CENA 01/EXT./RIO DE JANEIRO/RUA/NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior.
Fernanda e o motorista saem do carro e veem
a moça atropelada.
MOTORISTA – Viu,
dona Fernanda. Eu disse que era melhor a gente esperar o sinal abrir.
FERNANDA – Cala
a boca! Agora eu tenho que corrigir isso. Liga pra ambulância.
O motorista obedece.
Corta
para:
CENA 02/EXT./MANSÃO TRINDADE/JARDIM/NOITE
Madalena não sabe o que dizer para Kátia
Flávia.
KÁTIA FLÁVIA – Anda, Madalena, desembucha! O que você e a dona Ingrid estão
escondendo?
MADALENA – Desculpa,
mas você não tem nenhum direito de saber. Agora com licença que eu preciso
terminar meu serviço.
Madalena entra na mansão.
KÁTIA FLÁVIA – Aí tem... o que será que elas estão armando?
Corta
para:
CENA 03/INT./CASA DE ARTURO/SALA/NOITE
Arturo e Sandra assistem a um programa de
comédia e dão altas risadas.
ARTURO – Ora,
mas que paspalho esse cara! Hahaha!
SANDRA – Eu
sempre morro de rir com esse programa. Eu não sabia que o senhor gostava.
ARTURO – Nem
eu. Foi você quem colocou nesse canal.
Os dois riem. Nenê chega.
NENÊ – Ih, tô
vendo que vocês se divertiram, né?
ARTURO – Com
certeza, minha filha.
SANDRA – O
seu pai tem muito bom-humor, Nenê. Essa foi uma das noites mais divertidas da
minha vida.
NENÊ – É, tô
vendo. Bom, você já pode ir pra casa, Sandra. Obrigada!
ARTURO – O
quê? A Sandra já vai?
SANDRA – É,
seu Arturo, tudo que é bom dura pouco. Mas amanhã eu volto, né Nenê?
NENÊ – Com
certeza! Tchau, querida.
As duas se beijam no rosto e Sandra vai
embora.
NENÊ – Bom,
papai, eu vou tomar um banho, tá?
Nenê vai para o banheiro.
ARTURO – E
como sempre eu fico aqui sozinho nessa sala. Bem que a Nenê podia se atrasar.
Poderia até rolar alguma coisa entre eu e a Sandra. Droga!
Corta
para:
CENA 04/INT./HOSPITAL/SALA DE ESPERA/NOITE
Algumas pessoas estão sentadas nos bancos da
sala de espera do hospital. Enfermeiros chegam com Vitória desacordada em uma
maca, acompanhada por Maria Fernanda.
MARIA FERNANDA – Vocês podem me dizer se ela morreu, desmaiou... afinal, o que
aconteceu com ela?
Os enfermeiros não respondem e levam Vitória
para o quarto.
MARIA FERNANDA – Pobre é um bicho ignorante mesmo. Nem responder uma pergunta
eles respondem. Ah, mas sabe de uma coisa? Eu quero é que essa garota se
exploda, nem conheço a fulana. Aliás, eu nem sei o que eu tô fazendo nesse
hospital, bancando a preocupada.
LUCAS – Falando
sozinha, mamãe?
Maria Fernanda se surpreende com a presença
do filho.
MARIA FERNANDA – Lucas? Como você adivinhou que eu tava aqui no hospital?
LUCAS – Eu não
adivinhei nada. O motorista me ligou e falou o que aconteceu.
MARIA FERNANDA (murmura) – Filho da mãe.
LUCAS – E a moça
que você atropelou? Ela tá bem? Corre risco de vida?
MARIA FERNANDA – Lucas, em primeiro lugar eu não atropelei ninguém; quem
atropelou foi o irresponsável do Adamastor, que continuou dirigindo mesmo com o
sinal vermelho. E eu não sei como é que a menina ficou, porque os enfermeiros
daqui me ignoraram como se eu fosse uma pedra. Só podia ser pobre...
LUCAS – Mamãe!
MARIA FERNANDA – Tô mentindo?
LUCAS – Eu vou
ali na balconista ver se eu arranjo alguma informação de pelo menos quem é a
garota. Aliás, você conhece ela?
MARIA FERNANDA – Não sei, ela tava caída no chão de costas, nem deu pra ver o
rosto da coitada.
Lucas vai até a balconista e conversa.
MARIA FERNANDA (pensa) – Nem com a namorada dele ele tem todo esse cuidado, agora tá
preocupado com uma infeliz que eu atropelei. Esse menino não se valoriza
mesmo...
Lucas volta.
LUCAS – Mamãe, a
balconista disse que nós só podemos visitar a moça amanhã, quando ela já vai
estar com os aparelhos e tudo.
MARIA FERNANDA – Eu não acredito, Lucas. Você quer ver a moça? Pra quê?
LUCAS – Mamãe,
assuma sua responsabilidade! Você atropelou ela e tem que conhecer ela, pra
começar.
MARIA FERNANDA – Pra começar? O que você quer dizer com isso, Lucas?
LUCAS – Ora, é
você quem tem que arcar com as despesas dela enquanto ela estiver internada.
MARIA FERNANDA – Pronto. Agora eu tô feita.
Corta
para:
CENA 05/EXT./RIO DE JANEIRO/PONTOS/NOITE-DIA
(Sonoplastia:
Gaveta – Fernando e Sorocaba)
Amanhece no Rio de Janeiro. Pessoas passeiam, tiram fotos,
visitam o Cristo Redentor, se divertem na praia.
(Sonoplastia:
Fade Out – Gaveta)
Corta
para:
CENA 06/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA/DIA
Maria Fernanda está sentada no sofá da sala,
vendo TV ao lado de Kátia Flávia. Ingrid e Otávio chegam.
KÁTIA FLÁVIA – Passaram a noite fora, é?
OTÁVIO – Não,
imagina. A gente saiu cedo pra capinar o jardim e estamos voltando agora.
KÁTIA FLÁVIA – Ai, que grosseria. Só fiz uma pergunta.
INGRID – Nenhum
de nós lhe deve satisfações, mas já que você está tão curiosa... sim, nós
passamos a noite fora. E transamos!
MARIA FERNANDA – Como diria uma vilã que eu adoro e até acho muito parecida
comigo... que velha safada!
OTÁVIO – Ué,
o que tem de mal? A moça tá com tanta curiosidade. Kátia Flávia, nós somos
velhos mas não somos bestas. Existe uma pílula pra isso.
INGRID – Exatamente.
E funciona bem. Com licença.
Os dois sobem as escadas.
KÁTIA FLÁVIA – Cê viu isso, sogrinha? Isso me lembrou uma novela. Aquela do
Félix, lembra?
MARIA FERNANDA – Não me chama de sogrinha que isso é tratamento pra velho. Tipo
esses dois velhos sem-vergonha aí.
KÁTIA FLÁVIA – Calma, desculpa, não te chamo mais assim! Olha, Maria Fernanda,
eu reparei que eles nem sequer olharam na sua cara. Tá tudo bem entre vocês?
MARIA FERNANDA – Besteira deles, querem misturar pobre com os negócios da
empresa. Um absurdo! Mas o que é que eu tô fazendo de dando satisfação? Ah, eu
tenho mais o que fazer.
Maria Fernanda vai para fora de casa.
KÁTIA FLÁVIA – Ai, que família estressada. Eu, hein. Tomara que não seja
contagioso, porque se for todo mundo aqui pega uma bela duma depressão. Clima
pesado, Deus me livre.
Corta
para:
CENA 07/EXT./HOSPITAL/FRENTE/DIA
(Sonoplastia:
Kátia Flávia – Fausto Fawcett)
Alguns carros estacionam em frente a um grande hospital. Uma
ambulância chega com uma maca. Alguns enfermeiros caminham pelos jardins.
(Sonoplastia:
Fade Out – Kátia Flávia)
Corta
para:
CENA 08/INT./HOSPITAL/QUARTO/DIA
Vitória está adormecida na cama do hospital.
O aparelho dá um ‘bipe’ a cada segundo.
A moça lembra de quando foi resgatada por
Lucas na praia e sorri.
Corta
para:
CENA 09/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA/DIA
Kátia Flávia continua sentada no sofá. Lucas
desce as escadas.
LUCAS – Kátia
Flávia, você viu a minha mãe? A gente marcou de ir no hospital hoje.
