Capítulo 02
CENA 1/ COLÉGIO RIO BRANCO/ DIRETORIA/ INT/ DIA.
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. RAFAELA
CONVERSA COM LIDIANE.
RAFAELA — Foi um prazer conhecer a senhora, diretora! Mas agora tenho que ir
pra minha sala.
LIDIANE — Claro! Vou pedir pra Lia levar você até lá.
LIDIANE PEGA O TELEFONE E COMEÇA
A DISCAR.
LIDIANE — (tel) Lia, pode vir aqui, por favor?
NESSE INSTANTE, LIA APARECE NA
SALA.
LIA — Estou aqui!
LIDIANE — Esta aqui é Rafaela. É novata e não sabe onde é a
sala dela. Pode levar ela, por
favor?
LIA — Claro! (para Rafaela) Me acompanhe por favor.
RAFAELA SE LEVANTA.
RAFAELA — (para Lidiane) Muito obrigado por ter me ajudado!
LIDIANE — Ah! Quê isso! E como eu já disse: conte comigo pelo o que você
precisar!
RAFAELA FAZ “SIM” COM A CABEÇA E
SAI DA SALA, ACOMPANHADA DE LIA.
LIDIANE — (pra si) Eu juro que conheço essa garota de algum lugar... Mas
de onde meu Deus?!
ELA FICA PENSATIVA.
CENA 2/ COLÉGIO RIO BRANCO/ SALA DE AULA/ INT/ DIA.
UMA PROFESSORA ESTÁ DANDO AULA. É
JUSTEM. NESSE MOMENTO OUVE-SE BATIDAS NA PORTA.
JUSTEM — Pode entrar!
LIA ABRE A PORTA E ENTRA NA SALA,
JUNTO COM RAFAELA. BEATRIZ ENCARA A MENINA.
LIA — Bom dia Justem, com licença! Eu vim trazer essa
menina. Ela é novata, o nome dela é Rafaela.
JUSTEM — Ah sim! (para os outros) Gente! Essa aqui é Rafaela, a colega
nova de vocês! Deem as boas vindas a ela!
BEATRIZ — (reclama) Que idiotice! Coisa de gente do jardim um.
TODOS — Seja bem vinda Rafaela!
JUSTEM — (para Rafaela) Seja bem vinda Darling! Fique a vontade!
RAFAELA CAMINHA ATÉ SEU LUGAR.
LIA CUMPRIMENTA A PROFESSORA E SAI DA SALA. JUSTEM VIRA-SE PRO QUADRO E COMEÇA
A COPIAR. RAFAELA VAI SE SENTAR PERTO DE RAÍSSA, MAS ANTES PASSA POR BEATRIZ
QUE SEGURA SEU BRAÇO, ASSUSTANDO-A.
BEATRIZ — Eu ainda não esqueci do que aconteceu hoje! Você tá na minha
lista negra! Você me paga!
RAFAELA CONSEGUE SOLTAR. GESSICA
OBSERVA TUDO DE LONGE E SORRI. RAFAELA SE SENTA PERTO DE RAÍSSA QUE PERCEBE A
AFLIÇÃO DA AMIGA.
RAÍSSA — O que foi amiga? Por que você tá assim?
RAFAELA — (aponta para Beatriz) Aquela menina ali!
RAÍSSA — O que tem Beatriz? Ela fez alguma coisa com você de novo? Tá te
perturbando?
RAFAELA — Não! Não é nada!
RAÍSSA — Como assim nada? Está acontecendo alguma coisa amiga! Eu sei
disso! Te conheço não é de hoje! O que tá havendo?
RAFAELA — Nada! Esquece!
RAFAELA FICA AFLITA. CORTA PARA
VAGNER E CAIO QUE CONVERSAM. CAIO APARENTA ESTAR EMBURRADO.
VAGNER — Por que você tá assim?
CAIO — Como você acha que eu devo estar depois daquela
vergonha que você me fez passar na frente de todo mundo?
VAGNER — Desculpa cara! Não falei por mal! Estava brincando! E não foi na
frente de todo mundo. Foi uma brincadeira só entre nós!
CAIO — Brincadeira de péssimo gosto!
VAGNER — Desculpa tá? Não faço de novo! Não sabia que você ficaria dessa
forma!
CAIO — Tá! Tudo bem! Deixa pra lá!
CORTA PARA ANDRESSA E MÁRCIO.
ANDRESSA— Que ódio que eu tenho
daquela menina!
MÁRCIO — Ódio de quem mulher? Oxe!
ANDRESSA— Daquela sonsa da
Beatriz! Se acha a gostosa, melhor que os outros.
