Capítulo 15: DANCIN' DAYS

CENA 01. HARAS DONA CAROLINA. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. NOITE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.

CADÚ E BRUNO TIRAM CELINA DE CIMA DE FRANKLIN E CADÚ PUXA A FACA QUE ESTÁ NO CORPO DO PAI. FRANKLIN CAI NO CHÃO, ENSANGUENTADO. CELINA TODA SUJA DE SANGUE. CADÚ DEBATE OS BRAÇOS DA MÃE.

CADÚ – Você enlouqueceu mãe?!

CELINA INERTE, SEM REAÇÃO COM O QUE ACABARA DE FAZER, COMO SE ESTIVESSE EM TRANSE. BRUNO ACODE O PAI.

BRUNO – (Chora/ Tom) Chama uma ambulância, pelo amor de Deus!

HENRIQUE – Deixa que eu chamo!

HENRIQUE SAI DALI COM O TELEFONE EM PUNHO.

DANTE – Amanda, vamos sair daqui.

AMANDA CONCORDA E OS DOIS SAEM.

CADÚ – Leva a mamãe daqui! Alguém leva a mamãe!

CELINA ENCARA CADÚ E SE DESVENCILHA.

FERNANDA – Sua louca!

CELINA – (Berra) Maldita! Tudo culpa sua, vagabunda!

CELINA VAI PARA CIMA DE FERNANDA, GRUDANDO EM SEUS CABELOS. CADÚ AFASTA AS DUAS. FERNANDA CORRE E SE AJOELHA PERTO DE FRANKLIN, QUE SOLUÇA, FRACO. CELINA TAMBÉM CORRE DALI.

CORTA PARA:

CENA 02. HARAS DONA CAROLINA. SALA. INTERIOR. NOITE

TENSÃO. AMANDA E DANTE DE PÉ.

DANTE – Meu Deus, isso tudo é loucura!

AMANDA – (Divertida) E não é que a Celina é baile de favela?!

AMANDA DÁ UM RISADINHA. MARIANA PRÓXIMA.

MARIANA – Mãe, para com isso! É caso de polícia o que aconteceu aqui!

CÂM EM PLANO GERAL. CELINA VEM CORRENDO DA SALA DE JANTAR. ELA PASSA PELOS OUTROS E SAI DE CASA.

HENRIQUE – (Chegando) Onde ela foi?

DANTE – Será que ela vai fugir?

AMANDA – Para com isso, gente. Que fugir? Celina tem dinheiro, não precisa fugir, tão loucos?

MARIANA REVIRA OS OLHOS. LOGO, CADÚ SURGE CORRENDO.

CADÚ – Henrique, a ambulância?

HENRIQUE – Eu já chamei, Cadú. Eles estão a caminho.

CADÚ APREENSIVO TROCA OLHARES COM OS PRESENTES. EM AMANDA.

CORTA PARA:

CENA 03. HARAS DONA CAROLINA. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. NOITE

FERNANDA AJOELHADA, PRÓXIMA DE FRANKLIN, MUITO FRACO. SANGUE EM VOLTA. BRUNO ALI, CHORANDO.

FERNANDA – Meu amor, fala comigo. Não fraqueja! Não se entrega!

FRANKLIN – (Faz esforço) Fernanda.

BRUNO – (Intervém) Não, pai. Não fala nada!

FRANKLIN OLHA DE SOSLAIO PARA BRUNO, APREENSIVO.

FERNANDA – (P/ Bruno) E a louca da sua mãe?

BRUNO FAZ QUE NÃO SABE.

CORTA PARA:

CENA 04. HARAS DONA CAROLINA. BAIAS. EXTERIOR. NOITE

CELINA ANDA RÁPIDO POR ALI. VEM PELA ÁREA DAS BAIAS E PASSA UM CORREDOR À MEIA. LUZ. ELA PÁRA DIANTE DE UMA BAIA E ABRE A PORTEIRA DO ANIMAL. INSTANTES. CELINA VEM PUXANDO UM CAVALO NEGRO, BEM ESCOVADO.

CORTA PARA, CELINA JÁ EM ÁREA DE CAMPO ABERTO, SELANDO O ANIMAL. EM SEGUNDO PLANO, VEM DANTE. ELE CORRE ATÉ ELA.

DANTE – (Ofegante) Celina! Celina aonde você vai?!

CELINA NEM ESCUTA E SAI DISPARANDO COM O ANIMAL. TENSÃO. DANTE FAZ NEGATIVA COM A CABEÇA.

CORTA PARA:

CENA 05. HARAS DONA CAROLINA. SALA. INTERIOR. NOITE

TODOS MUITO NERVOSOS À SALA. AMANDA E MARIANA.

AMANDA – Onde será que essa louca se meteu? Ela tinha que ficar aqui, se não vai ser acusada de tentativa de homicídio.

MARIANA – Isso ela já será né, Amanda!

AMANDA – Ela foi se defender de uma traição!

MARIANA – Só o que faltava você concordar com esse absurdo!

FERNANDA VEM DA SALA DE REFEIÇÕES.

FERNANDA – (Nervosa) Meu Deus, essa ambulância que não chega! O Franklin tá morrendo naquela sala!

AMANDA SE ENTREOLHA COM HENRIQUE E BRUNO.

HENRIQUE – Fernanda, eu acho melhor você sair daqui. Só tá tornando as coisas mais complicadas.

FERNANDA – (Tom) Complicadas? Não foi eu que dei uma facada no Franklin!

DANTE VEM DA RUA. ENTRA À TODA.

BRUNO – (Indo de encontro) Então, Dante? Conseguiu achar a minha mãe? Falou com ela?

DANTE – (Arfa) A Celina pegou um cavalo e saiu!

TODOS SE ENTREOLHAM.

AMANDA – Ela resolveu montar agora?

DANTE – Ela não foi montar, Amanda! A Celina fugiu! Não sei pra onde, mas ela fugiu!

TODOS SE ENTREOLHAM NERVOSOS. EM FERNANDA, DESESPERADA.

CORTA PARA:

CENA 06. HARAS DONA CAROLINA. CAMPO ABERTO. EXTERIOR. NOITE

SONOPLASTIA DE TENSÃO. CELINA GALOPA EM CAMPO ABERTO. CORTES DESCONTÍNUOS DE SUA “FUGA”.

FLASHES DA DISCUSSÃO NA CEIA DE NATAL E DA FACADA QUE DEU EM FRANKLIN.

CELINA CHORA, PASSA A MÃO PELO ROSTO. SLOW-MOTION: CELINA ACABA SOLTANDO UMA DAS RÉDEAS. ELA DESEQUILIBRA E CAI DO CAVALO.

FREEZE EM SUA CABEÇA, INDO DE ENCONTRO À UMA PEDRA. CELINA BATE A CABEÇA.

SONOPLASTIA OFF.

CÂM EM CELINA. O CAVALO, POR ALI, PARADO. CELINA DESACORDADA. FADE-OUT.

CORTA PARA:

CENA 07. HARAS DONA CAROLINA. CASA GRANDE. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

DUAS AMBULÂNCIAS ENCOSTADAS EM FRENTE À CASA. MOVIMENTAÇÃO POR ALI. DO LADO DE FORA ESTÃO DANTE, AMANDA, HENRIQUE, FERNANDA (SEMPRE MUITO ABALADA), MARIANA ABRAÇADA À BRUNO. DO INTERIOR DA CASA, VEM CADÚ À FRENTE E UMA MACA, LEVANDO FRANKLIN, DESACORDADO. ELE É COLOCADO NA PRIMEIRA AMBULÂNCIA. DE OUTRA MACA, VEM CELINA, SENDO COLOCADA NA SEGUNDA AMBULÂNCIA.

MARIANA – Bruno, eu sinto muito.

BRUNO – Mari... Meus pais, Mari.

BRUNO FAZ CARA DE CHORO, MARIANA O ABRAÇA FORTE.

MARIANA – Vai dar tudo certo! Calma!

CÂM VAI BUSCAR AMANDA E DANTE.

DANTE – Quem diria que a noite de Natal iria terminar assim.

AMANDA – Pois é! Se eu soubesse que iria ser assim, eu tinha chamado uns paparazzi amigos meus.

DANTE – (Repreende) Amanda!

AMANDA LEVANTA OS BRAÇOS.

AMANDA – Tá, parei!

CÂM DESVIA PARA BRUNO E CADÚ, EMOCIONADOS.

BRUNO – Nós vamos ter que acompanhar agora pro hospital.

CADÚ – Que coisa horrível, meu irmão.

