T E
R R A L I V R E
Capítulo
05
CENA
01/ NAVIO/ NOITE/ INT./ QUARTO.
Continuação imediata da última cena do capítulo
anterior;
MOVIMENTAÇÃO no navio. Lorenzo sai de imediato do quarto.
Vicente paralisado, nervoso. Helena entra no quarto.
HELENA - (nervosa) O que aconteceu?!
Santo Dio... O que aconteceu?
Ela olha para o lado e vê um buraco de tiro no vidro. Volta
o olhar para Vicente, espantada. CORTA
PARA/
CENA
02/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ QUARTO DE AFONSO.
Afonso sentado em uma cadeira, escrevendo em um livro na
mesa. VELA ACESA AO LADO. Maria Tereza bate na porta, entra e vai até ele com
uma xícara de café na mão. Entrega a ele.
M. TEREZA - Fazendo conta a essa hora?
AFONSO - Estou registrando alguns índices aqui. A
venda do nosso café está ficando cada vez melhor.
M. TEREZA - Que ótimo. Ouvi dizer na rua que os
italianos já estão chegando. Fizeram as contas e me parece que faltam menos de
15 dias.
AFONSO - Isso não é uma preocupação só minha, Maria
Tereza. Cristina também está muito preocupada. Isso pode mudar completamente a
nossa vida.
M. TEREZA - E você já tem certeza do que vai fazer?
AFONSO - Reunir todos os coronéis, os barões e
prefeitos da região. Temos que nos manter firmes com nossa decisão de fazê-los
escravos. Não podemos fraquejar em nenhum momento!
Afonso olha fixamente para os olhos de Maria Tereza. Ambos
aflitos. CORTA PARA/
CENA
03/ MONTE VELHO - OCEANO/ EXT.
SONOPLASTIA: Cruzando Raios – Orlando Morais.
TAKES AÉREOS mostram o amanhecer. TAKE FINAL em uma
cafeteria EM Monte Velho. A MÚSICA CESSA. CORTA
PARA/
CENA
04/ CAFETERIA/ DIA/ INT.
Filomena entrando no local. Ela vai até o balcão.
BALCONISTA#1 - O que a senhora
deseja?
FILOMENA - Por favor, me veja um café preto... O da
fazenda Leroy!
BALCONISTA#1 – Está bem. Aguarde
só um minuto!
O balconista#1 prepara o café. Saulo passando por fora
avista Filomena e entra. Se senta ao lado dela, que fica sem graça. O
balconista#2 vai até Saulo.
SAULO - (ao balconista#2) O mesmo de sempre.
O balconista#1 entrega a xícara de café a Filomena. O
balconista#2 a Saulo em seguida.
FILOMENA - (a Saulo) Mais uma vez nos
cruzando.
SAULO - É o destino, minha cara. É o
destino! Sabe... Desde aquele dia eu fiquei pensando em você. Como se chama?
FILOMENA - Filomena... Meu nome é Filomena. E o seu?
SAULO - Saulo... Muito prazer!
Os dois ficam em silêncio por segundos.
SAULO - (CONT.) Sem me querer me
intrometer, mas o que faz da vida?
FILOMENA - Eu costuro. Na verdade, ajudo minhas
irmãs. Eu moro com elas. Minha mãe morreu quando eu tinha doze anos. E você?
Quer saber da minha vida, mas não me diz nada sobre a sua.
SAULO - Estou terminando um casamento de
muitos anos. Recomeçando a minha vida.
FILOMENA - (assustada) Terminando um
casamento? Não sabe que isso é um choque para a sociedade?! Coitada de sua
mulher, vai sofrer muito.
SAULO - Infelizmente não posso fazer mais
nada. O nosso casamento estava por um fio e esse fio acabou arrebentando. Eu
quero viver minha vida, ser livre, sem a pressão de um casamento que já estava
me fazendo mal!
FILOMENA - Por esse ponto, você tem razão! Detesto
mentira.