MÁRCIO — Eu também não vou com a cara dela. Se acha só por que é filha da
diretora!
ANDRESSA— Isso é falta de surra!
Coitada da menina nova! Não fez nada pra merecer isso!
MÁRCIO — Um dia Beatriz ainda vai pagar por se achar tão superior. E vai
ser a vida que vai fazer com que ela sinta na pele o que Rafaela sentiu.
CORTA PARA JUSTEM QUE SENTA NA
CADEIRA, PEGA O LIVRO DE INGLÊS.
JUSTEM — Agora abram o livro de inglês na página 11.
TODOS PEGAM O LIVRO DE INGLÊS E
ABREM NA RESPECTIVA PÁGINA. JUSTEM COMEÇA A LER EM INGLÊS E OS ALUNOS FICAM
ENTEDIADOS.
CENA 3/ SALVADOR/ PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ DIA.
PLANOS GERAIS DO DIA.
CENA 4/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO BEATRIZ/ INTERIOR/ DIA.
BEATRIZ ENTRA NO QUARTO ROSNANDO
DE RAIVA. ELA JOGA SUA MOCHILA CONTRA A PAREDE E SE JOGA NA CAMA.
BEATRIZ — (grita) Que ódio! Que ódio, que ódio, que ódio!
LIDIANE ENTRA NO QUARTO.
LIDIANE — Pode gritar o quanto quiser! Pode sentir ódio de todo mundo,
até de mim! Mas eu não vou voltar atrás com a minha palavra!
BEATRIZ — Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso?
LIDIANE — Tratou mal aquela pobre menina novata! Se acha melhor que todo
mundo! E o seu castigo vai ser ficar trancada aqui nesse quarto, sem celular,
sem computador, apenas estudando e pensando no que você fez!
BEATRIZ — Mas isso não é justo!
LIDIANE — É justo, muito justo, é justíssimo! Você vai ficar uma semana
em casa, de suspensão, de castigo.
BEATRIZ — Mas isso é um absurdo! Eu não posso ficar sem meu celular! Sem o
computador tudo bem! Mas sem o celular não!
LIDIANE — Chega! Vou sair daqui antes que você me enlouqueça de
vez!
BEATRIZ — Se a senhora me deixar trancada aqui eu... eu... eu...
LIDIANE — Você o quê?
BEATRIZ — Eu faço greve de fome!
LIDIANE — Faz o que você quiser! Faz greve de fome, greve de ir ao
banheiro, de beber água! Enfim! Jucilene vai trazer suas refeições aqui no
quarto!
LIDIANE VAI SAINDO DO QUARTO,
QUANDO BEATRIZ A PUXA DE VOLTA.
BEATRIZ — Mainha, eu tou falando sério! Se a senhora me deixar presa aqui
dentro eu sou capaz de enlouquecer! Eu não posso ficar aqui. Não posso ficar
uma semana trancada no quarto! Isso é cárcere privado! Eu já estou
enlouquecendo! Não vê o meu estado emocional?!
LIDIANE — Tudo bem garota! Você pode sair do quarto se quiser! Pode andar
pela casa, se jogar no chão, plantar bananeira! (t) Mas seu celular fica
comigo!
LIDIANE PEGA O CELULAR DAS MÃOS
DE BEATRIZ E SAI DO QUARTO, FECHANDO A PORTA. BEATRIZ PEGA SUA MOCHILA E JOGA
LONGE.
BEATRIZ — (grita) Que ódio!
SEU GRITO ECOA POR TODA A CASA.
CLOSE NELA.
CENA 5/ PORTO DA BARRA/ EXTERIOR/ DIA.
GUILHERME E AMANDA ANDAM DE MÃOS
DADAS PELA PRAIA DO PORTO.
GUILHERME— Fico feliz por você
não ter recusado o meu convite.
AMANDA — Mesmo assim. Ainda tou com medo dos meus pais descobrirem que a
gente tá junto.
GUILHERME— E o que tem isso
demais? Eu amo você e você me ama. Totalmente natural.
AMANDA— Eles não vão aceitar o
nosso namoro Gui.
GUILHERME— Por que não?
AMANDA — Os meus pais são daqueles a moda antiga. Acham que por você ser
rico, de classe social mais elevada que a minha, que você vai se aproveitar de
mim. Da minha ingenuidade. (se irrita) Que saco! Nem ingênua eu sou, muito pelo
contrário!
GUILHERME — (vai abraçando ela
aos poucos) Então para com essa besteira e vamos viver o nosso romance. Se você
se sente bem comigo, nada mais importa.
ELES SE BEIJAM DIANTE DA
BELÍSSIMA PAISAGEM.
CENA 6/ MANSÃO LIDIANE/ SALA/ INTERIOR/DIA.
LIDIANE ESTÁ SENTADA NO SOFÁ
LENDO UMA REVISTA QUANDO A CAMPAINHA TOCA.
LIDIANE — (berra) Jucilene! Vem aqui mulher! A campainha tá
tocando!
JUCILENE VEM CORRENDO DA COZINHA
E ABRE A PORTA.
JUCILENE — Ô seu Otávio! Entra, faz favor!
OTÁVIO ENTRA. JUCILENE FECHA A
PORTA. LIDIANE LEVANTA.
LIDIANE — Jucilene vai passar o café, sim?
JUCILENE — Sim senhora!
JUCILENE VAI PRA COZINHA. LIDIANE
CUMPRIMENTA OTÁVIO.
LIDIANE — (cumprimentando Otávio) Meu
grande amigo de guerra!
OTÁVIO — Como vai meu bem!
LIDIANE — Senta!
OS DOIS
SENTAM NO SOFÁ.
LIDIANE — E então, o que te traz aqui?
OTÁVIO — Eu tinha ido no banco sacar um
dinheiro e resolvi fazer uma visita.
LIDIANE —
Ah, claro! E as crianças, como vão?
OTÁVIO — Vão indo bem! Ultimamente não tem
me dado muito trabalho.
LIDIANE — Que sorte a sua!
OTÁVIO — Por que? Tá acontecendo alguma
coisa?
LIDIANE — Beatriz!
OTÁVIO — Ah, já estou sabendo de tudo!
LIDIANE — De tudo o quê?
OTÁVIO — Do que ela aprontou no colégio
com a menina novata. A minha filha é amiga da menina.
LIDIANE — Beatriz precisa urgentemente de
uma lição de vida! Como pode, tratar uma menina desse jeito? Se achar superior
aos outros colegas dela? Não pode! (t) Eu realmente não sei aonde foi que eu
errei na educação dessa menina.
OTÁVIO — Vai ver foi influência.
NESSE
MOMENTO JUCILENE APARECE COM A BANDEJA COM OS CAFÉS E SERVE AOS DOIS.
LIDIANE — (pegando a xícara de café) Influência
de quem criatura de Deus?
OTÁVIO — Ora! Das amigas dela, claro!
JUCILENE — Vão querer mais alguma coisa?
LIDIANE — Não Jucilene! Obrigada!
OTÁVIO — Não! Obrigado Jucilene!
JUCILENE
VOLTA PRA COZINHA.
LIDIANE — Você acredita que Lia disse a
mesma coisa pra mim hoje?
OTÁVIO — Sério?
LIDIANE — Sim! E ela usou as mesmas
palavras que você acabou de usar!
OTÁVIO — Se eu fosse você minha querida,
eu teria observado isso logo antes que seja tarde.
LIDIANE — Que tarde o quê homem? Tá louco?
OTÁVIO — Eu estou falando a verdade! Muita
coisa ruim hoje em dia só acontece por influência de certas amizades. Abre o
olho hein!
ELES
CONTINUAM A TOMAR O CAFÉ. LIDIANE FICA PENSATIVA.
CENA 7/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO
BEATRIZ/ INT/ DIA.
BEATRIZ
CONVERSA COM GESSICA PELO TELEFONE. ALTERNAR
CENAS COM AS DUAS.
BEATRIZ — (tel) Estou de castigo! Uma semana de
castigo!
GESSICA — (tel) Só por causa daquilo que você fez?
BEATRIZ — (tel) Só por causa daquilo! Acredita nisso?
GESSICA — (tel) Que chato!
BEATRIZ — (tel) E tudo por culpa daquela garota!
GESSICA — (tel) Mas a sua mãe também pegou pesado
contigo né? Ficar sem celular é fogo!
BEATRIZ — (tel) Sorte que eu tenho um telefone
escondido. Senão estaria frita! E a minha mãe é uma chata! Isso sim! (explode)
Ai, que ódio daquela garota!
GESSICA — (tel) Você pretende tomar alguma providência
em relação a isso?
BEATRIZ — (tel) Sabe que eu não tinha pensado nisso?!
GESSICA — (tel) Pois passe a pensar! E eu tenho um
plano de vingança perfeito!
GESSICA
COMEÇA A FALAR. BEATRIZ OUVE TUDO. CORTA
O ÁUDIO.
CENA 8/ AP LORENA/ SALA/
INTERIOR/ DIA.
LORENA
ESTÁ SENTADA NO SOFÁ ASSISTINDO TELEVISÃO.
