CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
CELINA DÁ
UMA GARGALHADA HISTRIÔNICA.
CELINA – Por um
acaso, isso é algum tipo de brincadeira? Pegadinha? (Olha em volta) Tem alguma
câmera escondida por aqui, Amanda?
AMANDA – Por
favor, Celina. Acha mesmo que eu gravaria essa nossa conversa? Eu tenho coisas
mais importantes pra negociar em troca dessa informação preciosa.
CELINA – Você
só pode ter enlouquecido de vez! Vir me acusar de algo absurdo desses?
AMANDA –
(Impaciente) Nós podemos ficar aqui discutindo isso o dia inteiro, ou podemos
acabar logo com isso e agirmos como duas mulheres adultas, que somos. Vamos
poupar o nosso precioso tempo?
CELINA
LEVANTA-SE DA CADEIRA DE RODAS. AMANDA SORRI DEBOCHADA. APLAUDE.
AMANDA – Taí, Celina
sem máscaras.
CELINA – Agora,
encarando você frente à frente como mulheres adultas, que somos, como você
mesmo fez questão de frisar, eu poderia te dar uma surra.
AMANDA
DEBOCHA.
AMANDA – Você
não fará isso sabe por quê? Porque eu posso sair daqui agora e contar pra todo
mundo o seu segredinho.
CELINA
PEGA AMANDA PELO BRAÇO.
CELINA – Duvido
alguém acreditar em você!
AMANDA – Quero
ver alguém duvidar depois que empurrar você, sentada nessa cadeira de rodas,
dentro da piscina. (Ri) Daí veremos se os movimentos das suas perninhas não
voltam rapidinho.
CELINA
FURIOSA. AMANDA PROVOCA.
CELINA – Fala.
O que você quer?!
AMANDA – Eu vou
ser objetiva como sempre: Quero que você me ajude a apressar o casamento entre
a Mariana e o seu filho, Bruno.
CELINA
OLHA DESACREDITADA PARA AMANDA. NELAS.
CORTA PARA:
CENA 02. BARZINHO. INTERIOR. DIA
ABRE EM
UM BARZINHO, FICA NAS ADJACÊNCIAS DO PRÉDIO DE ALBERICO. EM UMA DAS MESAS, ELE
E RAULZINHO. CONVERSA À MEIA.
RAULZINHO – Então,
seu Alberico. É pegar ou largar. Aceita minha proposta?
ALBERICO – Depois
do que você tentou fazer, Raulzinho, eu não sei...
RAULZINHO – Eu me
descontrolei. Poxa, eu ainda amo a sua neta e tentei de uma maneira impensada,
ter a Inês de volta. Eu errei, mas eu quero começar a me redimir.
ALBERICO
FICA EM DÚVIDA. O ENCARA.
RAULZINHO – Pensa
bem, não vai aparecer tão cedo outro investidor nessa sua escola.
ALBERICO – A
ideia é boa.
RAULZINHO –
(Rindo) Vamos convir que é um investimento de risco. Um tiro no escuro!
ALBERICO
FICA EM DÚVIDA. SORRI AMARELO.
ALBERICO – Eu
aceito.
RAUL
SORRI, SATISFEITO.
CORTA PARA:
CENA 03. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA
ALBERICO
DE FRENTE PARA CARMINHA E FÁTIMA.
CARMINHA – Você o
que papai?
ALBERICO – Minha
filha./
FÁTIMA – (Por
cima) Não tem justificativa, Alberico! Você enlouqueceu? Esse homem tentou
agarrar a nossa neta! Por pouco ele estupra ela dentro de casa, Alberico!
ALBERICO
INCOMODADO.
CARMINHA – Papai!
Por dinheiro!
ALBERICO – Alto
lá! Por dinheiro não. O Raulzinho emprestou esse dinheiro para aplicar em um
negócio. É um investimento! Depois que eu retornar, que eu pagar esse dinheiro
pra ele, desfaço a sociedade.
FÁTIMA – Você
não tá vendo que vendeu a alma ao Diabo?
ALBERICO – Que
exagero!
CARMINHA –
Exagero nada, pai. O que o Raul fez foi dar dinheiro pra depois ter o senhor
nas mãos, ter todos nós nas mãos, com uma dívida grandiosa que provavelmente o
senhor não vai poder pagar.
FÁTIMA – E com
isso usar chantagem para ter a Inês de volta.
ALBERICO – Vocês
estão loucas! Falam como se estivéssemos no século retrasado e que eu fosse
maluco ao ponto de negociar a minha neta em troca de uma dívida.
FÁTIMA –
(Debocha) E não é maluco não, né?
ALBERICO – A esse
ponto? Não senhora!
CARMINHA
BUFA, INCONFORMADA.