OS DOIS SE ABRAÇAM. BRUNO CHORA. CADÚ TOCADO.

CADÚ – Calma. Vai ficar tudo bem. Eu te prometo.

BRUNO – Eles tentaram se matar, Cadú. Que coisa horrível!

CADÚ – Confia em mim?

BRUNO OLHA CADÚ E ACENA QUE SIM.

CADÚ – Vai ficar tudo bem. Igual quando eles saíam praqueles jantares de negócios, e eu ficava cuidando de você, lembra?

BRUNO EMOCIONADO, FAZ QUE SIM.

CADÚ – (Abraçando-o) Então confia em mim. Vai dar tudo certo no final.

BRUNO – Obrigado. Obrigado, mano.

NO ABRAÇO DOS DOIS. CÂM SAI POR CIMA.

CORTA PARA:

CENA 08. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

SONOPLASTIA: “SIMPLES ASSIM” – LENINE.

A LUA NO CÉU DÁ LUGAR AO SOL, ILUMINANDO A CIDADE DO RIO DE JANEIRO. AS PRAIAS JÁ LOTANDO NO VERÃO, OS QUIOSQUES CHEIOS, O CALÇADÃO DE COPACABANA COM SEU POVO COSTUMEIRO.

ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DE UM HOSPITAL. AMBULÂNCIAS MOVIMENTANDO-SE À FRENTE.

CORTA PARA:

CENA 09. HOSPITAL. CORREDOR. INTERIOR. DIA

BRUNO VEM VINDO LADO A LADO COM MARIANA PELO CORREDOR. CÂM EM TRAVELLING. MOVIMENTAÇÃO COMUM DE HOSPITAL. ELES ADENTRAM UM QUARTO.

CORTA PARA:

CENA 10. HOSPITAL. QUARTO DE FRANKLIN. INTERIOR. DIA

BRUNO E MARIANA ENTRAM. CADÚ POR ALI COM DANTE, DE PÉ. FRANKLIN DEITADO NA CAMA, JÁ ACORDADO. SONOPLASTIA OFF.

BRUNO – (Alcançando) Ô pai!

FRANKLIN SORRI, FRACO E ABRAÇA BRUNO.

FRANKLIN – Cuidado, filho.

BRUNO SE AFASTA.

BRUNO – (Á Cadú) Como ele tá?

CADÚ – O ferimento não foi profundo, tirando a perda de sangue que quase causou uma hemorragia, nenhum órgão foi atingido.

MARIANA – Ainda bem que tá tudo bem agora.

FRANKLIN SORRI PARA A GAROTA, QUE RETRIBUI.

DANTE – Foi uma lástima a nossa noite ter terminado desse jeito, mas agora, graças a Deus, tudo está bem.

FRANKLIN – Tudo está bem em partes.

CADÚ – O que você quer dizer, pai?

FRANKLIN – Eu quero ver a sua mãe, quero falar com ela.

BRUNO E CADÚ SE ENTREOLHAM E ENCARAM FRANKLIN.

CADÚ – Logo que aconteceu aquilo no jantar, a mamãe... ela./

FRANKLIN – Ela fugiu, eu já sei! Onde ela tá agora?

BRUNO – Então, pai. Nessa fuga, vamos dizer assim, ela selou o cavalo e saiu em disparada, não se sabe ao certo o que aconteceu, mas ela caiu do cavalo e bateu a cabeça em uma pedra.

FRANKLIN CHOCADO, ENCARA À TODOS.

FRANKLIN – A Celina morreu?

EM FRANKLIN.

CORTA PARA:

CENA 11. HOSPITAL. SALA DE OBSERVAÇÃO. CORREDOR. INTERIOR. DIA

CELINA EM UMA CAMA REPOUSA SEM A AJUDA DE APARELHOS. NO CORREDOR, ATRAVÉS DA JANELA DE VIDRO, AMANDA A OBSERVA. INSTANTES. UMA ENFERMEIRA CHEGA AO LADO.

ENFERMEIRA – Me contaram o que houve. Que tragédia, não é?

AMANDA – (Encara) Pois é... E você sabe quanto tempo ela vai ficar desse jeito, inconsciente?

ENFERMEIRA – (Sorri) Ela não está inconsciente.

AMANDA – Ah, não?!