LORENA — (grita) Vamos Paula! A Margot deve estar
nos esperando.
PAULA VEM
DO QUARTO VESTINDO ROUPAS DE PRAIA. LORENA SE LEVANTA E A ENCARA.
LORENA — O que significa isso?
PAULA — Eu tou indo à praia ué!
LORENA — Não vai em praia coisíssima nenhuma! Você
vai comigo na agência de modelos! Eu já marquei com a Margot e ela está nos
esperando!
PAULA — Pois pode desmarcar. Não estou com saco
pra isso hoje!
LORENA — Como ousa falar comigo nesse tom?! Me
respeite! Sou sua mãe!
PAULA — Tá mãe! Você quer que eu te respeite,
mas você sequer respeita minhas opiniões em relação a essa coisa de ser modelo.
Eu não quero ser modelo! Tá bom pra você? Tchau!
PAULA
SAI, BATENDO A PORTA. LORENA FICA BOQUIABERTA.
LORENA — (para si) Era só o que faltava! Minha filha
me repreendendo!
ELA FICA
ALI REVOLTADA.
CENA 9/ AP GILBERTO/ SALA/
INTERIOR/ DIA.
GILBERTO
E RAFAELA ALMOÇAM.
GILBERTO — Então...
RAFAELA — Então o quê?
GILBERTO — Como foi no colégio hoje?
RAFAELA — Foi bem!
GILBERTO — Tem certeza?
RAFAELA — Tenho sim! Foi ótimo! Obrigada por ter me
colocado lá!
GILBERTO — Eu faço isso por que te amo minha
filha! Te colocaria em mil colégios se fosse necessário.
RAFAELA
FICA DESANIMADA. GILBERTO PERCEBE.
GILBERTO — O que foi filha? Por que você tá desse
jeito? Foi alguma coisa que eu disse?
RAFAELA — Nada! Eu só estou cansada dessa vida de ficar
saindo de colégio, entrando em colégio... Não aguento mais esse inferno.
GILBERTO — Mas não tem outro jeito meu amor. Se
você não se adapta a um colégio, obviamente tenho que te pôr em outro.
RAFAELA — Espero que pelo menos nesse colégio as coisas
aconteçam diferente. Bom, eu vou subir!
GILBERTO — Não vai terminar de comer?
RAFAELA — Não! Eu perdi a fome!
RAFAELA
SE LEVANTA E SOBE. GILBERTO PARA DE COMER E FICA PENSATIVO.
CENA 10/ AP GILBERTO/ CORREDOR/
INTERIOR/ DIA.
RAFAELA
ACABA DE SUBIR AS ESCADAS. ELA CAMINHA PELO CORREDOR E PASSA PELA PORTA DO
QUARTO DE GILBERTO. ELA PARA DIANTE DA PORTA, QUE SE ENCONTRA ENTREABERTA,
HESITA POR UM MINUTO ATÉ QUE DECIDE ENTRAR.
CENA 11/ QUARTO GILBERTO/
INTERIOR/ DIA.
RAFAELA
ENTRA NO QUARTO SORRATEIRAMENTE E ENCOSTA A PORTA. ELA CAMINHA ATÉ O CLOSET.
ELA ABRE O CLOSET E VASCULHA TODOS AS GAVETAS.
RAFAELA — (pra si) Eu preciso saber o que painho tanto
esconde nesse diário.
DE
REPENTE UMA MÃO TOCA SEU OMBRO. RAFAELA GRITA DE SUSTO. TENSÃO!!!
1º INTERVALO COMERCIAL
CENA 12/ QUARTO
GILBERTO/ INTERIOR/ DIA.
CONTINUAÇÃO DA CENA ANTERIOR. TENSÃO! RAFAELA SE VIRA PRA
VER QUEM A TOCOU E SOLTA UM SUSPIRO DE ALÍVIO.
RAFAELA — (ALIVIADA) Ah, é você Arthur?
ARTHUR — Claro que sou eu! Seu pai pediu pra que eu viesse
limpar o quarto dele. Aliás, eu posso saber o que você tá fazendo aqui?
RAFAELA — (SE ATRAPALHA) Como assim o que eu vim fazer
aqui?! Eu vim... Eu vim...
ARTHUR — (EM CIMA) Veio de novo vasculhar o quarto de seu
pai! Sabia que poderia ser ele aqui falando com você e não eu?
RAFAELA — Eu sei!
ARTHUR — Agora vá, antes que ele te veja aqui e comece com
perguntas.
RAFAELA SAI DO QUARTO. ARTHUR COMEÇA A LIMPAR.
CENA 13/ QUARTO
RAFAELA/ INTERIOR/ DIA.
