CENA 01/INT./HOSPITAL/QUARTO/DIA
(Sonoplastia:
The Mass – ERA)
Maria Fernanda encara Vitória.
VITÓRIA – Então,
dona Fernanda...
MARIA FERNANDA (interrompe) – Dona não, isso é coisa pra velho.
VITÓRIA –
Ah, desculpa. Fernanda, eu...
MARIA FERNANDA (interrompe) – Que insolência! Cadê o seu respeito?
VITÓRIA – Ué,
se eu não posso te chamar de dona nem só de Fernanda, do que eu posso te
chamar?
MARIA FERNANDA – Que tal de carrasco?
Maria Fernanda desliga os aparelhos de
Vitória. Começa a ecoar pelo quarto um bipe atrás do outro. Maria Fernanda vai
embora.
NO
CORREDOR, Maria Fernanda se esconde atrás de uma planta. Dois médicos
entram no quarto correndo. Maria Fernanda sai do hospital rindo.
(Fade
out: The Mass)
Corta
para:
CENA 02/INT./MANSÃO TRINDADE/QUARTO CASAL/DIA
Ingrid está deitada em sua cama. Um médico
mede sua pressão. Otávio e Madalena do lado. Lucas e Kátia Flávia chegam.
LUCAS – Vó? O que
aconteceu com ela?
MADALENA – Ela
desmaiou de repente. O doutor está procurando a causa desse desmaio.
MÉDICO – Dez
por seis. Pressão bastante baixa.
OTÁVIO – Mas
o que deve ter causado essa queda tão grande, doutor?
MÉDICO – Existem
vários fatores que podem ter contribuído para isso. Como por exemplo o estresse
ou cansaço devido a um período muito longo em atividade.
KÁTIA FLÁVIA – Período muito longo em atividade? Batata! A dona Ingrid se
cansou muito com a noite de ontem com o seu Otávio e ploft! Desmaiou.
MÉDICO – Do
que a senhorita está falando?
KÁTIA FLÁVIA – Pílula, safadeza, os velhinhos se divertem...
LUCAS – Doutor,
não liga pra ela. Deve ter sido o estresse mesmo. O que o senhor receita para
ela melhorar?
MÉDICO – Bom,
chamam isso de clichê de todo médico, mas eu recomendo que ela apenas fique em
repouso e tome cuidado com a alimentação. E por enquanto nada de agitações!
OTÁVIO – Mas
doutor, quando ela acorda? Tá há muito tempo desmaiada...
MÉDICO – Desmaiada
ela não está mais. Ela está apenas dormindo, o que é muito bom.
LUCAS (aperta a mão do médico) – Muito obrigado mesmo, doutor. Até mais!
O médico vai embora.
KÁTIA FLÁVIA – Ai, que coisa horrível dizer ‘até mais’ pra um médico. Parece
até que você quer ficar doente de novo.
LUCAS – Para de
besteira, Kátia Flávia! Você é maluca, isso todo mundo sabe, mas hoje passou do
limite, hein? Dá um tempo.
Lucas sai. Otávio e Madalena olham pra Kátia
Flávia.
KÁTIA FLÁVIA – Que é? Nunca me viram? Madalena, vem aqui comigo.
Kátia Flávia puxa Madalena para um canto do
quarto e Otávio senta-se na cama, ao lado de Ingrid.
KÁTIA FLÁVIA – Eu tava aqui pensando com os meus botões...
MADALENA – Pensando
morreu um burro.
KÁTIA FLÁVIA – Quê que é isso, Madalena? Me respeita que eu sou da família,
viu? Agora deixa eu terminar.
MADALENA – Pode
falar.
KÁTIA FLÁVIA – Eu tava aqui pensando e acho que esse desmaio aí tem alguma
coisa a ver com aquele mexerico.
MADALENA – Mexerico?
Ué, eu pensei que ainda estivesse no tempo da jaca.
KÁTIA FLÁVIA – Ai meu Deus, depois dizem que eu sou a tapada. Eu tô falando
daquele tititi que você e a dona Ingrid tanto conversavam, lembra?
MADALENA (nervosa) – Eu não sei do que a senhorita está falando, não lembro de tititi
nenhum. Agora me dê licença por favor, eu tenho que comprar uns remédios para a
dona Ingrid. Passar bem.
Madalena sai.
KÁTIA FLÁVIA – Nesse coelho tem toca... espera, é ao contrário... não...
OTÁVIO – Por
que a Madalena saiu desse jeito? O que você fez, garota?
KÁTIA FLÁVIA – Ai, por que vocês sempre acham que eu faço tudo aqui? Fique o
senhor sabendo que a Madalena foi comprar remédios para a dona Ingrid.
Madalena, não esquece do azulzinho!
OTÁVIO – Como
é que é? Sua sem-vergonha! Saia do quarto!
KÁTIA FLÁVIA – Calma seu Otávio, eu tava...
OTÁVIO – Vá
embora.
