Aquela viagem,
para eles, demorou uma eternidade. A casa não parecia esta na cidade, mas em
outro país. O sol estava escaldante. Depois de uma noite num lugar onde cheira
a mofo, qualquer lugar torna-se distante. Assim que chegaram, eles foram tomar
um banho, para relaxar aas carnes quebrantadas. Depois que Marlon pisou o pé
para fora do banheiro, Solange começou os interrogatórios:
- Agora me
conta. O que está acontecendo?
- Agora não,
meu amor. Agora quero descansar. Depois eu prometo que te conto tudo. –
acariciou-a e beijando o seu pescoço, disse:
- Vamos
dormir.
Solange não
parava de pensar naquela conversa. Ficara imaginado de onde é que ele conhecia
o taxista. Sabendo que não iria vencer, por enquanto disse:
- Está certo,
mas à noite você não escapada.
- Está bem.
Foram dormir.
O cansaço fora tanto, que não acordaram a noite. O sol morreu, a luar
reapareceu e o sol ressuscitara. Marlon foi o primeiro que abriu os olhos.
Quando viu que a cortina estava clara e não escura, pulou da cama. Foi para a
cozinha e depois de minutos, regressou com uma bandeja repleta de delícias.
Colocou-a no criado mudo e foi acordar a amada, do seu jeito. Encostou a sua
boca no pé macio e suave da amada. Deslizou-a e percorreu a coxa grossa, a
barriga torneada, o umbigo, o seios redondos e rijos, o pescoço com aroma de
jasmim, a orelha e sua carnuda boca. Solange despertara.
- Olha o que
eu preparei pra nós dois. – disse pegando a bandeja.
Solange, ainda
sonolenta, olhou para a janela e não acreditou que aquela luz que irradiava
dentro do seu quarto, já era o sol.
- Já
amanheceu?
- Depois que
aconteceu tudo aquilo, libertamos do relógio e caímos na cama como pedras de
gelo. Aí veio o sol e derretemos.
Solange deu um
lindo sorriso e sentou-se para aproveitar aquele maravilhoso café da manhã.
Após a bandeja ficar vazia, Solange novamente tocou no assunto:
- Agora você
pode me contar.
Marlon olhou
para o chão e silenciou-se. Depois de respirar profundamente, ele falou:
- Está bem.
Você tem o direito de saber, afinal é minha namorada.
Marlon
respirou e contou tudo que tinha ocorrido anos atrás. A cada detalhe que ele ia
contando, Solange ficava boquiaberta. A única coisa que não revelou, foi a sua
vingança.
- Então essa é
a história.
- Como você
sofreu! – disse com lágrimas transbordadas.
- Por isso sou
o que sou. Só eu sei o que é ser taxado como esquisito, de anormal. – olhou nos
olhos de Solange – te digo uma coisa, ninguém sabe o que se passa dentro de um
coração. Cada um tem a sua justificativa de como age, mesmo ela sendo errado ou
certa. E fique certa, que cada passo que damos, o julgamento vem atrás. Um
julga os outros, mas não quer ser julgado. Um tapa dói, mas passa. Agora ser
tratado com um lixo, um verme, nunca irá passar. O trauma fica gritando na sua
cabeça. Os sonhos são recordações dolorosa de cenas que jamais serão
esquecidas. – aquelas palavras iam saindo como uma bala sai de um canhão,
forte.
Solange ficara
pensativo com aquelas palavras. Em alguns instantes, ela chorava como lembrando
do seu passado. Depois que eles limparam as lágrimas e a alma, Solange falou:
- Hoje você
vai trabalhar?
- Não. Nem eu
nem você. Merecemos um descanso. Hoje passaremos o dia na cama, relaxando e
talvez amanhã nós iremos.
- Mas e as
minhas reportagem?
- Eu sei que o
trabalho é importante. Também julgo assim, mas depois de ontem não
conseguiremos fluir no que vamos fazer. Portanto, é melhor descansar e amanhã
retornaremos as nossas atividades rotineiras. Certo?
- Está bem.