Filomena pega a xícara, derruba em Saulo sem querer. Ela
fica constrangida. Ele se levanta.
FILOMENA - (CONT.) Me perdoa... Eu não tive a
intenção.
SAULO - Tudo bem, eu já estava para trocar
esse terno.
FILOMENA - (ao Balconista#1) Me dê um pano, por
favor.
O balconista#1 entrega um pano na mão de Filomena, que
começa a secar Saulo.
SAULO - Ei, não precisa ficar sem graça. Eu
tenho outros ternos!
FILOMENA - Me desculpe mais uma vez... Eu tenho que
ir, tchau!
Filomena sai correndo. Saulo observando com um sorriso no
rosto.
SAULO - (grita) Ei, a onde você
mo.../
Ele faz sinal positivo para o balconista#2, que vem até
ele.
SAULO - Eu quero a conta, por favor!
Saulo pensando. CORTA
PARA/
CENA
05/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Chiara colocando alimentos em uma caixa, com dificuldade.
Valter vê de longe, se aproxima e ajuda-a.
CHIARA - Grazie!
VALTER - Percebi que está tão afastada.
Aconteceu alguma coisa?
CHIARA - Non. Só estou dando um tempo para
mim!
VALTER - Capisco. Io... Io queria te dizer
que non tenho nada haver com o que aconteceu entre Helena e Vicente. Io gosto
de tuo filho.
CHIARA - Io sei que é errado, non poderia
estar falando isso com você, mas io quero dizer... Uma coisa que non suporto é
egoísmo. É um sentimento muito ruim, muito pequeno perto do amor. Non que você
non tenha dado, mas o que falta em tua mulher é amor, Valter. Ela non conheceu
essa palavra! Foi egoísta, e vai pagar alguma vez na vida. Dio é justo, e
ninguém parte antes de pagar o que deve aqui embaixo. Capite?
VALTER - Tem razão!
Chiara sai andando. Valter fica pensando. CORTA PARA/
CENA
06/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Domingos quieto. FLASHS da perseguição dos capangas de
Afonso contra ele. Um GUARDA entra no local.
DOMINGOS - O que foi?
GUARDA - Calma. Não vou fazer mal a você,
muito pelo contrário.
DOMINGOS - Anda, fale. O que quer comigo?
GUARDA - Eu quero te ajudar. Quero te ajudar
a sair desse inferno, dessa prisão.
DOMINGOS - Não sei não, hein.
GUARDA - Pode confiar em mim... Meu filho
morreu por culpa desse maldito barão, e não vou permitir que mais sangue seja
derramado das mãos desse verme!
Domingos fica pensativo. Vai até a porta. Se volta.
DOMINGOS - E como pretende me ajudar?
GUARDA - No mais tardar da noite eu virei
aqui e te buscarei. Existe uma parede falsa no corredor. Eu ouvi o barão dizer
que ela para esconder escravos rebeldes, mas desde o fim da escravidão ninguém
mais entrou naquele lugar. O fato é que por lá se sai na senzala, e assim você
consegue sair sem com que os capangas vejam. Eles não estão mais fazendo as
vigias para aquele lado, já que pretende a Dona Cristina.
DOMINGOS - Então eu sairei pela casa da Cristina, é
isso?!
GUARDA - Sim, sem com que seja pego!
DOMINGOS - Eu agradeço a ajuda!
Domingos estende a mão. O guarda também. Os dois apertam as
mãos.
DOMINGOS - (CONT.) Espero poder confiar em você. Não
me decepcione!
CLOSES ALTERNADOS. CORTA
PARA/
CENA
07/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Cristina, com roupa de andar à cavalo, de frente a
empregada mostrando uma mala cheia de dinheiro.
CRISTINA - Olha a quantidade de dinheiro!
EMPREGADA - (assustada) Nossa... Mas é
muito dinheiro.
CRISTINA - Tudo isso é reflexo da venda de café. Mas
mesmo assim temos que continuar tomando cuidado com os vizinhos. Afonso está
vendendo mais do que nunca.