CARMINHA – Então
tá, papai. Então tá! Só depois não reclame que a sua neta não olhar mais pra
cara do senhor.
CARMINHA
SAI BUFANDO. FÁTIMA MEDINDO A ATITUDE DE ALBERICO.
ALBERICO – O que
é que você queria que eu fizesse? Poxa, o rapaz vai me ajudar no meu sonho.
FÁTIMA – Em
mais um delírio seu. Eu espero que esse não seja o seu delírio final, Alberico.
ALBERICO
ENCARA FÁTIMA.
FÁTIMA – Pois
escuta bem o que eu vou te dizer agora! Se esse seu “novo investimento” falhar
e você se encrencar feio com esse rapaz e por isso rachar a nossa família no
meio, saiba que é o fim do nosso casamento!
ALBERICO –
(Tenso) Como é?
FÁTIMA –
(Firme) É isso mesmo que você ouviu. É o fim do nosso casamento!
E FÁTIMA SAI
NERVOSA. ALBERICO ALI SEM PALAVRAS. PASSA A MÃO PELO ROSTO.
CORTA PARA:
CENA 04. APOLLO SPORTING. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA
MOVIMENTAÇÃO
COMUM. MÚSICA ELETRÔNICA TOCANDO AO FUNDO, PONTUANDO AS AULAS E MUSCULAÇÃO DA
GALERA.
CÂM VEM
BUSCAR NA ENTRADA, VITÓRIA E JULIANA.
JULIANA –
(Tensa) Ai, Vitória. Eu to nervosa. Será que ela tá aí?
VITÓRIA –
Relaxa, Jú. Ela deve estar sim. A Mariana é rata de academia.
JULIANA
NERVOSA. DO PV DE VITÓRIA: MARIANA AO LONGE, SE ALONGA SOZINHA.
VITÓRIA – Lá,
Juliana!
JULIANA
BUSCA COM OS OLHOS. ENCONTROU MARIANA. TENTA DAR MEIA VOLTA.
JULIANA – Eu não
vou.
VITÓRIA –
(Puxando de volta) Nada disso! Veio até aqui só pra ver a sua filha. Vai lá
agora.
JULIANA
ENCARA VITÓRIA, INDECISA. URBANO VEM VINDO EM SEGUNDO PLANO.
URBANO –
(Chama) Vitória! Outra vez atrasada!
VITÓRIA
SE VIRA. SLOW-MOTION: JULIANA SE VIRA
PARA ELE. REAÇÃO DE URBANO.
SONOPLASTIA:
“SEÑOR LOCO” – ELENA FT. DANNY MAZO.
URBANO
ENCANTADO OLHANDO JULIANA. ELA SEM JEITO.
JULIANA –
Desculpa, foi culpa minha. Eu que insisti pra que a Vitória me trouxesse e
atrasei ela em casa.
URBANO – Tá...
Tá, tudo bem. (Se aproxima) Urbano.
OS DOIS
SE CUMPRIMENTAM. ELA SORRI.
JULIANA –
Juliana.
VITÓRIA –
(inventa) Ela veio procurar emprego aqui na academia.
JULIANA
SE ENTREOLHA COM VITÓRIA E SUSTENTA A MENTIRA
JULIANA –
(Afirmando) Isso. Eu vim procurar emprego aqui na Apollo. Mas me desculpe, eu
vou deixar vocês trabalhando.
URBANO –
(Corta) Não! Você não atrapalha!
URBANO
SORRI, NERVOSO. JULIANA ACHA GRAÇA.
JULIANA –
Desculpa mesmo.
URBANO – (Se
apressando) Não quer preencher uma ficha? Deixar um currículo? Abriu uma vaga!
Nós realmente estamos precisando de alguém! (A analisa) Você tem o tipo certo
pra academia. Com todo respeito, claro!
VITÓRIA
RI, SE DIVERTINDO. JULIANA RI TAMBÉM. OLHA PARA A FILHA E DEPOIS PARA URBANO.
JULIANA – (Se
convencendo) Tá. Tudo bem! Vamos conversar?
URBANO
SORRI.
URBANO – Por
favor, pode me seguir.
URBANO VAI
À FRENTE. JULIANA OLHA PARA VITÓRIA
VITÓRIA –
Qualquer coisa, se ela passar aqui pela recepção, eu invento alguma coisa e
seguro. Vai lá.
JULIANA
ASSENTE E VAI. VITÓRIA ALI, OLHANDO OS DOIS SAINDO. CORTA PARA SOLANGE CHEGANDO
E VENDO OS DOIS TERMINAREM DE SUBIR O LANCE DE ESCADAS.
SOLANGE – (Se
aproximando) Vitória... Quem é essa que tava com o Urbano?
