sábado, 26 de setembro de 2015

Capítulo 10: Escrúpulos


Entre um gole e outro de champanhe, Marlon lembrava do telefonema do detetive. Depois de tantos anos esperando, a hora estava chegando. Às dez e meia, eles saíram e foram para casa.
Mesmo na cama, o pensamento dele não mudava.
- Será que a hora vai mesmo chegar? Será que posso fazer justiça? Não...não... o detetive novamente deve estar enganado. Todas as noites, já pedi tanto para que o destino coloque todos eles nas minhas mãos.
Entre as torturas das dúvidas, Marlon foi à cozinha e pegou um copo de leite. Sentou-se na cadeira e começou a refletir sobre a vida.
- Porque Deus me odeia tanto? Acho que pago os pecados de todos, só pode! Até Solange aparecer na minha vida, nunca tinha conhecido o amor. Amigos! Quem é meu amigo? Sou eu mesmo. Nunca tive um que pudesse ao menos chamar de colega. Antes dela, ninguém nunca tinha me tratado com amor. Se sou rebelde, é porque o mundo me fez assim. O meu único desejo era ser uma criança novamente. Só a ingenuidade e a pureza de uma criança, é que pode vê a beleza da vida. Obrigado Fado! Hoje ganhei uma recompensa, o amor de Solange. Depois que colocar meu ódio em cada um, daqueles seis desgraçados, é que poderei ter momentos felizes. Nunca poderei ser feliz. Ela não existe. O que existe são os pequenos momentos felizes.
Depois que Marlon pensou e refletiu sobre sua vida e o seu futuro, ele foi deitar-se. O sono não veio, como nos outros dias. No cantar das buzinas dos carros, eles se acordaram. Entre um suco e um pão, eles iam conversando.
- Como você passou a noite, paixão?
- Acordado, amor. Vim tomar um copo de leite para vê se conseguiria dormir, mas não funcionou.
- Também não consegui dormir direito. Tive um pesadelo horrível.
- Qual foi ?
- Deixa pra lá.
- Ô amor, você sabe se os policiais ainda estão investigando a morte do Júlio?
Solange engasga-se com o pão.
- Ai! Só de me lembrar, sinto uns arrepios.
- Você sabe se eles continuam investigando?
- Acho que sim.
Eles terminam o café da manhã e vão para o Jornal. Chegando lá, Fabrício cumprimenta o chefe.
- Bom dia, senhor Marlon.
- Bom dia, Fabrício.
Quando Mônica percebe que o seu chefe vem entrando, ela passa as mãos no cabelo e diz:
- Bom dia senhor Marlon.
- Bom dia Mônica.
Vendo que Marlon já tinha entrado no elevador, Mônica vai ao encontro de Fabrício.
- Tu não sabe da nova, Bigode?
- Qual é?
- Dizem por aí, que o chefinho tá quase mandando o Mariano ir pro olho da rua.
- Quem ti disse isso?
- A Gilda disse para a Carla, que disse para a Amanda, que disse para a Josefa, que disse pra mim. A  Dona Josefa é um anjo. Ela me conta tudo o que sabe.
- Ah! Agora tô entendendo. Você acorda quatro e meia, anda da sua casa até o ponto de ônibus à pé, pega o ônibus, chega aqui seis horas só pra fofocar com a Josefa.
- Mais é claro. Eu gosto de notícia em primeira mão. Bem...a Gilda, a Carla, a Amanda e a Dona Josefa já sabem. A dona Josefa me conta as notícias do dia anterior...acho que tenho notícias em primeiro pé. – disse Mônica cabisbaixa. – mais pelo menos, Bigode, eu conto pra você, que não sabe de nada do que se passa nesse Jornal.
- Só você mesmo Mônica.  
Em sua sala, Marlon aguarda ansiosamente a chegada do detetive Devis. Gilda entra na sala.
- O detetive Devis está aqui.
- Mande-o entrar.
- Pode entrar, senhor Devis.
O detetive Devis entra com uma pasta na mão.
- Como o você está detetive Devis?
- Estou bem. E o senhor?
- Vou bem. O senhor aceita um café?
- Aceito.
- Gilda, traga dois cafés, por favor.
- Trago agora mesmo, senhor.
- Conte-me Devis, o que você descobriu.
- Bom senhor Marlon, acredito que encontrei seu amigo... o ... Rogério.
Assim que o detetive terminou de dizer o nome do Rogério, Marlon lembrou de todas as humilhações que passou por causa dele.
- Trouxe as fotos. – disse ele tirando-as da pasta. – aqui estão.
Marlon pegou-as. Ele não conteve seu sorriso.
- É ele, senhor Marlon.
- É ele mesmo.
- Ele trabalha no supermercado Do campo.
- Sei aonde fica. Obrigado Devis.
- Não quero incomodar, mas é que estou precisando de dinheiro para pagar o conserto do carro...
- Ah! Desculpe-me. – disse Marlon abrindo a gaveta. Aqui está o segundo pagamento mais uma gratificação pela felicidade que você me proporcionou, ao encontrar o meu primeiro amigo. Posso ficar com as fotos?
- Claro. O senhor quer que eu o acompanhei.
- Não precisa.
- Então até logo senhor Marlon. Em breve terei mais notícias dos outros.
- Até logo.
 Logo que o detetive Devis saiu, Marlon pegou a foto de Rogério e imaginou a vingança. Não parava de sorrir. O momento estava chegando e a cada minuto que passava, Marlon ficava mais ansioso para sentir o gosto da justiça.
Marlon saiu e foi a procura de um galpão. Ele comprou um, próximo ao beco onde deixara seu sangue e seu trauma. Ele já planejara tudo. O galpão seria o local da vingança. Seria lá, que todos os seis sofreriam, como ele sofreu anos atrás.



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