EMPREGADA - Tem razão... O Barão está se
reerguendo.
CRISTINA - E isso é um perigo...
EMPREGADA - Mas a senhora não foi até a casa
dele? Pensei que você estavam amigos.
CRISTINA - Às vezes somos obrigados a tomar atitudes
que não gostamos. Afonso não pode voltar ao comando de Monte Velho.
EMPREGADA - E só existe uma maneira de barrar
isso.../
CRISTINA - (corta) Qual?
EMPREGADA - Sendo candidata à prefeitura
municipal.
CRISTINA - Concordo, mas isso seria uma afronta a ele
e aí eu posso perder tudo o que tenho. Já não tenho mais o apoio de Saulo.
BATIDAS NA PORTA.
CRISTINA - Entre!
Saulo entra nervoso. A empregada vai em direção à cozinha.
SAULO - Precisamos conversar.
CRISTINA - Eu pensei que já tínhamos conversado tudo
o que fosse necessário, Saulo. Não insista em ficar vindo em minha casa, por
favor.
SAULO - Eu vim te dizer que eu aceito repensar
no desquite. Isso pode ser ruim para você!
CRISTINA - Eu não me importo com o que a sociedade
diz, Saulo. Eu me importo é com a minha felicidade, com o meu bem e com o que
eu quero.
SAULO - É uma força que eu estou te dando,
Cristina. Pensa bem!
Os dois se aproximam.
CRISTINA - Sabe o que me impressiona em você? É que
você sempre fica indeciso na sua vida. Quem quis se separar foi você! Agora não
mudaremos mais nossa decisão.
SAULO - Tem certeza?
Os dois se beijam calorosamente. Cristina vai tirando a
roupa de Saulo. Ele o mesmo. Os dois caem se agarrando no chão.
Corte Descontínuo
– Saulo
e Cristina agarrados no chão da sala. Se levantam rapidamente, com vergonha.
CRISTINA - Como eu pude ter feito isso, meu Deus!
SAULO - Isso não vai acontecer novamente!
Saulo se levanta, vai se vestindo. Fica sem graça. Cristina
se veste também.
SAULO - É... Tchau!
Saulo se retira. Cristina, paralisada, se senta no sofá. CORTA PARA/
CENA
08/ CASA DAS IRMÃS SOTERO/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Margarida dançando sem música, sozinha no meio da sala.
Filomena entra, interrompe.
FILOMENA - Dançando sozinha! De novo!
MARGARIDA - Ih, para de inveja, irmãzinha.
Estou dançando para ver se encontro algum moço na minha vida. Eu mereço casar,
não mereço?
FILOMENA - Sim, merece!
MARGARIDA - Você também não me engana. Toda
animada. O que foi?
FILOMENA - Encontrei novamente aquele rapaz. Agora
sei seu nome... Saulo. Sei que é muito cedo para isso, mas... Mas eu acho que
estou sentindo algo por ele.
MARGARIDA - E ele? Já demonstrou alguma coisa?
FILOMENA - Parece que sente o mesmo que sinto. Ele me
trata com carinho, sem procurando assunto para nós. Mas eu não quero me
decepcionar, prefiro esperar.
MARGARIDA - Tem razão. Esse mundo está cheio de
homens que só pensam naquilo.
As duas se abraçam. CORTA
PARA/
CENA
10/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ FACHADA.
UM local todo vermelho. Uma grande placa escrito Monte
Prazer, acima da porta. Várias pessoas reunidas em volta. LUZIA
(aproximadamente cinquenta anos, cabelos pretos e curtos, elegante) de frente a
multidão.
LUZIA - Queridos amigos que estão
presentes. Hoje é um dia muito especial. Estamos inaugurando o Monte Prazer. É
aqui que você viverá os seus melhores sonhos.
Luzia corta a faixa vermelha. Todos aplaudem. Em Luzia
feliz. CORTA PARA/
CENA
11/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ ESCRITÓRIO.