VITÓRIA – É a
Juliana. Mora lá em casa. Veio procurar emprego aqui na academia.
SOLANGE
OLHA, DESAPROVANDO.
SOLANGE –
(Resmunga baixo) Tipinho...
VITÓRIA – (Ri)
Acho que o Urbano se apaixonou. Tá derretido.
VITÓRIA
RINDO. SOLANGE FAZ CARA DE CIÚMES. NELA.
CORTA PARA:
CENA 05. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. ESCRITÓRIO.
INTERIOR. DIA
Continuação cena 01.
CELINA
ENCARANDO AMANDA COM FÚRIA.
CELINA – Eu vou
fingir que eu não escutei isso. Aliás, eu faço questão de apagar qualquer
lembrança dessa cena ridícula com você nesse escritório. Agora abra essa porta!
AMANDA
REPROVA COM A CABEÇA E SORRI.
AMANDA – Acho
que você realmente não entendeu o que eu disse.
CELINA – (Por
cima) O que você diz não me interessa. Você que não conseguiu entender ainda!
Será que debaixo desse seu cabelo sarará, chapado quimicamente, você ainda tem
um cérebro?!
AMANDA
COM FÚRIA PARA CELINA.
AMANDA – (De
dedo) Escuta aqui!
CELINA
PEGA NO BRAÇO DE AMANDA.
CELINA –
(Corta) Escuta aqui você, sua louca! Eu não vou ceder chantagem nenhuma! Você
não fará absolutamente nada! Eu te destruo, linda!
AMANDA
BAIXA A GUARDA.
AMANDA – Eu
destranco essa porta, eu abro passagem e você não cede isso que chama de
chantagem. Mas saiba que hoje mesmo a sua família vai receber como convidado
especial, um certo médico chamado Ariel.
AMANDA
PEGA A CHAVE E VAI ATÉ A PORTA. CELINA TITUBEIA. OLHA AMANDA.
CELINA –
Espera.
AMANDA SORRI.
CELINA EM SEGUNDO PLANO.
CELINA – O que
você tá me pedindo é simplesmente apoiar esse casamento do meu filho com a sua
sobrinha, é isso?
AMANDA – Filha.
A Mariana é minha filha!
CELINA
SENTA-SE NA CADEIRA.
CELINA – Que
seja. (Pausa) Eu vou jogar o futuro do meu filho na lama.
AMANDA – É um
acordo bom pra nós duas. Você continua fingido esse seu teatrinho de aleijada e
eu caso a minha filha com o Bruno. Pensa bem, Celina.
CELINA
TITUBEIA. ENCARA AMANDA.
CELINA – Você
vence sempre. É impressionante, negrinha.
AMANDA – Meça
suas palavras, Celina. Eu quero um tratamento de primeira! Pra mim e pra
Mariana! Afinal, agora nós seremos da mesma família.
CELINA – E quem
garante que o Bruno vai querer mesmo casar com a sua filha? A vontade dele é
algo que eu não posso me meter.
AMANDA – Mas
pode dar um empurrãozinho. Esse seu personagem de mãe inválida ajuda muito, tem
peso nas decisões dos seus filhos. E você sabe disso! Se não, não estaria
fazendo essa cena toda.
CELINA
CONCORDA. SORRI AMARELO.
CELINA – Farei
o possível.
AMANDA –
(Sorri) Eu sei que fará!
AMANDA
DESTRANCA A PORTA E A ABRE LENTAMENTE.
AMANDA – Já se
arrumou na cadeira?
CELINA
OLHA COM CARA DE POUCOS AMIGOS PARA AMANDA.
CELINA – Sério
que vai querer me dar aula de interpretação, Asdrúbal Filho?
AMANDA
SORRI.
AMANDA – Esse é
o começo de uma boa amizade entre sogras, Celina. Tenho certeza disso.
CELINA – Eu não
garanto tanto.
AMANDA –
Paciência. Tem que entubar!
AMANDA
SORRI E SE VAI. CELINA ESMURRA A CADEIRA. APROXIMA-SE DA MESA DO ESCRITÓRIO.
PEGA O CELULAR SOBRE ELA E DISCA. INSTANTES.
CELINA – (Tel.)
Desgraçado! (Pausa) Não, não desliga não. Não desliga porque agora que você me
entregou, você sabe o que vai te acontecer!
TENSÃO.
CELINA SE VIRA CONTRA A PORTA, NO CELULAR AINDA.
CELINA – (Tel.)
Então pode se preparar, porque a inválida aqui ainda pode correr atrás de você!
EM
CELINA, VINGATIVA. FADE-OUT.
