foto de corpos espalhados pelo chão. –
Devem estar à procura de alguém específico.
— Eles não vão
trazer aqueles dois pela porta principal. Acho melhor seguirmos.
Outra foto chega.
Syndel olha e depois a mostra para mim. Kitana enviou.
— Ótimo, ela vai
segui-los. – Digo. – O que nós fazemos? Continuamos esperando?
— Sim. – Ela
responde.
Uns quinze minutos
depois, um carro preto entra pelo portão principal e apenas um homem sai de lá.
Ele é alto, cabelos castanhos e anda em nossa direção. Syndel me segura e ambos
seguramos nossas respirações. O homem digita a senha e a porta abre. Ele entra
e nós entramos em seu rastro, antes que a porta se feche.
Syndel tira fotos
do interior do lugar e as envia para Jared e Kitana. Eu observo atentamente. A
entrada é um pequeno corredor com paredes esverdeadas e iluminação forte. Ao
final, há uma identificação ocular e o homem entra, mas a porta se fecha
rapidamente, deixando eu e Syndel para trás.
De repente, a
iluminação verde fica vermelha. Ouvimos uma voz eletrônica.
— Invasão de perímetro. Invasão de perímetro.
Exterminação em 20 segundos.
Syndel e eu
ficamos desesperados.
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