Depois
de ter comprado o cenário do seu jogo, ele foi ao supermercado que Rogério
trabalhava. Ele passou quatro dias indo naquele supermercado. No quinto dia,
ele regressou ao local. Finalmente aquele seria o dia, em que o primeiro ia
pagar pelo o crime cometido no passado.
Marlon
colocou seu carro no estacionamento e entrou no supermercado Do campo. Ele comprou frutas, bolos,
biscoitos e outras coisas mais. Esse era apenas o pretexto para que ele
aproximasse do seu “amigo”. Depois de ter pego todos os itens nas prateleiras,
ele dirigiu-se ao caixa.
-
Quanto é?
-
Deu quatrocentos reais.
Marlon
tirou a carteira do bolso e pagou a quantia.
-
Vou providenciar, para que um de nossos carregadores o acompanhei com as
compras até seu carro.
-
Certo.
-
Rogério! Vem aqui. – disse o caixa. – leve essas comprar até o carro deste
senhor.
Rogério
olhou para a face de Marlon. Demorou alguns segundos. Ficou paralisado. Marlon
olhou-o sorrindo. Esses segundos foram em vão. Rogério não
conseguiu lembrar-se dele.
O
carregador começar a empurrar o carrinho, seguindo Marlon. Marlon abriu o porta
malas e disse:
-
Pode colocar as compras aqui.
Rogério
colocou-as e já ia saindo, quando Marlon chamo-o.
-
Rogério.
-
Pois não senhor.
Marlon
jogou dois reais no chão e disse:
-
Pode pegar.
Rogério,
com fúria nos olhos, apanhou a cédula.
-
Gostou da esmola?
-
Só peguei porque preciso. Tenho uma mulher e três filhos para criar.
-
Isso não me interessa. Quem mandou você ter cinco bocas em casa?
-
Olha aqui. Não fale assim comigo não.
-
Você sabem que eu sou?
-
Sei sim. O dono do Jornal Matinal. Mas não porque você é rico que deve humilhar
as pessoas.
-
Hora, hora! Olha que está falando em ser humilhado. Realmente você não se
lembra de mim?
Rogério
olhou por mais alguns segundos e respondeu negativamente.
-
Mais é claro. Como sou burro em esquecer o ditado que diz: “ Quem bate não se
lembra, mas quem apanha jamais esquece.
-
Você ta doido. Não sei do que você está falando.
-
Sabe sim. Eu sou aquele que era tímido, o tachado de “esquisito”, o que
estudava na sua sala. Não se lembra?
Rogério
pensou e logo caiu a ficha.
-
Como você mudou. Nem parece aquele otário.
-
Isso mesmo. Devo agradecer a você e aquela sua gangue.
-
Foi um prazer ti vê Marlon.
Rogério
virou as costas e Marlon disse:
-
Não vá agora.
Rogério
virou as costas.
-
Que horas você vai pra casa?
-
Daqui a pouco. Por que?
-
Vou ficar esperando você aqui fora. Vou levar você para casa. Quero conhecer e
ajudar a sua família.
-
Está bem.
Aquela
hora foi uma eternidade para Marlon.
-
Que bom que veio. Entre no carro.
-
Vim por causa da minha família.Qual seu interesse?
-
Nenhum. Eu cresci, mas não mudei. Continuo sendo humanitário. Sou tão humano,
que quero lhe oferecer um emprego no meu Jornal. Claro! Se é que você quer
mudar de vida.
Essa
frase soou como música no ouvido de Rogério.
-
É claro! Vivo na miséria. O que ganho não dá nem pra comer direito.
-
Então entre no carro e vamos para o Jornal, depois seguiremos para sua casa.
Rogério
entrou iludido, pensava que aquela seria uma oportunidade que ele teria para
mudar de vida. O amor pela família e o desejo de querer mais, cegaram Rogério.
Talvez não passava pela sua cabeça, o que viria pela frente. O futuro é uma
estrada escura. E a vingança é um reta de mão dupla.
A
única palavra que aquele carro escutou, foi Marlon perguntando aonde ficava a
casa de Rogério.