CORTA PARA:
CENA 06. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE
FADE-IN. A CIDADE
ANOITECENDO AO SOM DE UMA BOSSA CALMA. LUZES NA BAÍA DE GUANABARA SE ACENDENDO.
PESSOAS EM CORRIDAS NOTURNAS EM TORNO DA LAGOA. VEÍCULOS FECHANDO AVENIDAS.
CALÇADÃO EM SEUS HÁBITOS DE VIDA NOTURNA.
CORTA PARA:
CENA 07. PRÉDIO DE ALBERICO. HALL DE RECEPÇÃO.
EXTERIOR. NOITE
CADÚ NA
PORTA, ENCOSTADO NO CARRO. ESPERA ANSIOSO. CÂM CORTA PARA A SAÍDA. JULIANA SAI,
COM UM VESTIDO AZUL, SIMPLES. CADÚ ENCANTANDO A OLHANDO. ELA SE APROXIMA.
JULIANA – Não
precisava parar bem aqui na porta. E se alguém te vê?
CADÚ – Boa
noite pra você também.
JULIANA – Boa
noite.
CADÚ – Vamos?
ELE
SORRI. ELA CONCORDA AINDA A CONTRAGOSTO. ELE ABRE A PORTA DO CARRO E ELA ENTRA.
ELE ENTRA E O CARRO PARTE.
CORTA PARA:
CENA 08. PRÉDIO DE ARIEL. FRENTE. EXTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA
DE TENSÃO.
DO PRÉDIO
SAI ARIEL, NERVOSO. ELE DE BONÉ, VAI ATÉ A PORTARIA DO PRÉDIO. DO PV DE ALGUÉM:
ELE ACENA E PEGA UM TÁXI. A CÂM REVELA SER CELINA, O OBSERVADO. O CARRO DELA
TAMBÉM PARTE DALI.
CORTA PARA:
CENA 09. RIO DE JANEIRO. RUAS. EXTERIOR. NOITE
SEQUÊNCIA
CONTINUA. O TÁXI À FRENTE E O CARRO IMPORTADO DE CELINA MAIS ATRÁS. CORTES
DESCONTÍNUOS DOS DOIS NO TRÂNSITO, COM UMA CERTA DISTÂNCIA ENTRE ELES.
CORTA PARA:
CENA 10. RIO DE JANEIRO. AEROPORTO TOM JOBIM.
ESTACIONAMENTO. EXTERIOR. NOITE
PLANO
GERAL. ARIEL DESCE DO TÁXI, QUASE EM MOVIMENTO, APRESSADO. ELE CAMINHA PELA
ÁREA DO ESTACIONAMENTO, COM UMA MALETA EM MÃOS. OLHA PARA OS LADOS, NERVOSO.
CORTA PARA O CARRO IMPORTADO DE CELINA INVADINDO A ÁREA, COM CERTA VELOCIDADE.
DO SEU PV: ARIEL ANDANDO PELO LOCAL.
CORTE
PARA ARIEL, QUE AO CRUZAR O ESTACIONAMENTO, VÊ OS DOIS FARÓIS SE ACENDENDO EM
SUA DIREÇÃO. ELE CORRE. O CARRO ACELERA. TENSÃO.
CELINA NO
VOLANTE, PSICÓTICA. OLHAR FIXO. CÂM DETALHA NOS PÉS, ACELERANDO FUNDO.
ARIEL
TENTA CORRER. EM SLOW-MOTION: O CARRO SE APROXIMA E O ACERTA EM CHEIO. ARIEL
VOA PELO CAPÔ DO CARRO, E A MALETA SE ABRE, ESPALHANDO VÁRIAS NOTAS DE REAIS
PELO AR.
NO
INTERIOR DO VEÍCULO, CELINA FREIA BRUSCAMENTE E O PNEU CANTA NA PISTA.
NO
EXTERIOR: ARIEL CAI NO CHÃO, DESACORDADO, POÇA DE SANGUE SE FORMANDO EM TORNO
DO CORPO.
CELINA
OLHA O CORPO ESTENDIDO, PELO RETROVISOR E LIGA O CARRO, ACELERANDO. DÁ UM
CAVALO DE PAU NO ESTACIONAMENTO E SAI À TODA, FUGINDO DO LOCAL.
CÂM BUSCA
ARIEL, DE CIMA. FADE-OUT.
CORTA PARA:
CENA 11. MANSÃO FRAGA LINHARES. SALA. INTERIOR.
NOITE
FADE-IN. CELINA
ENTRA COM SUA CADEIRA DE RODAS. BRUNO NO SOFÁ. AO VÊ-LA, VOLTA SUA ATENÇÃO.
BRUNO – Ô,
mãe. Tava preocupado! Onde a senhora estava?
CELINA O
ENCARA. NOS DOIS.
