3x02 - Breakout
Dirigimos por
três horas até chegarmos em Fairplay. A cidade é bem pequena, poucos atrativos,
não pensarão em nos procurar aqui. Estou pensativo desde que saímos de
Georgetown e quebro o gelo.
— Luna, você tem
alguma ideia de quem era aquela mulher morena? – Pergunto.
— Eu realmente
não sei. Digo, é complicado para saber. Pareceu Chloe.
Respiro fundo e
me calo. Kitana percebe a minha reação e apenas ignora. Ela é diferente de sua
irmã. Primeiro porque ela não tentou me agarrar todas às vezes em que nos
encontramos, segundo porque ela é mais focada nas missões e terceiro porque,
acima de tudo, ela também quer por um fim nessa guerra.
Kitana deixa o
carro estacionado num beco atrás de um restaurante. Há um sem-teto perto de
umas lixeiras e Kitana entrega a chave para ele.
— Venda o carro
e mude de vida. – Ela diz.
Continuamos
andando.
Passamos por
vários becos em bastante silêncio até encontrarmos uma estação de ônibus.
Kitana tira uma carteira de sua calça e a joga para mim. Agarro a carteira no
ar.
— Compre alguma
coisa para comermos. Eu vou checar o horário dos ônibus. – Ela diz.
— Eu vou com o
Chase. – Luna retruca, e me acompanha até a máquina de doces.
Andamos em
silêncio até chegarmos à máquina. Ouço Luna reclamando que Kitana nos trata
como crianças, mas diante da situação, ela está fazendo o correto. Luna e eu
estamos sem poderes, sem armas e sem energia nenhuma. Coloco três notas de um
dólar na máquina e ela nos dá três saquinhos de jujuba. Entrego um à Luna,
coloco um no bolso e abro o outro.
— Nós estivemos,
literalmente, no inferno! – Luna exclama.
— Você tem
certeza de que era a Chloe? – Pergunto.
— O quê? – Ela
pausa. – Eu não sei, Chase. Poderia ser, mas eu não ficaria com esperanças. Você
e Chloe terminaram de um modo muito ruim e não vejo motivos para ela querer
entrar nesse mundo de novo. É horrível, digo, olhe quantas pessoas nós já
perdemos: Eu perdi minha família, você teve que abandonar a sua, você viu seus
amigos morrerem inúmeras vezes e perdeu parceiros de batalha. Ontem, nós
perdemos Silas e eu ainda não consigo processar isso direito. Ela teve sorte.
Ela e Zoe. As duas puderam escapar do inferno e do submundo vivas, humanas e
sem nenhuma conexão conosco, a menos que elas tenham sido ameaçadas, não vejo
razão para voltarem.
Engulo a
resposta de Luna em seco. Ela está certa. Luna nunca mais viu ninguém da
família dela, exceto pelo irmão, mas aquilo tudo foi alucinação e ela teve que
se livrar dele. Deve ter sido doloroso. Continuamos andando e comendo jujubas
até encontrarmos com Kitana no terminal.
— Tome. – Jogo o
outro pacote de jujubas para ela.
— Obrigada. –
Ela olha para os lados. – O próximo ônibus para Salida sai em uma hora, ao
amanhecer. Podem tirar um cochilo se preferirem, eu fico de guarda.
— Sinto muito
por Milena. – Digo.
— Eu sei. Eu
também. – Ela responde.
Sentamos nas
cadeiras do terminal, esperando pelo ônibus. Luna caiu no sono apoiada em meu
peito, mas deixo-a dormir. Tivemos uma longa noite. Fecho os meus olhos para
tirar um cochilo também.
[...]
Somos os
primeiros – e únicos – a embarcar no ônibus. De Fairplay para Salida serão
quatro horas de viagem, chegaremos lá por volta de dez da manhã. Kitana nos
contou que Jared está escondido num trailer alugado, então será um pouco
difícil de acha-lo. Para evitar conflitos, nos dividimos: Luna está sentada no
fundo, a cabeça encostada na janela. Kitana está uns dois bancos à frente, ao
lado de uma gótica esquisita. Eu estou sentado três bancos atrás do primeiro,
dividindo o assento com uma garota.
— Bom dia. – Ela
diz.
— Bom dia. –
Respondo rápido, sem querer puxar conversa.
O ônibus é
ligado e não temos mais pessoas subindo. Recosto-me no assento, respirando
fundo e torcendo para dar tudo certo. Alguém dá três batidas fortes na porta. O
motorista abre e o passageiro entra. Fecho os olhos, e logo o ouço falar.
— Davenport...
Já faz um bom tempo que não te vejo.
Abro meus olhos.
Eu reconheço essa voz. Essa é a última pessoa que Kitana, Luna e Eu gostaríamos
de ter no mesmo ônibus que nós.
— Morthy, ao seu
dispor. – Ele estica a mão para a garota ao meu lado e senta no banco atrás do
meu.
Morte sussurra
em meu ouvido.
— Vai ser uma viagem divertida, não acha?
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