Luzia fumando. RAQUEL (loira, aproximadamente vinte e cinco
anos, olhos azuis) entra confusa no local. Se senta a frente de Luzia.
LUZIA - Queria falar comigo, querida?
RAQUEL - Sim, queria, Luzia.
LUZIA - Pois então fale. Você não pode
perder muito tempo!
RAQUEL - Desde que viemos da capital eu já
não aguento mais, Luzia. Estou cansada, quase sem forças. Não sei se vou
suportar viver nessa vida por muito tempo.
LUZIA - Você já está com a gente há cinco
anos. Não é possível que justo agora vai desistir?!
RAQUEL - Não é desistir. É não aguentar
mais. Eu já estou totalmente cansada. Isso não é bom para você!
LUZIA - Vou te dizer uma coisa. Quando eu
tinha a sua idade tive que passar por coisas piores do que as que você está
passando. Às vezes é preciso lutar, ser forte, ser firme. Se você desistir
disso, nunca mais vai seguir firme na vida, Raquel. Tudo vai ser difícil pra
você!
RAQUEL - Pode ser que tenha razão!
LUZIA - E olha, você é firme, tem a
personalidade forte. Vai conseguir vencer mais essa... Agora vem cá. Me dá um
abraço!
Raquel se levanta, vai até Luzia, e a abraça fortemente.
Uma LÁGRIMA cai do olho de Raquel. CORTA
PARA/
CENA
12/ FAZENDA DE AFONSO/ DIA/ EXT./ CAFEZAL.
SONOPLASTIA: Porto-Solidão – Fagner.
Afonso, com uma bengala nas mãos, andando entre os
cafezais. Vendo os trabalhadores tirando o café. Ele se aproxima de Murilo. A
MÚSICA CESSA.
AFONSO - Fala, Murilo!
MURILO - Como vai, Barão?
AFONSO - E o nosso café?
Afonso pega um café do balde e o olha. Começa a rir.
AFONSO - Mas como tá bonito!
MURILO - Graças a Deus as pragas não
chegaram esse ano, patrão.
AFONSO - Eu te deixei responsável pelos negócios...
Tem notícias boas?
MURILO - Sim. Claro! O nosso café está muito
valorizado, patrão. Parece que a praga está começando a atingir as plantações
da Cristina. Os clientes dela já estão chegando até nós!
AFONSO - Ótimo.
MURILO - Mas tem um problema!
AFONSO - Quem problema, Murilo?
MURILO - A fazenda do lado... A dos Zapatta.
Eles ainda estão superiores a nós em vendas.
AFONSO - (frio) Pois queime.
Queime tudo e não deixe rastros. Quero ver como esse bunda mole do Zapatta vai
se recuperar! Agora preciso ir, e qualquer problema me avise.
MURILO - Está bem!
Afonso voltando à mansão. CORTA PARA/
CENA
13/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Lorenzo e Helena se beijando. Se afastam aos poucos.
LORENZO - Io te amo, Helena!
HELENA - (sem graça) Io também!
LORENZO - Prove!
HELENA - Como?!
LORENZO - Prove que me ama de verdade! Se entregue a
mim!
Helena se afasta, assustada. Lorenzo olhando para ela, com
cara de safado.
LORENZO - E aí?
Os dois se encaram. Helena sem reação. CORTA PARA/
CENA
14/ NAVIO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Rogério comendo pão. Vicente ao lado, pensativo, olhando-o.
Rogério percebe a preocupação de Vicente.
ROGÉRIO - Achei estranho você vir aqui nesse
horário... Non é perigoso?
VICENTE - Non! Vir até o porão é o menos perigoso de
tudo, Rogério.
ROGÉRIO - Está acontecendo alguma coisa? Io to
achando você muito estranho.
VICENTE - Io preciso desabafar, Rogério. Se io te
contar uma coisa, prometes que non contará a ninguém?
ROGÉRIO - Claro... Io non tenho contato com ninguém
mesmo. Non tem para quem contar.