CORTA PARA:
CENA 12. RESTAURANTE FINO. INTERIOR. NOITE
RESTAURANTE
REQUINTADO, AMBIENTE COM POUCA LUMINOSIDADE. JANTAR JÁ POSTO. CADÚ E JULIANA À
MEIO JANTAR. CONVERSA INICIADA.
CADÚ – Eu
pensei realmente que você fosse cancelar esse jantar.
JULIANA – Eu só
aceitei, pra pôr fim nessa nossa historia.
CADÚ A
ENCARA. PEGA EM SUA MÃO. ELA RETIRA.
JULIANA – Você
está namorando a Inês e eu... Eu não posso ficar com você.
CADÚ – Eu não
amo a Inês. Eu amo você.
JULIANA
ACHA GRAÇA. CADÚ NÃO ENTENDE.
CADÚ – Porque
a risada?
JULIANA –
(Olhando em volta) Olha pro lugar que você me trouxe?!
CADÚ – Por
quê? Tá ruim?
JULIANA – Não.
Tá demais! Eu não sou assim. Eu não sou rica! Você me viu trabalhando de
faxineira.
CADÚ – E daí,
Juliana? Só porque eu tenho dinheiro, tenho um nome, uma família que tem
grana... Isso não significa nada perto do que eu sinto por você. E do que eu
sei que você também sente por mim.
JULIANA
INCOMODADA.
JULIANA – Eu não
sinto nada.
CADÚ – Não
nega. Eu sei que sente. É notável o seu desconforto.
JULIANA O
ENCARA DE VEZ.
JULIANA – E daí?
E daí que eu sinta algo por você? Em que isso muda? A nossa situação não vai
mudar em nada. Eu não posso ficar com você.
CADÚ – Eu só
quero entender o motivo.
JULIANA
RESPIRA FUNDO. TITUBEIA.
JULIANA – Eu sou
uma ex-presidiária!
CADÚ
SURPRESO. INSTANTES. ELE SORRI.
CADÚ – Eu
ainda estou esperando o motivo pra você não ficar comigo.
OS DOIS
RIEM. JULIANA TENTA SER COMPLACENTE.
JULIANA – A
minha vida é complicada, Cadú. Eu matei o pai da minha filha em um surto de
drogas. Eu era uma viciada. Fiquei anos presa, mofando atrás das grades, sem
ninguém saber da minha existência. A minha única filha, que hoje é adolescente,
foi criada pela minha irmã. A minha irmã me esqueceu em uma cela fétida, como
ela tanto gosta de jogar na minha cara. (Emocionada) Eu nem sequer me aproximei
da minha filha, desde que saí da prisão, por vergonha. Por medo...
CADÚ
SEGURA A MÃO DE JULIANA SOBRE A MESA.
CADÚ – Você é
uma guerreira e eu me orgulho de você. Eu quero ficar com você, Juliana.
JULIANA
EMOCIONADA. INSTANTES. CADÚ TROCANDO OLHARES. ELA TIRA A MÃO.
JULIANA –
Desculpa, mas eu não conseguiria. Os nossos mundos são muito diferentes.
CADÚ – Mas
meu Deus, isso é uma bobagem. Você já parou pra se escutar? Você já parou pra
pensar que tudo isso não é coerente, e que realmente justifique algo pra você
não ficar comigo, Juliana?
JULIANA
LEVANTA-SE. CADÚ SEGUE.
CADÚ – Eu não
vou deixar você sair assim.
OS DOIS
SE ENCARAM.
CORTA PARA:
CENA 13. MANSÃO FRAGA LINHARES. SALA. INTERIOR.
NOITE
Continuação cena 11.
CELINA
SORRI AMARELO.
CELINA – Virou
meu pai agora, Bruno? Papéis se invertendo?
BRUNO –
Desculpa, mas poxa... Eu estava preocupado com a senhora assim... Desse jeito.
CELINA –
Inválida? Impotente? Aleijada?
BRUNO – Não
foi isso que eu quis dizer.
CELINA – Não
precisa. Perdi o movimento das pernas e não a visão. E não, não precise se
preocupar. Fui dar uma volta no shopping. (Ri) O pior é que não posso nem dizer
que fui bater perna.
BRUNO RI.
CELINA SE APROXIMA DO SOFÁ.
BRUNO – E foi
com o seu carro? Porque eu não o vi na garagem.
TENSÃO.
CELINA O ENCARA.
CELINA – Pedi
para o Valdir dirigir pra mim. Mas sabe que to pensando em colocar uns
adaptadores no carro pra eu mesmo poder dirigir?
BRUNO – Olha
ela! Poxa, bacana isso. Voltando á viver normalmente, mãe. Gosto disso.
CELINA
SORRI.