-
Fica na favela Karió, número 478, próximo a bodega do Seu Juraci.
-
Ah. Sei onde fica a favela.
Depois
de terem enfrentado um trânsito caótico, eles chegaram no galpão. Vendo que o
carro havia parado naquele prédio e não no Jornal, Rogério indagou:
-
Por que paramos aqui?
-
Tenho que passar aqui primeiro. Desça. Quero que você me ajude a pegar um
caixote.
Os
dois desceram. Eles entraram e Marlon fechou a porta.
-
Por que você trancou a porta?
-
Como você pergunta. É para ficarmos mais a vontade.
Avistando
o caixote, Rogério foi andando. Marlon pegou um bastão de madeira e tacou nas
costas de Rogério. Quando ele caiu, Marlon o amarrou. Depois de alguns minutos
desmaiado, Rogério acordou.
-
O que aconteceu comigo? – disse ainda tonto.
-
Acho que caiu alguma coisa do teto.
Rogério
percebeu que estava amarrado e disse:
-
Por que você me amarrou?
-
Calma Rogério, o show só está começando. – não acreditei que você cairia numa
conversa dessa. Peguei no ponto mais fraco de qualquer ser humano, a família.
Eu sei que eles não tem culpa pelo seu passado, mas você tem que sentir-se
humilhado, como eu me senti. Você acha que vou ajudar uma pessoa que me
humilhou?
-
Você é doido! – disse ele com medo na voz.
-
Doido! Eu! – disse Marlon aos gritos. – não fui eu que torturei um garoto da
minha sala. Não fui eu que acabei com a vida de uma pessoa. Você não sabe o que
é sofrer...
-
Claro que sei. Eu passo fome...
-
Sofrer na vida, não é só passar fome. Sofrer é você não ter perspectivas de
vida. É ser tratado como um nada. Eu estou morto por dentro. Quero justiça. Sei
que o destino já ti castigou, mas quero que você sinta o gosto de ser
humilhado, pisado. Aquele dia nunca vou esquecer. Nem que eu tente, e já
tentei.Você não sabe o que é não ter amigo, ficar sozinho, ser tratado como
A-NOR-MAL. – disse aos prantos.
-
Me desculpa Marlon. Era só uma brincadeira...
-
Uma brincadeira! Bater em uma pessoa com um taco de madeira, é uma brincadeira?
-
Você também acabou de me bater. Não acha pouco?
-
Claro que... NÃO! Eu apenas comecei a ... como é que você chama... ah! Apenas
comecei a brincadeira.
Marlon
subiu em cima de um caixote e disse:
- Senhoras e senhores, eu declaro aberto o
show. Pra começar, eu irei ser o malabarista. Vou tentar equilibrar esse taco
de madeira nas pernas do nosso cobaia.
-
Você é louco! – disse histericamente.
-
Louco! EU? Naquele dia você não era louco. Hoje também não estou. É a mesma
situação. Pare de falar, e vamos começar a BRIN-CA-DEI-RA.
Marlon
começou brincando de malabares com o taco . Com os olhos banhados em medo,
Rogério implorou.
-
Por favor. Não seja rancoroso. Me perdoe.
Não
posso. Quero que todos vocês sintam a mesma coisa que senti. Não posso. NÃO
POSSO!
Marlon começou com a pancadaria. Rogério
começara a ficar ensangüentado e com o rosto aflito.
-
Que expressão bonita. Esse olhos esbugalhados de peixe. Deve ser assim que
fiquei. – disse ele batendo com mais força.
A
cada tacada dele era um grito ensurdecedor.
-
Pode gritar. Fique a vontade.
-
Para, por favor. Não agüento mais.
-
Agüenta. Eu agüentei isso é muito mais. Por que você não pode suportar?
Depois
que o taco ficou vermelho e Rogério não tinha mais força para gritar, Marlon
parou. Ele subiu no caixote e disse:
-
Olhem para esse miserável. Ele ainda está vivo. Que incrível. Por que não
estaria? Eu também já passei por tudo isso e estou aqui, firme e forte.
Arrastando-
se no chão, Rogério falou:
-
Assim que eu... sair... daqui...vou ti
denunciar.
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