RAFAELA ENTRA NO QUARTO, FECHANDO A PORTA.
RAFAELA —
(ALIVIADA) Essa foi por pouco.
CLOSE
NELA.
CENA 14/ PRAIA DA
BARRA/ EXTERIOR/ DIA.
ESTÁ UM SOL FORTE. PAULA CHEGA À
PRAIA. ELA TIRA AS SANDÁLIAS E SENTA NA AREIA, OBSERVANDO OS SURFISTAS QUE
CARREGAM SUAS PRANCHAS INDO EM DIREÇÃO AO MAR. ELA FICA ALI OBSERVANDO,
PENSATIVA.
PAULA — (PARA SI) Que ódio! Queria
tanto aprender a surfar. Minha mãe é uma idiota mesmo. Que raiva viu!
ELA CONTINUA SE CORROENDO DE ÓDIO. NESSE MOMENTO CORTA PRA UM DOS SURFISTAS QUE
FAZ SUAS MANOBRAS SOBRE UMA ONDA E DE REPENTE CAI DA PRANCHA, BATENDO A CABEÇA
NA PEDRA, FICANDO DESACORDADO. CORTA
NOVAMENTE PRA PAULA QUE VÊ TODA A CENA E SE LEVANTA NUM ROMPANTE. MUITA
GENTE COMEÇA A VOLTAR À ATENÇÃO PRO ACONTECIDO.
PAULA — (AFLITA) Meu Deus... (GRITA
EM VOLTA) Não tem nenhum salva vidas nessa droga de praia não?
NINGUÉM RESPONDE. ELA ENTÃO CORRE EM
DIREÇÃO AO MAR E COMEÇA A NADAR. PAULA NADA ATÉ O SURFISTA E O TRAZ DE VOLTA
PRA AREIA. MUITOS CURIOSOS SE APROXIMAM. PAULA FAZ MASSAGEM CARDÍACA NELE E
RESPIRAÇÃO BOCA A BOCA. ELA FAZ ISSO VÁRIAS VEZES ATÉ QUE ELE RECOBRA A
CONSCIÊNCIA. PAULA SUSPIRA ALIVIADA.
PAULA — (ALIVIADA) Graças a Deus!
O SURFISTA FICA A OLHAR PRA PAULA,
ENCANTADO COM SUA BELEZA. ELE SORRI. CORTE
PROS PARAMÉDICOS QUE CONDUZEM O SURFISTA PRA AMBULÂNCIA. PAULA OLHA PRO SURFISTA COM AFLIÇÃO, PREOCUPADA.
PAULA — (PARA O PARAMÉDICO) Eu posso
ir junto?
PARAMÉDICO — Você é o quê dele?
PAULA — (MENTE) Sou namorada dele!
ELE FAZ QUE SIM COM A CABEÇA E ELA
ENTRA NA AMBULÂNCIA.
CENA 15/ AP
GILBERTO/ SALA/ INTERIOR/ DIA.
RAFAELA ESTÁ SENTADA NO SOFÁ
ASSISTINDO TEVÊ E COMENDO BRIGADEIRO DE PANELA. DE REPENTE A CAMPAINHA TOCA.
ELA VAI ATENDER. É RAÍSSA.
RAFAELA — Ô amiga, entra!
RAÍSSA ENTRA. ELAS SE SENTAM NO
SOFÁ.
RAÍSSA — Eu vim te buscar pra a
gente tomar um banho de piscina lá em casa comigo.
RAFAELA — Ah não Raíssa! Hoje não,
estou sem vontade.
RAÍSSA — Para com isso Rafa. Tá uma
tarde linda lá fora, um sol de lascar. Fora que aqui dentro tá um calor
insuportável. E você também precisa sair mais. Fica aqui trancafiada o dia
todo, parecendo uma freira! Vamos vai!
RAFAELA — Eu prefiro ficar aqui
dentro mesmo. É bem melhor, muito mais seguro até!
RAÍSSA — Mas aqui dentro não tem
nada pra você fazer além de ficar o dia todo sentada nesse sofá se entupindo de
brigadeiro e assistindo essa série chata e repetitiva. Vamos, por favor.
RAFAELA — Tudo bem! Eu vou.
RAÍSSA — (ANIMADA) Ótimo. Vamos subir pra pegar seu biquíni.
ELAS SOBEM.
CENA 16/ AP
ANDRESSA/ QUARTO / INTERIOR/ DIA.
ANDRESSA E MÁRCIO CONVERSAM.
ANDRESSA —Sabe de uma bi?
MÁRCIO — O que foi mana?