CELINA – E seu
namoro com a escurinha?
BRUNO – Vai
começar?!
CELINA –
Desculpa. Com a Mariana.
BRUNO –
Estamos bem, mas eu não sei...
CELINA – Bruno,
acho que eu nunca te disse isso, mas realmente, eu acho que você deva assumir
um compromisso a mais com essa menina.
BRUNO
FICA EMBASBACADO COM A MÃE.
BRUNO – Você
incentivando meu namoro com a Mariana? O que deu na senhora?
CELINA – Eu não
sou Darth Vader, me poupa! Eu só acho que você está na idade de assumir
responsabilidades. E quem sabe, um passo a mais nesse namoro de vocês, não seja
o que vocês estejam precisando pra crescerem como pessoas?
BRUNO
FICA ALI AINDA SURPRESO.
CELINA – Bem,
agora vou dormir. Hoje, realmente, foi um dia de matar...
CELINA DÁ
UMA GARGALHADA. BRUNO SORRI, NÃO ENTENDENDO E DÁ UM BEIJO NA MÃE. CELINA SAI.
BRUNO ALI, PENSATIVO.
BRUNO – Será?
Casar com a Mari?
NELE.
CORTA PARA:
CENA 14. RESTAURANTE FINO. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 12.
JULIANA
SENTA-SE. CADÚ PACIENTE.
CADÚ – Eu não
vou insistir. Eu realmente não entendo os seus motivos. Não tomo eles como
compreensivos, mas eu vou aceitar. Vou respeitar!
JULIANA –
Obrigada. (Sorri) Você é demais.
CADÚ –
(Sorri) Eu queria ser de menos e que você sentisse minha falta.
JULIANA
DESMANCHA O SORRISO. FICA ALI, CHATEADA. CADÚ TAMBÉM, MAS TENTANDO COMPREENDER.
CORTA PARA:
CENA 15. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE
JULIANA. INTERIOR. NOITE
AMBIENTE
ESCURO. JULIANA ABRE A PORTA E ENTRA. LIGA A LUZ E TOMA UM SUSTO. CÂM REVELA
ÁUREA, SENTADA SOBRE A CAMA.
JULIANA – (Sem
entender) Áurea?! O que você tá fazendo aqui?
ÁUREA – Que
surpresa é essa, Juliana? Devendo alguma coisa?
JULIANA – Eu não
estou entendendo, e também não to com saco à essa hora pra discutir nada com
você.
ÁUREA
LEVANTA-SE, ENCARANDO O TEMPO TODO.
ÁUREA – Eu vou
ser muito direta, Juliana da Silva Mattos.
JULIANA
SEM ENTENDER E NÃO GOSTANDO DA SITUAÇÃO. ÁUREA SE APROXIMA.
ÁUREA – Pega
as suas trouxinhas de ex-cadeieira e sai agora da casa dos meus pais!
JULIANA
EM CHOQUE. AS DUAS SE ENCARAM. ÁUREA FIRME, CRUEL.
CORTA PARA:
CENA 16. MANSÃO PRATINI. EXTERIOR. NOITE
MARIANA
SAI DA PORTA DA MANSÃO. BRUNO ALI, NERVOSO, A ESPERANDO.
MARIANA –
(Sorri) Bruno? Fiquei surpresa quando disseram que você tava aqui.
BRUNO E
MARIANA TROCAM UM BEIJO.
MARIANA – Quê
foi? Parece nervoso. Aconteceu alguma coisa?
BRUNO – Eu não
aguentava mais esperar em casa e precisava falar com você, um assunto sério.
MARIANA – Ih,
não to gostando nada disso. Assunto sério? Você quer terminar, é isso?
BRUNO – Não.
Nada disso.
MARIANA – Então?
BRUNO A
ENCARANDO.
MARIANA –
(Impaciente) Fala, garoto. Tô ficando com urticária já.
BRUNO – Tá,
vai ser igual tirar um esparadrapo.
MARIANA – Hã?
BRUNO –
Mariana, você quer casar comigo?
MARIANA
CHOCADA.
MARIANA – Como é
que é?!
EM BRUNO,
PASMO COM SUA PRÓPRIA PERGUNTA.
CORTA PARA:
CENA 17. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE
JULIANA. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 15.
JULIANA
ENCARANDO ÁUREA COM MISTO DE PAVOR E ÓDIO.
JULIANA – Eu não
to entendendo!
ÁUREA – Tá
sim. Porque você já provou que é tudo, menos burra, querida. Eu fui atrás dos
seus antecedentes, peguei o número do seu RG e não foi difícil.
JULIANA
LÍVIDA.
ÁUREA – Matar
um homem, Juliana? Eu realmente, esperava qualquer coisa, mas assassinato? Você
tem cara de traficante, usuária, mas assassina?!