ENFERMEIRA – Ela agora só está dormindo. Está sob efeito de um medicamento forte pra dor, mas ela tá consciente. Pode acordar a qualquer momento, inclusive.

AMANDA OLHA CELINA. TAKES ALTERNADOS. EM CELINA, QUE REPOUSA.

CORTA PARA:

CENA 12. HOSPITAL. QUARTO DE FRANKLIN. INTERIOR. DIA

OS MESMOS DA CENA ANTERIOR. FRANKLIN EXULTA.

FRANKLIN – Pelo menos isso. Mais uma tragédia, eu não ia agüentar.

CADÚ – Pai, agora eu acho melhor o senhor repousar e esquecer o que houve.

FRANKLIN – Eu não vou esquecer, Cadú. Eu tenho que resolver essa história com a Celina... Com a Fernanda e com aquele desgraçado.

DANTE – Franklin, o seu filho tem razão. Pare com isso e pense nisso só quando sair desse hospital. Já basta tudo o que aconteceu nessa noite horrorosa.

BRUNO – O senhor não pensa em denunciar a mamãe na polícia, ou pensa?

FRANKLIN EM EXPRESSÃO DE DÚVIDA.

CADÚ – Pai...

FRANKLIN – Eles vão querer saber como eu levei essa facada no abdômen. Eu digo o que? Que um assaltante invadiu a Ceia e tentou me matar?

BRUNO – O senhor pode deixar que a versão nós confirmamos.

BRUNO SORRI, TENTANDO RELAXAR.

CADÚ – Não pensa nisso agora. Por favor, só descansa...

FRANKLIN A CONTRAGOSTO, CONCORDA. BRUNO E CADÚ FAZEM CARINHO NO PAI.

CORTA PARA:

CENA 13. PRÉDIO DE ALBERICO. FRENTE. EXTERIOR. DIA

RAULZINHO DENTRO DE UM CARRO, ÓCULOS ESCUROS. PELO RETROVISOR, AVISA INÊS CHEGANDO COM ALGUMAS SACOLAS DE SUPERMERCADO. VEM PELA CALÇADA, DISTRAÍDA. RAULZINHO DESCE DO CARRO E VAI AO SEU ENCONTRO. INÊS O VÊ DE LONGE.

INÊS – Raul!

RAULZINHO – (Aborda) Inês, por favor. Deixa eu falar com você. Por favor. Só uma chance!

INÊS – Raulzinho, pelo amor de Deus, nós não temos mais nada o que conversar. Já tivemos a nossa conversa definitiva ontem. Acabou!

RAULZINHO – (Tom) Não! Eu não me conformo! Foram cinco anos, Inês!

INÊS – Tem casais que terminam casamentos de uma vida inteira, porque simplesmente se dão conta que não eram felizes! O que são cinco anos?! Acabou, Raul!

INÊS TENTA PASSAR, MAS RAULZINHO A SEGURA.

RAULZINHO – (Encara) Uma chance de conversar. Só conversar.

INÊS RESPIRA FUNDO.

INÊS – Eu sei exatamente o que você vai querer conversar. Vai querer me convencer de que vai mudar, de que não vai mais fazer cenas de ciúme, que não vai mais ser esse doente obsessivo, mas quer saber? Eu não acredito mais! Chega! Foi cinco anos agüentando as mesmas promessas que nunca foram cumpridas, Raul! Desiste! Você não vai me convencer!

RAULZINHO – E se eu provar? Se eu provar que eu posso mudar? Você me aceita de volta?

INÊS ENCARA RAULZINHO. INSTANTES.

INÊS – Acabou...

INÊS SE DESVENCILHA DE RAUL E ENTRA NO PRÉDIO. NELE, ARRASADO.

CORTA PARA:

CENA 14. COPACABANA. EXTERIOR. DIA

SONOPLASTIA: “GRILOS” – MARINA MACHADO E SAMUEL ROSA.

EM UMA RUA MOVIMENTADA DE COPACABANA, JULIANA ANDA POR ALI, SIMPLÓRIA, VESTIDO CURTO, FLORIDO, BOLSA À TIRA-COLO.

CORTES DESCONTÍNUOS, ELA PASSA POR ALGUMAS LOJAS, VÊ AS VITRINES. SE DESLUMBRA COM UMA DE VESTIDOS BONITOS. MAIS ALGUMAS LOJAS.