ANDRESSA — De todos os boys magias daquele colégio, o que eu
mais me amarro é Caio.
MÁRCIO — O que mora no Garcia?
ANDRESSA — Esse mesmo.
MÁRCIO — Ele é bem bonitinho mesmo.
ANDRESSA — Bonitinho? Ele é uma delícia querido
MÁRCIO — Também não é pra tanto né mana.
ANDRESSA — Cala a boca sua bicha invejosa. Você fala isso
por que nunca viu ele de sunga na piscina. Ai Jesus. Que homem. Eu necessito de
um homem daqueles na minha vida.
MÁRCIO — Para criatura. Parece que tá na seca! A gente tá em Salvador e não no interior!
ANDRESSA — Tu precisa me ajudar a ficar com ele. Eu estou na
crise hídrica mundial.
ANDRESSA SE AJOELHA ATÉ MÁRCIO E FICA DIANTE DELE.
MÁRCIO — Para com isso mulher! Tá achando que tá na novela
das seis? Vai me pedir em casamento?
ANDRESSA — Por favor, me ajude a ficar com ele. Eu preciso
daquele macho.
MÁRCIO — O que eu não faço por você hein?
ANDRESSA SE LEVANTA E COMEÇA DAR INÚMEROS BEIJOS NO ROSTO DE
MÁRCIO.
ANDRESSA — Obrigado bi, obrigado por tudo.
CLOSE NELES.
CENA 17/ AP BRUNO/
SALA/ INTERIOR/ DIA.
BRUNO APARECE NA SALA DE SANDÁLIAS, BERMUDA E CAMISA COM
MANGA. VANESSA ESTÁ SENTADA NO SOFÁ.
VANESSA — Aonde você vai filho?
BRUNO — Vou dar um pulo na piscina. O calor tá insuportável.
Não sei como você aguenta ficar aqui.
VANESSA — Eu já estou de saída querido.
BRUNO — Painho não tá em casa não?
VANESSA — Ele saiu. Foi ao médico. Consulta de rotina.
BRUNO — Bom, vou indo nessa então.
ELE SAI DE CASA.
CENA 18/ EDIFÍCIO
TORRES DO FAROL/ PISCINA/ INT/ DIA.
BRUNO CHEGA, TIRA A SUA ROUPA E FICA SÓ DE SUNGA. ELE
MERGULHA NA PISCINA. NESSE MOMENTO, RAFAELA E RAÍSSA CHEGAM AO LOCAL.
RAÍSSA — (PARA RAFAELA) Olha só. É o Bruno. (grita) Bruno!
BRUNO AS VÊ, E ACENAM. RAFAELA FICA MEIO CONSTRANGIDA.
RAÍSSA — Vem, vamos nos sentar aqui.
ELAS SE SENTAM NUMA CADEIRA. BRUNO SE APROXIMA DELAS DUAS.
BRUNO — E ai meninas.
RAÍSSA — E ai Bruno.
RAFAELA — (TÍMIDA) E ai.
RAÍSSA — O calor tá de matar.
BRUNO — Tá mesmo.
RAÍSSA — Bom, eu vou pegar um suco pra nós três.
RAÍSSA SAI, DEIXANDO OS DOIS SOZINHOS.
BRUNO — E ai. Você é aquela menina novata né?
RAFAELA — Sou sim. Aliás, obrigada por ter me apoiado hoje.
BRUNO — Não precisa agradecer. Aquela garota não podia
tratar você daquele jeito.
RAFAELA — Só espero que não aconteça novamente.
BRUNO — Relaxa. Não vai acontecer de novo. E se acontecer
você tem quem te apoie. Tem Raíssa, a diretora e tem a mim também.
ELE SORRI PRA ELA. RAFAELA SORRI DE VOLTA E ELES FICAM A SE
OLHAR.
CENA 19/ CLÍNICA/
INTERIOR/ DIA.
VITOR CONVERSA COM O DOUTOR.
VITOR — E então doutor?
MÉDICO — Pelo o que consta no seu exame, seu índice de
gordura está baixo, mas seu colesterol está altíssimo, por isso eu indico que
você pare de ingerir doces, comidas gordurosas e que mude completamente sua
alimentação. (ANOTANDO TUDO NUM PAPEL) Eu vou passar um cardápio pra você e
indico também que faça atividades físicas, além de tomar dois litros de água
por dia.
O MÉDICO TERMINA DE ANOTAR E ENTREGA O PAPEL A VITOR.
VITOR — Muito obrigado doutor.
VITOR SE LEVANTA, E ELES SE CUMPRIMENTAM.
VITOR — Até logo.