JULIANA – (Tom)
Mede as suas palavras!
ÁUREA – (Por
cima/ Tom alto) Assassina!
JULIANA – Pelo
amor de Deus, para com isso! Eu te imploro! Alguém vai acordar e vai ouvir!
ÁUREA – Ótimo.
Que acordem! Que ouçam! Eu quero você e as suas coisas fora daqui agora mesmo.
JULIANA – Eu não
vou embora daqui. Foi a sua irmã que me colocou aqui dentro.
ÁUREA – Isso
que eu não entendo. Como a Carminha teve a audácia de colocar uma ex-detenta,
uma assassina dentro de casa? Dentro da casa dos nosso pais?
A PORTA
SE ABRE E CARMINHA ENTRA, JÁ NOTANDO A BRIGA.
CARMINHA – O que
é que tá acontecendo aqui, hein, Áurea? O que você tá fazendo agora, sua bruxa?
ÁUREA – Bruxa,
Carmem Lúcia? Eu sou a bruxa? Você trouxe uma assassina, uma bandida, que matou
o próprio marido, pra dentro da casa dos seus pais! Você é uma louca!
CARMINHA – (De
dedo) Escuta aqui, a única louca que tem aqui, é você! Você vai parar agora
mesmo com isso tudo, vai engolir cada palavra que falou pra Juliana e vai
esquecer essa historia. Ouviu bem?
ÁUREA –
Jamais! Jamais eu vou esquecer que essa mulherzinha é o que é!
JULIANA – Eu já
paguei o que devia a justiça!
ÁUREA –
Continua sendo uma meliante aos olhos de Deus! Uma vagabunda, sem eira nem
beira!
CARMINHA
DÁ UM SONO TAPA NA CARA DE ÁUREA, QUE A ENCARA, CHOCADA.
ÁUREA –
Você... Você me bateu!
CARMINHA – Escuta
aqui, sua vaca! Eu tenho nojo de ser sua irmã. Tenho nojo de dizer pros outros
que eu tenho o mesmo sangue que o seu! E sabe porque? Porque eu tenho nojo de
gente hipócrita, de gente que usa a religião pra se esconder, pra esconder seus
preconceitos sujos. Pra esconder a infelicidade e a extrema pobreza de espírito
que elas guardam! Eu tenho nojo de você, Áurea. Eu tenho vergonha!
ÁUREA
CHORA, COM ÓDIO, ENCARANDO CARMINHA. JULIANA, EM SEGUNDO PLANO, TAMBÉM
CHORANDO.
CARMINHA – É o
seguinte e eu vou ser muito realista com você, já que quase ninguém costuma
perder seu precioso tempo em falar qualquer verdade pra você, uma alienada, uma
burra! Os nossos pais, a nossa família, está em uma falência extrema. Uma
pobreza radical. O nosso pai é um lunático que só faz perder dinheiro, em
negócios que nunca vão dar certo. A única pessoa que ajuda nessa casa, que
coloca comida de verdade dentro dessa casa, sou eu. Euzinha aqui! Você e o seu
marido só fazem comer de graça, vivem todo dia aqui, comendo ás minhas custas.
ÁUREA – Não é
verdade.
CARMINHA –
(Berra) Cala a sua boca! (Baixa o tom) Pois saiba, que essa casa, por eu pagar
a maior parte das contas, ela é minha, por direito! E eu coloco aqui dentro,
quem eu bem achar que devo colocar. Quem manda aqui sou eu. Você é uma
encostada, uma parasita de esgoto, um nojo, uma mulherzinha sem existência, que
fica vagando e enchendo o saco dos outros! Pois saiba, que você por ter
descoberto o passado da Juliana, se acha no direito de expulsar ela da casa dos
seus pais. Que você enche tanto a boca pra dizer, mas simplesmente, não
colabora nem com um kilo de arroz pra pôr na mesa na hora do almoço, se você
realmente insistir em colocar essa menina pra fora daqui, saiba que eu também
vou. Eu vou junto com a Juliana!
ÁUREA – Você
não teria coragem!
CARMINHA – Ah,
não teria?! Teria sim! E digo mais! Você vai ficar como a única responsável de
colocar comida pros seus pais, já que tanto preserva a imagem e segurança
deles. Você vai pagar as contas dessa casa, vai pagar os luxos do seu papai e
ainda vai ter que bancar o seu maridinho, que gosta tanto de uma farra! Olha,
que sonho!
ÁUREA
CHORA DE ÓDIO.
CARMINHA – Então?
Pegar ou largar.
INSTANTES.
ÁUREA ENCARA JULIANA. JULIANA TOMA A FRENTE DE CARMINHA.