Você tem toda razão...mas você já ligou para o Jornal?
Marlon
levantou rapidamente e foi em direção do telefone.
- Irei ligar
agora mesmo.
O telefone
chamara. Uma voz surgiu no outro lado da linha:
- Jornal
Matinal, bom dia!
- Gilda, aqui
é o Marlon. Liguei para avisar que hoje eu e a Solange, não iremos trabalhar
por conta do ocorrido de ontem.
- O senhor
está bem?
- Estou sim.
Se por acaso houver alguma ligação ou alguém ir até aí, diga que estarei no
Jornal amanhã. Entendido?
- Claro,
senhor. Até amanhã.
- Até amanhã.
Depois que
desligara o telefone, ele pensou na atitude de Fabrício e Mônica. Comentou:
- Nunca
imaginei que Fabrício e Mônica fosse capazes de mostrarem aquela atitude
amigável.
- Também não.
- Agora para
mim, eles são como amigos.
- É nos
momentos difíceis que percebemos quem são os nossos amigos verdadeiros.
Ligaram a
televisão e deitaram no sofá. Aquele dia passou voando. E mais um dia estava a
nascer e o trabalho batia na porta. Eles chegaram cedo no Jornal e Marlon foi
saber, com a Gilda, se alguém tinha ligado ou ido até o Jornal.
- O senhor
Blanco e o senhor Garcia ligaram e não deixaram recado.
- Obrigado.
Marlon foi
para a sua sala. Um dia sem aparecer no Jornal e a sua mesa estava repleta de
papéis. Antes de iniciar, organizou-os. Enquanto estava arrumando, Gilda
entrou:
- Senhor, a
dona Josefa quer falar com o senhor.
- Mande-a
entrar.
Gilda saiu e
dona Josefa entrou. Ela era a faxineira. Marlon apontou para a cadeira e disse:
- Sente-se. –
ela sentou – em que posso ajudar, dona Josefa?
- Eu vi aqui,
seu Marlon, pedir demissão.
- Mas por quê?
- Meu marido
está doente e precisa fazer uma cirurgia. Aqui na cidade, não a como fazer.
Então vamos ter que viajar para outro estado. Vou vê se lá consigo outro
emprego. Vai ser melhor, assim. Não pense que estou satisfeita, seu Marlon. Mas
a situação é urgente.
- Compreende.
Você irá fazer falta, dona Josefa.
Marlon abriu a
gaveta e entregou o dinheiro.
- Aqui está seu
pagamento.
Ela abriu e
contou. Falou surpresa:
- Aqui tem
muito mais do que meu salário, seu Marlon.
- É um
presente meu. Você merece isso e muito mais. Vou sentir a sua falta. –
levantou-se e abraçou-a.
- Até logo,
seu Marlon.
- Até logo,
dona Josefa.
Diante da
saída da dona Josefa, Marlon mandou chamar Solange, que estava na sala de
redação.
- Mandou-me
chamar, paixão.
- Sim, amor.
Quero que no jornal que será publicado amanhã, seja publicado um anuncio.
- Que anuncio
- disse curiosa.
- Precisa-se
de uma faxineira.
- Você vai
contratar mais uma?
- Não. A dona
Josefa pediu demissão. O marido está com problema de saúde.
- Não
acredito. Ela é tão simpática.
- Pois é,
sentirei a falta dela.
- Seu pedido é
uma ordem, paixão.
- Obrigado. -
disse dando um longo beijo.
No dia
seguinte, o anuncio foi publicado e várias candidatas apareceram. Muitas que
necessitavam daquele serviço, madrugaram na porta do Jornal. Assim que Marlon
chegou, começou as entrevistas.
- Mande entrar
a primeira candidata, Gilda.
- Sim, senhor.
As entrevistas
começar às oito horas. Dezenas de mulheres foram entrevistadas, mas foi as dez
horas que apareceu a candidata ideal, para ele. Assim que ela entrou, Marlon
olhou da cabeça aos pés. Não acreditou. Abriu um largo sorriso e disse:
- Sente-se.
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