VICENTE - Io quase morri, Rogério. Estou sendo
ameaçado!
ROGÉRIO - (espantado) Como assim?
Ameaçado por quem?
VICENTE - Lorenzo... Lorenzo invadiu meu quarto com
um revólver. Prometeu que iria me matar e deu um tiro na janela do navio.
ROGÉRIO - Então por isso que io ouvi um barulho.
Agora tudo faz sentido... Mas a troco de que ele fez isso?
VICENTE - Medo. Medo, Rogério. Ele tem medo de que
Helena descubra o seu verdadeiro caráter.
Rogério termina de comer o pão. Vicente se levanta.
VICENTE - Lorenzo é muito pior do que pensávamos!
Vicente segue subindo as escadas do porão. SUSPENSE. Rogério
intrigado. CORTA PARA/
CENA
15/ NAVIO/ DIA/ INT./ QUARTO ABANDONADO.
O Comandante segue andando pelo local, abandonado, poeira
por todos os lados. Pinturas de famílias jogadas aos cantos. Uma CÔMODA velha
de madeira empoeirada. O Comandante se aproxima, abre uma das gavetas. Tira uma
caixa, também suja. Poeira rodando pelo local. Ele coloca a caixa em cima da
cômoda. Abre-a devagar. Um REVÓLVER ANTIGO dentro dela, embrulhado em um lenço
branco. Ele pega o revólver, ainda no lenço branco.
COMANDANTE – Non há outra
saída. Ou io mato, ou ele me mata!
Ele vai saindo do quarto. DESFOQUE. CORTA RÁPIDO PARA/
CENA
16/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
VÁRIOS funcionários reunidos na sala. Cristina de frente a
todos, que se comportam com muita postura.
CRISTINA - Todos sabem o quanto luto para continuar
com os negócios que a minha família tem há séculos. Está muito difícil
continuar com isso tudo. As minhas forças estão se esgotando. Não tenho
capacidade pra manter tudo isso.
EMPREGADA#1 – A senhora vai
vender a fazenda?
CRISTINA - Inicialmente é o que quero. Eu não sei
como vou fazer, mas enfim. É muito difícil. Estou me separando. Não sei se
consigo!
EMPREGADA#2 – E nós? Vamos ficar
desempregados, dona Cristina?
CRISTINA - Eu vou dar um jeito. Me parece que os
Zapatta precisam de empregados, eu transfiro todos vocês para lá e vendo a
fazenda. Em seguida vou morar na Capital. E é essa minha decisão!
Cristina chateada olhando para todos. CORTA PARA/
CENA
17/ NAVIO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Lorenzo desce as escadas do porão, com raiva. Rogério
dormindo. Lorenzo pega Rogério pela camisa, que acorda rapidamente.
LORENZO - Io já sei... Já sei que tuo amiguinho já
veio até aqui contar que io o ameacei. Pois bem, io non atirei de brincadeira e
posso atirar para matar da próxima vez. Basta você querer... Fique longe de
Vicente e verá tuo amico vivo em Brasil, ou senão verá o corpo dele boiando no
oceano!
Lorenzo solta ele e sobe as escadas. Rogério assustado, sem
reação. CORTA PARA/
CENA
18/ MONTE VELHO/ EXT.
SONOPLASTIA: Com Te Partiro – Andrea Botelli.
TAKES do anoitece em Monte Velho. TAKE FINAL na fachada do
MONTE PRAZER. Pessoa entrando no local. CORTE
RÁPIDO PARA/
CENA
19/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ SALÃO.
Luzia, chapéu na cabeça, leque na mão, sobe pequenas
escadas e fica em cima de um imenso palco. Várias pessoas em volta
aplaudindo-a.
LUZIA - Agradecida, queridos. Olha... Nós
fizemos o máximo possível para agradar vocês! Pintura, decoração, ah, e
claro... O principal... As meninas! Elas estão deslumbrantes!
