sábado, 13 de fevereiro de 2016

Capítulo 20: Dancin Days

CENA 01. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
CELINA DÁ UMA GARGALHADA HISTRIÔNICA.
CELINA – Por um acaso, isso é algum tipo de brincadeira? Pegadinha? (Olha em volta) Tem alguma câmera escondida por aqui, Amanda?
AMANDA – Por favor, Celina. Acha mesmo que eu gravaria essa nossa conversa? Eu tenho coisas mais importantes pra negociar em troca dessa informação preciosa.
CELINA – Você só pode ter enlouquecido de vez! Vir me acusar de algo absurdo desses?
AMANDA – (Impaciente) Nós podemos ficar aqui discutindo isso o dia inteiro, ou podemos acabar logo com isso e agirmos como duas mulheres adultas, que somos. Vamos poupar o nosso precioso tempo?
CELINA LEVANTA-SE DA CADEIRA DE RODAS. AMANDA SORRI DEBOCHADA. APLAUDE.
AMANDA – Taí, Celina sem máscaras.
CELINA – Agora, encarando você frente à frente como mulheres adultas, que somos, como você mesmo fez questão de frisar, eu poderia te dar uma surra.
AMANDA DEBOCHA.
AMANDA – Você não fará isso sabe por quê? Porque eu posso sair daqui agora e contar pra todo mundo o seu segredinho.
CELINA PEGA AMANDA PELO BRAÇO.
CELINA – Duvido alguém acreditar em você!
AMANDA – Quero ver alguém duvidar depois que empurrar você, sentada nessa cadeira de rodas, dentro da piscina. (Ri) Daí veremos se os movimentos das suas perninhas não voltam rapidinho.
CELINA FURIOSA. AMANDA PROVOCA.
CELINA – Fala. O que você quer?!
AMANDA – Eu vou ser objetiva como sempre: Quero que você me ajude a apressar o casamento entre a Mariana e o seu filho, Bruno.
CELINA OLHA DESACREDITADA PARA AMANDA. NELAS.
CORTA PARA:

CENA 02. BARZINHO. INTERIOR. DIA
ABRE EM UM BARZINHO, FICA NAS ADJACÊNCIAS DO PRÉDIO DE ALBERICO. EM UMA DAS MESAS, ELE E RAULZINHO. CONVERSA À MEIA.
RAULZINHO – Então, seu Alberico. É pegar ou largar. Aceita minha proposta?
ALBERICO – Depois do que você tentou fazer, Raulzinho, eu não sei...
RAULZINHO – Eu me descontrolei. Poxa, eu ainda amo a sua neta e tentei de uma maneira impensada, ter a Inês de volta. Eu errei, mas eu quero começar a me redimir.
ALBERICO FICA EM DÚVIDA. O ENCARA.
RAULZINHO – Pensa bem, não vai aparecer tão cedo outro investidor nessa sua escola.
ALBERICO – A ideia é boa.
RAULZINHO – (Rindo) Vamos convir que é um investimento de risco. Um tiro no escuro!
ALBERICO FICA EM DÚVIDA. SORRI AMARELO.
ALBERICO – Eu aceito.
RAUL SORRI, SATISFEITO.
CORTA PARA:

CENA 03. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA
ALBERICO DE FRENTE PARA CARMINHA E FÁTIMA.
CARMINHA – Você o que papai?
ALBERICO – Minha filha./
FÁTIMA – (Por cima) Não tem justificativa, Alberico! Você enlouqueceu? Esse homem tentou agarrar a nossa neta! Por pouco ele estupra ela dentro de casa, Alberico!
ALBERICO INCOMODADO.
CARMINHA – Papai! Por dinheiro!
ALBERICO – Alto lá! Por dinheiro não. O Raulzinho emprestou esse dinheiro para aplicar em um negócio. É um investimento! Depois que eu retornar, que eu pagar esse dinheiro pra ele, desfaço a sociedade.
FÁTIMA – Você não tá vendo que vendeu a alma ao Diabo?
ALBERICO – Que exagero!
CARMINHA – Exagero nada, pai. O que o Raul fez foi dar dinheiro pra depois ter o senhor nas mãos, ter todos nós nas mãos, com uma dívida grandiosa que provavelmente o senhor não vai poder pagar.
FÁTIMA – E com isso usar chantagem para ter a Inês de volta.
ALBERICO – Vocês estão loucas! Falam como se estivéssemos no século retrasado e que eu fosse maluco ao ponto de negociar a minha neta em troca de uma dívida.
FÁTIMA – (Debocha) E não é maluco não, né?
ALBERICO – A esse ponto? Não senhora!
CARMINHA BUFA, INCONFORMADA.
CARMINHA – Então tá, papai. Então tá! Só depois não reclame que a sua neta não olhar mais pra cara do senhor.
CARMINHA SAI BUFANDO. FÁTIMA MEDINDO A ATITUDE DE ALBERICO.
ALBERICO – O que é que você queria que eu fizesse? Poxa, o rapaz vai me ajudar no meu sonho.
FÁTIMA – Em mais um delírio seu. Eu espero que esse não seja o seu delírio final, Alberico.
ALBERICO ENCARA FÁTIMA.
FÁTIMA – Pois escuta bem o que eu vou te dizer agora! Se esse seu “novo investimento” falhar e você se encrencar feio com esse rapaz e por isso rachar a nossa família no meio, saiba que é o fim do nosso casamento!
ALBERICO – (Tenso) Como é?
FÁTIMA – (Firme) É isso mesmo que você ouviu. É o fim do nosso casamento!
E FÁTIMA SAI NERVOSA. ALBERICO ALI SEM PALAVRAS. PASSA A MÃO PELO ROSTO.
CORTA PARA:

CENA 04. APOLLO SPORTING. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA
MOVIMENTAÇÃO COMUM. MÚSICA ELETRÔNICA TOCANDO AO FUNDO, PONTUANDO AS AULAS E MUSCULAÇÃO DA GALERA.
CÂM VEM BUSCAR NA ENTRADA, VITÓRIA E JULIANA.
JULIANA – (Tensa) Ai, Vitória. Eu to nervosa. Será que ela tá aí?
VITÓRIA – Relaxa, Jú. Ela deve estar sim. A Mariana é rata de academia.
JULIANA NERVOSA. DO PV DE VITÓRIA: MARIANA AO LONGE, SE ALONGA SOZINHA.
VITÓRIA – Lá, Juliana!
JULIANA BUSCA COM OS OLHOS. ENCONTROU MARIANA. TENTA DAR MEIA VOLTA.
JULIANA – Eu não vou.
VITÓRIA – (Puxando de volta) Nada disso! Veio até aqui só pra ver a sua filha. Vai lá agora.
JULIANA ENCARA VITÓRIA, INDECISA. URBANO VEM VINDO EM SEGUNDO PLANO.
URBANO – (Chama) Vitória! Outra vez atrasada!
VITÓRIA SE VIRA. SLOW-MOTION: JULIANA SE VIRA PARA ELE. REAÇÃO DE URBANO.
SONOPLASTIA: “SEÑOR LOCO” – ELENA FT. DANNY MAZO.
URBANO ENCANTADO OLHANDO JULIANA. ELA SEM JEITO.
JULIANA – Desculpa, foi culpa minha. Eu que insisti pra que a Vitória me trouxesse e atrasei ela em casa.
URBANO – Tá... Tá, tudo bem. (Se aproxima) Urbano.
OS DOIS SE CUMPRIMENTAM. ELA SORRI.
JULIANA – Juliana.
VITÓRIA – (inventa) Ela veio procurar emprego aqui na academia.
JULIANA SE ENTREOLHA COM VITÓRIA E SUSTENTA A MENTIRA
JULIANA – (Afirmando) Isso. Eu vim procurar emprego aqui na Apollo. Mas me desculpe, eu vou deixar vocês trabalhando.
URBANO – (Corta) Não! Você não atrapalha!
URBANO SORRI, NERVOSO. JULIANA ACHA GRAÇA.
JULIANA – Desculpa mesmo.
URBANO – (Se apressando) Não quer preencher uma ficha? Deixar um currículo? Abriu uma vaga! Nós realmente estamos precisando de alguém! (A analisa) Você tem o tipo certo pra academia. Com todo respeito, claro!
VITÓRIA RI, SE DIVERTINDO. JULIANA RI TAMBÉM. OLHA PARA A FILHA E DEPOIS PARA URBANO.
JULIANA – (Se convencendo) Tá. Tudo bem! Vamos conversar?
URBANO SORRI.
URBANO – Por favor, pode me seguir.
URBANO VAI À FRENTE. JULIANA OLHA PARA VITÓRIA
VITÓRIA – Qualquer coisa, se ela passar aqui pela recepção, eu invento alguma coisa e seguro. Vai lá.
JULIANA ASSENTE E VAI. VITÓRIA ALI, OLHANDO OS DOIS SAINDO. CORTA PARA SOLANGE CHEGANDO E VENDO OS DOIS TERMINAREM DE SUBIR O LANCE DE ESCADAS.
SOLANGE – (Se aproximando) Vitória... Quem é essa que tava com o Urbano?
VITÓRIA – É a Juliana. Mora lá em casa. Veio procurar emprego aqui na academia.
SOLANGE OLHA, DESAPROVANDO.
SOLANGE – (Resmunga baixo) Tipinho...
VITÓRIA – (Ri) Acho que o Urbano se apaixonou. Tá derretido.
VITÓRIA RINDO. SOLANGE FAZ CARA DE CIÚMES. NELA.
CORTA PARA:

CENA 05. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
Continuação cena 01.
CELINA ENCARANDO AMANDA COM FÚRIA.
CELINA – Eu vou fingir que eu não escutei isso. Aliás, eu faço questão de apagar qualquer lembrança dessa cena ridícula com você nesse escritório. Agora abra essa porta!
AMANDA REPROVA COM A CABEÇA E SORRI.
AMANDA – Acho que você realmente não entendeu o que eu disse.
CELINA – (Por cima) O que você diz não me interessa. Você que não conseguiu entender ainda! Será que debaixo desse seu cabelo sarará, chapado quimicamente, você ainda tem um cérebro?!
AMANDA COM FÚRIA PARA CELINA.
AMANDA – (De dedo) Escuta aqui!
CELINA PEGA NO BRAÇO DE AMANDA.
CELINA – (Corta) Escuta aqui você, sua louca! Eu não vou ceder chantagem nenhuma! Você não fará absolutamente nada! Eu te destruo, linda!
AMANDA BAIXA A GUARDA.
AMANDA – Eu destranco essa porta, eu abro passagem e você não cede isso que chama de chantagem. Mas saiba que hoje mesmo a sua família vai receber como convidado especial, um certo médico chamado Ariel.
AMANDA PEGA A CHAVE E VAI ATÉ A PORTA. CELINA TITUBEIA. OLHA AMANDA.
CELINA – Espera.
AMANDA SORRI. CELINA EM SEGUNDO PLANO.
CELINA – O que você tá me pedindo é simplesmente apoiar esse casamento do meu filho com a sua sobrinha, é isso?
AMANDA – Filha. A Mariana é minha filha!
CELINA SENTA-SE NA CADEIRA.
CELINA – Que seja. (Pausa) Eu vou jogar o futuro do meu filho na lama.
AMANDA – É um acordo bom pra nós duas. Você continua fingido esse seu teatrinho de aleijada e eu caso a minha filha com o Bruno. Pensa bem, Celina.
CELINA TITUBEIA. ENCARA AMANDA.
CELINA – Você vence sempre. É impressionante, negrinha.
AMANDA – Meça suas palavras, Celina. Eu quero um tratamento de primeira! Pra mim e pra Mariana! Afinal, agora nós seremos da mesma família.
CELINA – E quem garante que o Bruno vai querer mesmo casar com a sua filha? A vontade dele é algo que eu não posso me meter.
AMANDA – Mas pode dar um empurrãozinho. Esse seu personagem de mãe inválida ajuda muito, tem peso nas decisões dos seus filhos. E você sabe disso! Se não, não estaria fazendo essa cena toda.
CELINA CONCORDA. SORRI AMARELO.
CELINA – Farei o possível.
AMANDA – (Sorri) Eu sei que fará!
AMANDA DESTRANCA A PORTA E A ABRE LENTAMENTE.
AMANDA – Já se arrumou na cadeira?
CELINA OLHA COM CARA DE POUCOS AMIGOS PARA AMANDA.
CELINA – Sério que vai querer me dar aula de interpretação, Asdrúbal Filho?
AMANDA SORRI.
AMANDA – Esse é o começo de uma boa amizade entre sogras, Celina. Tenho certeza disso.
CELINA – Eu não garanto tanto.
AMANDA – Paciência. Tem que entubar!
AMANDA SORRI E SE VAI. CELINA ESMURRA A CADEIRA. APROXIMA-SE DA MESA DO ESCRITÓRIO. PEGA O CELULAR SOBRE ELA E DISCA. INSTANTES.
CELINA – (Tel.) Desgraçado! (Pausa) Não, não desliga não. Não desliga porque agora que você me entregou, você sabe o que vai te acontecer!
TENSÃO. CELINA SE VIRA CONTRA A PORTA, NO CELULAR AINDA.
CELINA – (Tel.) Então pode se preparar, porque a inválida aqui ainda pode correr atrás de você!
EM CELINA, VINGATIVA. FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 06. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE
FADE-IN. A CIDADE ANOITECENDO AO SOM DE UMA BOSSA CALMA. LUZES NA BAÍA DE GUANABARA SE ACENDENDO. PESSOAS EM CORRIDAS NOTURNAS EM TORNO DA LAGOA. VEÍCULOS FECHANDO AVENIDAS. CALÇADÃO EM SEUS HÁBITOS DE VIDA NOTURNA.
CORTA PARA:

CENA 07. PRÉDIO DE ALBERICO. HALL DE RECEPÇÃO. EXTERIOR. NOITE
CADÚ NA PORTA, ENCOSTADO NO CARRO. ESPERA ANSIOSO. CÂM CORTA PARA A SAÍDA. JULIANA SAI, COM UM VESTIDO AZUL, SIMPLES. CADÚ ENCANTANDO A OLHANDO. ELA SE APROXIMA.
JULIANA – Não precisava parar bem aqui na porta. E se alguém te vê?
CADÚ – Boa noite pra você também.
JULIANA – Boa noite.
CADÚ – Vamos?
ELE SORRI. ELA CONCORDA AINDA A CONTRAGOSTO. ELE ABRE A PORTA DO CARRO E ELA ENTRA. ELE ENTRA E O CARRO PARTE.
CORTA PARA:

CENA 08. PRÉDIO DE ARIEL. FRENTE. EXTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA DE TENSÃO.
DO PRÉDIO SAI ARIEL, NERVOSO. ELE DE BONÉ, VAI ATÉ A PORTARIA DO PRÉDIO. DO PV DE ALGUÉM: ELE ACENA E PEGA UM TÁXI. A CÂM REVELA SER CELINA, O OBSERVADO. O CARRO DELA TAMBÉM PARTE DALI.
CORTA PARA:

CENA 09. RIO DE JANEIRO. RUAS. EXTERIOR. NOITE
SEQUÊNCIA CONTINUA. O TÁXI À FRENTE E O CARRO IMPORTADO DE CELINA MAIS ATRÁS. CORTES DESCONTÍNUOS DOS DOIS NO TRÂNSITO, COM UMA CERTA DISTÂNCIA ENTRE ELES.
CORTA PARA:

CENA 10. RIO DE JANEIRO. AEROPORTO TOM JOBIM. ESTACIONAMENTO. EXTERIOR. NOITE
PLANO GERAL. ARIEL DESCE DO TÁXI, QUASE EM MOVIMENTO, APRESSADO. ELE CAMINHA PELA ÁREA DO ESTACIONAMENTO, COM UMA MALETA EM MÃOS. OLHA PARA OS LADOS, NERVOSO. CORTA PARA O CARRO IMPORTADO DE CELINA INVADINDO A ÁREA, COM CERTA VELOCIDADE. DO SEU PV: ARIEL ANDANDO PELO LOCAL.
CORTE PARA ARIEL, QUE AO CRUZAR O ESTACIONAMENTO, VÊ OS DOIS FARÓIS SE ACENDENDO EM SUA DIREÇÃO. ELE CORRE. O CARRO ACELERA. TENSÃO.
CELINA NO VOLANTE, PSICÓTICA. OLHAR FIXO. CÂM DETALHA NOS PÉS, ACELERANDO FUNDO.
ARIEL TENTA CORRER. EM SLOW-MOTION: O CARRO SE APROXIMA E O ACERTA EM CHEIO. ARIEL VOA PELO CAPÔ DO CARRO, E A MALETA SE ABRE, ESPALHANDO VÁRIAS NOTAS DE REAIS PELO AR.
NO INTERIOR DO VEÍCULO, CELINA FREIA BRUSCAMENTE E O PNEU CANTA NA PISTA.
NO EXTERIOR: ARIEL CAI NO CHÃO, DESACORDADO, POÇA DE SANGUE SE FORMANDO EM TORNO DO CORPO.
CELINA OLHA O CORPO ESTENDIDO, PELO RETROVISOR E LIGA O CARRO, ACELERANDO. DÁ UM CAVALO DE PAU NO ESTACIONAMENTO E SAI À TODA, FUGINDO DO LOCAL.
CÂM BUSCA ARIEL, DE CIMA. FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 11. MANSÃO FRAGA LINHARES. SALA. INTERIOR. NOITE
FADE-IN. CELINA ENTRA COM SUA CADEIRA DE RODAS. BRUNO NO SOFÁ. AO VÊ-LA, VOLTA SUA ATENÇÃO.
BRUNO – Ô, mãe. Tava preocupado! Onde a senhora estava?
CELINA O ENCARA. NOS DOIS.
CORTA PARA:

