Entre
um gole e outro de champanhe, Marlon lembrava do
telefonema do detetive. Depois de tantos anos esperando, a hora estava
chegando. Às dez e meia, eles saíram e foram para casa.
Mesmo
na cama, o pensamento dele não mudava.
-
Será que a hora vai mesmo chegar? Será que posso fazer justiça? Não...não... o
detetive novamente deve estar enganado. Todas as noites, já pedi tanto para que
o destino coloque todos eles nas minhas mãos.
Entre
as torturas das dúvidas, Marlon foi à cozinha e pegou um copo de leite.
Sentou-se na cadeira e começou a refletir sobre a vida.
-
Porque Deus me odeia tanto? Acho que pago os pecados de todos, só pode! Até
Solange aparecer na minha vida, nunca tinha conhecido o amor. Amigos! Quem é
meu amigo? Sou eu mesmo. Nunca tive um que pudesse ao menos chamar de colega.
Antes dela, ninguém nunca tinha me tratado com amor. Se sou rebelde, é porque o
mundo me fez assim. O meu único desejo era ser uma criança novamente. Só a
ingenuidade e a pureza de uma criança, é que pode vê a beleza da vida. Obrigado
Fado! Hoje ganhei uma recompensa, o amor de Solange. Depois que colocar meu
ódio em cada um, daqueles seis desgraçados, é que poderei ter momentos felizes.
Nunca poderei ser feliz. Ela não existe. O que existe são os pequenos momentos
felizes.
Depois
que Marlon pensou e refletiu sobre sua vida e o seu futuro, ele foi deitar-se.
O sono não veio, como nos outros dias. No cantar das buzinas dos carros, eles
se acordaram. Entre um suco e um pão, eles iam conversando.
-
Como você passou a noite, paixão?
-
Acordado, amor. Vim tomar um copo de leite para vê se conseguiria dormir, mas
não funcionou.
-
Também não consegui dormir direito. Tive um pesadelo horrível.
-
Qual foi ?
-
Deixa pra lá.
-
Ô amor, você sabe se os policiais ainda estão investigando a morte do Júlio?
Solange
engasga-se com o pão.
-
Ai! Só de me lembrar, sinto uns arrepios.
-
Você sabe se eles continuam investigando?
-
Acho que sim.
Eles
terminam o café da manhã e vão para o Jornal. Chegando lá, Fabrício cumprimenta
o chefe.
-
Bom dia, senhor Marlon.
-
Bom dia, Fabrício.
Quando
Mônica percebe que o seu chefe vem entrando, ela passa as mãos no cabelo e diz:
-
Bom dia senhor Marlon.
-
Bom dia Mônica.
Vendo
que Marlon já tinha entrado no elevador, Mônica vai ao encontro de Fabrício.
-
Tu não sabe da nova, Bigode?
-
Qual é?
-
Dizem por aí, que o chefinho tá quase mandando o Mariano ir pro olho da rua.
-
Quem ti disse isso?
-
A Gilda disse para a Carla, que disse para a Amanda, que disse para a Josefa,
que disse pra mim. A Dona Josefa é um
anjo. Ela me conta tudo o que sabe.
-
Ah! Agora tô entendendo. Você acorda quatro e meia, anda da sua casa até o
ponto de ônibus à pé, pega o ônibus, chega aqui seis horas só pra fofocar com a
Josefa.
-
Mais é claro. Eu gosto de notícia em primeira mão. Bem...a Gilda, a Carla, a
Amanda e a Dona Josefa já sabem. A dona Josefa me conta as notícias do dia
anterior...acho que tenho notícias em primeiro pé. – disse Mônica cabisbaixa. –
mais pelo menos, Bigode, eu conto pra você, que não sabe de nada do que se
passa nesse Jornal.
-
Só você mesmo Mônica.
Em
sua sala, Marlon aguarda ansiosamente a chegada do detetive Devis. Gilda entra
na sala.
-
O detetive Devis está aqui.
-
Mande-o entrar.
-
Pode entrar, senhor Devis.
O
detetive Devis entra com uma pasta na mão.
-
Como o você está detetive Devis?
-
Estou bem. E o senhor?
-
Vou bem. O senhor aceita um café?
-
Aceito.
-
Gilda, traga dois cafés, por favor.
-
Trago agora mesmo, senhor.
-
Conte-me Devis, o que você descobriu.
-
Bom senhor Marlon, acredito que encontrei seu amigo... o ... Rogério.
Assim
que o detetive terminou de dizer o nome do Rogério, Marlon lembrou de todas as
humilhações que passou por causa dele.
-
Trouxe as fotos. – disse ele tirando-as da pasta. – aqui estão.
Marlon
pegou-as. Ele não conteve seu sorriso.
-
É ele, senhor Marlon.
-
É ele mesmo.
-
Ele trabalha no supermercado Do campo.
-
Sei aonde fica. Obrigado Devis.
-
Não quero incomodar, mas é que estou precisando de dinheiro para pagar o
conserto do carro...
-
Ah! Desculpe-me. – disse Marlon abrindo a gaveta. Aqui está o segundo pagamento
mais uma gratificação pela felicidade que você me proporcionou, ao encontrar o
meu primeiro amigo. Posso ficar com as fotos?
-
Claro. O senhor quer que eu o acompanhei.
-
Não precisa.
-
Então até logo senhor Marlon. Em breve terei mais notícias dos outros.
-
Até logo.
Logo que o detetive Devis saiu, Marlon pegou a
foto de Rogério e imaginou a vingança. Não parava de sorrir. O momento estava
chegando e a cada minuto que passava, Marlon ficava mais ansioso para sentir o
gosto da justiça.
Marlon
saiu e foi a procura de um galpão. Ele comprou um, próximo ao beco onde deixara
seu sangue e seu trauma. Ele já planejara tudo. O galpão seria o local da
vingança. Seria lá, que todos os seis sofreriam, como ele sofreu anos atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário