sábado, 17 de outubro de 2015

Capítulo 21: Escrúpulos

Aquela viagem, para eles, demorou uma eternidade. A casa não parecia esta na cidade, mas em outro país. O sol estava escaldante. Depois de uma noite num lugar onde cheira a mofo, qualquer lugar torna-se distante. Assim que chegaram, eles foram tomar um banho, para relaxar aas carnes quebrantadas. Depois que Marlon pisou o pé para fora do banheiro, Solange começou os interrogatórios:
- Agora me conta. O que está acontecendo?
- Agora não, meu amor. Agora quero descansar. Depois eu prometo que te conto tudo. – acariciou-a e beijando o seu pescoço, disse:
- Vamos dormir.
Solange não parava de pensar naquela conversa. Ficara imaginado de onde é que ele conhecia o taxista. Sabendo que não iria vencer, por enquanto disse:
- Está certo, mas à noite você não escapada.
- Está bem.
Foram dormir. O cansaço fora tanto, que não acordaram a noite. O sol morreu, a luar reapareceu e o sol ressuscitara. Marlon foi o primeiro que abriu os olhos. Quando viu que a cortina estava clara e não escura, pulou da cama. Foi para a cozinha e depois de minutos, regressou com uma bandeja repleta de delícias. Colocou-a no criado mudo e foi acordar a amada, do seu jeito. Encostou a sua boca no pé macio e suave da amada. Deslizou-a e percorreu a coxa grossa, a barriga torneada, o umbigo, o seios redondos e rijos, o pescoço com aroma de jasmim, a orelha e sua carnuda boca. Solange despertara.
- Olha o que eu preparei pra nós dois. – disse pegando a bandeja.
Solange, ainda sonolenta, olhou para a janela e não acreditou que aquela luz que irradiava dentro do seu quarto, já era o sol.
- Já amanheceu?
- Depois que aconteceu tudo aquilo, libertamos do relógio e caímos na cama como pedras de gelo. Aí veio o sol e derretemos.
Solange deu um lindo sorriso e sentou-se para aproveitar aquele maravilhoso café da manhã. Após a bandeja ficar vazia, Solange novamente tocou no assunto:
- Agora você pode me contar.
Marlon olhou para o chão e silenciou-se. Depois de respirar profundamente, ele falou:
- Está bem. Você tem o direito de saber, afinal é minha namorada.
Marlon respirou e contou tudo que tinha ocorrido anos atrás. A cada detalhe que ele ia contando, Solange ficava boquiaberta. A única coisa que não revelou, foi a sua vingança.
- Então essa é a história.
- Como você sofreu! – disse com lágrimas transbordadas. 
- Por isso sou o que sou. Só eu sei o que é ser taxado como esquisito, de anormal. – olhou nos olhos de Solange – te digo uma coisa, ninguém sabe o que se passa dentro de um coração. Cada um tem a sua justificativa de como age, mesmo ela sendo errado ou certa. E fique certa, que cada passo que damos, o julgamento vem atrás. Um julga os outros, mas não quer ser julgado. Um tapa dói, mas passa. Agora ser tratado com um lixo, um verme, nunca irá passar. O trauma fica gritando na sua cabeça. Os sonhos são recordações dolorosa de cenas que jamais serão esquecidas. – aquelas palavras iam saindo como uma bala sai de um canhão, forte.
Solange ficara pensativo com aquelas palavras. Em alguns instantes, ela chorava como lembrando do seu passado. Depois que eles limparam as lágrimas e a alma, Solange falou:
- Hoje você vai trabalhar?
- Não. Nem eu nem você. Merecemos um descanso. Hoje passaremos o dia na cama, relaxando e talvez amanhã nós iremos.
- Mas e as minhas reportagem?