CENA 12. RESTAURANTE FINO. INTERIOR. NOITE
RESTAURANTE REQUINTADO, AMBIENTE COM POUCA LUMINOSIDADE. JANTAR JÁ POSTO. CADÚ E JULIANA À MEIO JANTAR. CONVERSA INICIADA.
CADÚ – Eu pensei realmente que você fosse cancelar esse jantar.
JULIANA – Eu só aceitei, pra pôr fim nessa nossa historia.
CADÚ A ENCARA. PEGA EM SUA MÃO. ELA RETIRA.
JULIANA – Você está namorando a Inês e eu... Eu não posso ficar com você.
CADÚ – Eu não amo a Inês. Eu amo você.
JULIANA ACHA GRAÇA. CADÚ NÃO ENTENDE.
CADÚ – Porque a risada?
JULIANA – (Olhando em volta) Olha pro lugar que você me trouxe?!
CADÚ – Por quê? Tá ruim?
JULIANA – Não. Tá demais! Eu não sou assim. Eu não sou rica! Você me viu trabalhando de faxineira.
CADÚ – E daí, Juliana? Só porque eu tenho dinheiro, tenho um nome, uma família que tem grana... Isso não significa nada perto do que eu sinto por você. E do que eu sei que você também sente por mim.
JULIANA INCOMODADA.
JULIANA – Eu não sinto nada.
CADÚ – Não nega. Eu sei que sente. É notável o seu desconforto.
JULIANA O ENCARA DE VEZ.
JULIANA – E daí? E daí que eu sinta algo por você? Em que isso muda? A nossa situação não vai mudar em nada. Eu não posso ficar com você.
CADÚ – Eu só quero entender o motivo.
JULIANA RESPIRA FUNDO. TITUBEIA.
JULIANA – Eu sou uma ex-presidiária!
CADÚ SURPRESO. INSTANTES. ELE SORRI.
CADÚ – Eu ainda estou esperando o motivo pra você não ficar comigo.
OS DOIS RIEM. JULIANA TENTA SER COMPLACENTE.
JULIANA – A minha vida é complicada, Cadú. Eu matei o pai da minha filha em um surto de drogas. Eu era uma viciada. Fiquei anos presa, mofando atrás das grades, sem ninguém saber da minha existência. A minha única filha, que hoje é adolescente, foi criada pela minha irmã. A minha irmã me esqueceu em uma cela fétida, como ela tanto gosta de jogar na minha cara. (Emocionada) Eu nem sequer me aproximei da minha filha, desde que saí da prisão, por vergonha. Por medo...
CADÚ SEGURA A MÃO DE JULIANA SOBRE A MESA.
CADÚ – Você é uma guerreira e eu me orgulho de você. Eu quero ficar com você, Juliana.
JULIANA EMOCIONADA. INSTANTES. CADÚ TROCANDO OLHARES. ELA TIRA A MÃO.
JULIANA – Desculpa, mas eu não conseguiria. Os nossos mundos são muito diferentes.
CADÚ – Mas meu Deus, isso é uma bobagem. Você já parou pra se escutar? Você já parou pra pensar que tudo isso não é coerente, e que realmente justifique algo pra você não ficar comigo, Juliana?
JULIANA LEVANTA-SE. CADÚ SEGUE.
CADÚ – Eu não vou deixar você sair assim.
OS DOIS SE ENCARAM.
CORTA PARA:

CENA 13. MANSÃO FRAGA LINHARES. SALA. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 11.
CELINA SORRI AMARELO.
CELINA – Virou meu pai agora, Bruno? Papéis se invertendo?
BRUNO – Desculpa, mas poxa... Eu estava preocupado com a senhora assim... Desse jeito.
CELINA – Inválida? Impotente? Aleijada?
BRUNO – Não foi isso que eu quis dizer.
CELINA – Não precisa. Perdi o movimento das pernas e não a visão. E não, não precise se preocupar. Fui dar uma volta no shopping. (Ri) O pior é que não posso nem dizer que fui bater perna.
BRUNO RI. CELINA SE APROXIMA DO SOFÁ.
BRUNO – E foi com o seu carro? Porque eu não o vi na garagem.
TENSÃO. CELINA O ENCARA.
CELINA – Pedi para o Valdir dirigir pra mim. Mas sabe que to pensando em colocar uns adaptadores no carro pra eu mesmo poder dirigir?
BRUNO – Olha ela! Poxa, bacana isso. Voltando á viver normalmente, mãe. Gosto disso.
CELINA SORRI.
CELINA – E seu namoro com a escurinha?
BRUNO – Vai começar?!
CELINA – Desculpa. Com a Mariana.
BRUNO – Estamos bem, mas eu não sei...
CELINA – Bruno, acho que eu nunca te disse isso, mas realmente, eu acho que você deva assumir um compromisso a mais com essa menina.
BRUNO FICA EMBASBACADO COM A MÃE.
BRUNO – Você incentivando meu namoro com a Mariana? O que deu na senhora?
CELINA – Eu não sou Darth Vader, me poupa! Eu só acho que você está na idade de assumir responsabilidades. E quem sabe, um passo a mais nesse namoro de vocês, não seja o que vocês estejam precisando pra crescerem como pessoas?
BRUNO FICA ALI AINDA SURPRESO.
CELINA – Bem, agora vou dormir. Hoje, realmente, foi um dia de matar...
CELINA DÁ UMA GARGALHADA. BRUNO SORRI, NÃO ENTENDENDO E DÁ UM BEIJO NA MÃE. CELINA SAI. BRUNO ALI, PENSATIVO.
BRUNO – Será? Casar com a Mari?
NELE.
CORTA PARA:

CENA 14. RESTAURANTE FINO. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 12.
JULIANA SENTA-SE. CADÚ PACIENTE.
CADÚ – Eu não vou insistir. Eu realmente não entendo os seus motivos. Não tomo eles como compreensivos, mas eu vou aceitar. Vou respeitar!
JULIANA – Obrigada. (Sorri) Você é demais.
CADÚ – (Sorri) Eu queria ser de menos e que você sentisse minha falta.
JULIANA DESMANCHA O SORRISO. FICA ALI, CHATEADA. CADÚ TAMBÉM, MAS TENTANDO COMPREENDER.
CORTA PARA:

CENA 15. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE JULIANA. INTERIOR. NOITE
AMBIENTE ESCURO. JULIANA ABRE A PORTA E ENTRA. LIGA A LUZ E TOMA UM SUSTO. CÂM REVELA ÁUREA, SENTADA SOBRE A CAMA.
JULIANA – (Sem entender) Áurea?! O que você tá fazendo aqui?
ÁUREA – Que surpresa é essa, Juliana? Devendo alguma coisa?
JULIANA – Eu não estou entendendo, e também não to com saco à essa hora pra discutir nada com você.
ÁUREA LEVANTA-SE, ENCARANDO O TEMPO TODO.
ÁUREA – Eu vou ser muito direta, Juliana da Silva Mattos.
JULIANA SEM ENTENDER E NÃO GOSTANDO DA SITUAÇÃO. ÁUREA SE APROXIMA.
ÁUREA – Pega as suas trouxinhas de ex-cadeieira e sai agora da casa dos meus pais!
JULIANA EM CHOQUE. AS DUAS SE ENCARAM. ÁUREA FIRME, CRUEL.
CORTA PARA:

CENA 16. MANSÃO PRATINI. EXTERIOR. NOITE
MARIANA SAI DA PORTA DA MANSÃO. BRUNO ALI, NERVOSO, A ESPERANDO.
MARIANA – (Sorri) Bruno? Fiquei surpresa quando disseram que você tava aqui.
BRUNO E MARIANA TROCAM UM BEIJO.
MARIANA – Quê foi? Parece nervoso. Aconteceu alguma coisa?
BRUNO – Eu não aguentava mais esperar em casa e precisava falar com você, um assunto sério.
MARIANA – Ih, não to gostando nada disso. Assunto sério? Você quer terminar, é isso?
BRUNO – Não. Nada disso.
MARIANA – Então?
BRUNO A ENCARANDO.
MARIANA – (Impaciente) Fala, garoto. Tô ficando com urticária já.
BRUNO – Tá, vai ser igual tirar um esparadrapo.
MARIANA – Hã?
BRUNO – Mariana, você quer casar comigo?
MARIANA CHOCADA.
MARIANA – Como é que é?!
EM BRUNO, PASMO COM SUA PRÓPRIA PERGUNTA.
CORTA PARA:

CENA 17. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE JULIANA. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 15.
JULIANA ENCARANDO ÁUREA COM MISTO DE PAVOR E ÓDIO.
JULIANA – Eu não to entendendo!
ÁUREA – Tá sim. Porque você já provou que é tudo, menos burra, querida. Eu fui atrás dos seus antecedentes, peguei o número do seu RG e não foi difícil.
JULIANA LÍVIDA.
ÁUREA – Matar um homem, Juliana? Eu realmente, esperava qualquer coisa, mas assassinato? Você tem cara de traficante, usuária, mas assassina?!
JULIANA – (Tom) Mede as suas palavras!
ÁUREA – (Por cima/ Tom alto) Assassina!
JULIANA – Pelo amor de Deus, para com isso! Eu te imploro! Alguém vai acordar e vai ouvir!
ÁUREA – Ótimo. Que acordem! Que ouçam! Eu quero você e as suas coisas fora daqui agora mesmo.
JULIANA – Eu não vou embora daqui. Foi a sua irmã que me colocou aqui dentro.
ÁUREA – Isso que eu não entendo. Como a Carminha teve a audácia de colocar uma ex-detenta, uma assassina dentro de casa? Dentro da casa dos nosso pais?
A PORTA SE ABRE E CARMINHA ENTRA, JÁ NOTANDO A BRIGA.
CARMINHA – O que é que tá acontecendo aqui, hein, Áurea? O que você tá fazendo agora, sua bruxa?
ÁUREA – Bruxa, Carmem Lúcia? Eu sou a bruxa? Você trouxe uma assassina, uma bandida, que matou o próprio marido, pra dentro da casa dos seus pais! Você é uma louca!
CARMINHA – (De dedo) Escuta aqui, a única louca que tem aqui, é você! Você vai parar agora mesmo com isso tudo, vai engolir cada palavra que falou pra Juliana e vai esquecer essa historia. Ouviu bem?
ÁUREA – Jamais! Jamais eu vou esquecer que essa mulherzinha é o que é!
JULIANA – Eu já paguei o que devia a justiça!
ÁUREA – Continua sendo uma meliante aos olhos de Deus! Uma vagabunda, sem eira nem beira!
CARMINHA DÁ UM SONO TAPA NA CARA DE ÁUREA, QUE A ENCARA, CHOCADA.
ÁUREA – Você... Você me bateu!
CARMINHA – Escuta aqui, sua vaca! Eu tenho nojo de ser sua irmã. Tenho nojo de dizer pros outros que eu tenho o mesmo sangue que o seu! E sabe porque? Porque eu tenho nojo de gente hipócrita, de gente que usa a religião pra se esconder, pra esconder seus preconceitos sujos. Pra esconder a infelicidade e a extrema pobreza de espírito que elas guardam! Eu tenho nojo de você, Áurea. Eu tenho vergonha!
ÁUREA CHORA, COM ÓDIO, ENCARANDO CARMINHA. JULIANA, EM SEGUNDO PLANO, TAMBÉM CHORANDO.
CARMINHA – É o seguinte e eu vou ser muito realista com você, já que quase ninguém costuma perder seu precioso tempo em falar qualquer verdade pra você, uma alienada, uma burra! Os nossos pais, a nossa família, está em uma falência extrema. Uma pobreza radical. O nosso pai é um lunático que só faz perder dinheiro, em negócios que nunca vão dar certo. A única pessoa que ajuda nessa casa, que coloca comida de verdade dentro dessa casa, sou eu. Euzinha aqui! Você e o seu marido só fazem comer de graça, vivem todo dia aqui, comendo ás minhas custas.
ÁUREA – Não é verdade.
CARMINHA – (Berra) Cala a sua boca! (Baixa o tom) Pois saiba, que essa casa, por eu pagar a maior parte das contas, ela é minha, por direito! E eu coloco aqui dentro, quem eu bem achar que devo colocar. Quem manda aqui sou eu. Você é uma encostada, uma parasita de esgoto, um nojo, uma mulherzinha sem existência, que fica vagando e enchendo o saco dos outros! Pois saiba, que você por ter descoberto o passado da Juliana, se acha no direito de expulsar ela da casa dos seus pais. Que você enche tanto a boca pra dizer, mas simplesmente, não colabora nem com um kilo de arroz pra pôr na mesa na hora do almoço, se você realmente insistir em colocar essa menina pra fora daqui, saiba que eu também vou. Eu vou junto com a Juliana!
ÁUREA – Você não teria coragem!
CARMINHA – Ah, não teria?! Teria sim! E digo mais! Você vai ficar como a única responsável de colocar comida pros seus pais, já que tanto preserva a imagem e segurança deles. Você vai pagar as contas dessa casa, vai pagar os luxos do seu papai e ainda vai ter que bancar o seu maridinho, que gosta tanto de uma farra! Olha, que sonho!
ÁUREA CHORA DE ÓDIO.
CARMINHA – Então? Pegar ou largar.
INSTANTES. ÁUREA ENCARA JULIANA. JULIANA TOMA A FRENTE DE CARMINHA.
JULIANA – Não precisa nada disso. Talvez ela esteja certa. Eu vou embora.
CARMINHA SEGURA OS BRAÇOS DE JULIANA.
CARMINHA – Se tem alguém que vai embora aqui, esse alguém não é você. Tá me ouvindo? (Juliana balança a cabeça que sim). Eu não vou deixar você sair daqui.
ÁUREA COM ÓDIO.
CARMINHA – (Encara) Vamos, Áurea. Pede perdão pra Juliana! Por cada palavra que você disse!
ÁUREA – Eu?! Jamais!
CARMINHA – Ótimo. Então, a partir de hoje, essa casa e as contas dela, são suas.
CARMINHA VAI SAINDO. ÁUREA TITUBEIA E A IMPEDE, SE COLOCANDO NA FRENTE. AS DUAS ENCARAM. ÁUREA DESVIA O OLHAR PRA JULIANA.
ÁUREA – (Humilhada) Me... Me desculpa.
CARMINHA – Perdão, Áurea! Peça perdão!
ÁUREA OLHA COM EXTREMO ÓDIO PARA A IRMÃ E ENCARA JULIANA DE VEZ.
ÁUREA – Me perdoa, Juliana.
CARMINHA – (De dedo) E a partir de hoje, no dia que você voltar a importunar essa menina outra vez, eu largo tudo pra trás. Eu abandono tudo! E deixo você, como a única responsável pela vida dos nossos pais.
ÁUREA CONCORDA E SAI, BATENDO A PORTA. JULIANA VAI ABRAÇAR CARMINHA. AS DUAS EMOCIONADAS.
JULIANA – Obrigada. Obrigada de verdade.
NAS DUAS ABRAÇADAS, CHORANDO.
CORTA PARA:

CENA 18. MANSÃO PRATINI. FRENTE. EXTERIOR. DIA
Continuação cena 16.
MARIANA EXTREMAMENTE CHOCADA COM BRUNO.
MARIANA – Bruno, eu não sei o que te dizer.
BRUNO – Eu pensei muito, Mari. E eu quero. Casa comigo?
MARIANA ABRAÇA BRUNO FORTEMENTE.
MARIANA – Eu aceito, meu amor. Eu aceito casar com você.
BRUNO SORRI AINDA INCERTO. MARIANA FELIZ. OS DOIS SE BEIJAM COM PAIXÃO.
CORTA PARA:

CENA 19. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
TAKE RÁPIDO DA CIDADE AMANHECENDO. ÚLTIMA IMAGEM NA FACHADA DO PRÉDIO DE ALBERICO.
CORTA PARA:

CENA 20. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
MESA POSTA. ALBERICO NA CABECEIRA, COMO DE COSTUME. TODOS DA FAMÍLIA AO REDOR. SILÊNCIO. ÁUREA, POR VEZES, ENCARA JULIANA E CARMINHA A ENCARA COM AR RECRIMINATÓRIO.
ALBERICO – Áurea, minha filha. Tão quieta hoje. Não é do seu feitio.
ÁUREA – (Tom seco) Enxaqueca, papai.
CARMINHA – Ela deve estar com a consciência pesada.
FÁTIMA – Vão começar as duas, é?
ÁUREA COM CARA DE POUCOS AMIGOS. CAMPAINHA TOCA. PAULINA LEVANTA E VAI ATENDER. INSTANTES. ELA VOLTA COM UMA CARTA, JÁ ABERTA, LENDO.
EDGAR – Que educação, hein! A empregada lendo uma carta dos patrões! Em outro tempo, era tronco!
PAULINA DESVIA O OLHAR. EXPRESSÃO FECHADA.
FÁTIMA – O que foi, Paulina?
PAULINA ENTREGA A CARTA À ALBERICO. ELE COLOCA OS ÓCULOS E COMEÇA A LER. EXPRESSÃO ESTUPEFATA.
CARMINHA – O que é isso, papai?
ALBERICO ENCARA TODOS. ENCARA POR FIM, CARMINHA. DESOLADO.
ALBERICO – Uma carta de despejo.
TODOS CHOCADOS, SE ENTREOLHANDO. CARMINHA LEVANTA-SE, NERVOSA.
CARMINHA – O quê?!
ALBERICO – É isso. É uma ordem de despejo. Nós temos uma semana para desocupar esse apartamento!
EXRESSÃO CHOCADA DE TODOS DA FAMÍLIA. CLOSES ALTERNADOS ENTRE CARMINHA E ALBERICO. EM CARMINHA, DESESPERADA.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

FIM DO CAPÍTULO 20.

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