JULIANA NA VITRINE DE UMA JOALHERIA. ENCARA A FACHADA, ENCARA E ENTRA.

CORTA PARA:

CENA 15. JOALHERIA. INTERIOR. DIA

JULIANA VENDO ALGUMAS JÓIAS. VÊ ALGUNS COLARES COM UMA VENDEDORA, SEMPRE SORRIDENTE. FICA EM DÚVIDA ENTRE ALGUNS. ELA PEGA UM COLAR SIMPLES, COM UMA PEDRA AZUL TURQUESA, SINGELO, MAS BONITO. PEGA ENTRE OS DEDOS, SORRI, COM OS OLHOS ILUMINADOS.

CORTA PARA:

CENA 16. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE JULIANA. INTERIOR. DIA

JULIANA NA CAMA, COM UM CADERNO NO COLO E UMA PEQUENA CAIXA POR ALI, SOBRE A CAMA. SONOPLASTIA OFF. ALGUÉM BATE À PORTA. JULIANA FECHA O CADERNO.

JULIANA – Quem é?

VITÓRIA ENTRA.

VITÓRIA – Posso entrar?

JULIANA – Claro. Entra.

VITÓRIA ENTRA E A ENCARA.

VITÓRIA – Vim te chamar pra almoçar. Tá fazendo o que?

JULIANA – Escrevendo.

VITÓRIA OLHA PARA O CADERNO E DESVIA PARA A CAIXINHA, CURIOSA. A PEGA.

JULIANA – Vitória.

VITÓRIA JÁ ABRIU. VÊ O MESMO COLAR DA CENA ANTERIOR.

VITÓRIA – Que lindo, Jú. Pra quem esse colar?

JULIANA – (Tímida) Pra Mariana.

VITÓRIA ENCARA O COLAR E ENCARA JULIANA.

VITÓRIA – (Desdém) Bonito. É alguma data especial?

JULIANA – Ela faz aniversário daqui uma semana. Eu vou mandar esse colar lá no prédio dela com uma carta que eu tô escrevendo.

VITÓRIA FICA RETICENTE. JULIANA PERCEBE.

JULIANA – Não gosto quando você faz essa cara, Vitória. Quer me dizer alguma coisa?

VITÓRIA – Não. Não é isso. Mas... Será que ela vai gostar? Não tô dizendo que o colar não é bonito, é sim, mas é que a Mariana deve ter uns muito melhores e mais caros.

JULIANA – O que importa não é o valor do colar e sim o gesto. É o primeiro presente que eu vou dar pra minha filha.

VITÓRIA EMBARGADA. JULIANA COM OS OLHOS MAREJADOS.

JULIANA – Sabe o que é uma vida inteira passar e você lembrar que nunca esteve presente em um aniversário da sua própria filha? Que você nunca deu um presente pra ela?

JULIANA CHORA, VITÓRIA A ABRAÇA.

VITÓRIA – Não fica assim não, Ela vai adorar o presente sim, mas eu ainda acho que isso vai causar problemas.

JULIANA – Com a Amanda?

VITÓRIA – Sim, também. Como você acha que a Mariana vai receber esse presente da própria mãe e a Amanda vai receber essa notícia? É uma bomba pra ela.

JULIANA PENSATIVA. EM VITÓRIA.

CORTA PARA:

CENA 17. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA

ALBERICO E ÁUREA CONVERSANDO.

ALBERICO – Você tá aqui horas e horas rodeando com esse assunto e não chegou ao ponto, Áurea, minha filha. Afinal, de contas, o que você tem pra me dizer mais especificamente?

ÁUREA – Tá, papai. Se o senhor insiste em se fazer de cego, quem sou eu?!

ALBERICO – Eu só não consigo entender essa sua implicância gratuita com a coitada da Juliana. Ela é uma moça que só trouxe luz pra essa casa, só fez o bem e você não consegue digerir isso!

ÁUREA – Papai, vocês tão enfeitiçados por essa mulher e não vêem que é exatamente isso o que ela quer! Ela simplesmente quer comprar todos vocês, com esses presentinhos, esses agrados, e essa Ceia!

ALBERICO – Essa Ceia que você também aproveitou bastante. Comeu e lambeu os dedos!

ÁUREA EXULTA.

ÁUREA – Não é bem assim, papai.

ALBERICO – É exatamente assim, Áurea. Ou você me apresenta fatos concretos que afirmem essas suas acusações sobre a pobre da Juliana, ou você, por favor, se cale.

