Marlon ficou
pálido, pensando no que poderia ter acontecido com Solange. Não aguentava ficar
com aquela dúvida.
- Me diz, por
favor! Como ela está?
- Não sei,
patrão.
- Ela tá mal?
- Se acalme.
Não sabemos de nada. Não é mesmo, Mônica.
Mônica estava
tão distraída, que nem escutou direito. Sorria mentalmente. Estava feliz pelo
seu chefe está bem e para que pudesse ficar mais feliz, esperava uma notícia.
Que Solange estivesse morta. Mas, quando sentiu o peso da palavra morte
martelar em sua mente, ela fez logo o sinal da cruz.
- Mônica? –
advertiu Fabrício.
- Ah! É
verdade. Não sabemos de nada, patrãozinho.
Não podia
ficar com aquela dúvida zanzando na sua cabeça. Começou a gritar:
- Enfermeira!
Enfermeira!
Percebendo o
barulho que ele estava fazendo, Fabrício tentou logo acalma-lo.
- Não grita,
chefe. Eu vou chamar a enfermeira.
- Vai logo.
Não perca tempo. Quero saber como está o meu amor.
Mônica virou
as costas. E respondeu quase num sussurro:
- Estou bem,
chefinho.
Fabrício
entrou com a enfermeira. Marlon foi logo perguntando:
- Como está a
Solange?
- Ela está
bem. Engoliu um pouco de água. Ela está apenas em observação.
- Posso
vê-la?
- Ainda não.
- Como
assim... – olhou para o crachá da enfermeira – Lúcia?
Tirou o lenço
do seu corpo e tentou levantar. O mundo ainda estava um pouco escuro. Começara
as tonturas. Vendo que ele ia cair, Fabrício segurou-o pelos braços e deitou-o
na cama.
- Cuida com o
chefinho, Bigode.
Marlon
adormeceu. Depois de horas, ele abriu os olhos e no sofá que estava a sua
esquerda, estavam Fabrício e Mônica a dormirem. Ele não acreditou que eles
tivesse ali, sentados, esperando receber notícias de sua saúde. Nunca teve um
amigo sequer, que estivesse em seu lado. Desde que abrira os olhos, eles não
eram seus empregados, mas sim amigos.
A sociedade
tem o conceito equivocado de amizade. Conversar com pessoas nas escolas e nos
trabalhos, não categoriza que sejam amigos. Um amigo de verdade é aquele que
gasta segundos para pegar no celular e perguntar, “você está bem?”, é ir na
casa do outro e conversarem, falar besteiras e sair para espairecer.
Marlon tinha
um dos defeito que pode ser considerado antissocial, o orgulho. Ele não
considerava que um colega de sala, por mais que conversassem, era seu amigo.
Nunca saia de casa. Ele tinha um completo horror ao ser humano. Achava um lixo.
Mas depois do acontecido, ele percebeu que para ser visto e notado pelos
outros, tem que ser igual, um verme asqueroso. Agora não acreditava que
finalmente conquistava duas amizades. Aquilo era uma prova.
Depois de
passar segundos olhando para eles, Fabrício acordou. Cuidadosamente, ele
retirou a cabeça de Mônica do seu ombro e encostou-a no sofá. Aproximou-se e
disse:
- Como o
senhor está se sentindo?
- Não me
chame de senhor. Me chame de Marlon.
- Está bem.
- Agora eu
estou melhor. – depois de um silêncio mórbido, Marlon continuou. – quando abri
os olhos, não acreditei que você e a Mônica estavam ao meu lado nesse momento
complicado...
- Que isso,
senhor...perdão, Marlon... nós gostamos do se... de você. Assim que soube do acidente, liguei para a
Mônica e viemos para cá.
- Chegue mais
perto. – disse ao estender as mãos. – quero que de agora em diante, nós sejamos
bons amigos.
- Claro. –
ele apertou a mão de Marlon. – amigos.
