sábado, 26 de setembro de 2015

Capítulo 11: Escrúpulos

Depois de ter comprado o cenário do seu jogo, ele foi ao supermercado que Rogério trabalhava. Ele passou quatro dias indo naquele supermercado. No quinto dia, ele regressou ao local. Finalmente aquele seria o dia, em que o primeiro ia pagar pelo o crime cometido no passado.
Marlon colocou seu carro no estacionamento e entrou no supermercado Do campo. Ele comprou frutas, bolos, biscoitos e outras coisas mais. Esse era apenas o pretexto para que ele aproximasse do seu “amigo”. Depois de ter pego todos os itens nas prateleiras, ele dirigiu-se ao caixa.
- Quanto é?
- Deu quatrocentos reais.
Marlon tirou a carteira do bolso e pagou a quantia.
- Vou providenciar, para que um de nossos carregadores o acompanhei com as compras até seu carro.
- Certo.
- Rogério! Vem aqui. – disse o caixa. – leve essas comprar até o carro deste senhor.
Rogério olhou para a face de Marlon. Demorou alguns segundos. Ficou paralisado. Marlon olhou-o sorrindo. Esses segundos foram em vão. Rogério não conseguiu lembrar-se dele.
O carregador começar a empurrar o carrinho, seguindo Marlon. Marlon abriu o porta malas e disse:
- Pode colocar as compras aqui.
Rogério colocou-as e já ia saindo, quando Marlon chamo-o.
- Rogério.
- Pois não senhor.
Marlon jogou dois reais no chão e disse:
- Pode pegar.
Rogério, com fúria nos olhos, apanhou a cédula.
- Gostou da esmola?
- Só peguei porque preciso. Tenho uma mulher e três filhos para criar.
- Isso não me interessa. Quem mandou você ter cinco bocas em casa?
- Olha aqui. Não fale assim comigo não.
- Você sabem que eu sou?
- Sei sim. O dono do Jornal Matinal. Mas não porque você é rico que deve humilhar as pessoas.
- Hora, hora! Olha que está falando em ser humilhado. Realmente você não se lembra de mim?
Rogério olhou por mais alguns segundos e respondeu negativamente.
- Mais é claro. Como sou burro em esquecer o ditado que diz: “ Quem bate não se lembra, mas quem apanha jamais esquece.
- Você ta doido. Não sei do que você está falando.
- Sabe sim. Eu sou aquele que era tímido, o tachado de “esquisito”, o que estudava na sua sala. Não se lembra?
Rogério pensou e logo caiu a ficha.
- Como você mudou. Nem parece aquele otário.
- Isso mesmo. Devo agradecer a você e aquela sua gangue.
- Foi um prazer ti vê Marlon.
Rogério virou as costas e Marlon disse:
- Não vá agora.
Rogério virou as costas.
- Que horas você vai pra casa?
- Daqui a pouco. Por que?
- Vou ficar esperando você aqui fora. Vou levar você para casa. Quero conhecer e ajudar a sua família.
- Está bem.
Aquela hora foi uma eternidade para Marlon.
- Que bom que veio. Entre no carro.
- Vim por causa da minha família.Qual seu interesse?
- Nenhum. Eu cresci, mas não mudei. Continuo sendo humanitário. Sou tão humano, que quero lhe oferecer um emprego no meu Jornal. Claro! Se é que você quer mudar de vida.
Essa frase soou como música no ouvido de Rogério.
- É claro! Vivo na miséria. O que ganho não dá nem pra comer direito.
- Então entre no carro e vamos para o Jornal, depois seguiremos para sua casa.
Rogério entrou iludido, pensava que aquela seria uma oportunidade que ele teria para mudar de vida. O amor pela família e o desejo de querer mais, cegaram Rogério. Talvez não passava pela sua cabeça, o que viria pela frente. O futuro é uma estrada escura. E a vingança é um reta de mão dupla.
A única palavra que aquele carro escutou, foi Marlon perguntando aonde ficava a casa de Rogério.
- Fica na favela Karió, número 478, próximo a bodega do Seu Juraci.
- Ah. Sei onde fica a favela.
Depois de terem enfrentado um trânsito caótico, eles chegaram no galpão. Vendo que o carro havia parado naquele prédio e não no Jornal, Rogério indagou:
- Por que paramos aqui?
- Tenho que passar aqui primeiro. Desça. Quero que você me ajude a pegar um caixote.
Os dois desceram. Eles entraram e Marlon fechou a porta.
- Por que você trancou a porta?
- Como você pergunta. É para ficarmos mais a vontade.
Avistando o caixote, Rogério foi andando. Marlon pegou um bastão de madeira e tacou nas costas de Rogério. Quando ele caiu, Marlon o amarrou. Depois de alguns minutos desmaiado, Rogério acordou.
- O que aconteceu comigo? – disse ainda tonto.
- Acho que caiu alguma coisa do teto.
Rogério percebeu que estava amarrado e disse:
- Por que você me amarrou?
- Calma Rogério, o show só está começando. – não acreditei que você cairia numa conversa dessa. Peguei no ponto mais fraco de qualquer ser humano, a família. Eu sei que eles não tem culpa pelo seu passado, mas você tem que sentir-se humilhado, como eu me senti. Você acha que vou ajudar uma pessoa que me humilhou?
- Você é doido! – disse ele com medo na voz.
- Doido! Eu! – disse Marlon aos gritos. – não fui eu que torturei um garoto da minha sala. Não fui eu que acabei com a vida de uma pessoa. Você não sabe o que é sofrer...
- Claro que sei. Eu passo fome...
- Sofrer na vida, não é só passar fome. Sofrer é você não ter perspectivas de vida. É ser tratado como um nada. Eu estou morto por dentro. Quero justiça. Sei que o destino já ti castigou, mas quero que você sinta o gosto de ser humilhado, pisado. Aquele dia nunca vou esquecer. Nem que eu tente, e já tentei.Você não sabe o que é não ter amigo, ficar sozinho, ser tratado como A-NOR-MAL. – disse aos prantos.
- Me desculpa Marlon. Era só uma brincadeira...
- Uma brincadeira! Bater em uma pessoa com um taco de madeira, é uma brincadeira?
- Você também acabou de me bater. Não acha pouco?
- Claro que... NÃO! Eu apenas comecei a ... como é que você chama... ah! Apenas comecei a brincadeira.
Marlon subiu em cima de um caixote e disse: 
 - Senhoras e senhores, eu declaro aberto o show. Pra começar, eu irei ser o malabarista. Vou tentar equilibrar esse taco de madeira nas pernas do nosso cobaia.
- Você é louco! – disse histericamente.
- Louco! EU? Naquele dia você não era louco. Hoje também não estou. É a mesma situação. Pare de falar, e vamos começar a BRIN-CA-DEI-RA.
Marlon começou brincando de malabares com o taco . Com os olhos banhados em medo, Rogério implorou.
- Por favor. Não seja rancoroso. Me perdoe.
Não posso. Quero que todos vocês sintam a mesma coisa que senti. Não posso. NÃO POSSO!
 Marlon começou com a pancadaria. Rogério começara a ficar ensangüentado e com o rosto aflito.
- Que expressão bonita. Esse olhos esbugalhados de peixe. Deve ser assim que fiquei. – disse ele batendo com mais força.
A cada tacada dele era um grito ensurdecedor.
- Pode gritar. Fique a vontade.
- Para, por favor. Não agüento mais.
- Agüenta. Eu agüentei isso é muito mais. Por que você não pode suportar?
Depois que o taco ficou vermelho e Rogério não tinha mais força para gritar, Marlon parou. Ele subiu no caixote e disse:
- Olhem para esse miserável. Ele ainda está vivo. Que incrível. Por que não estaria? Eu também já passei por tudo isso e estou aqui, firme e forte.
Arrastando- se no chão, Rogério falou:
- Assim que eu... sair...  daqui...vou ti denunciar.


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