JULIANA – Não
precisa nada disso. Talvez ela esteja certa. Eu vou embora.
CARMINHA
SEGURA OS BRAÇOS DE JULIANA.
CARMINHA – Se tem
alguém que vai embora aqui, esse alguém não é você. Tá me ouvindo? (Juliana
balança a cabeça que sim). Eu não vou deixar você sair daqui.
ÁUREA COM
ÓDIO.
CARMINHA –
(Encara) Vamos, Áurea. Pede perdão pra Juliana! Por cada palavra que você
disse!
ÁUREA – Eu?!
Jamais!
CARMINHA – Ótimo.
Então, a partir de hoje, essa casa e as contas dela, são suas.
CARMINHA
VAI SAINDO. ÁUREA TITUBEIA E A IMPEDE, SE COLOCANDO NA FRENTE. AS DUAS ENCARAM.
ÁUREA DESVIA O OLHAR PRA JULIANA.
ÁUREA –
(Humilhada) Me... Me desculpa.
CARMINHA –
Perdão, Áurea! Peça perdão!
ÁUREA
OLHA COM EXTREMO ÓDIO PARA A IRMÃ E ENCARA JULIANA DE VEZ.
ÁUREA – Me
perdoa, Juliana.
CARMINHA – (De
dedo) E a partir de hoje, no dia que você voltar a importunar essa menina outra
vez, eu largo tudo pra trás. Eu abandono tudo! E deixo você, como a única
responsável pela vida dos nossos pais.
ÁUREA
CONCORDA E SAI, BATENDO A PORTA. JULIANA VAI ABRAÇAR CARMINHA. AS DUAS
EMOCIONADAS.
JULIANA –
Obrigada. Obrigada de verdade.
NAS DUAS
ABRAÇADAS, CHORANDO.
CORTA PARA:
CENA 18. MANSÃO PRATINI. FRENTE. EXTERIOR. DIA
Continuação cena 16.
MARIANA
EXTREMAMENTE CHOCADA COM BRUNO.
MARIANA – Bruno,
eu não sei o que te dizer.
BRUNO – Eu
pensei muito, Mari. E eu quero. Casa comigo?
MARIANA
ABRAÇA BRUNO FORTEMENTE.
MARIANA – Eu
aceito, meu amor. Eu aceito casar com você.
BRUNO SORRI
AINDA INCERTO. MARIANA FELIZ. OS DOIS SE BEIJAM COM PAIXÃO.
CORTA PARA:
CENA 19. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
TAKE RÁPIDO
DA CIDADE AMANHECENDO. ÚLTIMA IMAGEM NA FACHADA DO PRÉDIO DE ALBERICO.
CORTA PARA:
CENA 20. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE
REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
MESA
POSTA. ALBERICO NA CABECEIRA, COMO DE COSTUME. TODOS DA FAMÍLIA AO REDOR.
SILÊNCIO. ÁUREA, POR VEZES, ENCARA JULIANA E CARMINHA A ENCARA COM AR
RECRIMINATÓRIO.
ALBERICO – Áurea,
minha filha. Tão quieta hoje. Não é do seu feitio.
ÁUREA – (Tom
seco) Enxaqueca, papai.
CARMINHA – Ela
deve estar com a consciência pesada.
FÁTIMA – Vão
começar as duas, é?
ÁUREA COM
CARA DE POUCOS AMIGOS. CAMPAINHA TOCA. PAULINA LEVANTA E VAI ATENDER.
INSTANTES. ELA VOLTA COM UMA CARTA, JÁ ABERTA, LENDO.
EDGAR – Que
educação, hein! A empregada lendo uma carta dos patrões! Em outro tempo, era
tronco!
PAULINA
DESVIA O OLHAR. EXPRESSÃO FECHADA.
FÁTIMA – O que
foi, Paulina?
PAULINA
ENTREGA A CARTA À ALBERICO. ELE COLOCA OS ÓCULOS E COMEÇA A LER. EXPRESSÃO
ESTUPEFATA.
CARMINHA – O que
é isso, papai?
ALBERICO
ENCARA TODOS. ENCARA POR FIM, CARMINHA. DESOLADO.
ALBERICO – Uma
carta de despejo.
TODOS
CHOCADOS, SE ENTREOLHANDO. CARMINHA LEVANTA-SE, NERVOSA.
CARMINHA – O
quê?!
ALBERICO – É
isso. É uma ordem de despejo. Nós temos uma semana para desocupar esse
apartamento!
EXRESSÃO
CHOCADA DE TODOS DA FAMÍLIA. CLOSES ALTERNADOS ENTRE CARMINHA E ALBERICO. EM
CARMINHA, DESESPERADA.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.
FIM
DO CAPÍTULO 20.
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