Os homens gritam. Luzia desce do palco. Mulheres dançando
em cima do palco, outras, vulgares, ao lado de homens mais velhos e até mesmo
adolescentes. Afonso entra no local, observando tudo em volta. Luzia vai de
encontro a ele.
LUZIA - (cont.) Mas quanto tempo,
Barão! Pensei que já havia se esquecido de mim!
Afonso beija a mão de Luzia, e ri.
AFONSO - Como eu me esqueceria de tamanha
delicadeza!
LUZIA - Não precise exagerar. Então, veio
aqui para encontrar mais uma mulherzinha fácil?! É isso!
AFONSO - Preciso me distrair, e acho que aqui é um
bom lugar pra isso, não?!
LUZIA - Escolha quem quiser... Acerte
comigo depois!
AFONSO - Obrigado!
Luzia vai conversar com outras pessoas. Afonso permanece
observando. Raquel desce as escadas deslumbrante. Afonso observa-a com desejo.
Ele vai se aproximando a ela, que se assusta.
AFONSO - Poderia saber o seu nome?
RAQUEL - Estou aqui para cumprir o meu
trabalho e não para dar-lhe satisfação da minha vida pessoal.
Ela sai andando. Ele a segura pelo braço.
AFONSO - E eu estou aqui para que você me sirva.
Vou pagar por isso!
Os dois vão subindo as escadas. Raquel contra a sua
vontade. CORTE RÁPIDO PARA/
CENA
20/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ QUARTO.
Afonso deitado na cama com uma taça de vinho em mãos.
Raquel começa a se despir, e deita-se na cama, respirando aceleradamente.
Afonso coloca a taça na mesinha ao lado. Eles se beijam e começam a adentrar um
no outro.
Corte descontínuo
– Raquel
deitada na cama ao lado de Afonso. Ambos ofegantes. Afonso pega a taça
novamente e dá uma risada.
AFONSO - Tenho que parabenizar você pra sua patroa.
É... Você foi muito boa, garota. É assim que eu gosto!
Raquel se levanta rapidamente e começa a se vestir.
RAQUEL - Pronto. O tempo já acabou...
Preciso atender outros clientes.
AFONSO - Não vai me dá nem um beijinho de
despedida?
RAQUEL - Eu não sou paga pra forçar um
namorico.
Raquel se retira. Afonso continua a beber o vinho. RISADA
ALTA. FUNDE COM/
CENA
21/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ ESCRITÓRIO DE LUZIA.
Raquel de frente a Luzia, que bebe uma taça de vinho.
RAQUEL - Sombrio... É isso que ele é.
Sombrio, Luzia!
LUZIA - (dispersando) Aceita vinho? Uma
delícia... Mandei importar!
RAQUEL - Luzia... Você não está prestando
atenção no que estou dizendo!
LUZIA - Raquel. Raquel... Você sabe como
funciona aqui. Pagou bem, tem o direito de escolher a mulher que quiser. Olha,
eu prometo que vou fazer o máximo pra evitar que ele escolha você. Mas tentarei...
Não sei se vou conseguir!
RAQUEL - Velho nojento!
LUZIA - Opa. Respeite-o pelo menos... Ele é
o barão dessa cidade, querendo ou não. É respeitado e pode colocar você pra
fora dessa cidade apedrejada pela população. Pague para ver!
As duas se encaram. Raquel preocupada. CORTA PARA/
CENA
22/ NAVIO/ NOITE/ INT./ SALA DO COMANDANTE.
O comandante pensando. Lorenzo entra na sala.
LORENZO - Então quer dizer que queres falar comigo?
COMANDANTE – Preciso de tua
ajuda, Lorenzo.
LORENZO - Quem diria... Você depende de mi!
COMANDANTE – Per favor, reúna
todos os que estão nesta embarcação. Io quero conversar com todos. Apenas isso.
LORENZO - Io faço... Mas com uma condição!
COMANDANTE – Que condição?
LORENZO - Que o senhor me dê uma parte de tuo ouro
que tem guardado em um baú.
COMANDANTE – Va bene. Io te
dou! Mas faça isso!
Lorenzo se retira do local. O Comandante continua a ficar
pensativo. CORTA PARA/
CENA
23/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
TODOS reunidos. CONVERSAS PARALELAS. Helena ao lado de
Lorenzo, preocupada. O Comandante aparece.
HELENA - (ao Comandante) O que o senhor
quer conosco? Diga logo... Temos que trabalhar!
COMANDANTE – Va bene!
Acalme-se, ragazza. Depois de hoje vocês non vão mais precisar trabalhar!
TENSÃO. CLOSES ALTERNADOS ENTRE OS NAVEGANTES. CORTA PARA/
CENA
24/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
TUDO escuro. Afonso entra no local. BARULHO DE FÓSFORO
SENDO RISCADO. Maria Tereza sentada em uma poltrona, de camisola, com uma
lamparina acesa. Afonso se assusta.
AFONSO - Ai que susto, Maria Tereza.
M. TEREZA - Estava esperando você chegar. Aliás, bem
tarde, não?
AFONSO - Ah... Agora você mudou de profissão aqui
dentro desta casa? Virou minha babá e deixou de ser a governanta?
M. TEREZA - Eu não sou uma babá, não sou uma
governanta... Sou uma mulher apaixonada, Afonso. Sou a mulher que te amou mais
que seus próprios pais.
AFONSO - Mas que exagero. Vai dormir, Maria Tereza.
Hoje você parece que tomou uma boa dose de pinga!
M. TEREZA - Eu fui capaz de arriscar a minha vida por
você. Fui capaz de quase ser pega pela polícia por você! Eu matei por você e
seria capaz de morrer por você também, Afonso. E mesmo assim você nunca me deu
valor... Por que não tenta me amar?
AFONSO - Olha... Amanhã a gente conversa. Não estou
a fim de ficar ouvindo suas declarações românticas não. Vai dormir que é o
melhor que você faz!
Afonso sobe as escadas. Uma lágrima escorre do olho de
Maria Tereza. CORTA PARA/
CENA
25/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ PORÃO.
Domingos já com as coisas arrumadas. O segurança entra no local.
DOMINGOS - E aí, conseguiu?
SEGURANÇA – Está tudo pronto.
Vamos agora... Pelo o que eu sei o Barão saiu!
DOMINGOS - Então vamos!
Eles saem do local. Domingos faz o sinal da cruz, e fecha a
porta. CORTA PARA/
CENA
26/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ QUARTO DE AFONSO.
BARULHO ALTO. Afonso se assusta.
AFONSO - Que barulho é esse?
Ele se levanta rapidamente, troca de roupa correndo, pega
uma tocha e sai do local andando rapidamente. RITMO. CORTA PARA/
CENA
27/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ PORÃO.
Afonso abre a porta e se assusta. FOCA em sua expressão.
AFONSO - Desgraçado!
Ele sai correndo. CORTE
RÁPIDO PARA/
CENA
28/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ EXT.
RITMO. Afonso vai até a frente da mansa que tem vários
cavalos. Monta em um e com uma tocha na mão segue rapidamente.
AFONSO - Dessa vez você não me escapa!
FOCA em Afonso. CORTA
PARA/
CENA
29/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
TODOS aflitos. O Comandante fazendo suspense. Helena
enfurecida.
HELENA - (furiosa) Dá para o senhor
falar rápido o que quer, caspita!
COMANDANTE – Como todos estão
cansados, non?! Estão deprimidos... Mas... Tenham certeza. Tenham certeza
absoluta que isso vai acabar...
O Comandante tira lentamente um revólver no bolso e aponta
para frente. Todos assustados, olhando o revólver. Vicente afastando,
protegendo Chiara.
COMANDANTE – Andiamo! Io non
tenho muito tempo! Quem será o primeiro?!
FOCA no rosto do comandante com ódio. Closes alternados
entre ele e Helena.
EFEITO FINAL: CONGELA EM HELENA AFLITA
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