MÉDICO — Até logo. Sugiro que volte daqui a um mês e lembre-se:
Pare de comer doces por causa da diabete.
VITOR — Pode deixar.
VITOR VAI EMBORA.
CENA 20/ SALVADOR/
PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ NOITE.
PLANOS GERAIS DA CIDADE AO ANOITECER.
CENA 21/ HOSPITAL/
SALA DE ESPERA/ INTERIOR/ NOITE.
PAULA ESTÁ SENTADA NUM SOFÁ, ESPERANDO NOTÍCIAS DO SURFISTA
QUE SE ACIDENTOU. UM MÉDICO CHEGA PRA FALAR COM ELA.
PAULA — E então doutor, tá tudo bem?
MÉDICO — Tá tudo bem sim! Não foi nada demais. Ele só sofreu
um corte na testa e tivemos que dar uns pontos. Nada mais que isso. Ele só vai
precisar passar a noite aqui em observação.
PAULA — Eu posso ver ele?
MÉDICO — Pode sim. Ele inclusive perguntou por você.
PAULA — (SURPRESA) Sério?
MÉDICO — Sim. Vai lá!
PAULA — Obrigada! Com licença.
ELA SAI.
CENA 22/ HOSPITAL/ QUARTO/
INTERIOR/ NOITE.
PAULA ENTRA NO QUARTO. O SURFISTA ESTÁ DORMINDO. PAULA
OBSERVA ELE DORMIR E ACARICIA SEUS CABELOS LOIROS E LISOS. ELE ACORDA DE
REPENTE E ELA SE ASSUSTA.
PAULA — Você tá bem?
SURFISTA — Estou sim. Obrigado por ter me salvado.
PAULA — Não foi nada. Eu sou Paula.
SURFISTA — Prazer! Eu me chamo Marcelo!
ELES FICAM SE OLHANDO.
PAULA — Bom, já que você está bem eu vou indo.
MARCELO — Espera!
PAULA VOLTA.
PAULA — O que foi?
MARCELO — (SEM REAÇÃO) Não nada! É... Eu... Nada.
PAULA RI, ACENA PRA ELE E SAI DO QUARTO, FECHANDO A PORTA.
MARCELO — (PARA SI) Mano, que gata.
ELE FICA PENSATIVO.
CENA 23/ TAXI/
INTERIOR/ NOITE.
PAULA NO TÁXI OLHA PELA JANELA, PENSATIVA. ELA SORRI DO
NADA, ESTÁ COM A CABEÇA LONGE.
CENA 24/ AP LORENA/
SALA/ INTERIOR/ NOITE.
PAULA ENTRA EM CASA. LORENA ESTÁ SENTADA ASSISTINDO A TEVÊ.
LORENA — Eu posso saber onde você esteve esse tempo todo?
PAULA — Eu fui à rua bater perna, por quê?
LORENA — Por nada. Sabia que eu fiquei morta de vergonha hoje?
Por sua culpa eu tive que desmarcar o nosso encontro com a Margot lá na
agência.
PAULA — Sentiu vergonha por causa dessa bobagem? Você e
Margot não são amigas? Aliás: Melhores amigas, best friend forever?! Pelo amor
de Deus, me poupe! Deveria era ter vergonha de ser uma mulher de quarenta e
dois anos, solteira, que não faz nada de importante da vida a não ser ficar em
casa o dia inteiro, reclamando, reclamando, reclamando de tudo o tempo todo.
Vai sair mãe! Vai arranjar um boy! Vai viver a vida e deixa eu viver a minha em
paz! Mas que saco!
PAULA VAI PRO QUARTO EMBURRADA. LORENA FICA PENSATIVA.
CENA 25/ MANSÃO
LIDIANE/ QUARTO LIDIANE/ INTERIOR/ NOITE.
LIDIANE ESTÁ DEITADA NA CAMA. LIA ESTÁ SE OLHANDO NUM
ESPELHO. ELAS CONVERSAM.
LIDIANE — Sabe quem teve aqui hoje?
LIA — Não. Quem?
LIDIANE — Otávio! Veio me ver.
LIA — Sim e ai?
LIDIANE — E aí o quê mulher?
LIA — Quero saber se rolou alguma coisa.
LIDIANE — Claro que não, tá maluca? Otávio é só meu amigo.
LIA — Sei...
LIDIANE — Ah, para com isso. O que eu e Otávio tivemos no
passado ficou no passado.
LIA — Amiga, para com isso. Para de fazer a linha durona
sempre. Você não acha que não tá na hora de procurar um amor não? Uma pessoa
que te faça feliz de verdade?
LIDIANE — Deus me livre! Depois daquele terrível episódio do
passado eu parei de homem.