ÁUREA – (Ofendida) Papai!

ALBERICO – É verdade, minha filha. Não tenho mais idade pra ficar agüentando as suas picuinhas pessoais por causa de ciúmes do seu marido.

ÁUREA – Não é picuinha ou ciúmes do Edgar. Só acho estranho esse dinheiro. De onde essa mulher tira tanto dinheiro sempre?

ALBERICO – Você não ouviu quando ela disse que trabalhou de doméstica, durante anos nos Estados Unidos?

ÁUREA – Ah, tá bom. E eu sou a Chita na festa da floresta. Me poupe! Se a Carminha e o Jamil querem engolir essa historinha de novela das nove, ok, mas o senhor, na sua idade?

CARMINHA ENTRA NA SALA.

CARMINHA – O que tem a idade do papai?

ÁUREA – Falando no Diabo...

CARMINHA – O que você já veio encher a cabeça do papai de novo, com as suas loucuras, Áurea?!

ÁUREA – Loucuras são o que saem da sua cabeça pervertida e a do seu namorado. Da minha saem coisas coerentes.

CARMINHA – (Debocha) Nossa, só coerência e bom senso dessa sua cabecinha.

CARMINHA SENTA-SE AO LADO DE ALBERICO.

ALBERICO – A sua irmã estava falando que./

ÁUREA – (Corta) Estava falando que essa Ceia da sua amiga foi providencial, não foi? Atitude muito digna dela. Afinal, mal nos conhece!

CARMINHA – (Desconfiada) Sei... É isso mesmo, seu Alberico?

ALBERICO ENCARA ÁUREA, FUZILANDO COM O OLHAR.

ALBERICO – (Encara Carminha) É isso sim, minha filha.

CARMINHA ACARICIA A CABEÇA DO PAI, QUE SORRI, SEM GRAÇA. EM ÁUREA.

CORTA PARA:

CENA 18. HOSPITAL. FRENTE. EXTERIOR. DIA

TAKE PARA AMBIENTAR. MOVIMENTAÇÃO COMUM.

CORTA PARA:

CENA 19. HOSPITAL. SALA DE OBSERVAÇÃO. INTERIOR. DIA

CELINA ALI VAI ACORDANDO AOS POUCOS. O MÉDICO COM ELA. AMANDA ATRAVÉS DO VIDRO, AINDA A OBSERVA.

CELINA – (Olhando para os lados) Onde... Onde eu estou?

MÉDICO – Calma, Celina. Bom dia, eu sou o doutor Ariel Martelli, e você foi trazida para o hospital. Tá tudo bem agora, não precisa se preocupar.

CELINA – Hospital? Mas o que? Cadê o Franklin? Cadê os meus filhos?

MÉDICO – Acalme-se, eles estão bem. Seu marido está em um quarto à poucos metros daqui, tá tudo bem com ele também. Você lembra-se do seu acidente?

CELINA – Meu acidente?

CELINA ENCARA A TODOS. APALPA AS SUAS PERNAS.

CELINA – Doutor...

CELINA FAZ CARA DE DESENTENDIMENTO.

CELINA – Doutor, porque eu não consigo sentir as minhas pernas?

O MÉDICO SE ENTREOLHA COM A ENFERMEIRA. EM CELINA.

CORTA PARA:

CENA 20. HOSPITAL. SALA DOUTOR ARIEL. INTERIOR. DIA

DOUTOR ARIEL EM SUA CADEIRA. CADÚ E BRUNO SENTADOS À FRENTE. CLIMA DE TENSÃO.

CADÚ – Como é que é? A minha mãe, ela tá paraplégica, é isso?

DR. ARIEL – Não, Cadú. Nós ainda não sabemos se a sua mãe está paraplégica. Nós não podemos afirmar isso com certeza. Pra isso temos que fazer alguns exames mais detalhados para vermos se essa queda do cavalo, atingiu em algum ponto da coluna e se isso é reversível, se é momentâneo.

BRUNO – Mas ela não sentir as pernas, pode ser considerado momentâneo? Como assim?

DR. ARIEL – Em alguns casos, quando há uma queda e uma tensão como essa que a dona Celina sofreu, é muito comum, que a vítima não sinta momentaneamente membros inferiores ou até mesmo superiores. Se chama choque pós-traumático.