Kátia Flávia e Otávio fazem uma confusão;
Otávio empurra Kátia para fora, ela volta e assim por diante.
Corta
para:
CENA 03/EXT./EMPRESA TRINDADE/FRENTE/DIA
(Sonoplastia:
The Mass – ERA)
Um carro preto estaciona em frente à empresa. O vidro baixa e
vemos Maria Fernanda, de óculos escuros e rindo.
MARIA FERNANDA – Nada como matar alguém e ir trabalhar depois.
O motorista sai do carro e abre a porta.
Maria Fernanda desce. CAM em ângulo baixo mostra-a caminhando até pisar no
tapete da empresa e a porta de vidro se abrir.
Corta para:
CENA 04/INT./EMPRESA TRINDADE/SAGUÃO/DIA
Maria Fernanda entra na empresa e tira os
óculos escuros. CAM focaliza em Danilo sentado no banco de espera olhando para
ela. Maria Fernanda vê o menino.
MARIA FERNANDA – O que esse menino tá fazendo aqui?
DANILO – Eu
vim trazer meu currículo pro seu Otávio.
MARIA FERNANDA – Como assim? Você acha que essa empresa é feita pra gente da sua
laia trabalhar? Vai procurar uma carroça pra catar lixo! Olha seu estado, todo
fedorento.
DANILO – A
senhora tá...
MARIA FERNANDA – Cala a boca, seu moleque! Vamos, saia daqui ou eu chamo os
seguranças.
SECRETÁRIA – Dona
Maria Fernanda, os seguranças só chegam às três.
MARIA FERNANDA – Porcaria! Ah, mas pensando bem é até melhor que eu mesmo te boto
daqui pra fora, seu delinquente.
DANILO (levanta-se) – Eu não saio daqui sem entregar o meu currículo. Eu tenho que
sustentar minha mãe e pagar minha faculdade?
MARIA FERNANDA – Não é problema meu.
Maria Fernanda abre a bolsa e de lá tira um par de luvas, que
calça em suas mãos.
MARIA FERNANDA – Se não vai por bem, vai por mal.
Maria Fernanda pega Danilo pela gola da
camisa e o arrasta para fora da empresa aos berros.
DANILO – Me
larga! Eu vou te denunciar!
MARIA FERNANDA – Eu quero ver se você tem coragem, pretinho. Com o dinheiro que
eu tenho eu posso comprar quantas e quais armas eu quiser, sabia? Ah desculpa,
esqueci que você não sabe nem nunca vai saber o que é dinheiro.
Maria Fernanda empurra Danilo em cima de
sacos de lixo.
MARIA FERNANDA – Esse sim é o seu lugar! Perto do lixo, de onde você veio e nunca
devia ter saído. Nunca mais pisa dentro da empresa, seu preto imundo!
Danilo começa a chorar em cima dos sacos de
lixo.
Foco no currículo de Danilo jogado na calçada. Maria Fernanda o
vê.
MARIA FERNANDA – Ah, e antes que eu me esqueça...
Maria Fernanda pisa no currículo de Danilo
até o papel rasgar. Desfoque do pé de Fernanda para a expressão desanimada de
Danilo.
DANILO (chorando) – Você não pode fazer isso.
MARIA FERNANDA – E como posso... agora eu acho que já perdi tempo demais aqui.
Até nunca mais, imundície!
Fernanda tira as luvas, põe-nas na bolsa
novamente, limpa o ombro e adentra à empresa novamente.
Os funcionários olham para ela com olhar
assustado.
MARIA FERNANDA – Tão olhando o quê? Nunca me viram? Isso que eu acabei de fazer
nunca aconteceu, entendido?
Maria Fernanda aperta o botão do elevador e
entra.
MUSIC
FADE. Corta para:
CENA 05/INT./HOSPITAL/QUARTO/DIA
Os enfermeiros cuidam de Vitória, que está
adormecida. Lucas entra.
LUCAS – O que
aconteceu? Cadê a minha mãe?
ENFERMEIRO – Nós
achamos que os aparelhos da Vitória não estavam bem conectados, porque quando
chegamos eles estavam caídos e ela estava à beira da morte. Quanto a sua mãe,
eu nem cheguei a ver ela.
LUCAS – Que
estranho... eu vou ligar pra ela.
Lucas sai do quarto e disca o número de
Maria Fernanda.
MARIA FERNANDA (off) – Alô?
LUCAS – Mãe, onde
é que cê tá?
MARIA FERNANDA (off) – Eu tô na empresa, por quê?
LUCAS – Fazendo o
quê? Eu não disse pra você ficar com a Vitória?
MARIA FERNANDA (off) – Ah filho, ela já se recuperou. Não há nenhum problema em deixar
ela umas horinhas sem ninguém por perto.
LUCAS – Tem problema
sim. Sabia que os aparelhos da Vitória ficaram desligados e ela quase morreu?
MARIA FERNANDA (off) – Quer dizer que ela não morreu?
LUCAS – Você
sabia disso, mãe?
MARIA FERNANDA (off) – É... claro que não. Que bom que ela resistiu, né? Agora eu preciso
resolver umas coisas. Até mais.
Maria Fernanda desliga. Lucas fica
desconfiado.
MATCH
CUT: Maria Fernanda senta na cadeira do escritório.
MARIA FERNANDA – Droga! A infeliz não morreu. Preciso pensar em alguma coisa pra
acabar de vez com a família Vasconcelos.
Corta
para:
CENA 06/INT./CASA DE ROSICLER/SALA/DIA
Rosicler lê um livro deitada no sofá. Társis
desce as escadas.
TÁRSIS – Falou,
mãe.
ROSICLER – Falei
o quê? Aonde você tá indo?
TÁRSIS – Eu
vou num 0800 e volto umas nove da noite.
ROSICLER – 0800?
O que é isso? Társis...
Társis vai embora.
ROSICLER – Ai,
que educação eu dei pra esse menino.
Rosicler vê um notebook em cima da mesa de
centro.
ROSICLER – O
computador dele! Tá na hora de dar uma passadinha no site de relacionamento...
Rosicler pega o notebook, liga e entra no
site de relacionamento. Nínive chega da cozinha e fica atrás da mãe.
NÍNIVE – Site
de relacionamento, dona Rosicler?
ROSICLER – Que
susto, Nínive! Quer matar sua mãe do coração?
NÍNIVE – Coração
é uma coisa sua que não morre nunca. Tá procurando um partidão é?
ROSICLER – Algum
problema? Tô velha mas não tô morta.
NÍNIVE – Não
é isso mãe, é que a morte do papai ainda tá muito recente.
ROSICLER – E
você quer o quê? Que eu vá todos os dias no cemitério, abra o caixão dele e beije
a carcaça? Faça-me o favor, Nínive. Eu amei muito o seu pai e amo até hoje, mas
o que eu posso fazer? Ele já tá a sete palmos do chão.
NÍNIVE – Tudo
bem, sua sem-coração. Deixa eu te ajudar a criar um perfil.
ROSICLER – Criar
um perfil? Você tá desatualizada, minha filha. Eu já tenho 132 amigos no site.
NÍNIVE – Tudo
isso? Ô mãe, quando foi que você se cadastrou nesse site?
Rosicler faz o número três com a mão,
envergonhada.
NÍNIVE – Três
meses, mãe?
ROSICLER – Anos.
NÍNIVE – Meu
Pai eterno, você namora pela internet há três anos? Tá podendo, viu? Qual é o
seu nick?
ROSICLER – Meu
nick? O que é isso? É em gota ou comprimido?
NÍNIVE – Não,
sua boba. Nick é o seu nome no site.
ROSICLER – Ah
bom. Esse meu tal de nick é RorrôLoveGatinha.
NÍNIVE – Que
horror, mãe! Podia criar um melhor, né?
ROSICLER – E
o que a senhorita sugere?
NÍNIVE – Anjo
do Amor, Apaixonada, Rosa Juvenil...
ROSICLER – Que
brega, Nínive. Prefiro continuar com o meu mico de sempre mesmo.
NÍNIVE (rindo) – É nick, mãe!
ROSICLER – Tanto
faz. Agora me ajuda a encontrar um boy magia.
NÍNIVE – Tá
bom.
As duas conversam e mexem no site. Altas
risadas.
Corta
para:
CENA 07/INT./BOATE/DIA
(Sonoplastia:
Pretty Girls – Britney Spears)
Acontece um ensaio na boate. Walkiria está
no palco ao lado de outras dançarinas. O celular dela toca.
WALKIRIA – Eu
só vou atender e já volto, tá?
Walkiria desce do palco e atende o celular.
WALKIRIA – Oi,
Társis.
TÁRSIS (off) – Onde você tá, Walkiria?
WALKIRIA – Ensaiando
na boate, por quê?
TÁRSIS (off) – Eu já disse pra você parar de dançar nessa boate. Toda noite é
isso; fica se mostrando pra todo mundo igual uma...
WALKIRIA (corta) – Tá com ciúme, Társis?
TÁRSIS (off) – Nada a ver, Walkiria. Agora se arruma aí que eu tô indo te
buscar. Tchau.
WALKIRIA – Nossa,
que grosso. Meninas, eu já tenho que ir. Amanhã eu volto pra ensaiar de novo,
tá bom? Beijo!
Walkiria arruma suas coisas e vai esperar
Társis na frente da boate.
Corta
para:
CENA 07/EXT./BOATE/FRENTE/DIA
Walkiria sai da boate mexendo no celular. Um
homem, moletom preto, óculos escuros, observa-a e corre até ela.
HOMEM – Passa o
celular!
Walkiria se assusta. O assaltante põe uma
faca no pescoço dela.
WALKIRIA – Me
larga, por favor. Socorro!
HOMEM – Se der
mais um pio eu te mato, gostosa.
Walkiria fica ofegante.
FIM DO
CAPÍTULO
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