LIA — Esquece isso mulher! Já se passaram muitos anos
dezessete anos! Esquece isso!
LIDIANE — Mas não tem como esquecer mesmo! O Ivan acabou com
a minha vida! Ele queria me dar um golpe, levou minha filha de mim... Depois
disso eu não quero mais homem nenhum na minha vida! Mas eu ainda vou encontrar
esse desgraçado, fazer ele pagar por tudo que me fez e recuperar minha filha de
volta... Aliás, ela já deve ser uma moça já!
LIA — Ei, vamos parar com isso? Vamos esquecer essa história?
Pelo menos por essa noite!
LIDIANE — Tá bem!
LIA — Agora levanta! Se arruma por que vamos sair.
LIDIANE — Sair? Pra onde?
LIA — Eu fiz uma reserva naquele restaurante que você adora!
Vem, vamos! Levanta!
LIA LEVANTA LIDIANE, PUXANDO-A PELO BRAÇO E LEVANDO PRO
BANHEIRO DA SUÍTE.
CENA 26/ AP
GILBERTO/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
A TEVÊ TÁ LIGADA. GILBERTO ESTÁ SENTADO NO SOFÁ LENDO UM
JORNAL. DE REPENTE RAFAELA ENTRA EM CASA.
RAFAELA — Oi pai!
GILBERTO — Oi minha filha! E aí, se divertiu?
RAFAELA — Muito!
GILBERTO — Ótimo! Agora vai lá em cima, deixa essa mochila
no seu quarto por que vamos sair!
RAFAELA — Sair? Pra onde?
GILBERTO — Vamos jantar naquele restaurante que você ama!
RAFAELA — (ANIMADA) Sério? Vou agora lá em cima deixar
minhas coisas e já venho.
RAFAELA DÁ UM BEIJO EM GILBERTO E SOBE. ARTHUR APARECE.
ARTHUR — Vai sair seu Gilberto?
GILBERTO — Vou sim. Vou levar minha filha pra se distrair um
pouco.
ARTHUR — O senhor vai querer alguma coisa agora?
GILBERTO — Não, obrigado. Ah! Por favor, tire as roupas da
mochila da minha filha e bote pra lavar.
ARTHUR — Sim senhor!
ARTHUR SE RETIRA. RAFAELA DESCE.
RAFAELA — Vamos?
GILBERTO — Vamos.
ELES SAEM.
CENA 27/
RESTAURANTE/ ESTACIONAMENTO/ EXT/ NOITE.
GILBERTO VEM COM SEU CARRO E O ESTACIONA NUMA VAGA. ELE
DESCE DO CARRO. LOGO DEPOIS RAFAELA TAMBÉM DESCE. OUTRO CARRO CHEGA NO EXATO
MOMENTO. É O DE LIDIANE. ELA ESTACIONA NUMA OUTRA VAGA E DESCE, SEGUIDA DE LIA.
LIDIANE VÊ RAFAELA.
LIDIANE — Olha Lia é aquela menina, Rafaela.
LIA PROCURA RAFAELA EM MEIO A TANTOS CARROS.
LIDIANE — (GRITA) Rafaela!
RAFAELA AVISTA LIDIANE E ACENA.
RAFAELA — Olha pai. É a diretora do meu colégio.
GILBERTO QUE ESTAVA PEGANDO ALGO DENTRO DO CARRO SE LEVANTA PRA
VER E AO AVISTAR LIDIANE FICA PARALISADO.
RAFAELA — Eu vou lá falar com ela. Ela é super gente boa,
você precisa conhecer.
GILBERTO — Espere filha.
GILBERTO TENTA IMPEDIR, MAS NÃO CONSEGUE. RAFAELA VAI FALAR
COM LIDIANE. ELAS SE CUMPRIMENTAM. RAFAELA CUMPRIMENTA LIA. GILBERTO FICA
TENSO.
RAFAELA — Tudo bom Lidiane?
LIDIANE — Tudo ótimo! E você? Você veio sozinha?
RAFAELA — Não, eu vim com meu pai. (CHAMA) Pai!
GILBERTO CAMINHA EM DIREÇÃO A ELAS E FICA PARALISADO AO VER
LIDIANE EM SUA FRENTE.
RAFAELA — Lidiane, esse aqui é meu pai, Gilberto!
LIDIANE — (ESTENDE A MÃO PRA GILBERTO) Prazer!
GILBERTO — (PENSAMENTO) É ela! A minha Lidiane. Ela está
viva!
GILBERTO CONTINUA PARALISADO, OLHANDO PRA LIDIANE. CLOSE
NELES.
FIM
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