- Você? –falou
Tiago surpreso.
Túlio chegou
banhado em suor.
- Que susto
que você nos deu, cara. – fala Mateus tirando o suor da testa.
- Me desculpem
pelo atraso. Cheguei a tempo para o dia mais divertido do ano? – indaga Túlio.
- Você perdeu
a abertura do espetáculo, em que a donzela foi arrastada pelas pernas,
percorrendo as ruas. – dispara Rogério ironicamente.
- Já que a
gangue está completa, declaro aberta a arena. – discursa Tiago com um largo
sorriso no rosto e uma grande satisfação nos olhos.
Depois que
aquelas palavras foram ditas, começou a pancadaria. O beco vestiu-se de
vermelho com tanto sangue esguichado por Marlon.
- Pensa que
terminou? Agora que foi as preliminares. – comenta Tiago. - Vamos para o prato
principal...você começa Madalena, as damas primeiro.
Depois que
Tiago autorizou Madalena a começa com o grande show da luta desleal, Marlon não
parou de ser humilhado, como já estava “acostumado”.
- Olha as
flores que você me deu Mané...eu guarde elas para um grande momento. Elas estão
murchas, mas isso é muito pra você. Que pena que elas não tem espinhos... Agora
vou devolver seu presentinho...olhe o que eu faço com essa porcaria – fala
Madalena com ódio nas mãos.
Ela jogou o
resto das flores em um lamaçal. Pisoteou com tanta força e com tanta raiva que
o a sandália e as mãos ficaram banhadas em lama.
-
Gostou?...não responde! Ainda não acabou. – profere com uma voz melodiosa de
tamanha felicidade.
Madalena pegou
as rosas meladas de lama e colocou dentro da boca de Marlon.
- Esse é o
amor que você merece! Feliz dia dos
namorados atrasado. – depois que Madalena disse isto, todos riram profundamente
da cara do rapaz.
Depois que ela
acabou o seu espetáculo, Tiago anuncia o próximo número:
- A segunda
atração do circo, será o artista Rogério, o malabarista. Ele vai tentar
equilibrar esse taco de madeira nas pernas do nosso cobaia.- depois da
apresentação de Tiago, Rogério começou com o “número”.
Ele começou
brincando de malabarista. Marlon ensangüentado e com o rosto aflito, ficou com
os olho esbugalhados esperando o golpe. Depois da brincadeira de malabares,
Rogério deu várias tacadas na perna de Marlon. A cada tacada dele era um grito
ensurdecedor. Acabado o malabares, Tiago anuncia a próxima atração:
- E agora com
vocês, Maurício. O atirador de pedras...
Maurício tirou
de um saco que carregava inúmeras pedras e começou o “número” tiro ao alvo. Ele
acertou a barriga, a boca, o nariz, o pé e as mãos de Marlon. Depois do fim
dessa atração, Marlon estava com dois dentes e o nariz quebrado, mãos e pés
dormentes e sem ar, por conta da pedrada no estômago.
- Mais um
espetáculo e o nosso convidado ainda está intacto...- disse Tiago e todos
caíram na risada. – O próximo é o grande mágico Mateus... ele irá fazer o nosso
convidado desaparecer.
Mateus pegou o
lixo que estava a uma semana no beco e jogou tudo na cabeça de Marlon. Ele
estava no meio de carne apodrecida, ossos de peixe, resto de comida. Como se
não bastasse, Mateus encontrou uma sacola de papel higiênico usado e colocou um
por um na boca do rapaz, que já estava morto de cansado.
- Deve está
uma delícia, não é mesmo? Você vai comer todinho, acho que você não vai falar
tão perto de alguém, porque sua boca está um esgoto... – Mateus foi falando
essas palavras e colocando os papéis na boca de Marlon e todos estavam choram
de tanto rir.
- Peço
desculpas a todos que estão vendo esse espetáculo, porque o palhaço hoje está
sendo o nosso convidado à participar das nossas atrações...mas agora o nosso
convidado vai ser um nadador no meio de tubarões e o nosso amigo Túlio será o
assistente. – declarou Tiago.
Túlio pegou um
tambor de lixo em um outro beco e colocou água. Depois pegou Marlon nos braços
e suspendeu. Marlon mergulhou de cabeça na água. Poucos segundos se passaram e
ele já estava sem fôlego. Ele ,não agüentando mais, levantou o braço e Túlio
tirou-o.
Marlon
respirava desesperadamente. Agora ele estava mais limpo e quase morrendo sem
ar. A água estava toda ensanguentada.
Não dado por
satisfeito, ele enfiou a cabeça do enfermo novamente.
Passados mais
alguns minutos, Túlio tirou-o e jogou-o no chão. Ele estirado, falou:
- Não quero
morrer...po...por...por fa...por favor...não...deixe que eu...morra.
- Calma
arregão, agora é o grand finale. Sou eu quem terei a honra desse momento
histórico para nossa gangue. – disse Tiago.
- Por favor!
Eu im...plo...ro que me deixem em
paz. Quero ir para casa. – sussurrou Marlon.
- Mais é claro
que você vai pra casa. Não queremos um bosta como você. - disse Rogério. –
Agora vai ser o grandioso final.
Depois que
Rogério falou estas palavras, ele andou em direção do pobre enfermo e pegou no
seu queixo e escarrou na cara do ensangüentado e depois socou a cara dele com
muita vontade. Não sei como um ser humano pode derramar tanto sangue quanto
ele. Isso não o interessava, mais sim as duras e cruéis palavras
inescrupulosas. A cada segundo que passava, Marlon ia se convencendo que tudo o
que ele tinha se tornado era um desgraçado beato. Ele se perguntava, antes de
desmaiar: “ Cadê o Deus que todos dizem que ampara os indefesos?”.
Depois que
todos os artistas terminaram seus números, Tiago jogou Marlon desmaiado na poça
de lama.
Ao abrir os
olhos, Marlon viu as estrelas. Já estava anoitecendo. Cambaleando, arrastando e
mancando Marlon ia percorrendo seus 2 km . O triste era que ninguém estava em casa. Seus pais haviam
morrido num acidente de avião. A única pessoa de sua família era Wanda, a sua
tia. Ela nunca ligou para o rapaz de 18 anos. Quando ele era de menor, sempre
os vizinho denunciava e ela sempre dizia que estava em uma viagem de negócios e
tinha deixado uma amiga tomando conta dele. Tudo não passava de uma grande
mentira. Ela morava 458km de distância do garoto e deixa uma migalha para ele
vegetar na cidade.
Lá estava o
enfermo cambaleando, digo um enfermo da alma. Chegando na sua mísera choupana,
Marlon chorou...chorou... e chorou. No fundo ele tinha mudado. Aquele jogo, em
que ele tinha sido um peça, serviu para ele abrir os olhos e despertar para a
vida:
- Por que isso
tinha que acontecer comigo, meu Deus? Por que me abandonaste? Sou um desgraçado. Não adianta rezar,
prometer ou algo do tipo, quem manda em mim
é o Destino, ele sim me entende. Sei que não adianta ter merda de
escrúpulos. Prometo pra mim mesmo, que daqui em diante, serei outro. Nunca mais
vou zelar pela verdade. O mundo é o mar, as pessoas são cada gota do oceano. A
sociedade nada de acordo com a onda. Quem tem escrúpulos só se maltrata. Eu sou
a prova viva. No fundo agradeço por terem aberto meus olhos, mas juro que não
vou deixar passar essa humilhação em branco. Vou lutar pra ser alguém na vida é se
vingar de todos. Nunca mais vão querer brincar comigo. Agora sou eu o
comandante e os outros serão as minhas marionetes. Pode demorar, mais a cada
segundo o meu ódio e o meu rancor só irão aumentar. Podem me aguardar Rogério,
Mateus, Madalena, Túlio, Maurício e Tiago.Vocês vão me pagar tudo, até o ultimo
centavo.
Depois desse
desabafo e acordar para a vida, Marlon foi dormir com sangue na boca e ódio e
gosto de vingança no coração.
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