Começaram a
conversar. Falaram sobre o Jornal, política, a vida. Aquele barulho acordara
Mônica, que disse:
- Ave Maria.
A gente nem pode dormir em paz. Ô vizinhas chatas. Cala boca Severina. Desliga
a matraca Noelha. – disse esfregando os olhos e levantando. Olhou em redor e
percebeu que estava no hospital e quem estava conversando eram eles e não a
Severina e a Noelha. – Ai que vergonha! Desculpe, chefinho. Eu estava tão
relaxada nesse sofá, que é melhor do que a minha cama, que o mundo apagou.
- Tudo bem,
Mônica. Venha aqui, por favor.
Elas foi às
pressas.
- Você e o
Fabrício me deram uma prova inigualável de suas amizades. De agora em diante,
me chame de Marlon e me considere seu amigo.
-Se o
senhor... ou melhor, Marlon, quer assim, assim será. – disse pegando nas mãos
dele.
- Fabrício,
pode chamar a enfermeira, por favor.
- Claro,
senhor... tenho que me acostumar, Marlon. – disse saindo.
Ele demorou
alguns minutos. Marlon estava ansioso pela vinda da enfermeira. Uma pergunta
martelava em sua cabeça. E quando queimava com a procura da resposta, Fabrício
chegou.
- Trouxe uma
surpresa, Marlon. – disse entrando.
Depois que a
enfermeira entrou, Solange aproximava-se. Aquela noite no hospital, lhe fizera
bem. Estava mais linda do que nunca. Marlon não acreditava. Solange estava
linda e irradiante. Ela caminhava em sua direção. Marlon sentia seu beijo. Era
um antídoto.
- Você está
linda. Não acredito que você está viva, meu amor.
- Graças a
você, meu grande amor.
Deram
novamente um longo beijo. Depois que matara a saudade daqueles lábios carnudos,
a enfermeira disse:
- O que o
senhor deseja?
- Queria
saber como está o taxista. Não me esconda nada. Se ele estiver vivo, acabo com
a raça daquele sujeito.
- Ele está
morto. Devido ao impacto das capotados do carro e por ele não ter colocado o
cinto de segurança, levou uma pancada na cabeça. Graças ao cinto, vocês
escaparam.
- Já tiraram
o corpo dele?
- Não. Ele
ainda está nas águas daquele açude.
Como o destino
fora bom com Marlon. Ele vingou-se. Túlio também ficou com o rosto, e o corpo,
embaixo d’água.
- Não vamos
mais pensar na tragédia, meu amor. – disse Solange, alisando os cabelos do
amado.
- Quando irei
sair daqui, enfermeira?
- Agora
mesmo.
Foi questão
de minutos para que eles saísse daquele hospital. Quando os quatro estavam no
estacionamento, Marlon deu novamente um beijo em Solange e disse:
- Eu vou
sempre te proteger.
- Eu também.
Marlon pegou
no seu bolso. O que ele procurava, já não estava mais ali. O anel caíra do seu
bolso e agora estava no fundo do açude. Vendo que o amado estava procurando
algo, ela perguntou:
- O que está
procurando?
- Fazia parte
da surpresa. Mas logo você saberá.
Vendo aquela
cena, Mônica falou:
- Que cena
mais linda, Bigode.
- Ora, ora!
Você não está mais com ciúme da Solange com o Marlon?
- Você não
ouviu ele falar. Somos amigos. – disse entrando no carro.
Solange
lembrava-se do assunto que seu amado e o defunto conversavam minutos antes do
acidente. Não entendera nada. Queria uma explicação.
- Quando
chegarmos em casa, Marlon, temos muito o que conversar.
- Sobre o
que?
- Sobre
aquela conversa que você teve com o taxista.
- Está bem,
mais vamos primeiro descansar, meu amor. Depois você me joga na parede e
pergunta tudo. – disse Marlon dando novamente um beijo em Solange.
Entraram no
carro de Fabrício e partiram.
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