CADÚ – Bom, mas quando serão feitos esses exames?

DR. ARIEL – Eles já estão sendo feitos! A minha equipe especializada está com a mãe de vocês nesse momento, realizando uma tomografia completa. Vamos analisar cada ponto do crânio à coluna, fiquem tranqüilos.

CADÚ E BRUNO SE ENTREOLHAM.

CORTA PARA:

CENA 21. HOSPITAL. QUARTO DE FRANKLIN. INTERIOR. DIA

FRANKLIN NA CAMA. DANTE E AMANDA COM ELE.

FRANKLIN – Celina paraplégica era só o que faltava!

AMANDA – Pensa pelo lado positivo, agora ela não vai poder dar mais facadas em ninguém.

DANTE – (Repreende) Amanda, pelo amor de Deus!

AMANDA – Ai, só pra descontrair. Credo que falta de humor. Meu humor é fino!

DANTE – Fina é a ostra que quando é incomodada pelo grão de areia, reage produzindo pérolas!

AMANDA – Globo Ecologia, isso aqui agora?

FRANKLIN – Parem vocês dois. Não estão me ajudando em nada nesse momento.

DANTE – Desculpa, Franklin. Acho que nós já estamos fazendo hora-extra aqui no hospital. Vamos para casa e nos mantenha informado sobre qualquer novidade.

FRANKLIN ASSENTE. DANTE ENCARA AMANDA.

DANTE – Vamos?

AMANDA – Eu queria dar uma passada pra ver a Celina no quarto. Ela deve estar precisando tanto de um ombro amigo agora.

AMANDA IRÔNICA. DANTE NEGA COM A CABEÇA. NELA.

CORTA PARA:

CENA 22. MANSÃO FRAGA LINHARES. SALA. INTERIOR. DIA

NATÁLIA COM O TELEFONE EM MÃOS. DESLIGA.

NATÁLIA – A dona Celina, paralítica?

NATÁLIA FAZ UMA EXPRESSÃO DE DEBOCHE, ATÉ CAIR NA GARGALHADA.

NATÁLIA – (Rindo) Paralítica! Deficiente! Bruxa e inútil! Uma inútil completa! Isso é bom demais.

NELA RINDO, COMEMORANDO.

CORTA PARA:

CENA 23. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

SONOPLASTIA: “BAD” – DAVID GUETTA & SHOWTEK FT. VASSY.

ANOITECENDO NA CAPITAL CARIOCA. TAKES DA NOITE CINTILANTE DO RIO DE JANEIRO. SONOPLASTIA OFF.

CORTA PARA:

CENA 24. COPACABANA. PRAIA. EXTERIOR. NOITE

CADÚ E INÊS ANDAM LADO A LADO, NO CALÇADÃO. TOMAM SORVETE.

INÊS – Me surpreendi quando você me ligou, depois de desaparecer o Natal inteiro.

CADÚ – Desculpa, tive compromissos de família, na verdade, problemas de família! Precisava te ver pra poder relaxar, me tranqüilizar um pouco.

INÊS – Eu sei. Eu também passei o Natal com a minha família. E a sua Ceia, foi boa?

CADÚ – Na verdade, foi uma tragédia e é exatamente por isso que eu precisava te ver. Te ver, falar com você me traz paz.

INÊS SORRI PARA ELE.

INÊS – Fico feliz em saber que eu te trago algo bom.

CADÚ – Traz sim.

CADÚ PARA EM FRENTE À INÊS.

SONOPLASTIA: “GOLDEN” – SIA E TRAVIE MCCOY.

CADÚ – (Sorri) Acho que você foi o único presente de Natal que eu ganhei esse ano.

INÊS – (Sorri divertida) Antes esse do que nada. Até que Papai Noel foi generoso com você.

CADÚ – Convencida!

CADÚ MELA O ROSTO DE INÊS COM SORVETE, QUE FAZ CARA DE CHOCADA E COMEÇA A RIR.

INÊS – Seu pilantra!

CADÚ – (Rindo) Eu? Mas eu sou um menino bom!

INÊS SUJA O ROSTO DE CADÚ COM SORVETE TAMBÉM.

INÊS – Acho que Papai Noel errou o endereço quando entregou o presente esse ano!

CADÚ – (Ri) Pelo contrário.

CADÚ SEGURA INÊS PEGA CINTURA, QUE VAI PARANDO DE RIR E O ENCARA. AMBOS EM CLIMA, ENCANTADOS.

CADÚ – (Próximo) Acho que ele trouxe um ao outro de presente.

INÊS – Cadú, eu não sei se./

CADÚ COLOCA A MÃO SOBRE A BOCA DELA.

CADÚ – Shh vai estragar o momento!

INÊS SORRI. CADÚ SORRI TAMBÉM.

INÊS – E o que esse presente que o Papai Noel me trouxe, sabe fazer?

CADÚ – Ele tem várias funções.

INÊS RI.

CADÚ – Mas uma é o carro-chefe. Acho que em uma configuração, ele teve um acabamento especial. Esse aqui!

CADÚ PUXA INÊS PARA SI. OS DOIS PRÓXIMOS, VÃO JUNTANDO OS LÁBIOS ATÉ SE BEIJAREM COMPLETAMENTE. SLOW-MOTION: CADÚ E INÊS ENTREGAM-SE AO MOMENTO. VÁRIOS ÂNGULOS DO PRIMEIRO BEIJO DOS DOIS.

CORTA PARA:

CENA 25. HOSPITAL. QUARTO DE CELINA. INTERIOR. NOITE

CELINA JÁ ESTÁ EM UM QUARTO INDIVIDUAL. DEITADA NA CAMA, ESPERA AFLITA. COM ELA, ESTÁ BRUNO, PRÓXIMO DA CAMA. O MÉDICO ENTRA EM SEGUIDA COM UMA ENFERMEIRA AO LADO.

CELINA – (Nervosa) Doutor! Quer me matar de nervosismo.

BRUNO – Calma, mãe.

DR. ARIEL – Então, Celina. Eu vim conversar com você. (Olha Bruno) Com vocês. Eu preciso da família nesse momento.

CELINA – Doutor, eu sou uma mulher forte. Pode falar o que o senhor tem pra dizer agora mesmo. Não preciso de um cerimonial ou uma coletiva de imprensa pra me dizer o óbvio!

CELINA ENCARA O MÉDICO.

CELINA – (Tom) Fala! Eu tô aleijada, não tô?! (Berra) Uma aleijada maldita, é isso?!

O MÉDICO ENCARA CELINA E VOLTA-SE PARA BRUNO, QUE CHORA.

CELINA – (Berra) É isso não é?! É isso!

CELINA CHORA COMPULSIVAMENTE.

DR. ARIEL – Celina, por favor. A lesão pode ser reversível. No momento ela não é, mas com fisioterapia./

CELINA – (Alto/ Agressiva) Fisioterapia é o cacete! Eu tô aleijada! Eu quero as minhas pernas de volta! Eu quero as minhas malditas pernas de volta!

CELINA SE DESPERA, BATE COM OS BRAÇOS SOBRE A CAMA, ENLOUQUECIDA. BRUNO SE AFASTA, SE APROXIMANDO DA JANELA, CHORA MUITO. O MÉDICO E A ENFERMEIRA SE ENTREOLHAM. NO DESESPERO DE CELINA.

CORTA PARA:

CENA 26. HOSPITAL. QUARTO DE FRANKLIN. INTERIOR. NOITE

FRANKLIN JÁ SENTADO COM A COLUNA APOIADA NA CAMA. ELE OLHA PARA A JANELA. ALGUÉM ENTRA NO QUARTO.

FERNANDA – (V.O) Franklin!

FRANKLIN SE VIRA E OS DOIS SE ENCARAM.

FERNANDA – (Se aproximando) Amor, eu fiquei tão desesperada, tão louca. Você tá bem?

FRANKLIN – Eu... Eu tô sim. Eu mandei te chamar pra nós termos uma conversa definitiva.

FERNANDA – Conversa definitiva? Do que você tá falando?

FRANKLIN TITUBEIA, ATÉ ENCARAR DE VEZ.

FRANKLIN – Acabou, Fernanda. Nós não podemos mais. Depois disso tudo, eu não posso mais lidar com essa situação. Eu te chamei aqui pra terminarmos tudo. Nós não podemos mais ficar juntos.

UMA LÁGRIMA CAI DOS OLHOS DE FERNANDA. CLOSES ALTERNADOS. EM FRANKLIN.

CORTA PARA:

EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

FIM DO CAPÍTULO 15.