terça-feira, 13 de outubro de 2015

Capítulo 19: Escrúpulos



O número de curiosos não parava de aumentar. Todos olhavam atónitos. Uns olhavam com olhos de preocupação, já outros com olhos de cineasta. Os idosos ficaram desesperados. Os que estavam com fome, continuaram o trajeto. As crianças estavam com medo. O velho da dentadura frouxa, gritava para seu filho de 41 anos:
- Ligue para a ambulância, meu filho.
- Vou ligar, pai.
A ambulância demorara. Os enfermeiros corriam em direção ao barranco. As mulheres que estavam no topo estavam aterrorizadas. Eles desceram com rapidez. Um foi averiguar o estado do homem e dois, o da mulher. Os dois enfermeiros, verificaram a respiração dela. Estava sem respirar. Então, eles iniciaram de imediato manobras de respiração artificial através do método boca a boca, complementadas com a massagem cardíaca. Agora, respirava. Imediatamente, ela foi levada até a ambulância. Com muito trabalho, eles conseguiram conduzi-la.
O enfermeiro, que estava com o homem, verificou se estava respirando. Estava. Depois de examinar, ele suspeitou que fora apenas um desmaio. Deitou-o no chão. Elevou as pernas, em relação ao resto do corpo, para facilitar a circulação de sangue para o cérebro. Em seguida, ele desabotoou a camisa, a calça, tirou os sapatos da vítima. Depois que recuperou a consciência, foi levado para a ambulância.
- Sai da frente. – diziam os bombeiros, tentando entrar com as vítimas na ambulância.
Com a curiosidade do povo e com os flashes dos fotógrafos e com os interrogatórios dos repórter que já haviam chegado,  demorou um pouco para acomodar as vítimas. As portas foram fechadas. Antes que o motorista seguisse o caminho, ele telefonou para o corpo de bombeiros, para que pudesse retirar o carro. A sirene percorreu até o Hospital das Dores. Antes mesmo que as vítimas chegassem ao hospital, a notícia do acidente já tinha sido espalhada.
Mônica estava em casa, pronta para dormir. Vestia uma camisola verde. Quando estava fechando a porta do quarto, o telefone tocou.
- Aposto que é a Marlete, perguntando pelas fofocas do dia – resmungou antes de atender. – Ave Maria, Marlete, você não me deixa nem eu descansar a minha beleza. Diga logo o que é que você quer.
- Sou, Marlete...
- Bigode! – disse espantada. – Você só pode está apaixonado por mim, pra ligar essa hora! – disse alisando os seus cabelos negros.
- Deixa de brincadeira, Mônica. – disse com a voz séria.
- Liga pra mim, e ainda é grosso. Fala logo, homem!
- Eu tenho uma notícia...
- Que notícia?
- Eu fiquei sabendo por Bastião, meu amigo. Ele estava indo jantar no restaurante...
- Diga logo a fofoca. Não quero saber das suas amizades de esquina.
- Parece que o senhor Marlon e a senhora Solange foram acidentados.
Mônica perdeu a voz, diante dessa notícia.
- Você ainda está na linha, Mônica.
- Como assim? Como foi esse acidente do meu chefinho? – disse correndo lágrimas.
- Calma...
- Como calma, Bigode. Meu chefinho pode está morrendo... Não! – disse aos gritos. Quando aclamou-se, voltou a falar. – Venha agora aqui, com a sua caranga, e me leve para o hospital.
- Está certo.
Ela desligou o telefone e foi arrumar-se. Depois de minutos, ele chegou buzinando.
- Até que fim, Bigode! – disse entrando no carro.
Ele ia cortando um carro, ultrapassando outro. E ela não parava de falar:
- Eu sei que esse negócio, não aguenta alta velocidade, por que se não ela desmonta, mas tenta pisar no máximo. Quer vê o chefinho.
Depois de vários gritos de Mônica, eles finalmente chegaram. Foram correndo logo para a recepção:
- Moça, meu chefinho está nesse hospital?
- Quem é seu chefe, senhora?
- Desculpe, minha senhora, mas ela está alterada. – disse Fabrício interferindo Mônica.
- Como assim, estou alterada? – disse batendo em Fabrício.
- É o senhor Marlon, dono do Jornal Matinal. Ele sofreu um acidente de carro, agora à noite.
- Sei. Está aqui sim.
- Posso vê-lo?
- No momento não. Aguarde ali. – apontou para as cadeiras.
Eles sentaram-se .
- Tu viu, como aquela velha me chamou? De senhora. Só não briguei com ela, porque estava no hospital e temos que respeitar os mortos.
- Aqui não é cemitério, para ter mortos.
- Mais eles morrem aqui, depois vão para o cemitério. Parece que não pensa.
- Só você, Mônica.- disse com leve sorriso.
Depois de uma hora, eles foram liberados para ver o paciente.
- Ele está no quarto 29.
- Obrigado.
- Vamos logo, Bigode.
Eles passaram por um corredor onde tinha várias maca, ocupadas por vermes com gritos de dor. A outra estava ocupada por idosos e gestante em cadeiras de rodas. Finalmente chegaram no quarto. Lá estava enfermo dormindo e a enfermeira com a prancheta na mão.
- Ele não parece um anjo, Bigode?
A enfermeira não evitou e deu uma olhadela na moça.
- Deixa de coisa. – disse andando em direção da cama. -  Como ele está? – perguntou para a enfermeira.
- Está bem.
- Não minta pra gente. – disse Mônica caindo no choro.
- Ele está bem senhora.
Mônica ficou vermelha de raiva. A enfermeira saiu e Marlon abriu os olhos.
- Como o senhor está, patrão?
- Estou bem, Fabrício.
- Tem certeza, chefinho?
- Tenho sim, Mônica.- disse com um sorriso no canto da boca.
- Como foi que aconteceu, patrão?
- O pneu do meu carro estava furado, então eu e Solange pegamos um táxi. Tivemos o azar de pegar aquele taxi. Era o taxista-assaltante...
- Que perigo o senhor correu, chefinho.
- Deixe ele continuar, mulher.
- Aí, ele puxou uma arma. Enquanto ele ficou distraído por um minuto, eu peguei a mão dele e tentei pegar a arma. Aí, ele atirou. Na luta pra vê quem ficava com a arma, ele perdeu o controle do carro. Caímos no açude Amarelinho. Depois tirei o meu e o sinto da Solange. Peguei ela, e nadei. Depois que consegui chegar em terra firme, a minha vista escureceu e desmaiei.
Depois de narração, Marlon olhou para o lado e viu que Solange não estava ao seu lado. Entrou em desespero.
- Como está ela?
- A Solange? – perguntou Fabrício.
- Sim. Como ela está?

- Não sei.

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