KÁTIA FLÁVIA – Ela saiu agorinha, dizendo que tinha uma coisa muito importante
pra fazer. Ô Lucas, o que vocês vão fazer no hospital?
LUCAS – Obrigado,
Kátia Flávia. Até depois.
Lucas sai.
KÁTIA FLÁVIA – Nossa, não me dá nem um obrigado, nem um beijinho, nem nada.
Deus me livre!
Corta
para:
CENA 10/INT./HOSPITAL/QUARTO/DIA
Vitória continua adormecida. O médico chega
ao quarto acompanhado de Maria Fernanda.
MÉDICO – Aí
está ela. Eu vou resolver uns problemas e vou deixar a senhora à vontade.
O médico sai. Maria Fernanda olha Vitória,
surpresa.
MARIA FERNANDA – Eu só posso estar sonhando... Vitória Vasconcelos? Não, não, não
pode ser. Você tá delirando, Maria Fernanda!
Vitória acorda.
VITÓRIA – Onde
eu tô? O que aconteceu?
Maria Fernanda observa a moça, assustada.
VITÓRIA – Você?
Corta
para:
CENA 11/INT./SHOPPING/INTERIOR/DIA
(Sonoplastia:
Le Freak – Chic)
Rosicler faz compras no shopping. Ela entra
em cada loja para comprar roupas, acessórios, sapatos e etc.
Ela prova várias roupas. Primeiro, um
vestido longo verde. Depois um macacão vermelho. Logo após, uma camisa amarela
com uma calça jeans. Depois, a senhora caminha com um salto branco, uma sandália,
um salto de plataforma vermelho.
Ao final, leva tudo em várias sacolas e sai
do shopping animada.
(Sonoplastia: Fade Out – Le
Freak)
Corta
para:
CENA 12/INT./MANSÃO TRINDADE/QUARTO INGRID/DIA
Ingrid está sentada na cama. Otávio observa
o dia pela janela.
INGRID – O
que é que você tanto olha por essa janela, Otávio?
OTÁVIO – O
que a nossa filha está perdendo.
INGRID – Seja
mais claro.
OTÁVIO – O
mundo, Ingrid. Maria Fernanda com toda a sua arrogância e desumanidade está
perdendo o mundo que pode proporcionar milhões de coisas a ela.
INGRID – Isso
é verdade, querido. Nós colocamos ela nas melhores escolas, demos a ela as
melhores oportunidade, com um único objetivo: torna-la uma cidadã de bem,
honesta.
OTÁVIO – E
agora olha o que ela se tornou. Um monstro!
INGRID – Calma,
meu querido.
OTÁVIO – Nós
erramos no mimo que demos a ela. Agora ela se acha dona do mundo, pode fazer o
que bem entende, tratar as pessoas como quiser... como ela pode ter o meu
sangue?
Ingrid desmaia. Otávio tenta levantar a
mulher.
OTÁVIO – Ingrid!
Querida, acorda! Socorro! Madalena, me ajuda aqui!
Madalena chega correndo ao quarto.
MADALENA – Jesus
amado, o que aconteceu com a dona Ingrid?
OTÁVIO – Deve
ter tido uma queda de pressão. Nós estávamos conversando e de repente ela
desmaiou. Vamos, me ajude.
Os dois levantam Ingrid e a põem na cama.
OTÁVIO – Chame
um médico! Rápido!
MADALENA – Sim,
senhor.
Madalena disca um número no telefone que
está no criado-mudo.
Corta
para:
CENA 13/INT./HOSPITAL/QUARTO/DIA
Maria Fernanda e Vitória estão assustadas.
VITÓRIA – Maria
Fernanda? O que você tá fazendo aqui?
Maria Fernanda não responde. A mulher tem
lembranças turvas. Brigas, gritos, choro, e dois tiros.
MARIA FERNANDA (pensa) – Como é possível?
VITÓRIA – Eu
falei com você. O que você tá fazendo aqui?
MARIA FERNANDA – Vitória, eu...
Nesse momento, Lucas chega.
LUCAS – Mamãe,
por que você veio sozinha? Eu disse que era pra nós virmos juntos.
Silêncio. Lucas olha para Vitória.
LUCAS – Vitória?
VITÓRIA – Lucas?
MARIA FERNANDA – Vocês se conhecem?
