terça-feira, 13 de outubro de 2015

Capítulo 20: Escrúpulos



Marlon ficou pálido, pensando no que poderia ter acontecido com Solange. Não aguentava ficar com aquela dúvida.
- Me diz, por favor! Como ela está?
- Não sei, patrão.
- Ela tá mal?
- Se acalme. Não sabemos de nada. Não é mesmo, Mônica.
Mônica estava tão distraída, que nem escutou direito. Sorria mentalmente. Estava feliz pelo seu chefe está bem e para que pudesse ficar mais feliz, esperava uma notícia. Que Solange estivesse morta. Mas, quando sentiu o peso da palavra morte martelar em sua mente, ela fez logo o sinal da cruz.
- Mônica? – advertiu Fabrício.
- Ah! É verdade. Não sabemos de nada, patrãozinho.
Não podia ficar com aquela dúvida zanzando na sua cabeça. Começou a gritar:
- Enfermeira! Enfermeira!
Percebendo o barulho que ele estava fazendo, Fabrício tentou logo acalma-lo.
- Não grita, chefe. Eu vou chamar a enfermeira.
- Vai logo. Não perca tempo. Quero saber como está o meu amor.
Mônica virou as costas. E respondeu quase num sussurro:
- Estou bem, chefinho.
Fabrício entrou com a enfermeira. Marlon foi logo perguntando:
- Como está a Solange?
- Ela está bem. Engoliu um pouco de água. Ela está apenas em observação.
- Posso vê-la?
- Ainda não.
- Como assim... – olhou para o crachá da enfermeira – Lúcia?
Tirou o lenço do seu corpo e tentou levantar. O mundo ainda estava um pouco escuro. Começara as tonturas. Vendo que ele ia cair, Fabrício segurou-o pelos braços e deitou-o na cama.
- Cuida com o chefinho, Bigode.
Marlon adormeceu. Depois de horas, ele abriu os olhos e no sofá que estava a sua esquerda, estavam Fabrício e Mônica a dormirem. Ele não acreditou que eles tivesse ali, sentados, esperando receber notícias de sua saúde. Nunca teve um amigo sequer, que estivesse em seu lado. Desde que abrira os olhos, eles não eram seus empregados, mas sim amigos.
A sociedade tem o conceito equivocado de amizade. Conversar com pessoas nas escolas e nos trabalhos, não categoriza que sejam amigos. Um amigo de verdade é aquele que gasta segundos para pegar no celular e perguntar, “você está bem?”, é ir na casa do outro e conversarem, falar besteiras e sair para espairecer.
Marlon tinha um dos defeito que pode ser considerado antissocial, o orgulho. Ele não considerava que um colega de sala, por mais que conversassem, era seu amigo. Nunca saia de casa. Ele tinha um completo horror ao ser humano. Achava um lixo. Mas depois do acontecido, ele percebeu que para ser visto e notado pelos outros, tem que ser igual, um verme asqueroso. Agora não acreditava que finalmente conquistava duas amizades. Aquilo era uma prova.
Depois de passar segundos olhando para eles, Fabrício acordou. Cuidadosamente, ele retirou a cabeça de Mônica do seu ombro e encostou-a no sofá. Aproximou-se e disse:
- Como o senhor está se sentindo?
- Não me chame de senhor. Me chame de Marlon.
- Está bem.
- Agora eu estou melhor. – depois de um silêncio mórbido, Marlon continuou. – quando abri os olhos, não acreditei que você e a Mônica estavam ao meu lado nesse momento complicado...
- Que isso, senhor...perdão, Marlon... nós gostamos do se... de você.  Assim que soube do acidente, liguei para a Mônica e viemos para cá.
- Chegue mais perto. – disse ao estender as mãos. – quero que de agora em diante, nós sejamos bons amigos.
- Claro. – ele apertou a mão de Marlon. – amigos.
Começaram a conversar. Falaram sobre o Jornal, política, a vida. Aquele barulho acordara Mônica, que disse:
- Ave Maria. A gente nem pode dormir em paz. Ô vizinhas chatas. Cala boca Severina. Desliga a matraca Noelha. – disse esfregando os olhos e levantando. Olhou em redor e percebeu que estava no hospital e quem estava conversando eram eles e não a Severina e a Noelha. – Ai que vergonha! Desculpe, chefinho. Eu estava tão relaxada nesse sofá, que é melhor do que a minha cama, que o mundo apagou.
- Tudo bem, Mônica. Venha aqui, por favor.
Elas foi às pressas.
- Você e o Fabrício me deram uma prova inigualável de suas amizades. De agora em diante, me chame de Marlon e me considere seu amigo.
-Se o senhor... ou melhor, Marlon, quer assim, assim será. – disse pegando nas mãos dele.
- Fabrício, pode chamar a enfermeira, por favor.
- Claro, senhor... tenho que me acostumar, Marlon. – disse saindo.
Ele demorou alguns minutos. Marlon estava ansioso pela vinda da enfermeira. Uma pergunta martelava em sua cabeça. E quando queimava com a procura da resposta, Fabrício chegou.
- Trouxe uma surpresa, Marlon. – disse entrando.
Depois que a enfermeira entrou, Solange aproximava-se. Aquela noite no hospital, lhe fizera bem. Estava mais linda do que nunca. Marlon não acreditava. Solange estava linda e irradiante. Ela caminhava em sua direção. Marlon sentia seu beijo. Era um antídoto.
- Você está linda. Não acredito que você está viva, meu amor.
- Graças a você, meu grande amor.
Deram novamente um longo beijo. Depois que matara a saudade daqueles lábios carnudos, a enfermeira disse:
- O que o senhor deseja?
- Queria saber como está o taxista. Não me esconda nada. Se ele estiver vivo, acabo com a raça daquele sujeito.
- Ele está morto. Devido ao impacto das capotados do carro e por ele não ter colocado o cinto de segurança, levou uma pancada na cabeça. Graças ao cinto, vocês escaparam.
- Já tiraram o corpo dele?
- Não. Ele ainda está nas águas daquele açude.
Como o destino fora bom com Marlon. Ele vingou-se. Túlio também ficou com o rosto, e o corpo, embaixo d’água.
- Não vamos mais pensar na tragédia, meu amor. – disse Solange, alisando os cabelos do amado.
- Quando irei sair daqui, enfermeira?
- Agora mesmo.
Foi questão de minutos para que eles saísse daquele hospital. Quando os quatro estavam no estacionamento, Marlon deu novamente um beijo em Solange e disse:
- Eu vou sempre te proteger.
- Eu também.
Marlon pegou no seu bolso. O que ele procurava, já não estava mais ali. O anel caíra do seu bolso e agora estava no fundo do açude. Vendo que o amado estava procurando algo, ela perguntou:
- O que está procurando?
- Fazia parte da surpresa. Mas logo você saberá.
Vendo aquela cena, Mônica falou:
- Que cena mais linda, Bigode.
- Ora, ora! Você não está mais com ciúme da Solange com o Marlon?
- Você não ouviu ele falar. Somos amigos. – disse entrando no carro.
Solange lembrava-se do assunto que seu amado e o defunto conversavam minutos antes do acidente. Não entendera nada. Queria uma explicação.
- Quando chegarmos em casa, Marlon, temos muito o que conversar.
- Sobre o que?
- Sobre aquela conversa que você teve com o taxista.
- Está bem, mais vamos primeiro descansar, meu amor. Depois você me joga na parede e pergunta tudo. – disse Marlon dando novamente um beijo em Solange.
Entraram no carro de Fabrício e partiram.




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