- Eu sei que o trabalho é importante. Também julgo assim, mas depois de ontem não conseguiremos fluir no que vamos fazer. Portanto, é melhor descansar e amanhã retornaremos as nossas atividades rotineiras. Certo?
- Está bem. Você tem toda razão...mas você já ligou para o Jornal?
Marlon levantou rapidamente e foi em direção do telefone.
- Irei ligar agora mesmo.
O telefone chamara. Uma voz surgiu no outro lado da linha:
- Jornal Matinal, bom dia!
- Gilda, aqui é o Marlon. Liguei para avisar que hoje eu e a Solange, não iremos trabalhar por conta do ocorrido de ontem.
- O senhor está bem?
- Estou sim. Se por acaso houver alguma ligação ou alguém ir até aí, diga que estarei no Jornal amanhã. Entendido?
- Claro, senhor. Até amanhã.
- Até amanhã.
Depois que desligara o telefone, ele pensou na atitude de Fabrício e Mônica. Comentou:
- Nunca imaginei que Fabrício e Mônica fosse capazes de mostrarem aquela atitude amigável.
- Também não.
- Agora para mim, eles são como amigos.
- É nos momentos difíceis que percebemos quem são os nossos amigos verdadeiros.
Ligaram a televisão e deitaram no sofá. Aquele dia passou voando. E mais um dia estava a nascer e o trabalho batia na porta. Eles chegaram cedo no Jornal e Marlon foi saber, com a Gilda, se alguém tinha ligado ou ido até o Jornal.
- O senhor Blanco e o senhor Garcia ligaram e não deixaram recado.
- Obrigado.
Marlon foi para a sua sala. Um dia sem aparecer no Jornal e a sua mesa estava repleta de papéis. Antes de iniciar, organizou-os. Enquanto estava arrumando, Gilda entrou:
- Senhor, a dona Josefa quer falar com o senhor.
- Mande-a entrar.
Gilda saiu e dona Josefa entrou. Ela era a faxineira. Marlon apontou para a cadeira e disse:
- Sente-se. – ela sentou – em que posso ajudar, dona Josefa?
- Eu vi aqui, seu Marlon, pedir demissão.
- Mas por quê?
- Meu marido está doente e precisa fazer uma cirurgia. Aqui na cidade, não a como fazer. Então vamos ter que viajar para outro estado. Vou vê se lá consigo outro emprego. Vai ser melhor, assim. Não pense que estou satisfeita, seu Marlon. Mas a situação é urgente.
- Compreende. Você irá fazer falta, dona Josefa.
Marlon abriu a gaveta e entregou o dinheiro.
- Aqui está seu pagamento.
Ela abriu e contou. Falou surpresa:
- Aqui tem muito mais do que meu salário, seu Marlon.
- É um presente meu. Você merece isso e muito mais. Vou sentir a sua falta. – levantou-se e abraçou-a.
- Até logo, seu Marlon.
- Até logo, dona Josefa.
Diante da saída da dona Josefa, Marlon mandou chamar Solange, que estava na sala de redação.
- Mandou-me chamar, paixão.
- Sim, amor. Quero que no jornal que será publicado amanhã, seja publicado um anuncio.
- Que anuncio - disse curiosa.
- Precisa-se de uma faxineira.
- Você vai contratar mais uma?
- Não. A dona Josefa pediu demissão. O marido está com problema de saúde.
- Não acredito. Ela é tão simpática.
- Pois é, sentirei a falta dela.
- Seu pedido é uma ordem, paixão.
- Obrigado. - disse dando um longo beijo.
No dia seguinte, o anuncio foi publicado e várias candidatas apareceram. Muitas que necessitavam daquele serviço, madrugaram na porta do Jornal. Assim que Marlon chegou, começou as entrevistas.
- Mande entrar a primeira candidata, Gilda.
- Sim, senhor.
As entrevistas começar às oito horas. Dezenas de mulheres foram entrevistadas, mas foi as dez horas que apareceu a candidata ideal, para ele. Assim que ela entrou, Marlon olhou da cabeça aos pés. Não acreditou. Abriu um largo sorriso e disse:
- Sente-se.


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