LUCAS – Sim,
mamãe. Essa moça se afogou no mar e eu salvei ela.
VITÓRIA – E
até hoje eu sou grata por isso. Maria Fernanda, não vai dizer que ele é seu
filho.
MARIA FERNANDA – Sim, ele é.
LUCAS – Mamãe, o
que você tem? Sua voz tá trêmula, você parece assustada. O que aconteceu?
MARIA FERNANDA – Não, nada... eu... eu vou ao toilet. Com licença.
Maria Fernanda sai do quarto.
Corta
para:
CENA 14/INT./HOSPITAL/CORREDOR/DIA
Maria Fernanda está ofegante.
MARIA FERNANDA – Não pode ser. Isso não está acontecendo...
Maria Fernanda novamente tem lembranças de
gritos, lágrimas e tiros.
MARIA FERNANDA – Essa moça não pode conviver com o meu filho. Vitória Vasconcelos
não pode conviver com ninguém da minha família!
Kátia Flávia chega.
KÁTIA FLÁVIA – Falando sozinha, honey?
MARIA FERNANDA – O que você tá fazendo aqui, encosto?
KÁTIA FLÁVIA – Ai, isso é jeito de se tratar uma nora? Eu vim na maior boa
vontade te dar um recado, mas já que você não quer...
MARIA FERNANDA – Não, espera aí. Que recado?
Kátia Flávia ouve a voz de Lucas.
KÁTIA FLÁVIA – O Lucas tá nesse quarto? Com quem ele tá conversando?
A moça entra no quarto e se depara com
Vitória.
KÁTIA FLÁVIA – Oi? Essa sem-sal de novo? O que você tá fazendo com ela, Lucas?
LUCAS – Kátia
Flávia, você...
KÁTIA FLÁVIA (interrompe) – O que foi que aconteceu dessa vez, bebê? Ralou o joelho e chamou
meu noivo, foi isso?
LUCAS – Para,
Kátia Flávia. Minha mãe atropelou a Vitória e nós viemos aqui prestar uma
ajuda.
VITÓRIA – Ela
me atropelou?
Maria Fernanda entra.
MARIA FERNANDA – Pera lá! Eu já disse que eu não atropelei ninguém. Foi o
irresponsável do Adamastor, entenderam?
KÁTIA FLÁVIA – Então a Vitória Palmatória se aproveitou desse acidente pra
arrastar asa pra cima de você, foi isso?
VITÓRIA – Escuta
aqui, você está me ofendendo. Eu não tenho culpa de que coincidentemente eu
tenha sido atropelada pela mãe do Lucas.
MARIA FERNANDA – Quantas vezes eu vou ter que falar que eu não atropelei ninguém?
LUCAS – Kátia
Flávia, por favor, dá licença.
KÁTIA FLÁVIA – Eu vou embora então, mas vocês vão ficar sem saber do que
aconteceu lá na mansão.
MARIA FERNANDA – Fala logo, peste bubônica. Para de fazer suspense.
KÁTIA FLÁVIA – A dona Ingrid desmaiou. Sei lá, ela teve uma queda de pressão,
ao que parece.
LUCAS – Como
assim? Eu vou lá agora mesmo. Mamãe, fica com a Vitória que eu já volto. Vamo,
Kátia Flávia.
Lucas e Kátia Flávia saem, deixando Maria
Fernanda e Vitória sozinhas.
MARIA FERNANDA (pensa) – Que ótima oportunidade pra matar essa garota e acabar de uma vez
por todas com a família Vasconcelos.
Maria Fernanda olha para os aparelhos.
VITÓRIA – Então,
dona Fernanda...
MARIA FERNANDA (interrompe) – Dona não, isso é coisa pra velho.
VITÓRIA –
Ah, desculpa. Fernanda, eu...
MARIA FERNANDA (interrompe) – Que insolência! Cadê o seu respeito?
VITÓRIA – Ué,
se eu não posso te chamar de dona nem só de Fernanda, do que eu posso te
chamar?
MARIA FERNANDA – Que tal de carrasco?
Maria Fernanda desliga os aparelhos de
Vitória. Vários bipes começam a ecoar pelo quarto. Fernanda esboça um sorriso.
FIM DO
CAPÍTULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário